Rio de Janeiro, 06 de Abril de 2014.
A dicotomia: espiritualidade x justiça social.
Durante algum tempo um de
nossos decanos, o nosso amado Dc. Norival, costumeiramente ao final de nossas
celebrações se dirige a minha pessoa e relata como foi abençoado pela exposição
da Palavra ministrada. Em algumas oportunidades, por gostar muito do texto do
capítulo cinquenta e oito, do livro do profeta Isaías, pediu-me para realizar
uma exposição sobre o mesmo. Eu lhe respondi algumas vezes que teríamos a
oportunidade de fazê-lo em uma ocasião oportuna. E, creio ter chegado a hora da
exposição de tão brilhante texto, haja vista que este mês iremos refletir sobre
a adoração, e o texto em questão: trata exatamente do perigo causado pelo
formalismo religioso, no caso aqui sendo mais específico do jejum.
O texto é rico em detalhes
em informações sobre o que Deus rejeitava na prática dos mandamentos por parte
de Israel. Eles acreditavam que meramente cumprindo ritos de jejum, orações,
sacrifícios, seriam encontrados por Deus e teriam suas súplicas e indagações
respondidas pelo Eterno. Contudo, isso não acontecia. Deus estava totalmente
avesso as práticas de espiritualidade, realizadas de forma religiosa e sem vida
do povo. Eles haviam criado uma dicotomia entre a espiritualidade e vida
diária.
Explico melhor o que estou
querendo salientar com esta ponderação. Dicotomia sobre o prisma teológico é
quando existem dois elementos que são essências. Exemplo: corpo e alma. Esses
elementos são inseparáveis. Todavia, a palavra dicotomia também pode ser
utilizada para salientar a divisão de duas partes iguais. Exemplo: uma laranja
cortada ao meio. Esse sendo o sentido próprio etimológico da palavra, que vem
do grego: “dikhotomía".
Neste
breve texto a palavra dicotomia foi utilizada no sentido etimológico da
palavra. Ou seja, ela foi usada para expressar que o povo judeu estava
realizando uma separação em duas partes de algo que deveria ser inseparável, do
ponto de vista teológico. Com essa postura eles estavam nitidamente dando a
entender que os ritos religiosos eram mais importantes do que, por exemplo: o
auxílio aos pobres e aos necessitados, do que serem empregadores mais justos,
do ponto de vista sócio-econômico. Estavam descaracterizando o sentido da fé
para a prática de vida do cotidiano social.
Receio
piamente que essa cosmovisão dicotômica tenha tomado conta do seio de nossas
comunidades em hodiernos. Urge, de forma extremamente necessária, ouvirmos a
voz de Deus dizendo: “Clama bem alto e
não detenhas: anuncia a voz como a trombeta; anuncia ao meu povo a sua
transgressão, e à linhagem de Jacó os seus pecados. Ainda assim eles me
procuram todo dia; têm prazer em conhecer os meus caminhos, como se fossem um
povo que pratica a justiça e que não abandonou a ordenança do seu Deus. Pedem-me
juízos corretos, têm prazer em se achegar a Deus!” (Is. 58.1-2)
Não existe a possibilidade de
conjugarmos uma separação entre espiritualidade sem justiça social, teologia
sem espiritualidade, evangelismo sem responsabilidade social, conversão ao Cristo
sem mudança de valores. O evangelho do Reino de Deus nos conclama a rasgarmos
os nossos corações, jejuarmos diante do Senhor, clamarmos por sua intervenção,
todavia não em nosso proveito pessoal, mas da forma estabelecida por Jesus em
sua oração: “Seja feita tua vontade assim na terra como no céu.” E, somos
sabedores de que a vontade de Deus é que haja justiça, paz, amor, alegria,
bonança, etc. Assim na terra como no céu. Os atributos desse Reino quando
difundidos por nós, a igreja do Senhor, jungido a espiritualidade resultará na
verdadeira prática cristã que Deus deseja de cada um de nós, seus imitadores.
Certo
de que em Cristo e por estar em Cristo, temos o dever de sinalizar o seu Reino:
Seu
pastor, Roberto Meireles.
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