quinta-feira, 16 de maio de 2024

12º AULA – AS MARCAS DA UNIDADE

 


Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024

Professor – Roberto da Silva Meireles Rodrigues

Livro – Gálatas.

12º AULA – AS MARCAS DA UNIDADE

“E aqueles que pareciam ser importantes, ainda que o tenham sido no passado, isso não me importa, pois Deus não considera a aparência humana, esses, que pareciam ser importantes, nada me acrescentaram. Pelo contrário, viram que o evangelho da incircuncisão me havia sido confiado, assim como a Pedro o evangelho da circuncisão. (Gálatas 2:6-7)”

            O apóstolo Paulo continua combatendo o argumento falacioso dos falsos mestres em relação a superioridade dos doze apóstolos em relação a si mesmo. A expressão “que pareciam ser importantes” não tem o desejo de desmerecer aos colegiado apostólico. E, é bom que se afirme, que esta expressão está sendo dirigida aos apóstolos. Todavia não de forma depreciativa, mas sim como desejo de combater uma possível diferenciação entre o apóstolo de Paulo e o apostolado dos doze.

            As principais alegações dos falsos mestres judaizantes era de que os doze apóstolos eram uma espécie de casta superior de apóstolos. Eles embasavam suas percepções e ensino no fato de que os doze apóstolos haviam convivido pessoalmente com Jesus e vieram antes do apóstolo Paulo e por esse motivo o apóstolo Paulo não pode ter recebido ensinos, doutrinas, diretamente do próprio Jesus.

            É exatamente devido a essa situação que o apóstolo Paulo está usando essa expressão, não no desejo de diminuir ou depreciar. Mas sim, de demonstrar que Paulo e os doze reconhecem-se mutuamente e que há uma unidade entre eles, não havendo brigas ou divergências entre Paulo e os concílios. Essa é pelo menos a percepção de teólogos tais como John Stott, Donald Guthrie, Timothy Keller.

            Paulo diz que “estes nada me acrescentaram”. O apóstolo desejava deixar claro que não acrescentado nada ao evangelho que ele pregava. Valendo inclusive lembrar do terceiro verso do mesmo capítulo quando ele diz que nem Tito que era grego precisou ser circuncidado, ou seja, nem mesmo foi acrescentado ao seu evangelho algum tipo de obrigação como a circuncisão.

            Existe alguma diferença entre o “evangelho da circuncisão” e o “evangelho da incircuncisão”? Dr. Donald Guthrie em seu comentário nos esclarece: “o evangelho da incircuncisão... o da circuncisão: a mesma palavra “evangelho” é usada nas duas frases no orginal, e não pode ser suposto que Paulo que sugerir qualquer diferença no conteúdo. Há uma distinção no modo de apresentação e nada mais. O evangelho da circuncisão não era, de modo algum superior ao evangelho da incircuncisão. Realmente, portanto, a circuncisão não é uma condição sine qua non do evangelho. O apóstolo não podia conceber dois evangelhos adaptados a tipos diferentes de pessoas. Tanto os judeus quanto os gentios precisavam essencialmente das mesmas boas novas. Os genitivos não por tanto descritivos, mas objetivos: “para os incircuncisos... para os circuncidados”.[1]

            Entendermos essa questão é de extrema importância para que possamos ser efetivos no cumprimento da missão que recebemos de Jesus. Tim Keller comentando sobre essa questão diz: “Significa reconhecer que temos chamados diferentes. Os apóstolos reconheciam isso entre si: “viram que o evangelho da incircuncisão me havia sido confiado, assim como a Pedro o evangelho da circuncisão” (v.7). Embora Pedro e Paulo pregassem “o [mesmo] evangelho”, reconheciam que existem modos diferentes de abordá-lo. Há quem tenha dons e habilidades para transmitir o evangelho a determinado grupo de pessoas, e há quem os tenha para transmiti-lo a um grupo diferentes. Disso se subtende que podemos adaptar o evangelho a diferentes pessoas, ao mesmo tempo em que lhe conservamos a essência. Essa é uma conclusão importante para a missão. Se falharmos em adaptarmos a mensagem do evangelho ao interesse das pessoas, ou se enxergarmos ao fazê-lo e perdermos sua essência, fracassaremos em convencer e conquistar outros para a alegria e a liberdade do evangelho. Quais são as maneiras mais comuns de fracassarmos na preservação da mensagem hoje? Algumas igrejas e cristãos têm adaptado o evangelho ao mundo moderno retirando os elementos “ofensivos”, como milagres de qualquer natureza ou a pretensão de que só se pode chegar a Deus através de Cristo. Mas, nesses casos, o próprio evangelho se perdeu, uma vez que ficamos na posição de ter de salvar a nós mesmos sendo bons. Esse é um fracasso de preservação. Por outro lado, é possível ir longe demais na direção oposta e deixar de se adaptar. Muitas igrejas e cristãos se vinculam de tal forma a sua música ou organização ou jargões, que não se dispõe a implementar mudanças para incorporar gostos e suscetibilidade de quem vem de fora. Por irônico que pareça, se você subadapta ou superadapta, “perde” o evangelho. Se eleva suas tradições à condição de elementos inegociáveis, cria, basicamente, um sistema de legalismo. É como se dissesse: cristãos verdadeiros sempre fazem as coisas dessa maneira. Assim, tanto o conservadorismo e o legalismo (não adaptação) quanto o liberalismo (não preservação) conseguem ameaçar o evangelho. Os apóstolos estavam determinados a preservar a mensagem do evangelho e suas consequências para o estilo de vida; mas estavam igualmente preparados para adaptar os meios à mensagem”. [2]

            Fica claro para nós em apenas dois versículos duas marcas da unidade cristã: a primeira é o fato de que a unidade cristã deve ser buscada pelos líderes de nossa comunidade a partir do entendimento que a busca em querer ter uma espécie de “primazia” em detrimento de outros líderes é nada mais, nada menos, do que uma busca pessoal de poder e vaidade. É evidente que Paulo, Pedro, João e os demais apóstolos não possuíam um sentimento de superioridade em detrimento uns aos outros.

            Uma segunda marca da unidade é o fato de que Deus não faz distinção de pessoas. Por esse motivo o evangelho aceita qualquer pessoa independente de seus antecedentes culturais ou étnicos. Keller afirma: “A unidade cristã não leva em consideração distinções culturais nem depende da similaridade cultural”.

           

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. A Graça (II) / Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1999.

CALVINO, João. Gálatas. São José dos Campos, SP: Editora Fiel. 2007

CARSON, D. A. / MOO, Douglas J. / MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.

GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Editora Vida, 2005.

GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984.

HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento; São Paulo, SP: Hagnos, 2001.

HALLEY, Henry Hamptom. Manual Bíblico de Haley. São Paulo: Editora Vida, 2001.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019.

KELLER, Timothy. Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.

KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Vida Nova, 2015.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.

LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.

LUTERO, Martinho. Martinho Lutero: obras selecionadas, v.10 – Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008.

MacARTHUR, John. Comentário Bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.

MacGRATH, Alister. Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

NICODEMUS, Augustus. Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.

POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999.

STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.

WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023.

 

 

 



[1] GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984, pg. 99.

[2] KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Vida Nova, 2015, pg. 47.

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