Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Livro
– Gálatas.
12º AULA – AS MARCAS DA UNIDADE
“E aqueles que pareciam
ser importantes, ainda que o tenham sido no passado, isso não me importa, pois
Deus não considera a aparência humana, esses, que pareciam ser importantes,
nada me acrescentaram. Pelo contrário, viram que o evangelho da incircuncisão
me havia sido confiado, assim como a Pedro o evangelho da circuncisão. (Gálatas
2:6-7)”
O
apóstolo Paulo continua combatendo o argumento falacioso dos falsos mestres em
relação a superioridade dos doze apóstolos em relação a si mesmo. A expressão
“que pareciam ser importantes” não tem o desejo de desmerecer aos colegiado
apostólico. E, é bom que se afirme, que esta expressão está sendo dirigida aos
apóstolos. Todavia não de forma depreciativa, mas sim como desejo de combater
uma possível diferenciação entre o apóstolo de Paulo e o apostolado dos doze.
As
principais alegações dos falsos mestres judaizantes era de que os doze
apóstolos eram uma espécie de casta superior de apóstolos. Eles embasavam suas
percepções e ensino no fato de que os doze apóstolos haviam convivido
pessoalmente com Jesus e vieram antes do apóstolo Paulo e por esse motivo o
apóstolo Paulo não pode ter recebido ensinos, doutrinas, diretamente do próprio
Jesus.
É
exatamente devido a essa situação que o apóstolo Paulo está usando essa
expressão, não no desejo de diminuir ou depreciar. Mas sim, de demonstrar que
Paulo e os doze reconhecem-se mutuamente e que há uma unidade entre eles, não
havendo brigas ou divergências entre Paulo e os concílios. Essa é pelo menos a
percepção de teólogos tais como John Stott, Donald Guthrie, Timothy Keller.
Paulo
diz que “estes nada me acrescentaram”. O apóstolo desejava deixar claro que não
acrescentado nada ao evangelho que ele pregava. Valendo inclusive lembrar do
terceiro verso do mesmo capítulo quando ele diz que nem Tito que era grego
precisou ser circuncidado, ou seja, nem mesmo foi acrescentado ao seu evangelho
algum tipo de obrigação como a circuncisão.
Existe
alguma diferença entre o “evangelho da circuncisão” e o “evangelho da incircuncisão”?
Dr. Donald Guthrie em seu comentário nos esclarece: “o evangelho da incircuncisão...
o da circuncisão: a mesma palavra “evangelho” é usada nas duas frases no
orginal, e não pode ser suposto que Paulo que sugerir qualquer diferença no
conteúdo. Há uma distinção no modo de apresentação e nada mais. O evangelho da
circuncisão não era, de modo algum superior ao evangelho da incircuncisão.
Realmente, portanto, a circuncisão não é uma condição sine qua non do evangelho.
O apóstolo não podia conceber dois evangelhos adaptados a tipos diferentes de
pessoas. Tanto os judeus quanto os gentios precisavam essencialmente das mesmas
boas novas. Os genitivos não por tanto descritivos, mas objetivos: “para os incircuncisos...
para os circuncidados”.[1]
Entendermos
essa questão é de extrema importância para que possamos ser efetivos no
cumprimento da missão que recebemos de Jesus. Tim Keller comentando sobre essa
questão diz: “Significa reconhecer que temos chamados diferentes. Os
apóstolos reconheciam isso entre si: “viram que o evangelho da incircuncisão me
havia sido confiado, assim como a Pedro o evangelho da circuncisão” (v.7).
Embora Pedro e Paulo pregassem “o [mesmo] evangelho”, reconheciam que existem
modos diferentes de abordá-lo. Há quem tenha dons e habilidades para transmitir
o evangelho a determinado grupo de pessoas, e há quem os tenha para
transmiti-lo a um grupo diferentes. Disso se subtende que podemos adaptar o
evangelho a diferentes pessoas, ao mesmo tempo em que lhe conservamos a
essência. Essa é uma conclusão importante para a missão. Se falharmos em adaptarmos
a mensagem do evangelho ao interesse das pessoas, ou se enxergarmos ao fazê-lo
e perdermos sua essência, fracassaremos em convencer e conquistar outros para a
alegria e a liberdade do evangelho. Quais são as maneiras mais comuns de
fracassarmos na preservação da mensagem hoje? Algumas igrejas e cristãos têm
adaptado o evangelho ao mundo moderno retirando os elementos “ofensivos”, como
milagres de qualquer natureza ou a pretensão de que só se pode chegar a Deus
através de Cristo. Mas, nesses casos, o próprio evangelho se perdeu, uma vez
que ficamos na posição de ter de salvar a nós mesmos sendo bons. Esse é um
fracasso de preservação. Por outro lado, é possível ir longe demais na direção
oposta e deixar de se adaptar. Muitas igrejas e cristãos se vinculam de tal
forma a sua música ou organização ou jargões, que não se dispõe a implementar
mudanças para incorporar gostos e suscetibilidade de quem vem de fora. Por
irônico que pareça, se você subadapta ou superadapta, “perde” o evangelho. Se
eleva suas tradições à condição de elementos inegociáveis, cria, basicamente,
um sistema de legalismo. É como se dissesse: cristãos verdadeiros sempre fazem
as coisas dessa maneira. Assim, tanto o conservadorismo e o legalismo (não
adaptação) quanto o liberalismo (não preservação) conseguem ameaçar o
evangelho. Os apóstolos estavam determinados a preservar a mensagem do evangelho
e suas consequências para o estilo de vida; mas estavam igualmente preparados
para adaptar os meios à mensagem”. [2]
Fica
claro para nós em apenas dois versículos duas marcas da unidade cristã: a
primeira é o fato de que a unidade cristã deve ser buscada pelos líderes de
nossa comunidade a partir do entendimento que a busca em querer ter uma espécie
de “primazia” em detrimento de outros líderes é nada mais, nada menos, do que
uma busca pessoal de poder e vaidade. É evidente que Paulo, Pedro, João e os
demais apóstolos não possuíam um sentimento de superioridade em detrimento uns
aos outros.
Uma
segunda marca da unidade é o fato de que Deus não faz distinção de pessoas. Por
esse motivo o evangelho aceita qualquer pessoa independente de seus antecedentes
culturais ou étnicos. Keller afirma: “A unidade cristã não leva em consideração
distinções culturais nem depende da similaridade cultural”.
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