Rio de Janeiro, 08 de outubro de 2025.
INSTITUTO BÍBLICO EFATÁ
MÓDULO DE TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO
4ª AULA – VIDA ETERNA NO QUARTO
EVANGELHO
PROFESSOR – PR. ROBERTO DA SILVA
MEIRELES RODRIGUES
INTRODUÇÃO:
Dr.
George Eldon Ladd em sua Teologia do Novo Testamento diferencia a ênfase do
evangelho de João para com os evangelhos sinóticos. No chamado quarto evangelho
o tema central é a vida eterna, e já, nos evangelhos sinóticos o tema central é
o Reino de Deus.
O
evangelista João ensina que os benefícios da vida eterna já podem ser desfrutados
em uma experiência aqui e agora através da pessoa de Jesus Cristo. Esta menção
de desfrutar do Reino futuro neste tempo presente não é encontrada nos
Sinópticos e nem na teologia judaica.
OS ELEMENTOS LINGUÍSTICOS:
O
termo grego “zoe aionios” (vida eterna) é utilizado pelo apóstolo João para
descrever o conceito de uma vida abundante. O adjetivo aionios não está ligado
a uma qualidade de vida, mas sim a uma designação de uma duração interminável:
ou seja, uma vez participante deste privilégio, é impossível perdê-lo.
O CONTEXTO HISTÓRICO JUDAÍCO:
No
contexto do Vetero Testamentário não encontramos a ideia de uma vida como uma
perspectiva eterna. Ladd cita o livro de Daniel 12:2 como exceção a esta regra
e mesmo assim dentro da tradução dos Setenta. A ideia judaica de vida era algo
voltado para um completo bem-estar terreno, Ladd é categórico ao fazer esta
afirmação: “O sentido básico de “vida” no
Antigo Testamento não é imortalidade ou vida após a morte, mas um completo bem-estar
do ser na existência terrena. Entretanto, esse bem-estar completo do ser não é
considerado como um fim em si mesmo, mas como um dom de Deus”.[1]
No
período intertestamentário, a posição judaica passa a ser acrescentada de que o
fim da vida não acarreta o fim da existência humana. Surgindo assim a ideia do
Seol, como um estado intermediário, em que os mortos aguardam a ressurreição. Ladd
ensina que o conceito do evangelho de João acerca da vida eterna, não era
novidade a linguagem judaica. No entanto os mesmos usavam outro termo diferente
para este conceito. O termo utilizado era: “a vida do século futuro”.
A VIDA NO GNOSTICISMO:
Para
entendermos o conceito de vida no gnosticismo precisamos saber o que o mesmo
tem como princípios para emissão de conceitos e valores. Vejamos uma breve
explicação: “Gnosticismo era talvez a
heresia mais perigosa que ameaçava a igreja primitiva durante os primeiros três
séculos. Influenciado por filósofos como Platão, o Gnosticismo é baseado em
duas premissas falsas. Primeiro, essa teoria sustenta um dualismo em relação ao
espírito e à matéria. Os Gnósticos acreditam que a matéria é essencialmente perversa
e que o espírito é bom. Como resultado dessa pressuposição, os Gnósticos
acreditam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não
tem valor algum porque vida verdadeira existe no reino espiritual apenas”.
Segundo,
os Gnósticos acreditam que possuem um conhecimento elevado, uma “verdade
superior”, conhecida apenas por poucos. O Gnosticismo se origina da palavra
grega “gnosis”, a qual significa “saber”, pois os Gnósticos acreditam que
possuem um conhecimento mais elevado, não da Bíblia, mas um conhecimento
adquirido por algum plano místico e superior de existência. Os Gnósticos se
enxergam como uma classe privilegiada e mais elevada sobre todas as outras, por
seu conhecimento superior e mais profundo de Deus.
Mediante
a este pressuposto o entendimento de vida do gnosticismo era que o alcance da
vida se dava quando o homem conseguia repelir suas paixões carnais. O mesmo ao
entrar em uma esfera chamada gnosis ele podia retornar a verdadeira essência da
vida.
A VIDA NOS SINÓPTICOS:
Os
evangelhos Sinópticos assim como judaísmo tratam a questão como algo
escatológico. Sempre com uma visão futurísticas. Isso é nítido, um bom exemplo
se dá no encontro de Jesus com o jovem rico em Marcos 10:17: “Quando Jesus saiu, correu para ele um
homem, que se ajoelhou diante dele e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para
herdar a vida eterna? ”
A VIDA ETERNA NO EVANGELHO DE JOÃO:
O ASPECTO ESCATOLÓGICO:
O
quarto evangelho continua apresentando a vida como algo escatológico.
Compreendemos isso nitidamente nos relatos de João, no entanto faz uma alusão a
duas eras, o presente e o futuro. João é o único dentre os autores dos
evangelhos que transmite a seus leitores este conceito. Não iremos encontrar em
nenhum dos outros evangelistas esse ensinamento acerca das duas eras.
VIDA ETERNA – O PRESENTE E O FUTURO:
O
evangelista João traz um ensinamento que não encontramos nos evangelhos
sinópticos segundo os ensinos de Dr. Ladd. O conceito de vida se dá apenas em
uma esfera futura. No entanto, está vida futura já foi outorgada ao crente
neste tempo presente. Ladd é extremamente categórico ao afirmar que a missão de
Jesus foi trazer a experiência da vida futura há um tempo de vida presente.
Trazer algo que transcende um manifestar natural, há uma esfera real ao alcance
no dia que se chama hoje.
Ladd
faz uma declaração linda a cerca deste tratado, ele diz assim: “Essa vida que habita em Jesus não é outra
senão a vida do século futuro, um fato que é ilustrado pela ligação feita entre
o recebimento da vida na era presente, e o usufruir dela no futuro. Beber da
água vida que Jesus dá significa que o indivíduo terá, dentro dele, uma fonte
de vida que jorrará para a vida eterna escatológica (Jo 4:14)”[2]
O
evangelista João entrelaça o presente e o futuro como algo inseparável, algo
que não há como deixar de ser desassociado. Dentro deste sentido vida eterna no
quarto evangelho assemelha-se ao discurso dos Sinópticos acerca do Reino de
Deus. Porém o quarto evangelho nos faz enxergar que através da pessoa de Cristo
nos experimentamos o Reino futuro em um tempo presente.
A natureza da Vida Eterna
- O conhecimento de Deus.
Tanto Dodd quanto Piper são enfáticos em dizer que o conhecimento de Deus trago
por Jesus é um fator decisivo para o conceito de vida eterna. Para isso
precisamos entender quais são os pensamentos a cerca deste conceito.
O conhecimento no
Pensamento Grego - O conhecimento no pensamento grego permeia
duas esferas. São elas: A esfera filosófica e a gnóstica.
A esfera filosófica
– “No conhecimento filosófico, conhecimento significa a contemplação de seu
objeto, para que possa descrever suas qualidades essenciais. A mente, ao fazer
uso da razão, pode perceber a essência permanente daquilo que observa. O
conhecimento é a apreensão da realidade suprema”.
A esfera gnóstica
– A literatura hermética uma de suas principais linhas de regra nos dá o
entendimento de algo que não é racional. “Antes
e a direta percepção de Deus pela mente (nous), não pelo uso de um raciocínio
rigoroso, mas por meio da intuição direta e da iluminação interior”.
O CONHECIMENTO NO ANTIGO TESTAMENTO:
O
entendimento do termo “conhecimento” no Antigo Testamento é diferente, seu
significado está ligado diretamente a uma experiência em lugar de contemplação
ou de êxtase. O conhecimento de Deus dentro da perspectiva Vetero Testamentária
tem o sentido de envolvimento, relacionamento, comunhão, preocupação.
O CONHECIMENTO EM JOÃO:
O
quarto evangelho traz a ideia de conhecimento em uma relação baseada em uma
experiência. Algo que traz uma relação íntima, mútua, entre o Pai e o Filho,
entre Jesus e seus discípulos. O fator que diferencia os discípulos de Jesus do
mundo é que seus discípulos o conhecem.
Ladd
faz um apontamento interessante a cerca deste conceito. Diz ele: “... O conhecimento de Deus é mediado pela
fé, não pela supressão dos sentidos do corpo. Os homens demonstram ignorância
de Deus em virtude de terem se entregado aos prazeres do corpo, mas em virtude
terem rejeitado Jesus, Além do mais, o conhecimento de Deus não leva à uma
absorção do ser humano por Deus, mas a uma vida de amor e de obediência”.[3]
A VISÃO DE DEUS:
A
visão de Deus encontrada no quarto evangelho não é uma visão mística
apresentada pela literatura hermética, mas sim de um reconhecimento pessoal de
que Cristo é o mediador entre Deus e os homens. “Se vós me conheceres... e o tendes visto. (Jo 14:7).”
O CONHECIMENTO DA VERDADE:
O
conhecimento da verdade é definida segundo Ladd pelo conhecimento de Deus, logo
tendo-se o conhecimento de Deus se têm em paralelo o conhecimento da verdade.
A VIDA CRISTÃ NO QUARTO EVANGELHO:
A FÉ:
O
quarto evangelho é enfático ao afirmar que a única maneira que Jesus atribuiu
para o recebimento da dádiva da vida eterna foi através da fé em sua pessoa.
Nos evangelhos Sinópticos por sua vez a fé é atrelada na confiança, no poder e
na bondade de Deus. Ladd é enfático ao afirmar este conceito ao dizer: “Fica claro que no quarto evangelho a fé
desempenha um papel na salvação, que não se encontra nos Sinópticos”.[4]
Esta
fé encontrada no 4° evangelho não é uma mera aceitação do mesmo, mas sim
entender quem Ele É, saber e entender quem Ele reivindicar Ser, e ter um
comprometimento com sua Obra e missão.
FÉ E SINAIS:
O
evangelho de João tem uma conotação diferente dos evangelhos sinópticos no que
tange a sinais e maravilhas. Nos Sinópticos a ideia dada sobre operação de
maravilhas é irrupção do Reino de Deus na história, estes atos de poder
manifestam a vitória de Deus sobre o reino de Satanás. A expulsão de demônios
nos Sinópticos é uma clara manifestação do domínio de Deus sobre a história
humana.
Já
no quarto evangelho os sinais são para que se cresse que Jesus é o Cristo (Jo
20:31). A grande questão é que nos milagres descritos pelo evangelista João são
para revelar a ação redentora de Deus através da pessoa de Jesus.
É
existente em João uma tensão constante entre os sinais e a fé. Em um determinado
momento vemos Jesus operando milagres tendo como propósito levar a fé em Si
mesmo (2:23; 6:14; 7:31; 10:42). Em outros momentos vemos homens que
contemplaram milagres, porém não creram (6:27; 11:47; 12:37). Ladd fala que se
compreender esta relação é necessário se admitir está tensão.
Vejamos
o que Ladd diz: “É preciso ter fé para
reconhecer o verdadeiro significado dos sinais e de seu testemunho em
relação a Jesus; para aqueles que não têm fé, os sinais são meramente prodígios
GLÓRIA:
Os
sinais no quarto evangelho revelavam a Glória de Deus. Esta palavra é uma
confrontação de Jesus aos homens que buscavam para si Glória e louvor (5:41;
7:18). O termo doxa (doxa) no Novo Testamento é a ideia equivalente do Kabôd, o
qual se refere as manifestações visíveis de Deus (Êx 16:20; 24:16; I Rs 8:11).
O conceito de glória é um termo de cunho escatológico, os profetas diziam que a
Glória do Senhor encheria a terra chamado “grande dia” ou “dia do Senhor”.
FÉ E CONHECIMENTO:
O
quarto evangelho traz a ideia de uma relação entrelaçada de fé e conhecimento.
As pessoas que possuem uma fé genuína em Deus, logo terão um íntimo
conhecimento do Mesmo.
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