quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Eles foram comissionados - Atos 1:6-8

 


Rio de Janeiro, 20 de novembro de 2025.

Série de Mensagens – A gênese da igreja

Tema da Mensagem – Eles foram comissionados

Texto Base – Atos 1:6-8

INTRODUÇÃO:

O texto que estamos analisando possui uma das cenas mais decisivas de toda a história da igreja. Jesus está prestes a ascender aos céus. Os discípulos, ainda marcados por expectativas políticas e nacionalistas, perguntam sobre o “restabelecimento do reino a Israel”. A resposta de Cristo não apenas corrige sua compreensão, mas estabelece a missão, a identidade e a vocação da igreja em todos os tempos.

Segundo John Stott, este texto funciona como “um índice para todo o livro de Atos”—o evangelho começa em Jerusalém, avança pela Judeia e Samaria e alcança os confins da terra.

Especificamente o texto de Atos 1.8 não é apenas uma promessa missionária, mas a própria estrutura teológica da expansão do Reino. Cristo não condena a pergunta dos discípulos, mas redireciona seu entendimento, mostrando que o Reino se manifesta primeiramente no avanço espiritual do evangelho, não em projetos políticos.

Esse texto é essencial porque responde três perguntas fundamentais: 1) Qual é o foco do Reino de Deus? 2) qual é a missão da igreja? 3) de onde vem o poder para cumpri-la?

1º APONTAMENTO – A PERGUNTA DOS DISCÍPULOS (V.6)

Os discípulos ainda pensavam em categorias nacionais e políticas. Vale destacar que eles esperavam uma restauração política semelhante ao reinado de Davi. Ao examinar o texto acredito que a pergunta dos discípulos é honesta, mas teologicamente inadequada: eles ainda não haviam entendido que o Reino de Deus é universal, espiritual e redentivo.

Vale ressaltar que o judaísmo do século I tinha forte esperança de libertação nacional, por isso a dúvida dos discípulos reflete expectativas culturais profundas. Nossa tendência humana é tenta reduzir o evangelho a agendas menores—política, moralismo, autoajuda—mas o Reino de Cristo não se limita a isso.

Jesus não ridiculariza a pergunta, mas mostra que eles esperam o Reino no tempo errado, na dimensão errada e pela força errada.

 

 

2º APONTAMENTO – A RESPOSTA DE JESUS SOBRE OS TEMPOS (V.7)

Aqui, Jesus corrige a ansiedade dos discípulos sobre cronologias e eventos futuros. A resposta de Jesus nos deixa claro que ele não apoia especulações escatológicas: o foco da igreja não é prever datas, mas cumprir sua missão.

Deus é Soberano da história—Ele conduz o plano, não a igreja. O interesse de Jesus é coibir a excessiva curiosidade e redirecionar os discípulos para aquilo que é revelado. O ensino é claro: a igreja não controla o tempo da restauração, mas controla sua obediência na missão.

3º APONTAMENTO – O CORAÇÃO DA PASSAGEM: PODER, TESTEMUNHO E ABRANGÊNCIA (V.8)

Este é o verso-chave de toda a missão cristã. Podemos extrair desse verso três características da missão: Poder, testemunho e abrangência. Vamos analisar essas três características ensinadas por Jesus.

“Recebereis poder…” — A Fonte da Missão

O poder não é político, militar ou cultural, mas espiritual, dado pelo Espírito Santo. Sem o Espírito, o cristão é “como uma ferramenta sem mão". A missão da igreja é impossível sem capacitação do alto. A igreja não avança pela eloquência, estratégias ou riqueza, mas pelo poder sobrenatural do Espírito.

“Sereis minhas testemunhas…” — A Identidade da Missão

A igreja não é chamada apenas a falar sobre Cristo, mas a testemunhá-Lo com a vida e a palavra. Testemunhar implica fidelidade: A igreja existe para tornar Cristo conhecido. Testemunhar é proclamar, viver e demonstrar o Cristo ressuscitado. Testemunhar é representar Cristo no mundo.

 “Jerusalém… Judeia e Samaria… confins da terra” — A Expansão da Missão

Os comentaristas concordam que este verso é um mapa missionário: 1) Jerusalém — o lugar onde estamos; Judeia e Samaria — lugares próximos, mas muitas vezes resistentes ou culturalmente diferentes; os confins da terra — todo o mundo, sem limites.

Segundo Keener, “confins da terra” ecoa Isaías 49:6: o Messias é luz para todas as nações. A igreja só é fiel quando vive em movimento. Isso refuta todo exclusivismo étnico ou religioso: o Reino é global.

APLICAÇÕES PRÁTICAS PARA NOSSAS VIDAS:

·         Abandone expectativas terrenas e estreitas. O Reino de Cristo não é político, ideológico ou nacionalista;

·         Pare de especular sobre datas e eventos. Jesus não nos chamou para adivinhar o futuro, mas para anunciar o evangelho;

·         Busque o poder do Espírito. Sem Ele, a igreja é impotente; com Ele, é invencível;

·         Assuma sua identidade de testemunha. Se Cristo mudou sua vida, outros precisam saber;

·         Enxergue o campo missionário começando onde você está. Sua “Jerusalém” é sua casa, sua igreja, seu bairro;

·         Expanda sua visão para além das fronteiras. O evangelho é global; nosso chamado também.

CONCLUSÃO:

O texto nos apresenta a igreja como um povo enviado, empoderado e governado pelo Cristo ressurreto. Não somos chamados a aguardar passivamente a restauração final do Reino, mas a participar ativamente da sua expansão espiritual até o dia em que Cristo voltar.

Que vivamos como testemunhas fiéis, cheias do Espírito, levando o nome de Jesus da nossa Jerusalém aos confins da terra.

 

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

2ª AULA – A ARQUITETUTA TRINITÁRIA DA SALVAÇÃO: ELEIÇÃO, REDENÇÃO E GARANTIA.

 


Rio de Janeiro, 19 de novembro de 2025.

INSTITUTO BÍBLICO EFATÁ

MÓDULO DE ANÁLISE DA EPÍSTOLA DE EFÉSIOS

2ª AULA – A ARQUITETUTA TRINITÁRIA DA SALVAÇÃO: ELEIÇÃO, REDENÇÃO E GARANTIA.

TEXTO – EFÉSIOS 1:3-14

PROFESSOR – PR. ROBERTO DA SILVA MEIRELES RODRIGUES

1º APONTAMENTO - O PAI: BÊNÇÃOS, ELEIÇÃO E ADOÇÃO. (VERSOS 3-6)

·         “Bênçãos espirituais nos lugares celestiais”: indica origem e natureza celestes das bênçãos; graça que transcende estruturas meramente terrenas.

·         Eleição “em Cristo” (en Christō): é teologicamente central — não é eleição abstrata, mas eleição «em relação a Cristo»; o crente é escolhido para pertencer a Cristo.

·         Finalidade ética da eleição: a eleição visa santidade — “para que fôssemos santos e irrepreensíveis” — a eleição tem um propósito moral, não apenas um privilégio status

·         Predestinação à adoção: o vocabulário (proorizō / “predestinar”) vincula a eleição à adoção filial — enfatiza relação, status e herança. Hoehner observa a conotação legal/romana da adoção como mudança definitiva de posição social;

·         Implicação de estudo: A iniciativa é divina, relacional e teleológica (tem fim: louvor da graça).

2º APONTAMENTO – O FILHO: REDENÇÃO, PERDÃO E O PLANO CÓSMICO. (VERSOS 7-12)

·         Redenção (ἀπολύτρωσις) e “pelo seu sangue”: linguagem de resgate/pagamento, sublinha a eficácia histórica e objetiva da obra de Cristo. Hendriksen e Keller enfatizam a seriedade e o custo da salvação.

·         Perdão (ἄφεσις) como resultado da graça abundante: Paulo liga perdão e graça abundante (verbo que indica superabundância) — a graça é generosa e eficaz. (Foulkes)

·         “Mistério” e “revelação”: o plano de Deus (unir todas as coisas em Cristo) é descrito como algo que esteve oculto e agora é manifesto — coloca a cruz e a ressurreição no centro de um projeto cósmico (comparar com Colossenses). Hoehner e Shedd sublinham a dimensão cósmica da cristologia paulina.

·         Herança e propósito: a vida dos redimidos é orientada para a realização do propósito divino — e isso reverte novamente para louvor da glória divina.

·         Implicação de estudo: a obra do Filho é o meio histórico que concreta o plano eterno do Pai; sua obra tem alcance cósmico e comunitário

 

3º APONTAMENTO – O ESPÍRITO: SELO, PENHOR E GARANTIA. (VERSOS 13-14)

·         Ordem: ouvir → crer → selo: apresenta a dinâmica da aplicação da salvação no indivíduo e na comunidade. (Stott)

·         Selo (σφραγίς): nos contextos antigos, selo indica propriedade, autenticidade e proteção — aqui, funcionamento pastoral e teológico: o Espírito autentica e marca a pertença ao Deus que salvou. (Hendriksen)

·         Arrabōn (ἀρραβών) / penhor: linguagem econômica que descreve o Espírito como garantia da plenitude futura — a salvação é presente (selo) e garantida (penhor) até sua consumação. (Keller)

·         Função escatológica: o Espírito conecta experiência presente com esperança futura — “até a redenção da herança” indica consumação escatológica.

·         Implicação de estudo: O Espírito torna a salvação eficaz e assegura certeza e esperança; há tanto dimensão presente quanto promessa futura.

CONCLUSÃO:

·         Identidade e segurança: usar a predestinação e adoção para 1) consolação, 2) incentivo à santidade, 3) rejeição da vanglória.

·         Vida comunitária e missão: a noção de herança e de união em Cristo (unir todas as coisas) implica que a igreja é sinal da reconciliação cósmica — compromisso com missão holística e reconciliadora.

·         Espiritualidade prática: cultivar consciência do selo do Espírito — práticas como meditação na Escritura, oração e liturgia que reafirmem a pertença e a esperança dos crentes.

 

domingo, 16 de novembro de 2025

Cercas Sagradas - Provérbios 4.23


Rio de Janeiro, 16 de novembro de 2025.

Reflexões Dominicais

Tema do Sermão – Cercas Sagradas

Texto Base – Provérbios 4.23

INTRODUÇÃO

Vivemos em um tempo de hiperexposição, pressão constante e distrações. As pessoas cuidam da imagem e das conquistas, mas negligenciam aquilo que a Bíblia chama de fonte da vida: o coração.

1º APONTAMENTO - O CHAMADO BÍBLICO PARA PROTEGER O CORAÇÃO

“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23)

·         O coração é a central de comando;

·         Ele é vulnerável a pressões, desânimo e desgaste;

·         Quando as raízes adoecem, tudo desmorona.

2º APONTAMENTO - A NECESSIDADE DE UMA “CERCA SAGRADA”

·         Segundo Wayne Cordeiro, cercas sagradas são limites espirituais que protegem a vida interior;

·         Elas representam tempo intencional com Deus;

·         Sem cercas, o ativismo seca a alma;

·         Elas protegem contra distrações e pressões da vida.

3º APONTAMENTO - PRÁTICAS QUE FORTALECEM AS RAÍZES DA ALMA

·         Silêncio e solitude;

·         Leitura e meditação da Palavra;

·         Oração sincera e disciplinada;

·         Ritmo saudável de descanso;

·         Mentores espirituais;

4º APONTAMENTO - CONSEQUÊNCIAS DE UMA VIDA SEM CERCAS

·         Superficialidade espiritual;

·         Esvaziamento emocional;

·         Colapso espiritual e ministerial;

5º APONTAMENTO - A RECONSTRUÇÃO DA CERCA: APLICAÇÕES PRÁTICAS

·         Estabeleça horários sagrados com Deus;

·         Proteja esse tempo com firmeza;

·         Organize sua agenda ao redor da vida interior;

·         Busque mentores;

·         Reconheça sinais de desgaste espiritual;

CONCLUSÃO

O capítulo “Cercas Sagradas” nos lembra que o território mais importante a ser protegido não é nosso ministério, mas o coração. Tudo flui dele. Quando erguemos cercas espirituais — tempo com Deus, disciplina, descanso e mentoria — nossa vida produz frutos duradouros.

Como está sua cerca espiritual? Sua alma tem espaço para respirar?

Peça ao Espírito Santo forças para reconstruir e proteger a fonte da vida: seu coração.

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

CARTA DE GRATIDÃO A QUERIDA PIB EM ROCHA MIRANDA PELOS 13 ANOS DE MINISTÉRIO PASTORAL


Querida Igreja Batista em Rocha Miranda,

Graça e Paz do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Escrevo esta carta com o coração cheio — cheio de memória, de gratidão e de uma emoção que só Deus conhece em profundidade. Ao me aproximar do dia 15 de dezembro, quando completo 13 anos servindo como pastor desta amada igreja, e também dos meus 42 anos de vida, sinto-me compelido a olhar para trás e contemplar a bondade do Senhor em cada passo da nossa jornada. E quando penso que, apenas três dias depois, no dia 18 de dezembro, a nossa querida Primeira Igreja Batista em Rocha Miranda completará 89 anos de existência, meu coração se enche ainda mais de reverência. Esta é uma história que começou muito antes de mim — e, pela graça, continuo tendo o privilégio de caminhar dentro dela.

Entrei por essas portas há quase 15 anos atrás carregando sonhos, tremores, temor e um profundo desejo de honrar ao Senhor. Trazia no peito a responsabilidade de cuidar de vidas, de pregar a Palavra com fidelidade, de amar esta igreja com sinceridade. E vocês me receberam — com carinho, com paciência, com confiança. Hoje, ao olhar para estes 13 anos, percebo que não fui apenas pastor de vocês, mas fui também cuidado, moldado, desafiado e amado por esta comunidade preciosa.

Cada culto, cada oração, cada lágrima derramada nos difíceis momentos, cada sorriso compartilhado nas conquistas, cada abraço firme nos dias incertos — tudo isso me ensinou a ser um pastor melhor, mas, acima de tudo, um discípulo mais dependente da graça.

Se existe algo que desejo expressar de forma incontestável nesta carta é gratidão. Gratidão pela confiança de vocês. Gratidão pela forma como caminharam ao meu lado na visão, nos projetos, nos acertos e até nos meus limites. Gratidão por permitirem que eu seja, não apenas o pastor desta igreja, mas parte da família de vocês.

Ao celebrar 13 anos de ministério e 42 anos de vida, percebo que cada etapa foi tecida pelas mãos de Deus usando vocês como instrumentos. E quando olho para a história desta igreja — 89 anos de fidelidade divina sobre uma comunidade que persevera no Evangelho — eu me sinto pequeno diante de tantas gerações que mantiveram a chama acesa, mas profundamente honrado por carregar, hoje, essa mesma tocha.

Minha oração é que Deus continue sustentando esta igreja com a mesma graça que nos trouxe até aqui. Que continuemos proclamando Cristo com paixão, servindo ao próximo com compaixão, caminhando na verdade com firmeza e vivendo em amor com profundidade.

Agradeço a Deus por cada membro, cada família, cada ministério, cada vida que compõe esta história. E agradeço a vocês por me permitirem fazer parte dela. O que fiz até aqui, fiz com dedicação sincera, com respeito profundo e com paixão verdadeira pelo Reino de Deus e por esta casa de fé.

Que venham muitos anos de frutos, de unidade, de crescimento e, sobretudo, de fidelidade ao Evangelho. E que Deus nos encontre sempre de joelhos — dependentes, obedientes e confiantes.

 

Com todo o carinho e amor de seu amigo e pastor:

 

_____________________________________________

Pr. Roberto da Silva Meireles Rodrigues

Primeira Igreja Batista em Rocha Miranda

“Assim, devido ao grande afeto por vós, estávamos preparados a dar-vos de boa vontade não somente o evangelho de Deus, mas também a própria vida, visto que vos tornastes muito amados para nós”. (1 Ts 2.8)

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

O prólogo - Atos 1:1-5

 


Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2025.

Série de Mensagens – A gênese da igreja

Tema da Mensagem – O prólogo

Texto Base – Atos 1:1-5

INTRODUÇÃO:

Meus queridos irmãos (as), gostaria de iniciar esta série com uma frase magistral de um dos maiores escritores vivo em nossos dias. Seu nome é Eugene Peterson, em seu livro “Maravilhosa Bíblia”, Peterson diz a seguinte frase: “Ao se ajuntar aos escritores das Sagradas Escrituras, somos instruídos em uma prática de leitura e escrita infundida de enorme respeito – mais que respeito, profunda reverência – pelo poder revelador e transformador das palavras”.

            Gostaria de iniciar com esta frase visando salientar a importância que devemos dar ao nosso momento devocional, no que diz respeito a leitura da Palavra de Deus. Nossas igrejas, vêm sendo tomada por uma total falta de reverência e descaso no que tange, ao cuidado de sermos uma comunidade comprometida com o exame das Escrituras.

            Muitas pessoas confunde o princípio da Reforma de livre exame, com livre interpretação. A Bíblia pode ser tida como mãe de todas as heresias, dependendo de quem for a pessoa que está a examiná-la e a interpretá-la, se por trás disso estiverem interesses pessoais, interesses denominacionais, interesses políticos, interesses econômicos, enfim, os mais diversos interesses pessoais.

            A ferramenta utilizada para interpretação de um texto Bíblico é a hermenêutica. Essa por sua vez, contém em seus parâmetros alguns atributos necessários para uma boa aplicação.

            É partindo dos princípios hermenêuticos que iremos iniciar nossa série de estudos no livro de Atos dos Apóstolos. Vejamos alguns dados importantes para considerarmos acerca do mesmo.

·         “É o único que tenta apresentar uma narrativa histórica dos tempos. Imediatamente, seguintes à ascensão de Jesus Cristo” (Broadus David Hale – Introdução ao Estudo do Novo Testamento);

·         As informações encontradas nele não se encontram em nenhum outro livro do Novo Testamento. Alguma informação pode ser colhida das epístolas, acerca da igreja primitiva; mas, é somente quando colocarmos essas epístolas dentro da estrutura de Atos que podemos reconstruir, até certo ponto, a história da igreja que emergia. (Broadus Davi Hale – Introdução ao Estudo do Novo Testamento);

·         O Evangelho prevê a igreja, e as Epístolas pressupõe a igreja. O livro de Atos foi escrito para descrever o surgimento o surgimento e o desenvolvimento da igreja (Broadus David Hale – Introdução ao Novo Testamento);

·         Irineu, por volta de 190 d.C., foi o primeiro a usar o título simples de “Atos dos Apóstolos”. Provavelmente, este segundo volume de Lucas não tinha um título, assim como o primeiro volume. Os títulos foram acrescentados posteriormente, para distinguir esses escritos dos outros escritos do Novo Testamento e para dar alguma ideia quanto ao conteúdo de cada um. Contudo, há de se ver que esse título é enganoso. Esse livro não pretende ser obra dos apóstolos; é a história do crescimento do movimento cristão, conforme visto e entendido por uma pessoa que estava grandemente interessada em seu desenvolvimento histórico. (Broadus David Hale – Introdução ao Novo Testamento).

·         O Evangelho (primeiro volume) relata o que “Jesus começou a fazer e a ensinar (At 1.1), E Atos (segundo volume) descreve o desenvolvimento lógico dos elementos básicos nesse ministério, que se iniciava. (Brodus David Hale – Introdução ao Novo Testamento);

AUTORIA DO LIVRO:

Os pais da igreja, os reformadores, a tradição cristã, indicam como autor do livro de Atos, “Lucas o médico amado”. 

EVIDÊNCIAS INTERNAS:

·         A linguagem e a escrita denunciavam uma erudição de uma pessoa letrada, e também pelos termos e expressões evidenciavam o costume de um médico;

·         O livro foi escrito por algum companheiro de Paulo. Pois a partir de At 16.10, é aplicado o pronome nós, ao invés de eles. Se formos eliminando as possibilidades dos companheiros de Paulo, chegaremos ao senso comum, de que Lucas era o mais adequado a esta posição;

EVIDÊNCIAS EXTERNAS:

·         O prólogo Anti Marcionita ao Evangelho de Lucas, escrito por volta de 160-180 d.C., afirma que Lucas, o médico e companheiro de Paulo, escreveu o evangelho e “os Atos dos Apóstolos”. (Broadus David Hale - Introdução ao Novo Testamento);

·         Irineu por volta do ano 185 d.C., atribuiu a Lucas a autoria do texto;

·         Clemente de Alexandria por volta do ano 190 d.C., atribuiu a Lucas a autoria do texto;

·         Tertuliano e Orígenes no final do segundo século e início do terceiro século, atribuíram a Lucas a autoria.

·         Eusébio de Cesaréia por volta do ano 325 d.C., também evidência a autoria Lucas.

DATA:

A maioria dos estudiosos são unânimes em atribuir a data para antes do ano 70d.C. Isso pelo fato, da destruição da cidade Jerusalém pelo imperador Nero, era um fato histórico muito importante para ter sido omitido, caso o livro fosse escrito após esta data.

            Parece haver um senso comum de que Atos fora escrito por volta do ano 62 d.C. Algumas considerações são válidas para pensarmos nesta data. São elas:

1.      A maneira abrupta de encerrar pode ser explicada pelo fato de Atos ter sido escrito antes do aparecimento de Paulo perante Nero. Não é natural um livro ser terminado desta maneira, se o autor sabia que Paulo havia sido solto;

2.      Em nenhuma parte, o autor insinua a morte de Paulo. Atos termina com uma nota demasiadamente confiante. Certamente o autor, em algum lugar, teria traído a si próprio se soubesse da morte de Paulo;

3.      A reação geral das autoridades romanas ao cristianismo torna difícil de se crer que a perseguição de Nero havia iniciado. Em toda parte, os oficiais romanos haviam declarado os cristãos inocentes das acusações trazida contra eles. A perseguição por decreto governamental ainda não começado.

 

O PRÓLOGO

1º APONTAMENTO – TUDO O QUE JESUS COMEÇOU A FAZER E A ENSINAR.

“O primeiro relato, ó Teófilo, acerca de tudo o que Jesus começou a ensinar, até o dia em que foi elevado ao céu, após ter dado orientações, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera”. (Versos 1 e 2)

            John Stott destaca que Atos é o volume dois do evangelho de Lucas — o relato de tudo o que Jesus continuou a fazer e ensinar por meio do Espírito Santo e da Igreja. O que Jesus começou a fazer em seu corpo físico nos Evangelhos, Ele continua a fazer em seu corpo espiritual — a Igreja — em Atos.

David Garland reforça que Atos é uma ponte entre a obra de Cristo e a missão da Igreja, mostrando que o cristianismo não é uma religião estática, mas uma história em movimento — uma fé que caminha do Cenáculo até os confins da terra.

Lucas destaca que o Evangelho narrava o que Jesus começou a fazer e ensinar — implicando que o que vem agora é a continuação de sua obra. Simon Kistemaker observa que o verbo ‘começar’ indica que o ministério terreno de Jesus não foi o fim, mas o início do agir divino através dos apóstolos.

Aplicação: A Igreja não é uma nova iniciativa humana, mas a continuação da missão do Cristo ressurreto. Somos chamados a prosseguir a história de Jesus no mundo. Albert Mohler Jr. destaca que a Igreja primitiva não recebeu um programa, mas uma pessoa — o Espírito Santo — para continuar a obra do Salvador.

2º APONTAMENTO – A REALIDADE DA RESSURREIÇÃO: O CRISTO VIVO ENSINA O SEU POVO.

“Depois de ter sofrido, apresentou-se vivo também a eles, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes por quarenta dias e falando das coisas referentes ao reino de Deus”. (Verso 3)

Lucas reforça que Jesus se apresentou vivo “com muitas provas incontestáveis”. Howard Marshall explica que o termo grego ‘tekmērion’ enfatiza a objetividade da ressurreição — uma realidade histórica, não apenas espiritual. Craig Keener acrescenta que o período de quarenta dias é um tempo de transição e instrução, no qual o Ressuscitado prepara os discípulos para compreender o Reino de Deus em sua dimensão espiritual e missional.

Antes de agir, o discípulo precisa encontrar-se com o Cristo vivo. A missão cristã não nasce da estratégia, mas do encontro com a ressurreição.

3º APONTAMENTO – A PROMESSA DO PAI: O PODER DO ESPÍRITO SANTO.

“Enquanto participava de uma refeição com eles, ordenou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias”. (Versos 4 e 5)

            Jesus ordena que os discípulos não saiam de Jerusalém, mas esperem a promessa do Pai. A expectativa é de continuidade: a promessa feita por João Batista se cumpre agora. Kistemaker comenta que o batismo com o Espírito não é privilégio de uma elite, mas capacitação para todos os que participam da missão de Cristo.

Howard Marshall vê nisso o marco de uma nova era redentora — o tempo do Espírito. John Stott reforça: “Sem o Espírito, a Igreja não passa de um cadáver; com o Espírito, ela é um corpo vivo em missão”. Albert Mohler Jr. observa que Jesus manda esperar: a Igreja precisa aprender a esperar em obediência antes de agir em presunção. A ação sem o Espírito é apenas ativismo religioso.

O poder do Espírito não é uma emoção, mas a presença de Deus para testemunhar Cristo. A promessa do Pai é o combustível da missão.

CONCLUSÃO:

Atos 1:1-5 mostra o elo entre o Cristo histórico e o Cristo presente na Igreja. Jesus começou a obra. O Espírito continua a obra. A Igreja participa dessa obra. David Garland conclui: “Atos não termina porque a missão de Deus ainda não terminou. O Espírito continua escrevendo essa história através de nós”.

O texto nos chama a três atitudes: reconhecer que a missão é de Cristo, não nossa; crer no Cristo vivo que age hoje; e esperar e depender do Espírito antes de agir.

 

 

Eles foram comissionados - Atos 1:6-8

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