Rio de Janeiro, 08 de junho de 2025.
Série de Mensagens – Ao anjo da
igreja
Tema da Mensagem – Ao anjo da
igreja em Pérgamo
Texto Base – Apocalipse 2:12-17
INTRODUÇÃO:
O livro e seu conteúdo – O livro foi nominado com a
tradução da primeira palavra grega do livro, apokalypsis, que significa “revelação”. Pode ser que você já tenha
ouvido alguém falar ou ensinar que o significado de apocalipse seja
“destruição”, “fim do mundo”, ou alguma outra coisa parecida. Porém, não é isso
que significa. Trata-se da revelação que João recebe da parte de Jesus que o
ordena a escrever e a compartilhar com os irmãos. O professor de teologia
bíblica do seminário Baltimore, Maryland, nos E.U.A explica de forma muito
assertiva o conteúdo do livro de Apocalipse: “Quais são as implicações dessa abordagem? Apocalipse não diz respeito
ao anticristo, mas ao Cristo vivo. Não diz respeito a um arrebatamento para
fora deste mundo, mas a um discipulado fiel neste mundo. Ou seja, como qualquer
outro livro do Novo Testamento, Apocalipse trata sobre Jesus Cristo –
“Revelação de Jesus Cristo” (Apocalipse 1:1) – e sobre segui-lo em obediência e
amor. “Se alguém indagar: ‘Por que ler Apocalipse’, a resposta pronta deve ser:
‘Para conhecer melhor a Cristo’. Nesse último livro da Bíblia cristã, Jesus é
retratado sobre tudo como: a Testemunha Fiel, que permanece leal a Deus apesar
da tribulação; o que está Presente, que caminha entre a comunidade dos seus
seguidores, proferindo palavras de conforto e incentivo por meio do Espírito; o
Cordeiro que foi morto e agora reina com Deus, o Criador, compartilhando a
devoção e adoração que são devidas somente a Deus e; o que virá, cumprirá todo
o propósito de Deus e reinará com Deus no meio do seu povo, no novo céu e na
nova terra. Apocalipse, portanto, também nos fala sobre sermos fiéis a Deus e
obedientes ao Espírito ao seguirmos Jesus, especificamente em: testemunho e
resistência fiéis; escuta atenta; uma vida litúrgica (permeada pela adoração)
e; esperança missional”.[1]
Quem é o autor da carta e quando ela foi
escrita? Estudiosos modernos têm questionado a
autoria da carta que comumente é dada praticamente de forma unânime ao apóstolo
João desde os pais da Igreja, com raras exceções tais como Eusébio (325) e
Dionísio de Alexandria no terceiro século. O estudioso do Novo Testamento que
foi por muitos anos professor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
Dr. Broadus Davi Hale, em sua obra Introdução ao Novo Testamento faz o seguinte
comentário acerca da evidência externa da autoria de João: “Embora Hermas e
Inácio possam ter feito uso do Apocalipse, Justino Mártir, no que concerne à
evidência preservada, foi o primeiro a declarar explicitamente que o apóstolo
João escreveu o Apocalipse (Diaogue With Trypho the Jew, 81). Como Justino
viveu em Éfeso em torno de 135 d.C., esta informação é importante. O Cânon
Muratoriano (c. 175) contém o Apocalipse e diz que o apóstolo João é o autor.
Irineu (c.180), pupilo de Policarpo, escreveu que João, o discípulo do Senhor,
viveu na Ásia até os tempos de Trajano” e escreveu o Apocalipse pelo final do
reinado de Domiciano (Ad. Haerses, V, xxx, 3). No final do segundo século,
Polícrates, Clemente de Alexandria e Tertuliano, todos, testemunharam do
apóstolo João como autor do Apocalipse. Orígenes (c.225) escreveu que o João
que “se reclinava sobre o peito do Senhor” escreveu tanto o evangelho quanto o
Apocalipse (citado em Eusébio, H.E., VI, xxv, 9). Depois de Orígenes, todos os
escritores, com duas exceções, aceitam sem contestar a autoria joanina do
Apocalipse”.[2]
Um importante centro político e
religioso – Pérgamo
não era uma cidade comercial tão importante quanto Éfeso e Esmirna, mas era
extremamente importante como um centro político e religioso. Após a morte de
Alexandre, o Grande, em 333 a.C. Átalo, o último rei de Pérgamo, passou o reino
a Roma em seu testamento. Pouco tempo depois, Pérgamo passou a ser a capital da
província romana na Ásia. No 29 a.C. foi dedicado um templo "ao divino
Augusto e a deusa Roma", e dessa maneira Pérgamo se tornou o principal lugar
de adoração ao imperador na Ásia. A adoração ao imperador tornou-se uma prova
de sua lealdade a Roma. O culto ao imperador havia se tornado o ponto central
da política junto ao império.
Uma cidade mergulhada na idolatria - "Pérgamo era também o centro de culto a outros deuses. Na cidade havia
uma acrópole de uns 300 metros de altura com muitos templos a deuses pagãos. No
topo havia um bonito templo dedicado a Zeus, tendo ao lado um templo da deusa
Atenas. Pérgamo também era o centro do culto a Asclépio, o deus-serpente das
curas, e seu colégio de sacerdotes-médicos era famoso. Pérgamo, assim era uma
fortaleza das religiões pagãs e do culto ao imperador, um ambiente extremamente
difícil para uma igreja local." (Ladd, pg. 37)
“Escreve ao anjo em
Pérgamo: Assim diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes”: (verso 12)
Osborne vai destacar em seu
comentário que essa é a apresentação mais simples da pessoa de Jesus dentre
todas as sete cartas por Ele enviadas as sete igrejas da Ásia Menor. A única
descrição que Jesus faz é de ser o possuidor da espada afiada de dois gumes.
A
“espada afiada de dois gumes” era um símbolo romano de justiça. A espada era
usada pelo procônsul romano que residia em Pérgamo. Ele a usava para os
julgamentos e inclusive para executar os inimigos do estado. Ao se utilizar
deste símbolo o Senhor Jesus está dizendo a sua igreja que o verdadeiro juízo
provém d’Ele, pois Ele É o verdadeiro juiz. Muito provavelmente exista uma
ligação dessa apresentação de Jesus com a promessa feita em Isaías 11.4.
“Sei
onde habitas, onde está o trono de Satanás, mas conservas o meu nome e não
negaste a minha fé, mesmo nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, que foi
morto entre vós, onde Satanás habita”. (verso 13)
Jesus
destaca que tem conhecimento de três coisas: o mundo ímpio ao qual eles
moravam, Ele também conhecia o testemunho fiel e a perseverança daqueles irmãos
em meio as perseguições que sofriam.
Existem algumas hipóteses para a
interpretação do termo “trono de Satanás”. Vejamos: 1) A cidade está localizada
em um platô, a certa distância, a acrópole se parecia com um trono; 2) A enorme
variedade de ídolos pagãos, templos e santuários poderiam ser os instrumentos
de Satanás; 3) O altar a Zeus no cume de um monte que possuía uma enorme
proeminência na cidade; 4) A cidade era o centro da adoração a Asclépio, e o
símbolo de Asclépio era uma serpente. Satanás também é simbolizado como uma
serpente Ap. 12.9; 20.2. Os seguidores dessa seita chamavam-no de “salvador”;
5) A última e em minha opinião a interpretação correta é a de que a cidade
possuía um culto ao imperador romano.
“No
entanto, tenho contra você algumas coisas: você tem aí pessoas que se apegam
aos ensinos de Balaão, o qual ensinou Balaque a armar ciladas contra os
israelitas, induzindo-os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a praticar
imoralidade sexual. De igual modo, você tem também os que se apegam aos ensinos
dos nicolaítas." (versos 14 e 15)
Ao
contrário da igreja de Éfeso que resistiu aos falsos mestres e seus heréticos
ensinamentos, um grupo de pessoas em Pérgamo havia sido influenciado pelas
falsas doutrinas e haviam se contaminado.
Mais
uma vez nos deparamos com "os nicolaítas" um grupo de gentios
"convertidos" ao cristianismo que ensinavam que não havia erros em se
alimentar as comidas sacrificadas aos ídolos, e praticar sexo antes e fora do
casamento. Eles também de acreditavam não ter problemas participar do culto ao
imperador, dizendo eles que o culto ao imperador é mais um ato cívico e do que um
ato de adoração.
Jesus
se utiliza do exemplo de Balaão do Antigo Testamento registrado em Números
22-24, um profeta gentio que foi procurado por Balaque, rei de Moabe para
amaldiçoar a Israel, mas Deus não permitiu que isso acontecesse e, ao invés
dele proferir maldição o Senhor fez ele proferir bençãos, pois contra o povo de
Deus não vale encantamentos ou maldição sem causa.
Todavia,
em Números 25:1-3 os israelitas são descritos caindo na imoralidade sexual com
as mulheres moabitas e também caindo na idolatria a Baal. Moisés diz em Números
31.16 que as mulheres moabitas foram aconselhadas por Balaão a seduzirem aos
israelitas.
Osborne
indica que a melhor forma de interpretamos esses versos que descrevem a
doutrina de Balaão e a doutrina dos nicolaítas com um só movimento herético. A
ideia é que Jesus se utilizou de um exemplo conhecido para condenar a doutrina
dos nicolaítas.
O
mesmo Grant Osborne salienta o fato da "doutrina dos nicolaítas" ser
algo muito mais ligado a práxis da vida cristã do que uma doutrina (teoria).
Lembrando que as práticas heréticas ensinadas pelos nicolaítas quebravam duas
de quatro proibições impostas no concílio de Jerusalém. (Atos 15)
Eles
ensinavam que não havia problema com as imoralidades praticadas no sexo antes e
fora do casamento e que também não havia problema no culto ao imperador pois
era, no ponto de vista deles, muito mais um ato cívico do que religioso como
anteriormente explicado. Além de permitirem o consumo das carnes oferecidas aos
deuses pagãos.
Em
relação as carnes oferecidas temos uma dificuldade em saber se essa carne era
comprada nos supermercados da época, porém tendo sido oferecida antes de ser
vendida, ou se realmente eles participavam dos rituais e ali consumiam os
alimentos. O apóstolo Paulo trata desses dois casos ao escrever a primeira
carta aos Coríntios.
"Portanto,
arrependa-se! Senão, virei em breve até você e guerrearei contra eles com a
espada da minha boca." (verso 16)
Diferente
da igreja de Éfeso que lutou contra os falsos mestres e seus ensinos e foi lhe
advertido que haviam perdido o seu primeiro amor, mas eles não toleraram os
nicolaítas e na luta os levou a esse processo do abandono do primeiro amor.
Pérgamo por sua vez tolerava esses hereges e permitia que eles estivessem em
seu meio praticando e ensinando suas práticas podendo arrastar outros para
apostasia.
Jesus
é enfático lhes mandando se arrependerem ou então Ele iria guerrear contra
eles. Essa expressão é usada outras vezes no Apocalipse para descrever a luta
de Jesus contra o dragão e a besta (11.7; 12.17; 13.7), a luta contra as forças
do mal (12.7; 19.11). Jesus se utilizava de uma metáfora, o guerreiro divino,
para descrever sua luta contra seus inimigos. No dia da sua vinda e do
estabelecimento pleno de seu Reino, Jesus irá trazer juízo e nesse sentido irá
fazer guerra contra todos aqueles que não estão ao seu lado lutando contra os
inimigos d'Ele, isso mesmo, estar ao lado de Jesus significa estar em guerra
junto com Ele.
Não
dá para não guerrear, não dá para ser tolerante aos falsos ensinos que
expressam práticas que são uma afronta direto à vontade de Deus estabelecida em
sua Palavra. Um cristão verdadeiro está armado com a armadura espiritual e em
guerra contra os valores desse mundo hostil que é governado pelo diabo e seus
anjos malignos, inimigos do cordeiro
“Quem
tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Àquele que vencer darei do
maná escondido. Também lhe darei uma pedra branca com um novo nome escrito
nela, conhecido apenas por aquele que a recebe”. (Verso 17)
A
mesma expressão é usada novamente "Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito
diz às igrejas". Essa expressão foi utilizada no evangelho de Marcos 4.9,
é um chamado, um alerta, um oráculo para os vencedores, aqueles que permanecem
fiéis até o final de suas vidas. Não adianta apenas ouvir as orientações de
Jesus, é preciso praticá-las. Só vence na vida cristã quem é obediente!
O
maná só pode ser experimentado pelos eleitos, pelos salvos, não é permitido aos
incrédulos e idólatras participar do banquete do Senhor. É forte na tradição
judaica a figura do maná que será dado aos eleitos na festa do Messias no fim
dos tempos. Segundo a tradição judaica Jeremias foi orientado por Deus durante
a destruição do templo para guardar a enterrar a arca no Monte Sinai para ela
aguardar a retirada com o retorno do Messias no escaton. Jesus também ensina a
seus discípulos sobre as bodas do cordeiro. Ele mesmo disse que era o pão vivo
que desceu dos céus. Aos seus é dado o direito de experimentar já hoje, ainda
neste tempo presente, um antegosto do que está sendo preparado para aquele
grande dia na consumação plena do seu Reino.
CONCLUSÃO E APLICAÇÃO:
Fica um alerta para os nossos dias
em relação a questão da defesa de nossa fé e os valores pelos quais nos sãos
propostos pela nossa regra de fé e prática que é a Bíblia, a Palavra de Deus.
Muitos cristãos no desejo de serem tolerantes e respeitosos, acabam sendo
coniventes com comportamentos e doutrinas que são diretamente contra os
doutrinas e princípios extraídos da Palavra de Deus.
Urge que nesse tempo sejamos capazes
de saber defender a sã doutrina e praticá-la de forma correta em nossas práxis
de vida cristã. A princípio, em uma análise superficial, aparentemente falta
aos cristãos de nosso tempo convicção de fé que possam lhes guiar os passos em
seu cotidiano. São nossas convicções de fé que nos dão concretude para ser fiel
até a morte.
[1]
GORMAN,
Michael J. Lendo Apocalipse com responsabilidade: testemunho
e adoração incivil: seguindo o Cordeiro rumo à nova criação. Rio de
Janeiro, Thomas Nelson Brasil, 2022, pg. 15.
[2] HALE, Broadus David. Introdução ao Novo Testamento. Rio de
Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1983, pg. 432