domingo, 14 de setembro de 2025

Os Benefícios da Presença de Deus (Série de Mensagens - Alívio)


Rio de Janeiro, 14 de setembro de 2025.

Série de Mensagem – Alívio

Tema da Mensagem – Os Benefícios da Presença de Deus.

Texto Base – I Reis 19

Introdução:

O capítulo 19 de I Reis é um dos textos mais tocantes e humanamente profundos da Bíblia. Ele nos apresenta o profeta Elias, que, após uma vitória espetacular sobre os profetas de Baal no Monte Carmelo, se vê em uma profunda crise de medo, desânimo e desespero. Em vez de celebrar, ele foge para o deserto, expressando um desejo de morte. Esta narrativa serve como um poderoso lembrete de que mesmo os maiores heróis da fé são vulneráveis e que a presença de Deus se manifesta não apenas em eventos grandiosos, mas também no silêncio e na quietude.

1º APONTAMENTO – O DESÂNIMO DE ELIAS:

Após a poderosa demonstração do poder de Deus no Monte Carmelo (I Reis 18), Elias é ameaçado pela rainha Jezabel e foge para o deserto. Ele se senta debaixo de um zimbro e pede a morte, dizendo: "Já basta, Senhor; tira a minha vida, pois não sou melhor do que os meus pais" (19:4).

            O pastor Hernandes Dias Lopes aponta que o deserto não é um acidente, mas uma agenda de Deus na vida do profeta. Ele destaca que Deus está mais interessado em quem somos do que no que fazemos. Essa crise de Elias, marcada pelo medo e pela exaustão, mostra que a grandeza de Deus é manifestada não apenas em milagres, mas também em como Ele nos sustenta no ordinário da vida. Deus não unge métodos, mas homens, e essa crise era parte do processo de Deus com Elias.

2º APONTAMENTO – AS MANIFESTAÇÕES DE DEUS: VENTO, TERREMOTO E FOGO:

Após ser alimentado e encorajado por um anjo, Elias viaja por 40 dias e 40 noites até o monte Horebe. Lá, ele se esconde em uma caverna. A Bíblia descreve que o Senhor passa, e com Ele vêm um vento forte, um terremoto e um fogo. No entanto, o texto enfatiza que o Senhor não estava em nenhum desses fenômenos grandiosos. Em vez disso, a voz de Deus veio depois, em um "murmúrio de uma brisa suave" (19:12).

O teólogo Luiz Sayão ressalta a importância deste momento, comparando-o à experiência de Moisés no Sinai. Para Sayão, a revelação de Deus nesse momento não é nos espetáculos naturais, mas em uma experiência íntima e pessoal. A presença de Deus é a única coisa que pode dar sustentação interna a uma pessoa em crise. A voz de Deus em um sussurro contrasta com o barulho do mundo, e revela a natureza de um Deus que ouve e permite que o profeta expresse toda a dor de seu coração.

John Stott, em seus escritos sobre o Sermão do Monte, sugere que a revelação de Deus nem sempre é dramática. Elias esperava uma manifestação grandiosa, semelhante à do Carmelo, mas Deus se revela de maneira sutil. Isso nos ensina que, muitas vezes, a presença de Deus e Sua vontade são percebidas não no espetacular, mas no silêncio e na quietude. A fé não se baseia apenas em sinais visíveis, mas na confiança em um Deus que se comunica de forma pessoal e íntima.

 

3º APONTAMENTO – O CONFRONTO E A MISSÃO:

Deus confronta Elias na caverna, perguntando duas vezes: "Que fazes aqui, Elias?" (19:9, 13). Em ambas as ocasiões, Elias responde com a mesma justificativa: "Tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu, só eu, fiquei, e procuram tirar-me a vida." (19:10, 14).

Augustus Nicodemus interpreta a cena destacando o contraste entre a justificação de Elias e a revelação de Deus. Elias está focado em sua solidão e no que ele fez ou deixou de fazer, enquanto Deus está revelando Sua soberania e o fato de que Ele nunca esteve sozinho na batalha. A resposta de Deus não é um sermão, mas uma nova missão (19:15-18). Deus revela a Elias que ele não está sozinho e que há sete mil que não se curvaram a Baal. Essa revelação serve para corrigir a perspectiva do profeta.

 

4º APONTAMENTO – A RESTAURAÇÃO E A CONTINUIDADE:

Deus instrui Elias a ungir Hazael como rei da Síria, Jeú como rei de Israel, e Eliseu como seu sucessor. O que é notável nesta ordem é a ênfase na continuidade do plano de Deus, independentemente do desespero de um único profeta.

O comentarista Derek Kidner (em sua obra Tyndale Old Testament Commentaries) sugere que a nomeação de Eliseu é um ponto crucial. Elias é chamado a encontrar um sucessor, o que simboliza que a obra de Deus não depende de um único indivíduo. A crise de Elias, embora real e profunda, não paralisa o plano divino. Em vez de focar na sua dor, Elias deve se concentrar em seu propósito de treinar seu sucessor.

O teólogo Walter Kaiser Jr., ao falar sobre o plano de Deus, enfatiza que a aliança e a promessa de Deus são inabaláveis, mesmo diante da falha humana. O episódio com Elias no Horebe demonstra que Deus é fiel em cumprir Suas promessas, usando até mesmo pessoas em seus momentos de maior fraqueza.

CONCLUSÃO:

1 Reis 19 é uma narrativa sobre a graça de Deus em meio à fragilidade humana. Elias não é repreendido por seu medo, mas é restaurado, alimentado e recebe uma nova perspectiva. Ele aprende que a batalha não é travada por ele sozinho e que o poder de Deus se manifesta tanto no grande espetáculo quanto na quietude da alma.

Este capítulo nos ensina que a jornada de fé não é uma linha reta de vitórias. Haverá momentos de exaustão e desânimo. No entanto, a promessa é que Deus se revela, nos fortalece e nos dá uma nova direção. Ele nos lembra que não estamos sozinhos e que Sua obra continua, usando pessoas imperfeitas para Seus propósitos perfeitos.

A experiência de Elias no Horebe nos convida a buscar a Deus não apenas nas demonstrações de poder, mas principalmente nos momentos de silêncio, onde Ele se revela de forma pessoal e restaura nosso coração.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

A Oração de Manoá - Juízes 13.8

 


Rio de Janeiro, 07 de agosto de 2025.

Oásis da Família

Tema da Mensagem – A Oração de Manoá

Texto Base – Juízes 13.8

Introdução:

·         O período de juízes é um período difícil na história do povo de Israel;

·         Deus deseja levantar pessoas para que Ele possa usar como instrumento para manifestação de seu amor e sua graça as nações;

·         Nossa família é muito mais do que uma união de vidas. Nossas famílias devem ter a convicção que são a união de pessoas com as quais Deus possui propósitos estabelecidos pela sua Soberania;

·         Manoá é pai de Sansão, um dos juízes que Deus usou para libertar o povo de Deus;

·         A oração detalha o desejo de Manoá de saber como deveria criar e educar Sansão segundo a vontade de Deus;

·         Nossos dias são desafiadores. Seria muito bom se nossos filhos viessem com um manual nos explicando sobre o que deveríamos fazer para criá-los e orientá-los segundo a vontade de Deus. Mas infelizmente não é assim que funciona. Por isso que aprender buscar ao Senhor em oração como Manoá fez é tão imprescindível para o cumprimento da vontade de Deus para nossas vidas e das nossas famílias;

·         Alguns desafios que enfrentamos hoje na criação dos nossos filhos: as amizades e suas influências, o acesso irrestrito as redes sociais, os desafios crescentes acerca das questões da sexualidade, a inteligência artificial como instrumento de auxílio para ao aprendizado acadêmico, etc.

·         Filhos não vêm com manual. Todavia, nós temos a Palavra de Deus que também possui princípios eternos sobre criação de filhos. É na Palavra de Deus que devemos buscar base para orientar nossos filhos;

1º Apontamento – Deus usou a vida dos pais para intervir na vida de Sansão.

  • O anjo orienta que o menino deveria de ser nazireu. Todavia, o voto de Sansão seria vitalício e iniciaria desde o ventre de sua mãe, ou seja, sua mãe daquele momento em diante precisava cumprir todos as orientações: não cortar o cabelo, não tocar em coisas impuras, não beber vinho ou qualquer outra bebida forte. A mãe precisava se santificar pelo filho. É de suma importância que os pais entendam que eles precisam se santificar pelos seus filhos, pois eles precisam ser exemplos de vida para seus filhos;
  • Manoá queria receber um conjunto de regras do anjo. Todavia, o Anjo não lhe deu um conjunto de regras. Ele fez Manoá perceber que ele iria precisar se relacionar com Deus para dia após dia ter da parte do Senhor sabedoria para poder criar seu filho segundo a vontade de Deus;
  • A esposa de Manoá era estéril. O nascimento de Sansão é um milagre. Duas coisas valem se destacada: 1) A salvação que Deus estava preparando para seu povo é provocada por um ato d’Ele. Só Deus pode produzir salvação, nada que façamos pode produzir salvação. A salvação pertence ao Senhor; 2) Família é lugar de experimentar milagre. Posso citar várias famílias: família de Abraão e Sara; família de Isaque e Rebeca; família de Jacó e Raquel; família de Eucana e Ana; família de Zacarias e Isabel; finalmente a família de José e Maria;

2º Apontamento – A responsabilidade individual dos filhos.

  • Manoá e sua esposa fizeram sua parte na educação e criação diante do Senhor de seu filho. Podemos encontrar na história de Sansão até mesmo seus pais o orientando sobre escolhas erradas que Sansão estava fazendo. Por mais que possamos orientar, falar, conversar, as escolhas finais são de nossos filhos. O que podemos fazer é continuar em oração e estarmos de braços abertos caso eles precisem de alguma coisa;
  • Manoá e sua esposa continuaram apoiando Sansão em oração. Por mais que Sansão tenha feito muitas escolhas erradas ao longo da vida. Deus usou sua vida para libertar Israel do momento de opressão que estava vivendo. Sansão inclusive é citado na galeria dos heróis da fé. Quais pais não ficariam de ter o nome de seu filho na galeria dos heróis da fé?

Conclusão:

            Precisamos pedir ao Senhor que nos ajude a compreender os planos que Ele tem para nós e nossas famílias e entendendo, devemos continuar dependentes d’Ele para obtermos sabedoria e graça para podermos guiar nossos filhos aos desejos do Eterno. Que o Senhor nos ajude a sermos obedientes e dependentes do seu amor e graça.

domingo, 27 de julho de 2025

Todos somos diferentes (Série de Mensagens - Mãos à Obra) - Efésios 4:7-11

 


Rio de Janeiro, 27 de julho de 2025.

Série de Mensagens - Mãos à obra.

Tema da Mensagem - Todos somos diferentes

Texto Base - Efésios 4:7-11

Introdução:

·         A carta aos Efésios na verdade é uma carta encíclica;

·         Por ser uma carta encíclica, ela contém orientações gerais acerca de ortodoxia e ortopraxia;

·         Os primeiros três capítulos da epístola são extremamente doutrinários. O apóstolo se preocupa em apresentar a magnitude e a beleza de um Deus que à semelhança de um Pai adota filhos por amor. E, que adotar esses filhos concede-lhes presentes: salvação, identidade, herança, família, etc. Fazendo de pessoas totalmente diferentes um só povo, uma só família, sem nenhuma barreira entre essa nova família;

·         Os últimos três capítulos, o apóstolo Paulo se preocupa em orientar aos membros desta família como eles devem andar de forma digna agora que são filhos deste Pai. Ou seja, já que agora são integrantes desta família, devem andar de forma digna, de modo que honrem ao seu Pai;

"A cada um de nós foi dada a graça, conforme a medida com que Cristo distribuiu os dons." (Verso 7)

  • O apóstolo nos versos anteriores havia trabalhado a questão da unidade, os motivos que nos faziam iguais e pelo qual precisávamos lutar pela unidade. Agora ele começa a trabalhar, o que nos faz diferentes: os dons espirituais;
  • Todo cristão recebe de Deus pelo menos um dom para poder servir a Deus e aos para que Deus seja glorificado e a igreja edificada. Alguns detalhes são importantes para salientar: 1) todo cristão possui algum dom; 2) existe uma vasta variedade de dons; 3) É Jesus que distribui os dons; 4) todo crente precisa utilizar seu dom para servir a Deus e aos irmãos. Caso não aconteça, o corpo fica defeituoso;
  •  Como o cristão descobre seu dom? O cristão descobre seu dom na comunhão com os irmãos. Um dom não é algo para si mesmo, mas para o serviço do bom Rei e de sua igreja. Ao longo dos anos algumas ferramentas foram criadas para ajudar a identificar os dons que recebemos de Deus. Aqui em nossa igreja temos o curso de dons que nos ajuda através de um questionário a identificarmos quais são os nossos dons;

"Por isso é que foi dito: “Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativos muitos prisioneiros e deu dons aos homens”. Ora, o que significa “ele subiu”, senão que também havia descido às profundezas da terra? Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de encher todas as coisas." (Versos 8 a 10)

 

  • "Sabemos que Cristo, através de sua morte, ressurreição e glorificação, eliminou as correntes do cativeiro satânico; isto é, a humanidade cativa a Satanás passou então a ser o espólio de Cristo. Assim nós, que fomos transferidos, segundo Colossenses 1.13, do império das trevas e de sua escravatura, tornando-nos escravos de Jesus Cristo e da sua justiça, segundo Romanos 6. Essa escravatura deve atuar no mundo e na igreja com essa individualização em forma de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, mestres e outras formas, tais como as que encontramos em 1 Coríntios 12 e em 1Pedro 4.10-11. Esta passagem sobre os dons mostra essa multiplicidade, sendo-nos possível recebê-los sob as ordens de nosso Senhor e na condição de escravos dele. Veremos agora como a obra de Cristo, que ele nos dá para fazer; se divide em dois aspectos." (Russell Shedd & Dewey M. Mulholland - pg. 53)
  •  "A esta altura, Paulo passa a um novo pensamento. "A proporção do dom de Cristo" eis a oferta abundante que o Senhor que subiu aos céus prometeu ainda nos dias da Sua carne, para quando retornasse à presença do Pai (Jo 14:12-14). Para expressar isto, o apóstolo cita as Escrituras, Salmo 68:18, passagem significativamente associada ao Pentecostes no lecionário da sinagoga (Bruce), e que poderia ser aplicada ao triunfo e ascensão do Senhor, seguidos pela concessão de dons espirituais à Sua Igreja. A ordem original das palavras do salmo retrata a volta triunfal do Senhor (seja ao santuário em Jerusalém, seja o próprio céu) após a derrota dos inimigos de Israel. Tornou cativos seus inimigos, os quais seguem-no em Sua procissão triunfal. Por ser o Conquistador recebeu dons (presentes) que pode ofertar. Este salmo, como muitos outros, encontrou pronta aplicação em Cristo. Conquistou seus inimigos e retornou triunfalmente ao trono de Seu Pai, desta vez para conceder bênçãos a seu povo. De fato, seus antigos inimigos, que conduz em triunfo (2 Co 2:14) entre os quais o próprio Paulo se inclui, são seus dons à Igreja." (Francis Foukes - Pg. 95)

"Ele designou alguns para apóstolos; outros, para profetas; outros, para evangelistas; outros, para pastores e mestres." (Versos 11)

  • William Hendriksen faz algumas observações pertinentes: 1) A intenção não é fornecer uma lista de dons e sim listar dons dados a "Oficiais", "Autoridade"; 2) Os dons dos líderes enfatizam o crescimento no serviço em amor e não o crescimento numérico; 3) Para que a igreja ser pujante e forte ela precisa ter não somente bons líderes, mas sim bons discípulos de Jesus; 4)Todos estes que são "Oficiais" devem servir a igreja com amor e não como obrigação; 5)Os "Oficiais" devem se lembrar que seus dons não são para seu próprio bem pessoal, mas para edificação da igreja;
  • Apóstolos - A palavra apóstolo foi usada em pelo menos 3 sentidos no Novo Testamento. 1) para os discípulos diretos de Jesus; 2) para os mensageiros; 3) para os irmãos que eram enviados para outros lugares para abrirem frentes de trabalhos missionários. No primeiro sentido, com suas atribuições especiais dadas por Jesus especificamente para aquele tempo se encerrou com a morte daquela geração. Acredito que a utilização melhor para o termo hoje seja a nossa ideia de missionários.
  • Profetas - O dom de profecia como inspiração se encerrou com o fechamento do Canon do Novo Testamento. A igreja já possui a direção de Deus registrada na Palavra. Devemos tomar muito cuidado com a busca de revelações, pois não devemos basear nossas vidas e nossa busca espiritual nesse sentido. Pois se somos desejos de saber a vontade de Deus devemos ler e estudar a sua Palavra. Em nossos dias profeta é aquele expõe a Palavra de Deus e direciona o povo de Deus a vontade de Deus.
  • Evangelista - Todo crente precisa evangelizar, mas nem todo crente possui dom de evangelismo. Os evangelistas nos dias em que o texto foi escrito eram irmãos que haviam sido dotados com esse dom e tornavam-se itinerantes pregando o evangelho pelos lugares que passavam. Podemos em nossos dias encontrar esse dom muito presente na vida dos missionários, capelães, pessoas dotadas com dom de evangelismo.
  • Pastores e Mestres - Estes dons são aqueles que são mais presentes na igreja local. Calvino destaca que as duas principais funções de um pastor é alimentar seu rebanho de forma saudável e protege-lo dos perigos espirituais. Todo pastor precisa ser um mestre, ser apto para ensinar. Os dois termos no original grego estão concatenados.

Somos todos iguais (Série de Mensagens - Mãos à Obra) - Efésios 4:1-6

 


Rio de Janeiro, 27 de julho de 2025.

Série de Mensagens - Mãos à obra.

Tema da Mensagem - Somos todos iguais.

Texto Base - Efésios 4:1-6

Introdução:

·         A carta aos Efésios na verdade é uma carta encíclica;

·         Por ser uma carta encíclica, ela contém orientações gerais acerca de ortodoxia e ortopraxia;

·         Os primeiros três capítulos da epístola são extremamente doutrinários. O apóstolo se preocupa em apresentar a magnitude e a beleza de um Deus que à semelhança de um Pai adota filhos por amor. E, que adotar esses filhos concede-lhes presentes: salvação, identidade, herança, família, etc. Fazendo de pessoas totalmente diferentes um só povo, uma só família, sem nenhuma barreira entre essa nova família;

·         Os últimos três capítulos, o apóstolo Paulo se preocupa em orientar aos membros desta família como eles devem andar de forma digna agora que são filhos deste Pai. Ou seja, já que agora são integrantes desta família, devem andar de forma digna, de modo que honrem ao seu Pai;

"Como prisioneiro no Senhor, peço a vocês que vivam de maneira digna do chamado que receberam." (Verso 1)

·         "Como prisioneiro no Senhor" - O apóstolo Paulo não se envergonha pela sua situação, na verdade ele se "orgulha" em ser digno de sofrer por amor a Jesus e a seu evangelho. Ele não só é prisioneiro por amor ao Senhor e seu evangelho, mas também é prisioneiro literalmente de Jesus. Existe um significado mais profundo nestas palavras de Paulo. Ele quer dizer que antes era "escravo" do deus deste presente século, e que agora foi comprado por um novo Senhor. Ele mesmo já disse escrevendo em outra de suas epístolas que foi transportado do Reino das trevas para o Reino do Filho do amor de Deus. Resgatar a compreensão de que todos somos servos, escravos, é essencial para o entendimento de quem somos e de quem Deus É;

·         "Peço a vocês que vivam de maneira digna do chamado que receberam" - A melhor tradução não seria um "Peço", "Rogo", mas sim um "Exorto", "Oriento". Pois trata-se de um imperativo. O verdadeiro crente precisa realmente viver como crente. Ele não tem opção de verbalizar que é crente e viver como um não crente. É isso que o apóstolo está dizendo. Se vocês realmente foram "salvos" e isso que ele quis dizer com "chamados", vivam conforme verdadeiros discípulos de Jesus. Um verdadeiro discípulo de Jesus precisa dar frutos, pois está conectado n'Ele;

 

"com toda humildade e mansidão; com paciência, suportando uns aos outros com amor. Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz" (Versos 2 e 3)

·         Humildade - Como Paulo se declara um prisioneiro e como anteriormente já havia se identificado como o menor, o mais vil, blasfemo, e alguns outros adjetivos pejorativos. Ele o faz não por auto piedade, mas sim por entender quem realmente ele é, um pecador miserável que depende da graça de Jesus. Isso é humildade é reconhecer que não possui méritos, direitos, que é única e exclusivamente pela graça de Deus. A palavra grega utilizada pelo apóstolo denota exatamente um significado de vil, ignóbil, sentido de baixo. Para os gregos e todos os outros povos, humildade não é uma virtude, mas sim uma fraqueza;

·         Mansidão - A palavra grega utilizada para descrever mansidão "prautes" é oriunda da palavra "praos", um adjetivo, usado para descrever um animal submetido completamente a disciplina e ao controle. O homem que é manso deve estar totalmente sobre o controle de Deus e por isso ele é alguém que não reivindica seus direitos, sua importância ou sua autoridade. Ele está totalmente submisso a Deus que É seu Senhor e o justifica;

·         Longanimidade - A palavra "makrothimia" é usada em muitos casos para indicar uma firme paciência em meio ao sofrimento ou infortúnio. Também é muito usada como uma pessoa que é tardia em querer pagar o mal com o mal, uma pessoa mesmo sendo ferida demora a revidar;

·         Suportando - Nesta virtude concentra-se a longanimidade na prática. Por isso parece-me que existe uma junção entre estas duas virtudes, à semelhança das duas primeiras. Suportar significa ser clemente com as fraquezas e os erros dos outros, sabendo que também temos os nossos.

·         "Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz" - Paulo parece ensinar que a unidade é algo que o Espírito Santo produz e não algo provocado por méritos humanos. Quando os irmãos vivem verdadeiramente o evangelho o vínculo é selado pelo Espírito e a paz Deus reina no seio de sua igreja. O esforço a que Paulo se refere deve ser em nos esmerarmos em sermos melhores cristãos a cada dia através da nossa relação com o Senhor Jesus.

 

"Há um só corpo e um só Espírito, como também uma só esperança quando foram chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos." (Versos 4 a 6)

·         Tendo falado sobre o que produz a unidade, o apóstolo agora irá falar sobre o fundamento da unidade;

·         "Muitas pessoas, hoje, esforçam-se para unir as religiões de forma não bíblica. Elas dizem: "Não estamos interessados em doutrinas, mas em amor". Dizem: "Vamos esquecer as doutrinas; elas só nos dividem. Vamos simplesmente amar uns aos outros": Mas Paulo não discute a unidade cristã sem antes falar do evangelho (capítulos 1 a 3). Unida-de edificada sobre outra base que não a verdade bíblica é o mesmo que edificar uma casa sobre a areia. A unidade cristã baseia-se na doutrina da Trindade: "Um só Espírito" (4:4), um só Senhor (4:5) e um só Deus e Pai de todos (4:6)." (Hernandes Dias Lopes, pg.105)

·         Um só corpo - Só existe uma igreja. Quando uma pessoa se converte ela automaticamente começa a fazer parte do corpo de Cristo;

·         Um só Espírito - Em todo crente regenerado habita o mesmo Espírito, o Espírito Santo;

·         Uma só esperança - Nossa esperança está no retorno glorioso de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo que fará nova todas as coisas;

·         Um só Senhor - Jesus é o Senhor de todo salvos e remidos pelo seu precioso sangue;

·         Uma só Fé - Nossa fé e a nossa crença, é o que cremos como cristãos. A nossa confiança depositada em Cristo Jesus nosso Senhor;

·         Um só Batismo - O Batismo dito aqui por Paulo não é a ordenança, mas sim o Batismo do Espírito Santo. Mas é quando o Espírito nos sela, nos une de forma mística a Cristo e a sua igreja;

·         Um só Deus e Pai - Deus é o Pai de Cristo e o Pai da Igreja. Jesus nos ensinou a invocá-lo dessa forma. Ele é o criador e sustentador de todas as coisas, mas também é nosso Pai Amoroso;

sábado, 21 de junho de 2025

5º Capítulo - A defesa da fé e o depósito da fé.

 


5º Capítulo – A defesa da fé e o depósito da fé.

1. A DEFESA DA FÉ.

“Meu propósito não é linsonjear-vos (…) mas requerer que julgueis os cristãos segundo o justo processo de investigação..

(Justino, o Mártir)

1.1. Introdução:

            Conforme falamos no capítulo anterior, a perseguição aos cristãos no segundo e terceiro século, não se deram de maneira sistemática. Ou seja, ela não tinha um padrão a seguir. Os cristãos que sofriam prisões, espancamentos e em outros casos o martírio, eram aqueles que eram acusados diante dos tribunais, com uma testemunha da acusação.

            Os cristãos sofriam muitas acusações conforme fora mencionado no capítulo anterior. Dentro do que refletimos, podemos concluir que, as acusações contra os cristãos eram de duas espécies: oriunda de rumores populares e outra oriunda de críticas por parte da classe “culta”.

            Os rumores populares principais eram: “acerca da festa do amor”, “acerca da ceia do Senhor” e “adoração ao asno crucificado”. Para refutar estas fantasias alucinógenas, bastava apenas o seu testemunho. No decorrer do momento que eram acusados, uma avaliação sobre sua conduta moral e vivência social iria refutar na pratica tal acusação falsa.

            Porém, as acusações derivadas da classe culta é que provocou maior alvoroço e despertamento da parte dos cristãos. Quando de fato começamos a examinar as considerações dos homens cultos que escreviam contra a fé cristã. Podemos perceber não só a questão religiosa sendo colocada em pauta. Mas, visualizamos a questão do preconceito no plano de fundo da história.

            A mente daquela determinada classe social maquinava da seguinte maneira: “Como homens e mulheres incultas, desprovidas de conhecimento, podem dizer que são detentores e conhecedores da verdade?”

            Esses homens que se achavam detentores do saber começaram a escrever uma série de tratados, confrontando a fé cristã acerca de sua dita verdade. Sua cosmovisão era que o pensamento cristão era derivado não da cultura grega ou romana, que em sua opinião eram as coerentes acerca do conhecimento, mas sim que sua cultura era proveniente dos judeus, incultos, que acreditavam nos contos de Moisés e seus profetas.

 

 

            Mas, o maior agravante nos escritos contra os cristãos, estava no fato da questão doutrinária. Eles começaram a questionar os rudimentos da fé cristã. Isso despertou a defesa da fé pelos chamados “apologistas”.

1.2. As heresias e o surgimento dos “apologistas”.

            No desejo de combater as heresias espalhadas, sugiram os maiores tratados teológicos do segundo e terceiro século. Os apologistas mais conhecidos são: “Aristídes, Justino Mártir, Taciano e Teófilo”. Seus tratados são extremamente importante para nós podemos entender como a igreja tratava acerca dos assuntos de seus dias na defesa de sua fé. As principais heresias por eles combatidas foram:

ü  A doutrina da Pessoa de Deus – Questionava-se a onipotência de Deus – da seguinte indagação – Os cristãos e os judeus dizem que seu Deus é Soberano, Onipotente. Mas contradizem-se, quando dizem que o mesmo está a todo o momento do seu lado, no seu dia a dia, participando de suas reuniões nas casas. Ou Deus é um ser que está acima de todos os outros seres, que está longe, distante de todas as coisas. Ou é um ser incherido e intrometido na vida dos cristãos?

ü  A doutrina da Pessoa de Jesus – Eles faziam as seguintes ponderações: Esse Jesus não era um malfeitor que foi morto pelos seus crimes? Esse Jesus não era filho de uma mulher? Se Jesus era filho de Deus, por que Ele morreu, ao invés de matar as pessoas que ali o estavam crucificando? Se Deus sabe de tudo, o que ele veio fazer na terra? Os cristãos dizem que haverá ressurreição. Como haverá ressurreição dos corpos queimados, decapitados, e outros que sofreram algum tipo de dano?

            Como os irmãos estão tomando conhecimento. Tais questionamentos não podiam ser respondidos apenas com uma simples negação. Precisava-se se construir um arcabouço teológico para elucidação de tais questionamentos. Afinal, eles precisavam também tomar ciência de que os cristãos não eram idiotas e pessoas que eram enganadas através de uma fábula a cerca de um homem chamado Jesus.

1.3. Fé cristã e cultura pagã.

            Os cristãos por serem acusados de serem pessoas bárbaras e desprovidas de conhecimento, se sentiram obrigados a discutir a tensão existente entre a sua fé e a cultura pagã. Naqueles dias o pensamento cristão era muito radical no que diz respeito a manutenção de sua fé. Toda questão que parecesse ameaçar o culto único a Deus e a Jesus Cristo, era assunto a ser tratado e a ser inquerido pelos cristãos.

            Com a rejeição da cultura pagã, gerou-se um conflito acerca das obras produzidas pelos maiores pensadores humanos existentes. Nessa rela de pensadores entrariam nada a mais, nada menos que: Sócrates, Platão, Aristóteles, os estóicos, etc. Se eles aceitassem estavam aderindo a cultura pagã se não, estavam sendo fiéis aos princípios da fé cristã. Isso gerou dois caminhos na cosmovisão dos cristãos do século segundo. Uns foram totalmente contra a terem parte com a filosofia e outros conseguiram conjugar as duas coisas de modo coerente e seguro.

ü  Não aderiram a filosofia – Taciano discípulo de Justino Mártir, em sua obra “Discurso aos Gregos” defendeu a tese de que não existiria a minima possibilidade de se conjugar a filosofia e a teologia. Outro que pensava da mesma forma era Tertuliano já no século III, expressou seu pensamento em uma de suas frases, ou se não, a mais famosa: “Que tem Atenas a ver com Jerusalém? Ou que tem a ver a Academia com a Igreja?”

ü  Aderiram a filosofia – Justino o mestre de Taciano tinha uma outra cosmovisão a cerca do pensamento de seu discípulo. Antes de se converter ao Cristianismo Justino procurou a verdade dentro do pensamento clássico, e não encontrou. Encontrando o mesmo no evangelho. Porém, esse seu conhecimento da filosofia clássica, deu ao mesmo uma outra cosmovisão acerca do assunto em questão. O que em nenhum momento interferiu em sua fé, em sua convicção doutrinária. Isso se demonstra de modo prático com o seu martírio.

 

1.4. O pensamento de Justino

            Justino conseguiu enxergar vários pontos em que a filosofia clássica estava de acordo com sua fé. Abaixo iremos expôr algumas de suas percepções:

ü  Um ser supremo – Tanto o pensamento filosófico e a sabedoria cristã acordavam existir um ser Supremo, que criou e sustenta todas as coisas pelo seu poder.

ü  Vida além da morte – Tanto Sócrates, como Platão acreditavam na existência da vida após a morte, a semelhança da fé cristã. Não entraremos na questão de como ela se desdobrava em seu pensamento. Porém o que estamos fazendo um paralelo é na questão da vida após morte.

ü  A existência de outro mundo – Platão em seus escritos falou sobre a existência de outro mundo que caminha paralelo a este, encontramos semelhança no pensamento cristão acerca do Reino de Deus.

ü  A doutrina do Logos – O pensamento grego acreditava que toda nossa mente consegue compreender o porquê de alguma maneira é auxiliada na construção pelo “logos”, ou a “razão universal”. João vai utilizar-se dessa expressão em seu evangelho. João vai dizer Jesus é a razão do universo. Justino diz que os pagãos conheceram em parte o conhecimento dado pelo Logos de Deus.

 

1.5. Os argumentos apologistas.

            Vamos nesta seção tentar explanar os principais argumentos sobre as acusações que os cristãos sofriam:

ü  Acusação de serem ateus – Os apologistas respondiam a essa acusação retornando a mesma aos próprios pagãos. Eles diziam que entre eles (os filósofos) existiam pensadores que acreditavam que deuses eram inversões humanas, que seus vícios eram os piores praticados. Outro pensador vai dizer que os gregos invetaram os deuses para darem vasão aos desejos pecaminosos de sua carne. Outra apologia é ao fato de alguns deuses serem apenas estátuas que carecem de proteção humana. Sendo assim: Como isso pode ser considerado um Deus?

ü  Ressurreição – Os apologistas respondem a esta questão apelando para à onipotência divina. Se crermos que Deus fez todos os corpos do nada, porque não podemos crer que Ele não possa reconstruí-los novamente?

ü  Quanto as acusações de imoralidade – Os padrões de moralidade dos cristãos eram muito altos para serem acusados do mesmo. Por exemplo; como um cristão poderia matar uma criança em um ritual. Se si quer ele podia matar? Como os cristãos poderiam praticar imoralidades sexuais. Se si quer os pensamentos imorais devem ser descartados?

ü  As acusações contra o imperador e contra a sociedade – Eles se defendiam da seguinte forma. Os cristãos não adoravam ao imperador, mas não só o imperador, mas nenhuma outra criatura na terra. Eles só poderiam adorar ao Senhor Criador. Mas, que o fato deles não o adorarem não os fazia súditos menos leais que os demais. Sua submissão era provada até mesmo no fato de suas orações pela vida do imperador. E por serem cristãos, aplicavam a Palavra de Deus em suas vidas, e a Palavra de Deus diz que os que estão sujeitas as autoridades devem estar submissos a ela.

            Os cristãos vivem em uma intensa tensão. Entre uma rica cultura oriunda do paganismo, mas que deve ser descartada em alguns aspectos. Os cristãos aceitam a filosofia porém reconhecem na fé cristã a verdade suprema e absoluta para os povos a sua volta.  Encontramos esta tensão descrita no “Discurso de Diogneto”:

“Os cristãos não se diferenciam dos demais por sua nacionalidade, por sua linguagem nem por seus costumes (…) Vivem em sues próprios lugares, mas como transeuntes, peregrinos. Cumprem todos os seus deveres de cidadãos, mas sofrem como estrangeiros. Onde quer que estejam encontram sua pátria, mas sua pátria não está em nenhum lugar (…). Se encontram na carne. Vivem na terra, mas são cidadãos dos céu. Obedecem todas as leis, mas vivem acima daquilo que as leis requerem. Amam a todos, mas todos os perseguem.”[1]

2. O DEPÓSITO DA FÉ.

“O erro nunca se apresenta em toda sua nua crueza, a fim de não ser descoberto. Antes veste-se elegantemente, para que os incautos creiam que é mais verdadeiro do que a própria verdade”.

(Irineu de Leão)

            Pelo evangelho não fazer distinção ente as pessoas, o mesmo cada vez mais ganhava adeptos de todos os povos e nações. Com tanta gente que se convertia, ia crescendo a igreja diariamente em diversidade cultural. Estes irmãos ao se converterm traziam em suas bagagens culturas e costumes que deveriam ser analisados aos óculos da Palavra de Deus.

            A variedade de culturas sem sombra de dúvidas é enriquecedor. No entanto, nada, nem mesmo uma cultura, pode contraria os princípios e valores do Livro Sagrado. Isso de fato era um perigo devido a época em que está se vivendo. Muitas pessoas não se convertiam somente ao Nesta seção vamos tentar expor alguns destes perigos detectados a fé cristã:

2.1 GNOSTICISMO.

            Sem sombra de dúvidas o gnosticismo foi o principal inimigo enfrentado pela fé cristã nos primeiros três séculos de vida da igreja cristã. O gnosticismo foi um movimento que existiu não somente dentro do seio da igreja, mas também fora dela. O que dificultava ainda mais o combate do mesmo.

            O gnosticismo não tinha uma doutrina sistemática padrão. Ou seja, eles divergiam entre eles mesmos, cada um tinha uma particularidade. Seus principais defensores foram: Brasílides e Valentino. Por sua grande diversidade fica difícil ao historiador distingui-los entre si.

            A palavra “gnosticismo” vem da palavra grega “gnosis” que significa conhecimento. Eles diziam serem portadores de uma doutrina derivada de um conhecimento especial. Sua filosofia era permeada no fato de eles dizerem existir patamares especiais, aonde os adeptos através de experiências místicas, iam galgando degraus até chegar ao “aion” absoluto e alcançar a salvação do mundo mau.

            Os gnósticos deram origem a doutrina que ficou conhecida por “docentismo”. Vejamos um conceito acerca do significado deste termo:

“Em primeiro lugar; podemos mencionar as negações da humanidade de Jesus Cristo, que seriam o docentismo, o apolinarianismo e o eutiquismo.

Para os docetas, adeptos de ume heresia surgida em fins do primeiro século, Cristo não foi plenamente encarnando na carne, pois a matéria é intrinsicamente má. As epístolas de Colossenses e João argumentam contra essa noção pré-gnóstica. Esta posição tem reaparecido no ensino dos evangelistas da prosperidade.”[2]

            Com o pensamento de Jesus não ter a natureza humana. Os gnósticos quebraram uma série de doutrinas rudimentares da fé cristã: criação, encarnação, morte e ressurreição, etc. Os principais líderes cristãos dos três primeiros séculos da igreja se dedicaram a combater esta heresia.

2.2. MÁRCIOM.

            Filho do bispo de Sinope, lugar onde conheceu a fé cristã. Em 144 fundou sua própria igreja, após ter se espalhado a fama de suas doutrinas heréticas.

Uma de suas doutrinas era a diferenciação do Jeová do Velho Testamento e o Deus Pai de Jesus do Novo Testamento. Em sua cabeça o Jeová é um ser que é Justo, o criador do mundo, que por ser um ser inferior criou um mundo mau, corrompido. Em seu pensamento, Deus (o Pai de Jesus) não queria criar um mundo de forma corpórea (material) e sim espiritual. Que Jeová, por maldade ou por ignorância criou. Jesus então teve que vir ao mundo para salvar –nos de mundo corrompido.

Para Jesus não ser parte da humanidade, que em sua concepção é mau, por ser matéria. Não veio ao mundo encarnado, através do nascimento virginal de Maria esposa de José. Em sua concepção Jesus apareceu já maduro no reinado de Tibério. Para eles o Pai de Jesus, o verdadeiro Deus, é o avesso do Jeová, Ele é um Deus amoroso, perdoador. E logicamente se Deus é amor, no final não haverá nenhum julgamento, todos serão perdoados.

Logo se Jeová é diferente do Deus e Pai de Jesus, o Antigo Testamento não tem serventia para os ensinos deste herege. Sendo assim, ele se desfaz do Velho Testamento e também só vai adotar para os seus ensinos e mensagens, o evangelho de Lucas e os escritos de Paulo o apóstolo. Em sua concepção os apóstolos eram judeus. E por este motivo eles não conseguiram captar a real mensagem do evangelho transmitido por Jesus. Marciom chegou a dizer que foram os judeus que incluíram o Velho Testamento e os outros livros do Novo Testamento no cânon.

 

2.3. A RESPOSTA DA IGREJA: O CÂNON.

            Devido aos ataques hereges de Márciom. Os líderes das comunidades cristãs começaram a querem ter respaldos sobre a certeza de que livros eram realmente inspirados e deveriam ser base para suas ministrações e ensinos.

            Os judeus utilizavam o Velho Testamento como seu livro sagrado. Os cristãos receberam está herança dos judeus. Naquela época a versão usada tanto pelos cristãos como pelos judeus do Velho Testamento, era a Septuaginta, que era a tradução da língua hebraica para o grego.

            A construção da lista do cânon no início não se deu formalmente. Não houve uma reunião, também não foi convocado um concílio para debater o assunto inicialmente. Mas através da condução do Espírito Santo sobre sua igreja, foi havendo um consenso geral (fora os hereges) sobre quais eram os livros a serem adotados em suas comunidades como inspirados.

            O Antigo Testamento era aceito por todos os cristãos com exceção lógica dos heréticos gnósticos e marcionitas. Porém, para os cristãos a pessoa de Jesus era o cumprimento do que Deus iniciou a fazer através de Israel. Jesus era a promessa cumprida. E por este motivo o Antigo Testamento em nada desmerecia o Cristianismo. Pelo contrário, ele apontava para a pessoa de Jesus.

            O Novo Testamento foi tomando forma aos poucos. Inicialmente os evangelhos foram os primeiros escritos que foram aceitos pelas comunidades cristãs. Vejamos o que diz González:

“Junto aos evangelhos, o livro de Atos e as epístolas paulinas conseguiram aceitação geral desde muito cedo. Outros livros, tais como o Apocalipse, a Terceira Epístola de João, e a Epístola de Judas, demoraram mais tempo em ser universalmente aceitos. Mas já nos fins do século segundo a maior parte do Novo Testamento tinha vindo formar parte das Escrituras de todas as igrejas cristãs: os quatro evangelhos, Atos e as epístolas Paulinas.[3]

 

2.4. A RESPOSTA DA IGREJA: O CREDO.

            Outra resposta da igreja as heresias como a de Marcion e dos gnósticos foi a formulação do credo apostólico. Existe uma lenda que remonta a construção do credo ao tempo dos apóstolos. Porém, o mesmo inicia sua repercussão em meados do século segundo.

            Inicialmente apareceu como “símbolo da fé”. A palavra símbolo naquele contexto e época não tem o sentido que tem para nós hoje. O entendimento daquele momento histórico era que um símbolo era um meio para que houvesse um reconhecimento. Logo o símbolo da fé era um meio que os Cristãos tinham de se reconhecerem.

            Um exemplo deste fato é o batismo. Existiam três perguntas básicas para o candidato ao Batismo:

            Crês em Deus Pai Todo Poderoso?

            Crês em Jesus Cristo, o filho de Deus, que nasceu do Espírito Santo e de Maria, a virgem, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e morreu, e se levantou de novo ao terceiro dia, vivo dentre os mortos, e ascendeu ao céu, e se sentou à destra do Pai, e virá a julgar os vivos e os mortos?

            Crês no Espírito Santo, na santa igreja, e na ressurreição da carne?

            Ao observar-nos o texto acima, podemos entender que trata-se do núcleo do que ficou conhecido como “credo apostólico”. Outro fato notório era a ênfase na Trindade, isso comprovava a ortodoxia da práxis do Batismo.

            Porém, se observarmos com mais cuidado, iremos perceber que nas minúcias existia a preocupação com o combate as heresias de Márcion e dos Gnósticos. No credo que ficou conhecido por nós, foi incluso dos termos chaves no mesmo. São eles: “a santa igreja” e “ressurreição da carne”.

            “A santa igreja” para denotar o fato de que a igreja receberá de Jesus o “depósito da fé”. E a mesma era a autoridade de Deus para a proclamação e expansão do Reino de Deus. E a “ressurreição da carne” para combater a crença de que a matéria é má. A fé cristã não é meramente espiritual, mas incluí a ressurreição do corpo.

 

2.5. A RESPOSTA DA IGREJA: A SUCESSÃO APÓSTOLICA.

            As questões que eram debatidas sempre eram oriundas do fato de alguém se dizer portador do real evangelho: Os marcionitas diziam que Paulo era o apóstolo que realmente entendeu o sentido do cristianismo e expurgou de seus ensinos os preceitos judaicos. Os gnóticos diziam que Jesus deixou a “tradição secreta” com um dos apóstolos, muitos diziam ser este Tomé, por causa do evangelho que carregou seu nome. Os cristãos diziam-se portadores da são doutrina, pois a herdaram dos apóstolos.

Afinal de contas quem realmente recebeu o verdadeiro evangelho dos apóstolos. É nessa questão que entra a importância da sucessão apostólica. De forma lógica, se Jesus tinha algum ensino secreto, ele o teria confiado aos seus apóstolos, pois foi a eles a quem Ele confiou à direção da sua igreja. E se realmente os apóstolos tivessem recebido algum segredo, eles dariam continuidade a esta tradição passando para os seus discípulos diretos, e não para estranhos.

Logo se os discípulos diretos dos apóstolos negavam terem recebido tais tradições dos mesmos. Pode-se entender que os hereges dizem ser um ensino secreto, não passa de uma heresia que deve ser combatida e extirpada do seio igreja. Para que este raciocínio lógico fosse de fato aceito, era necessário que fosse comprovado a árvore genealógica. O que não era difícil por que as igrejas possuíam uma lista de sucessão de seus líderes a contar de seu nascimento.

2.6. A IGREJA CATÓLICA ANTIGA.

            A palavra católica começou a ser utilizada pelos cristãos autênticos para denotar duas faces do verdadeiro Cristianismo: a primeira era que a palavra denotava o sentido universal da igreja, diferentemente dos gnósticos que eram um grupo pequeno e específico. O outro era o fato da “igreja ser um todo”, ou seja, ela toda tinha consenso sobre o real evangelho, diferentemente dos marcionitas, que em uma pequena parte, diziam ter uma revelação especial.

            Esta palavra foi empregada para designar estes fatores acima citados para denotar a autoridade da igreja como despenseira da fé.  Em nossos dias esta palavra tem sido utilizada para denotar uma porção específica da chamada “cristandade”, ganhando um outro sentido do qual a mesma fora utilizada a partir do século segundo.

 

           

           

 

 

                       

 



[1]    GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. pág.94

[2] FERREIRA, Franklin. MYatt, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova. 2007. pg. 487.

[3] GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. pg.102.

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