segunda-feira, 14 de maio de 2012

Capítulo VII – A reação monástica e cismática


Capítulo VII – A reação monástica e cismática:
1. A REAÇÃO MONÁSTICA.


“Os monges que saem das suas celas, ou buscam a companhia do povo, perdem a paz, como o peixe perde a vida fora da água”.
(Antônio, o Eremita)
1.1. INTRODUÇÃO:
            A vivência cristã após as contribuições de Constantino se tornaram pontos nevrálgicos de opiniões. O cristianismo que até bem pouco tempo antes era perseguido, enxergado como a religião de um povo indouto e ignorante. Agora passa a ser respeitado, acolhido, e mais além ainda. Passa a ser a religião do império.
            Alguns cristãos enxergavam na vida Constantino um homem usado por Deus para unificar a igreja em prol de um mesmo propósito de existência. Já outros, viam com muita desconfiança o fato de que agora o evangelho estava sendo encaminhado a situações extremamente perigosas. Haja vista que Jesus havia advertido a sua igreja que o caminho é estreito (Mateus 7.44). E agora o caminho parecia ser tão fácil, a porta parecia estar tão larga, que possibilitava a entrada de qualquer um no Reino. Desprezando todos os padrões Bíblicos para tal fato.
            A igreja começou a ser invadida por uma grande disputa de poder social, econômico, religioso, etc. Para alguns parecia um disparate pensar que em até pouco tempo atrás eram perseguidos, extremamente humilhados por causa de sua fé. Agora, viam irmãos usurpando de altos cargos eclesiásticos e padrões de vida incompatíveis com a fé cristã.
            O estudioso Justo González levanta um questionamento exatamente sobre esta questão em sua obra, dizendo:
“Como, então, pode-se ser cristão nestas circunstâncias? Quando a igreja se une aos poderes do mundo, quando o luxo e a ostentação se apossam dos altares cristãos, quando toda sociedade parece dizer que o caminho estreito se transformou em uma larga avenida, como resistir às enormes tentações do momento? Como testemunhar do Crucificado, daquele que não tinha nem onde repousar a cabeça, quando os líderes da igreja têm mansões luxuosas, e quando o sangrento testemunho do martírio já não é possível? Como vencer o maligno, que constantemente nos tenta com as novas honra que a sociedade nos oferece?[1]
            Diante deste fato acima exposto, muitos estavam se achegando a igreja. E outros muitos cristãos estavam se afastando da mesma, buscando a vida na solidão de refúgios isolados da sociedade. Buscando uma tentativa de fugir das tentações que o mundo estava oferecendo.
1.2. AS ORIGENS DO MONAQUISMO
            Os ideais do monaquismo se iniciaram no século primeiro de vida da igreja. Pautados no versículo que Paulo aconselha aos que não são casados, como: as viúvas, os solteiros.  Se conseguirem não se casem. Pois aqueles que não se casam possuem maior liberdade para poderem se dedicarem exclusivamente em prol da causa. É verdade que nesta concepção Paulina deve se considerar o fato da iminente volta de Cristo.
            É bem verdade também que por mais que se tenha combatido o gnosticismo. Alguns líderes da igreja absorveram de modo empiricamente à concepção de a matéria ser má. E além da doutrina gnóstica, existia a grande influência filosófica de que a busca das paixões da carne, influenciam na busca do conhecimento, como por exemplo acreditavam os estoicos.  Então estes líderes, buscavam na vida monástica a mortificação da carne. Podemos citar alguns líderes que segundo Justo González, foram influenciados, indiretamente por este fator, exemplos: Panfílio, Eusébio de Cesaréia, Orígenes e outros.
            Sendo assim, podemos dizer que os ideais monásticos são derivadas de influências de fatores de dentro da igreja. Como também de influências de fatores fora da igreja.
1.3. OS PRIMEIROS MONGES NO DESERTO
            Os primeiros monges se espalharam por todo o império Romano. Mas a principal localidade de suas residências fora os desertos. Mas precisamente no Egito. A palavra monge tem sua origem do grego “monachós”, que quer dizer: solitário. No inicio do movimento receberam o nome de “ancoreta” que quer dizer: “retirado”, “fugitivo”.
            Sendo mais específico no que diz respeito a sua moradia.  Eles não moravam propriamente nas areias do deserto, mas sim, em oásis ou em cemitérios abandonados. Estes lugares lhes proporcionavam tranquilidade e solidão para uma vida de maior intensidade de oração, reflexão da palavra, etc.
            Seu estilo de vida era bem simples. Viviam de agricultura de subsistência, ou faziam artesanatos e trocavam por alimentações básicas. Muitos deles viviam em uma espécie de dieta, a base de pão, azeite, frutas e legumes. Suas posses não ultrapassavam suas vestes e a esteira em que dormiam. Não olhavam com bons olhos a posse de livros, pois pensavam que podiam se tornar orgulhosos através do conhecimento. Alguns deles decoravam livros inteiros da Bíblia e ensinavam os mesmos de cabeça. Seus livros preferidos eram Salmos e os livros do Novo Testamento.
            Eles andavam na contramão da igreja hierárquica. Que residia em palácios luxuosos e vivam à custa, do Estado e da sociedade. Para os monges a pior coisa que podia acontecer a algum deles era ser ordenado sacerdote ou bispo. Porém os monges caminharam para outro extremo que fora a vaidade de acharem-se mais santos que os bispos e demais irmãos que compunham a igreja hierárquica.
            Esse pensamento os fez acreditar que por eles serem os mais santos, eles deveriam de construir e ditar qual era a sã doutrina da igreja. Como a maioria deles se tornaram fanáticos, religiosos e pessoas indoutas. Eles acabaram se tornando massa de manobra de homens com coração corrompido e se tornaram em muitos casos, pedra de tropeço para saúde teológica da igreja.



2. A REAÇÃO CISMÁTICA: O DONATISMO.
“Os donatistas debatem conosco onde está o corpo de Cristo, que é a igreja. Haveremos de buscar respostas em nossas próprias palavras, ou nas da cabeça do corpo nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo?”.
(Agostinho de Hipona)
            Como falamos no capítulo anterior e também da reação monástica. Com a nova tomada de rumo entre igreja e Estado. Realizada pelo imperador Constantino, muitos se opuseram a essa questão.
Conforme neste mesmo capítulo pudemos observar: Fora por descontentamento com esta situação, que alguns irmãos, se dirigiram para o deserto e se tornaram monges, outros se aliaram a Constantino e viveram desfrutando dos efeitos desta nova aliança. Outros, porém, criaram grupos separatistas, reivindicando, serem detentores do real evangelho. Um destes grupos é o donatista.
Os donatistas tiveram sua origem devido as fortes perseguições sofridas pela igreja nos quatro primeiros séculos de sua história. Para ser mais preciso, o cisma donatista se origina pelo fato decorrente da negação da pessoa de Jesus por alguns cristãos que ao serem presos reagiam desta forma; negando a Cristo.
Relatos históricos dizem que muitos bispos negaram sua fé, devolvendo para o Estado suas Escrituras para cessar a perseguição sobre sua congregação. Outros, bispos e leigos, até mesmo começaram a praticar o paganismo, cultuando a outros deuses. Alguns até mesmo participavam de atos públicos de jogarem suas Bíblias na fogueira.
Mas também não faltaram aqueles que foram fiéis até a morte. Sofreram: fome, perseguição, dor, prisões, espancamentos e até mesmo a morte. Mas foram fiéis até o fim. Estes homens ganharam o nome de “confessores”. Por não negarem sua fé. Todos que passaram a se enquadrar neste grupo. Tornaram-se homens de grande prestígio e autoridade dentro do seio da igreja.
Esta explicação inicial se dá de fato pela elucidação que é devida para a construção do pensamento sobre o cerne da questão inicial sobre o inicio do donatismo. Após estas duras perseguições o cargo de bispo de Cartago ficou vago. Então logo se levantou uma disputa pela sucessão de tal bispado. Porém, a disputa criou um cisma. Dois grupos começaram a disputar pelo mesmo.
Fora eleito primeiro bispo, Ceciliano. Porém o mesmo não teve o apoio popular, o que derivou na divisão acima supracitada. Logo a seguir então elegeram outro bispo, esse tinha o nome de Majorino. Não entraremos muito no mérito de como os dois foram eleitos e por que cada qual o fora. Basta somente ressaltar o fato de que os mesmo foram eleitos tendo como plano de fundos dos dois lados, inúmeros interesses políticos, distorções para que o fato fosse consumido, e daí ladeira abaixo.
Algum tempo depois de ser eleito bispo, Majorino morreu. E rapidamente seus partidários elegeram Donato, da casa negra, o novo bispo em seu lugar. Este homem ficou a frente desta política durante quarenta anos, e por este motivo seus discípulos, receberam o nome de “Donatistas”.
É evidente que os demais bispos deveriam se posicionar em relação a tal caso. Haja vista que se essa moda pegasse, todos teriam problemas em seus ministérios e governo. O Bispo de Roma, e os demais bispos mais importantes do império declaram Ceciliano como o verdadeiro pastor. E por consequência lógica, Mojorino – Donato, como os usurpadores do mesmo. Constantino se posiciona a favor do edito do bispo de Roma e os demais e emite um edito dizendo que somente teriam as regalias reais (isenção de impostos, doações para sua paróquia, etc.) de sua parte aqueles que estivessem ao lado de Ceciliano.
Porém cabe-nos entender o porquê de fato de tamanha confusão. O que era alegado pelos irmãos que diziam o primeiro bispo ordenado não ser digno de tal coisa. Ou seja, por que não fora aceita a sucessão de Ceciliano pelos “donatistas”.
Sua alegação contra este se dava pelo fato do mesmo ter sido ordenado por um bispo que tivera caído, um bispo que durante uma perseguição havia negado sua fé. Na opinião dos “donatistas”, uma ordenação que tivera sido realizada por um homem de um caráter duvidoso era inválida e não podia ser aceita como tal.
A controvérsia teológica deste caso, na verdade era muito mais política do que teológica. O questionamento teológico deles residia no fato de um homem ter validade por si mesmo. Em suas mentes meritórias, o proceder de um homem, poderia comprometer sua mensagem, a ministração de seus afazeres eclesiásticos, suas escolhas e etc. É por este motivo que a confusão toda será instaurada, segundo os mesmo. Mas na verdade, somos sabedores que neste fato não reside uma totalidade do assunto. Sendo o mesmo, muito mais político partidário.
Podemos observar isso em muitos documentos da época que comprovam entre o grupo dos donatistas irmãos que durante a perseguição negarão sua fé e depois foram readmitidos e aceitos no grupo dos donatistas. Isso gera no discurso uma imensa incoerência.
O fato é que os dois grupos representavam duas extremidades geográficas e sociais. O que gerava uma intensa disputa políticas partidárias de interesses políticos econômicos.


BIBLIOGRAFIA:
CAIRNS, E.E. O Cristianismo Através do Século. São Paulo: Vida. 2006.
GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995.
GONZÁLEZ, Justo. A era dos gigantes: uma história ilustrada do cristianismo – volume 2. São Paulo: Vida Nova, 1995.


[1] GONZÁLEZ, Justo. A era dos gigantes: uma história ilustrada do cristianismo – volume 2. São Paulo: Vida Nova, 1995.pg. 59.

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