Capítulo VII – A reação monástica e cismática:
1. A REAÇÃO MONÁSTICA.
“Os monges que saem das suas celas, ou buscam a
companhia do povo, perdem a paz, como o peixe perde a vida fora da água”.
(Antônio, o Eremita)
1.1. INTRODUÇÃO:
A
vivência cristã após as contribuições de Constantino se tornaram pontos
nevrálgicos de opiniões. O cristianismo que até bem pouco tempo antes era
perseguido, enxergado como a religião de um povo indouto e ignorante. Agora
passa a ser respeitado, acolhido, e mais além ainda. Passa a ser a religião do
império.
Alguns
cristãos enxergavam na vida Constantino um homem usado por Deus para unificar a
igreja em prol de um mesmo propósito de existência. Já outros, viam com muita
desconfiança o fato de que agora o evangelho estava sendo encaminhado a
situações extremamente perigosas. Haja vista que Jesus havia advertido a sua
igreja que o caminho é estreito (Mateus 7.44). E agora o caminho parecia ser
tão fácil, a porta parecia estar tão larga, que possibilitava a entrada de
qualquer um no Reino. Desprezando todos os padrões Bíblicos para tal fato.
A
igreja começou a ser invadida por uma grande disputa de poder social,
econômico, religioso, etc. Para alguns parecia um disparate pensar que em até
pouco tempo atrás eram perseguidos, extremamente humilhados por causa de sua
fé. Agora, viam irmãos usurpando de altos cargos eclesiásticos e padrões de
vida incompatíveis com a fé cristã.
O
estudioso Justo González levanta um questionamento exatamente sobre esta
questão em sua obra, dizendo:
“Como, então, pode-se ser cristão nestas circunstâncias? Quando a igreja se une
aos poderes do mundo, quando o luxo e a ostentação se apossam dos altares
cristãos, quando toda sociedade parece dizer que o caminho estreito se
transformou em uma larga avenida, como resistir às enormes tentações do momento? Como testemunhar do
Crucificado, daquele que não tinha nem onde repousar a cabeça, quando os
líderes da igreja têm mansões luxuosas, e quando o sangrento testemunho do
martírio já não é possível?
Como vencer o maligno, que constantemente nos tenta com as novas honra que a
sociedade nos oferece?”[1]
Diante
deste fato acima exposto, muitos estavam se achegando a igreja. E outros muitos
cristãos estavam se afastando da mesma, buscando a vida na solidão de refúgios
isolados da sociedade. Buscando uma tentativa de fugir das tentações que o
mundo estava oferecendo.
1.2. AS ORIGENS DO MONAQUISMO
Os
ideais do monaquismo se iniciaram no século primeiro de vida da igreja.
Pautados no versículo que Paulo aconselha aos que não são casados, como: as viúvas,
os solteiros. Se conseguirem não se
casem. Pois aqueles que não se casam possuem maior liberdade para poderem se
dedicarem exclusivamente em prol da causa. É verdade que nesta concepção
Paulina deve se considerar o fato da iminente volta de Cristo.
É
bem verdade também que por mais que se tenha combatido o gnosticismo. Alguns
líderes da igreja absorveram de modo empiricamente à concepção de a matéria ser
má. E além da doutrina gnóstica, existia a grande influência filosófica de que
a busca das paixões da carne, influenciam na busca do conhecimento, como por
exemplo acreditavam os estoicos. Então
estes líderes, buscavam na vida monástica a mortificação da carne. Podemos
citar alguns líderes que segundo Justo González, foram influenciados,
indiretamente por este fator, exemplos: Panfílio, Eusébio de Cesaréia, Orígenes
e outros.
Sendo
assim, podemos dizer que os ideais monásticos são derivadas de influências de
fatores de dentro da igreja. Como também de influências de fatores fora da
igreja.
1.3. OS PRIMEIROS MONGES NO DESERTO
Os
primeiros monges se espalharam por todo o império Romano. Mas a principal
localidade de suas residências fora os desertos. Mas precisamente no Egito. A
palavra monge tem sua origem do grego “monachós”, que quer dizer: solitário. No
inicio do movimento receberam o nome de “ancoreta” que quer dizer: “retirado”, “fugitivo”.
Sendo
mais específico no que diz respeito a sua moradia. Eles não moravam propriamente nas areias do
deserto, mas sim, em oásis ou em cemitérios abandonados. Estes lugares lhes
proporcionavam tranquilidade e solidão para uma vida de maior intensidade de
oração, reflexão da palavra, etc.
Seu
estilo de vida era bem simples. Viviam de agricultura de subsistência, ou
faziam artesanatos e trocavam por alimentações básicas. Muitos deles viviam em
uma espécie de dieta, a base de pão, azeite, frutas e legumes. Suas posses não
ultrapassavam suas vestes e a esteira em que dormiam. Não olhavam com bons
olhos a posse de livros, pois pensavam que podiam se tornar orgulhosos através
do conhecimento. Alguns deles decoravam livros inteiros da Bíblia e ensinavam
os mesmos de cabeça. Seus livros preferidos eram Salmos e os livros do Novo
Testamento.
Eles
andavam na contramão da igreja hierárquica. Que residia em palácios luxuosos e
vivam à custa, do Estado e da sociedade. Para os monges a pior coisa que podia
acontecer a algum deles era ser ordenado sacerdote ou bispo. Porém os monges
caminharam para outro extremo que fora a vaidade de acharem-se mais santos que
os bispos e demais irmãos que compunham a igreja hierárquica.
Esse
pensamento os fez acreditar que por eles serem os mais santos, eles deveriam de
construir e ditar qual era a sã doutrina da igreja. Como a maioria deles se
tornaram fanáticos, religiosos e pessoas indoutas. Eles acabaram se tornando massa
de manobra de homens com coração corrompido e se tornaram em muitos casos,
pedra de tropeço para saúde teológica da igreja.
2. A REAÇÃO CISMÁTICA: O DONATISMO.
“Os donatistas debatem conosco onde está o corpo
de Cristo, que é a igreja. Haveremos de buscar respostas em nossas próprias
palavras, ou nas da cabeça do corpo nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo?”.
(Agostinho de Hipona)
Como
falamos no capítulo anterior e também da reação monástica. Com a nova tomada de
rumo entre igreja e Estado. Realizada pelo imperador Constantino, muitos se
opuseram a essa questão.
Conforme neste mesmo capítulo pudemos observar: Fora
por descontentamento com esta situação, que alguns irmãos, se dirigiram para o
deserto e se tornaram monges, outros se aliaram a Constantino e viveram desfrutando
dos efeitos desta nova aliança. Outros, porém, criaram grupos separatistas, reivindicando,
serem detentores do real evangelho. Um destes grupos é o donatista.
Os donatistas tiveram sua origem devido as fortes
perseguições sofridas pela igreja nos quatro primeiros séculos de sua história.
Para ser mais preciso, o cisma donatista se origina pelo fato decorrente da
negação da pessoa de Jesus por alguns cristãos que ao serem presos reagiam
desta forma; negando a Cristo.
Relatos históricos dizem que muitos bispos
negaram sua fé, devolvendo para o Estado suas Escrituras para cessar a
perseguição sobre sua congregação. Outros, bispos e leigos, até mesmo começaram
a praticar o paganismo, cultuando a outros deuses. Alguns até mesmo
participavam de atos públicos de jogarem suas Bíblias na fogueira.
Mas também não faltaram aqueles que foram fiéis
até a morte. Sofreram: fome, perseguição, dor, prisões, espancamentos e até
mesmo a morte. Mas foram fiéis até o fim. Estes homens ganharam o nome de “confessores”.
Por não negarem sua fé. Todos que passaram a se enquadrar neste grupo. Tornaram-se
homens de grande prestígio e autoridade dentro do seio da igreja.
Esta explicação inicial se dá de fato pela
elucidação que é devida para a construção do pensamento sobre o cerne da questão
inicial sobre o inicio do donatismo. Após estas duras perseguições o cargo de
bispo de Cartago ficou vago. Então logo se levantou uma disputa pela sucessão
de tal bispado. Porém, a disputa criou um cisma. Dois grupos começaram a
disputar pelo mesmo.
Fora eleito primeiro bispo, Ceciliano. Porém o
mesmo não teve o apoio popular, o que derivou na divisão acima supracitada. Logo
a seguir então elegeram outro bispo, esse tinha o nome de Majorino. Não
entraremos muito no mérito de como os dois foram eleitos e por que cada qual o
fora. Basta somente ressaltar o fato de que os mesmo foram eleitos tendo como
plano de fundos dos dois lados, inúmeros interesses políticos, distorções para
que o fato fosse consumido, e daí ladeira abaixo.
Algum tempo depois de ser eleito bispo, Majorino
morreu. E rapidamente seus partidários elegeram Donato, da casa negra, o novo
bispo em seu lugar. Este homem ficou a frente desta política durante quarenta
anos, e por este motivo seus discípulos, receberam o nome de “Donatistas”.
É evidente que os demais bispos deveriam se
posicionar em relação a tal caso. Haja vista que se essa moda pegasse, todos
teriam problemas em seus ministérios e governo. O Bispo de Roma, e os demais
bispos mais importantes do império declaram Ceciliano como o verdadeiro pastor.
E por consequência lógica, Mojorino – Donato, como os usurpadores do mesmo. Constantino
se posiciona a favor do edito do bispo de Roma e os demais e emite um edito
dizendo que somente teriam as regalias reais (isenção de impostos, doações para
sua paróquia, etc.) de sua parte aqueles que estivessem ao lado de Ceciliano.
Porém cabe-nos entender o porquê de fato de
tamanha confusão. O que era alegado pelos irmãos que diziam o primeiro bispo
ordenado não ser digno de tal coisa. Ou seja, por que não fora aceita a sucessão
de Ceciliano pelos “donatistas”.
Sua alegação contra este se dava pelo fato do
mesmo ter sido ordenado por um bispo que tivera caído, um bispo que durante uma
perseguição havia negado sua fé. Na opinião dos “donatistas”, uma ordenação que
tivera sido realizada por um homem de um caráter duvidoso era inválida e não
podia ser aceita como tal.
A controvérsia teológica deste caso, na verdade
era muito mais política do que teológica. O questionamento teológico deles
residia no fato de um homem ter validade por si mesmo. Em suas mentes meritórias,
o proceder de um homem, poderia comprometer sua mensagem, a ministração de seus
afazeres eclesiásticos, suas escolhas e etc. É por este motivo que a confusão
toda será instaurada, segundo os mesmo. Mas na verdade, somos sabedores que neste
fato não reside uma totalidade do assunto. Sendo o mesmo, muito mais político
partidário.
Podemos observar isso em muitos documentos da época
que comprovam entre o grupo dos donatistas irmãos que durante a perseguição
negarão sua fé e depois foram readmitidos e aceitos no grupo dos donatistas. Isso
gera no discurso uma imensa incoerência.
O fato é que os dois grupos representavam duas extremidades
geográficas e sociais. O que gerava uma intensa disputa políticas partidárias
de interesses políticos econômicos.
BIBLIOGRAFIA:
CAIRNS, E.E. O
Cristianismo Através do Século. São Paulo: Vida. 2006.
GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São
Paulo: Vida Nova, 1995.
GONZÁLEZ,
Justo. A era dos gigantes: uma história
ilustrada do cristianismo – volume 2. São Paulo: Vida Nova, 1995.
[1]
GONZÁLEZ,
Justo. A era dos gigantes: uma história
ilustrada do cristianismo – volume 2. São Paulo: Vida Nova, 1995.pg. 59.
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