8º Devocional - “Até quando Senhor?”

Rio de Janeiro, 14 de abril de 2020.

Devocionais dos “Arautos da Esperança”. 

8º Devocional - “Até quando Senhor?” 

O texto inicial do livro do profeta Habacuque revela uma indagação do profeta para Deus: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniquidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida”. (Habacuque 1.2-4) 

Diferentemente de todos os demais profetas que o Antigo Testamento o profeta Habacuque não se remete ao povo de Israel com alguma profecia da parte de Deus, e nem mesmo como outros profetas, que se remeteram a outras nações revelando o juízo de Deus que está sobrevir a estas. Ao contrário de todos os seus colegas, Habacuque sempre parece representar o povo em suas indagações ao Senhor.  

Talvez Habacuque seja um homem que possa ser entendido pelo significado de seu nome, que é abraço. O reformador Martinho Lutero ao comentar sobre o significado do nome de Habacuque sugere que ele é realmente a expressão do significado de seu nome, o profeta que abraça o povo e a sua causa.  

A causa abraçada por esse profeta era oriunda de sua crise pessoal com o cenário de caos e injustiças que seus olhos estavam presenciando em Israel, outros homens nas narrativas bíblicas tiveram crises semelhantes: Jó, Asafe, Davi, e alguns outros. Todavia, a crise desses homens era de cunho pessoal, já a crise de Habacuque é social, sua crise é oriunda pelo estado de opressão que seu povo se encontra.  

O livro de Habacuque talvez seja uma das leituras mais essenciais para os nossos dias. Mesmo tendo sido escrito cerca de 2.600 atrás, ele continua sendo tão atual como as notícias do jornal que foi publicado hoje. Ao analisarmos os noticiários iremos encontrar dramas que nos causem as mesmas indagações do profeta: uma corrupção sistêmica em todas áreas da sociedade, o drama e o sofrimento da população com o caos do sistema de saúde provocado pelo covid-19, a dor e a humilhação dos indefesos que sofrem as mais diversas injustiças e não tem a quem recorrerem e até ter sua causa julgada de forma justa e imparcial, a fome e a dor intensa de semelhantes que não possuem nem ao mesmo o básico para uma vida digna, a opressão do pobre pelos banqueiros que usurpam o proletariado com juros e taxas abusivas e ninguém faz absolutamente nada contra isso, etc. 

Junte a estes fatores socias, suas crises de cunho pessoal. Você presenciar uma família ser destruída pelo egoísmo de um homem que deseja dar vazão aos desejos sexuais e simplesmente abandona sua mulher e filhos para vivenciar suas experiências de luxúria; um amigo querido que fica acometido de tetraplegia por causa da irresponsabilidade de um comandante bêbado, que se utilizando de sua patente de forma insana e criminosa transforma a vida de uma pessoa sadia para uma vida de limitações e lutas diárias; a sensação de impotência de assistir de camarote alguém que você ama se destruir usando drogas, e você sentir a impotência de não conseguir ajudar; se continuar a descrever talvez tenha que usar muitas e muitas laudas e não é esse o desejo e, sim apenas elencar alguns exemplo tentando dar-lhe a dimensão que a vida é cheia de fatores terríveis que acontecem a pessoas boas.  

Talvez assim como Habacuque, você e eu estejamos também nos perguntando e perguntado para Deus: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniquidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida”. (Habacuque 1.2-4) 

Ao analisarmos o livro por completo de Habacuque e a história de outros personagens bíblicos podemos perceber que eles não encontram respostas muitas vezes para suas indagações, todavia eles são levados um amadurecimento de sua fé ao perceberem que o Senhor não está limitado como nós estamos. Explico melhor, muitas vezes queremos que o nosso ponto de vista acerca da justiça seja realizado por Deus, porém nós seres humanos conseguimos enxergar apenas uma parte de todo processo. Já o Senhor que é Soberano, Onipresente, Onisciente e Onipotente, consegue enxergar o todo. Aqueles homens decidiram acreditar pela fé nessa certeza: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8.28) 

Só existe uma possibilidade de acreditarmos que nada está fora do controle de Deus e, Ele tem sempre o melhor para cada um de nós: é viver pela fé. O profeta Habacuque expressou isso dizendo: “...o justo viverá pela fé” (Habacuque 2.4) Essa expressão será repetida mais outras duas vezes no Novo Testamento, uma pelo apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos e outra pelo autor aos Hebreus. Toda vez que essa expressão é utilizada está ligada ao fato de não conseguirmos nos justificar diante de Deus, que precisamos acreditar pela fé na graça de Deus que nos foi oferecida através do sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário, ou seja nossa justiça perante a justiça de Deus não é nada, como diz o profeta Isaías: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam.” (Isaías 64.6) 

Nossos questionamentos, indagações, dúvidas, não nos fazem menos crentes ou menos espirituais, mas pelo contrário, eu acredito que essas coisas acabem fazendo nossa fé ser mais robusta e mais firme no Senhor. Basta observar a expressão do profeta no último capítulo de seu livro: “Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas.” (Habacuque 3.17-19) 

Certo de que em Cristo nós podemos descansar e confiar que Ele tem o melhor para cada um de nós: 

Seu amigo e pastor, Roberto da Silva Meireles Rodrigues.