Rio
de Janeiro, 04 de agosto de 2020.
Projeto
– Café com teologia
Disciplina
– Teologia Sistemática
Ramificação
– Escatologia
Ministração
– Introdução ao estudo das últimas coisas
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Introdução, Conceito e
Relevância do Assunto:
As pessoas possuem uma tendência
inata e curiosa acerca de seu futuro e também do futuro de toda a humanidade.
Com a pandemia e a proximidade real da morte esse fato foi potencializado ainda
mais e o interesse pelo assunto se tornou alvo de uma busca intensa.
Como pastor já alguns anos sou
questionado acerca da doutrina das últimas coisas e durante estes últimos meses
as perguntas se avolumaram de forma mais substanciosa. Tão substanciosa que, em
minha humilde opinião como alguém que ama o labor teológico, vale ser alvo de pesquisa
de forma mais consistente e cientifica sobre os efeitos da pandemia em relação
o despertar da humanidade para uma busca aos seus questionamentos existenciais
ligados ao aqui e ao porvir.
Estudiosos como Millard J. Erickson
e Richard J. Sturz já levantam a questão do interesse do homem moderno na
tentativa de entender o tempo presente e o vindouro devido às inúmeras
transformações que a sociedade passou por causa do avanço da tecnologia e a
também outros conceitos que mudaram de forma impactante a sociedade em sua
essência e “modus vivendi[1]”.
Pensando acerca dessa questão foi se
construído um novo estudo sobre as evoluções e mudanças que a sociedade está
passando e passará. Esse estudo ganhou o nome de futurologia. Esse estudo fez
com muitas previsões fossem feitas acerca de um futuro próximo e um futuro mais
longínquo acerca da economia, da ciência, da educação, da tecnologia, etc. Muitas
projeções foram acertadas e muitas outras não. Todavia, essas projeções e
conjecturas sobre o futuro infelizmente influenciaram o cenário religioso
epocal evangélico. Muitas pessoas de forma equivocada e antibiblíca começaram a
fazer projeções acerca do futuro individual do homem e também de forma geral da
humanidade.
Os cristãos por sua vez entendem que
os pressupostos para sua construção doutrinária e por sua cosmovisão acerca do
futuro do homem e da humanidade não devem ser baseados em projeções, mas sim na
Palavra de Deus que é seu fundamento de fé e para prática de vida.
No
campo do labor teológico a doutrina das últimas coisas, também conhecida como “escatologia”
encontra-se como uma ramificação da disciplina chamada teologia sistemática. A
teologia sistemática tem como finalidade sistematizar o pensamento teológico
acerca de algum assunto tendo como base para a conceituação de seus temas os
textos bíblicos. A teologia sistemática se propõe a esclarecer o que a Bíblia
tem a ensinar de Gênesis a Apocalipse sobre o tema que está sendo alvo de
estudo.
O teólogo contemporâneo chamado
Wayne Grudem conceitua escatologia da seguinte maneira: “O Estudo de eventos futuros e muitas vezes chamado de escatologia”,
segundo a palavra grega escathos, que significa “último”. O estudo da
escatologia, portanto, é o estudo das últimas coisas”.[2]
O pastor batista e professor da
Faculdade Batista do Paraná, Zacarias de Aguiar Severa, faz a seguinte
observação ao comentar sobre o tema: “Convém
esclarecer que o conceito bíblico de tempo não é cíclico, nem puramente linear;
pelo contrário, contempla “um padrão recorrente em que julgamento e redenção
divinos interagem, até que este padrão chega à sua manifestação definitiva”.
Assim, a escatologia não se refere apenas à conclusão de um ciclo, nem diz
respeito apenas ao ponto final da história; ela “pode denotar a consumação do
propósito de Deus, quer coincida com o fim do mundo (ou da história) quer não,
quer seja totalmente final, quer marque uma etapa no desdobrar do padrão do seu
propósito.
Outra
Observação necessária é quanto à distinção entre os termos “escatologia” e
“apocalipse”. “Apocalíptico” é um termo usado para referir-se a um gênero
específico de literatura, que apresenta revelações no que concerne ao fim do
mundo. Os escritos apocalípticos surgiram entre os judeus, cerca de 200 anos
antes de Cristo até aproximadamente 200 anos depois. De modo geral esses
escritos se concentram na expectativa da iminente intervenção divina nas questões
do mundo, quando o povo de Deus será libertado e seus inimigos destruídos. A
presente ordem do mundo será destruída e substituída pela restauração da
criação.
Por
outro lado, o termo “escatologia” designa o estudo dos vários eventos que
completam uma etapa significativa ou final do plano de Deus para a humanidade.
Ela é mais abrangente, nem sempre é descrita em linguagem apocalíptica.”[3]
Ao analisarmos um pouco o que está
sendo ensinado no movimento evangélico podemos observar dois posicionamentos
contrastantes. São eles a “escatomania” e a “escatofobia”. Estudiosos do campo
da teologia sistemática apontam estes dois opostos existentes nos ensinos
acerca do assunto.
“Escatomania” – Termo utilizado
primeiramente por Millard Erickson para descrever a ênfase exagerada no estudo
da escatologia. Alguns segmentos são tão extremos que chegam a ensinar que a
escatologia é o estudo da teologia em si, fazendo com que a doutrina das
últimas coisas perca totalmente sua ocupação na sistematização teológica de
doutrinas bíblicas. A ênfase exagerada no assunto tem levado a uma má
compreensão sobre o assunto e também uma total histeria.
“Escatofobia” – Termo utilizado
primeiramente por Millard Erickson para descrever a total apatia, indiferença e
em alguns casos por medo e repúdio a doutrina das últimas coisas. Erikson diz: “Em alguns casos, a escatofobia é uma reação
contra os que têm uma interpretação definida para todo o material profético na
Bíblia e identificam cada evento significativo da história com alguma predição
bíblica. Não querendo ser igualados com essa visão um tanto sensacionalista da
escatologia, alguns pregadores e professores evitam toda e qualquer discussão
sobre o assunto. Em outros casos, a escatofobia é um reflexo da dificuldade e
obscuridade de muitas questões.”[4]
Precisamos encontrar um ponto de
equilíbrio entre estes dois extremos. É preciso que a escatologia seja ensinada
pelo padrão bíblico. O apóstolo Paulo escrevendo aos irmãos da igreja de
Tessalônica traz o ensino das últimas coisas visando consolar aqueles irmãos que
estavam tristes pela perda de seus entes queridos e também lembrar-lhes do
retorno do Senhor o ensino bíblico correto acerca de sua aparição gloriosa. Ele
diz o seguinte: “Consolai-vos, pois, uns
aos outros com estas palavras.” (I Ts. 4.18)
Conclusão:
A escatologia deve ser estudada na
dependência do Espírito Santo visando capacitar os irmãos para estarem doutrinariamente
preparados para responderem aqueles que os indagam sobre a razão de nossa
esperança. (I Pe. 3.15)
Todavia,
não podemos dimensioná-la ao ponto de esquecer-nos de todas as outras doutrinas
bíblicas. É preciso um exame minucioso tendo como pressuposto sempre as
Escrituras Sagradas. Isso para não cairmos no equívoco de realizar especulações
indevidas acerca de assuntos que deveriam ser tratados de forma minuciosa e
sempre tendo como base profética o texto Sagrado (Bíblia).
É
importante sempre lembrar que a escatologia não é somente o futuro. Nosso
Senhor ao encarnar introduziu no século presente o Reino de Deus. O conceito
teológico de George Eldon Ladd que ficou conhecido como o “já, mas ainda não!”
denota de forma muito explicativa essa verdade.
O
Reino de Deus já foi inaugurado pelo Senhor; podemos desfrutar das benesses do
Deus do Reino e de seus Atributos que qualificam seu Reino já neste momento.
Destarte, o Reino de Deus ainda não foi consumado e ainda não foi nos
apresentado em sua inteireza. Só assim será quando nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo retornar de forma Gloriosa para buscar a sua noiva adornada que aguarda
atentamente a sua chegada.
A
escatologia nos refresca a memória sobre o nosso papel no plano redentor de
Deus. Urge que possamos despertar para a missão ao qual o Senhor nos designou a
cumprir. O entendimento saudável de que algum dia estaremos diante do Senhor
seja pela morte, ou seja, pelo retorno glorioso de nosso Mestre. Essa verdade
nos faz lembrar que precisamos também fazer a nossa parte dentro da história
que Deus está escrevendo em seu plano redentor.
Prossigamos
então meus amados irmãos, juntos, em dependência da iluminação do Espírito do
Senhor buscando conhecimento de sua Palavra para nos preparamos para melhor o
servirmos.
Certo
de que o Senhor nos chama para sermos seus cooperadores no seu plano de redenção
da humanidade! Seu amigo e pastor, Roberto da Silva Meireles Rodrigues.
[1] Significa modo de viver, de
conviver, sobreviver.
[2] GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida
Nova, 1999, Pp.931.
[3] SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática.
Curitiba: A.D.Santos Editora, 2014. Pp346.
[4] MILLARD, Erickson J. Introdução a Teologia Sistemática. São
Paulo: Vida Nova, 1997. Pp.481
Excelente
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