quarta-feira, 5 de abril de 2023

Introdução e apresentação

 


Rio de Janeiro, 05 de abril de 2023.

Série de Mensagens – O mais puro evangelho

Tema da Mensagem – Introdução e apresentação

Texto Base – Romanos 1.1

Introdução:

  • Uma pericope do comentário de Guilherme Tyndale da edição de 1534 acerca da epístola aos romanos: “Visto que esta epístola é a principal e a mais excelente parte do Novo Testamento, e o mais puro Euangelion, quer dizer, boas novas e aquilo que chamamos de Evangelho, como também luz e caminho que penetra o conjunto de escritura, creio que convém que todo cristão não somente a conheça de cor, mas também se exercite nela sempre sem cessar, como se fosse um pão cotidiano da alma. Na verdade, ninguém pode tê-la demasiadas vezes nem estudá-la suficientemente bem. Sim, pois, quanto mais é estudada, mais fácil fica; quanto mais é medida é meditada, mais agradável se torna, e quanto mais profundamente é pesquisada, mais coisas preciosas se encontra nela, tão grande é o tesouro de bens espirituais que nela jaz oculto... Portanto, parece evidente que a intenção de Paulo era abranger nesta epístola, de modo completo, todo o aprendizado do evangelho de Cristo, e preparar uma introdução ao Velho Testamento. Sim, pois, quem tem inteiramente no coração esta epístola, tem consigo a luz e a substância do Velho Testamento. Daí que todos os homens, sem exceção, se exercitem nela com diligência e a recordem noite e dia, até se familiarizarem com ela completamente.”[1]
  • Introdução do comentário de Douglas J. Moo recente publicada pelas edições vida nova: ““A quintessência e a perfeição da doutrina salvífica.” Essa definição de Romanos oferecida por Thomas Draxe, puritano inglês do século 17, foi ecoada por teólogos, comentaristas e leigos ao longo dos séculos. Quando pensamos em Romanos, pensamos em doutrina. Além disso, essa resposta é tanto compreensível quanto apropriada. Como veremos, a Carta de Paulo aos Romanos é profunda e completamente doutrinal: o “evangelho mais puro”, como Lutero o expressou. Mas, como todo livro do Novo Testamento, Romanos está enraizado na história. Não é uma teologia sistemática, mas uma carta, escrita e, circunstâncias específicas e com propósitos específicos. A mensagem de Romanos é, de fato, atemporal, mas, para entender sua mensagem corretamente, precisamos apreciar o contexto particular no qual Romanos foi escrito.”[2]
  • Autoria - A maioria esmagadora dos estudiosos acredita que a carta tenha sido escrita pelo apóstolo Paulo. Muito provavelmente tenha sido escrita com o auxílio de um amanuenses chamado Tércio que estava junto com o apóstolo Paulo na casa de Gaio em Cortinto;
  • Local e Data - Muito provavelmente a carta aos Romanos tenha sido escrita por volta de 56 ou 57 a.C. O velho apóstolo já tinha completado suas três viagens missionárias e agora planejava ir a Espanha, porém, desejava antes passar na Judeia para poder entregar as ofertas das igrejas gentílicas visando robustecer a relação entre as igrejas de origem judaicas com as de origens gentílicas. Após, desejava passar um tempo com os irmãos em Roma e após esse tempo ir para a Espanha. Paulo conta esse planejamento no décimo quinto capítulo da epístola e parece estar em consonância com o relato de Lucas no livro de Atos dos Apóstolos;
  • O apóstolo está escrevendo uma carta para uma igreja que não o conhece pessoalmente, sendo assim, em sua apresentação cada palavra é escolhida minuciosamente;

“Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus,” (Verso 1)

  • “Paulo”, o nome usado é a tradução latina de seu nome e não a de origem judaica. Muitos estudiosos acreditam que o apóstolo se apropria do nome com o desejo de identificar-se agora como alguém humilde, pequeno, dependente da graça de Deus;
  • “servo”, a palavra grega “doulos”(doulos) pode ser oriunda de duas origens: 1) o apóstolo gosta de se adjetivar o Senhor Jesus de “kurios” (kurios, Senhor). Essa palavra é usada para pessoas que são donas ou proprietárias de coisas. O estudioso do Novo Testamento destaca o fato de “doulos”(doulos) ser o contrário de “kurios” (kurios, Senhor); 2) A segunda origem pode ser do Antigo Testamento as designações recebidas como adjetivos aos homens de Deus, como por exemplo Moisés: “Depois que Moisés, servo do Senhor, morreu, o Senhor falou a Josué, filho de Num, auxiliar de Moisés, dizendo: - Moisés, meu servo, está morto. Prepare-se, agora, e passe este Jordão, você e todo este povo, e entre na terra que eu vou dar aos filhos de Israel. Todo lugar em que puserem a planta do pé eu darei a vocês, como prometi a Moisés.” (Josué 1.1-3)
  • “Cristo Jesus”, diferente de todos os outros autores do Novo Testamento, o apóstolo Paulo usa o termo “Cristo” na frente do nome próprio Jesus. O apóstolo Paulo tinha conhecimento de que o título “Cristo” qualifica “Jesus”. O termo “Cristo” é oriundo da cultura e da esperança do Messias, do salvador, do libertador de Israel. O estudioso do Novo Testamento George Eldon Ladd comenta: “A fórmula mais simplificada, “Jesus, o Messias”, desapareceu completamente ao passo que “Jesus Cristo” e a expressão completa “nosso Senhor Jesus Cristo” são usadas muitas vezes. Cullmann assinala que a prática ocasional de Paulo de colocar Cristo antes de Jesus, mostra que o apóstolo está claramente ciente de que o título não é exatamente um nome próprio. A transformação de Christos de título em nome próprio ocorreu provavelmente na igreja helenística, onde Christos poderia ser uma palavra sem sentido, despida de qualquer conotação religiosa. Atos 11.26 conta que, na Antioquia, os crentes foram pela primeira vez chamados Christianoi, ou que implica que Christos já era considerado um nome próprio.”[3] Morris acerca do uso de Paulo da expressão comenta: “A palavra “Cristo” é, naturalmente, a transliteração de uma grega que significa “ungido”, assim como “Messias” é a transliteração de uma palavra hebraica com o mesmo sentido. No Antigo Testamento, várias pessoas eram ungidas, com destaque para o rei de Israel, conhecido como “o ungido do Senhor” (1Sm 16.6; 2Sm 1.14). Também lemos que os sacerdotes eram ungidos (Êx 30.30; Lv 4.5) e, com menos frequência, os profetas (1Rs 16.16). Em cada caso a ação significativa que a pessoa em questão era solenemente separada para o serviço de Deus. Com o tempo, porém, surgiu a ideia de que um dia viria, não simplesmente um ungido, mas o ungido, que faria a vontade de Deus de maneira particularmente importante. O termo “Messias”, como tal, é encontrado apenas raramente no Antigo Testamento (Dn 9.25-26), mas a ideia é bem mais comum e, às vezes, na história de Israel, de forma nítida na época do Novo Testamento, havia uma grande expectativa de que o Messias estava por chegar.”[4]
  • “Chamado para ser apóstolo”, diferente de outras epístolas o velho apóstolo se utiliza da palavra “apóstolo” não para designar o conceito missionário, mas sim, o de pertencer de um grupo seleto de discípulos que são responsáveis pelo alicerce do evangelho;
  • “separado para o evangelho de Deus”, “A última descrição que Paulo faz de si mesmo no versículo 1 – “separado para o evangelho Deus” – talvez aluda ao fato de ele haver sido separado para essa grande tarefa apostólica desde “o ventre de sua mãe” (Gl 1.15). Mas, pela ordem de palavras escolhida, é mais provável que o uso de “separado” na definição seguinte seja simplesmente um acréscimo à anterior, “chamado...”. A forma verbal é empregada na LXX para expressar o fato de Deus “separar” e chamar Israel dentre outras nações (Lv 20.26) e, em Atos 13.12, para expressar a “separação” de Barnabé e Saulo para o serviço missionário. Da mesma forma, Paulo, como um “apóstolo chamado”, foi separado por Deus para um propósito especial no plano dele para a história. Paulo aqui especifica esse propósito com as palavras “para o evangelho de Deus”. A linguagem “do evangelho”, ou seja, que emprega a terminologia associada a “evangelho” ou boas-novas”, evangelizar etc. (euangelion e euanlelizomai), atinge o cerne da convicção da pregação divinas: o fato de que Deus cumpriu sua muito antiga promessa de recuperar a criação caída e propiciar a seu povo um relacionamento novo e seguro com ele mesmo. Como argumentamos, “evangelho” é o tema geral da carta. A palavra aqui talvez denote de pregar o evangelho ou pode simplesmente remeter à mensagem do próprio evangelho... Então, ao afirmar que ele foi “separado para o evangelho de Deus”, Paulo está dizendo que sua vida é totalmente dedicada ao ato da salvação de Deus em Cristo – uma dedicação que envolve tanto a própria fé na mensagem e sua obediência a ela quanto a sua proclamação apostólica que faz dela. Essas boas-novas são de Deus (theou) – talvez implicando um contraste com outras formas de “boas-novas” que circulavam no Império Romano na época de Paulo.”[5]


[1] BRUCE, F.F. Introdução e Comentário de Romanos. São Paulo: Editora Vida Nova, edição 2020, pg.9.

[2] MOO, Douglas J. Romanos: comentário exegético. São Paulo: Vida Nova, 2023, pg. 1.

[3] LADD, Geoge Eldon. Teologia do Novo Testamento.  São Paulo, Hagnos: 2003, pg. 568.

[4] MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo, Vida Nova. 2003, pg. 47

[5] MOO, Douglas J. Romanos: comentário exegético. São Paulo: Vida Nova, 2023, pg. 44.

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