Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Livro
– Gálatas.
10º AULA – 14 ANOS DEPOIS...
“Depois de catorze anos,
subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando Tito também comigo. Subi por
causa de uma revelação e expus a eles o evangelho que prego entre os gentios,
mas em particular aos que pareciam se destacar, para que de algum modo não corresse
ou não tivesse corrido inutilmente. (Gálatas
2:1-2)”
Os estudiosos não conseguem cravar com exatidão a
cronologia a que Paulo se refere em relação a expressão “depois de catorze
anos”. Todavia, particularmente acredito que tenha sido o tempo sucedido após a
sua primeira ida a Jerusalém. Quando o apóstolo relata no capítulo anterior que
foi a Jerusalém, conheceu a Pedro e a Tiago, permaneceu por lá apenas 15 dias.
Paulo
ao descrever em uma linha do tempo a cronologia de suas duas primeiras idas a
Jerusalém deseja esclarecer que em momento algum ele procurou aprovação para o
seu ministério ou que o evangelho por ele pregado sofreu algum tipo de
influência por algum dos outros apóstolos.
Todavia,
ao evidenciarmos as intenções de Paulo em deixar claro que sua autoridade e seu
evangelho são oriundos de uma revelação que recebeu do próprio Senhor. Podemos
incorrer no erro de pensar que o apóstolo Paulo andava em dissonância aos
demais apóstolos que se encontravam na chamada igreja mãe que se localizava em
Jerusalém. O que não é verdade. Aliás, muito pelo contrário, o apóstolo fazia
questão em permanecer em total concordância com o colegiado apostólico e
honrava sempre a igreja de Jerusalém e os doze por serem eles os responsáveis
pelo pontapé inicial da propagação do evangelho do Senhor Jesus.
Vale
destacar o tempo que passa desde o decorrer da conversão do apóstolo Paulo até
este momento em que ele escreveu esta carta aos Gálatas. Caso a percepção de
que realimente haviam se passado dezessete anos esteja correta, até mesmo se diminuirmos
os três anos, tendo o entendimento que os catorze anos são contados a partir de
sua conversão e não a partir da primeira visita a Jerusalém. Estamos diante de
um tempo extremamente considerável.
Podemos
considerar que Paulo já estava quase na metade de seu ministério ou pelo menos
quase na metade. Sendo assim, a ideia que de alguma forma ele procurava a
aprovação dos apóstolos em relação a sua autoridade apostólica ou até mesmo
buscar a validação do conteúdo de seu evangelho se torna mais incongruente
ainda. Pois que lógica teria após tantos procurar por estas coisas?
Gosto
da percepção que Timothy Keller tece em seu texto ao salientar o fato de que
Paulo conseguiu enxergar o verdadeira ameaça que estava por detrás destas
calúnias e difamações que ele estava enfrentando. Diz Tim Keller: “Nada
ameaçava sua certeza, mas alguma coisa estava ameaçando sua capacidade de dar
frutos. Se os outros apóstolos não confirmassem sua mensagem e não renunciassem
aos falsos mestres, seria muito difícil para ele manter seus convertidos.
Falsos mestres andavam dizendo a esses jovens cristãos que Paulo pregava um
evangelho inadequado e não tão completo quanto o evangelho apostólico original
pregado pelos líderes de Jerusalém. Insistiam em que Paulo ensinavam um “credo
fácil”, sua própria mensagem excêntrica. Paulo sabia que sua mensagem fora
revelada por Deus, portanto era verdadeira. Mas ele não seria capaz de manter
suas igrejas debaixo do ensino sadio do evangelho, se não conseguisse refutar
essas mentiras. Por isso temia o perigo de ter “corrido inutilmente” (v.2).
Receava que seu ministério fosse abafado e relativamente infrutífero. De igual
modo, a viagem de Paulo não fora motivada por medo de que os apóstolos de
Jerusalém não tivessem o evangelho verdadeiro. O que ele temia, isto sim, é que
os apóstolos de Jerusalém pudessem não ser fiéis a esse evangelho. Talvez não
fizessem frente aos falsos mestres, mas, em vez disso, permitissem que os próprios
preconceitos culturais os iludissem a ponto de deixar que esses mestres
continuassem a fazer suas afirmações prejudiciais... Se os apóstolos de
Jerusalém tivessem tomado partido de quem ensinava contra Paulo, ou mesmo se os
tolerassem, teriam dividido a igreja em duas. Nenhum dos lados teria aceitado o
outro plenamente, e ambos questionariam se os membros do outro grupo eram mesmo
salvos! As igrejas gentias de Paulo duvidariam de que as igrejas judaicas
tivessem mesmo fé em Cristo, e as igrejas judaicas também duvidariam da
salvação dos gentios.” [1]
Paulo
relata propositadamente o nome de dois companheiros de sua equipe missionária.
Primeiro ele cita Barnabé como um coigual, no sentido de autoridade e
relevância e, depois cita Tito um jovem cristão gentio que estava sendo
discipulado pelo próprio apóstolo Paulo.
É
importante entendermos onde o apóstolo desejava chegar ao citar estes dois
irmãos de caminhada. Vamos examinar por partes. O primeiro nome citado é o de
Barnabé. Quem é Barnabé? Uma obra editada por Paul Gardner descreve da seguinte
forma a pessoa de Barnabé: “O apelido que os apóstolos deram a um levita
natural de Chipre que se tornou líder na igreja primitiva. Seu nome judeu era
José, mas Lucas interpretou seu nome apostólico como “filho da consolação”,
para sugerir algo de seu caráter (At 4.36). Barnabé é mencionado 29 vezes em
Atos e cinco nas cartas de Paulo... O que se poderia dizer sobre o caráter de
Barnabé? Era uma pessoa boa, generosa e calorosa, que ofertou abundantemente
seu tempo e sues talentos para a causa de Cristo, tanto em casa como nos
lugares distantes. Era um homem de oração, que buscava a direção do Espírito
Santo para tomar as decisões. Encorajava seus companheiros de trabalho no
ministério cristão e era um amigo sempre disposto a dar uma segunda chance a
quem precisasse. Via potencial nas pessoas e desejava recrutá-las, mesmo que,
só com o tempo, conforme aconteceu com Paulo, pudessem superar suas
dificuldades. Como qualquer outro ser humano, Barnabé podia ceder às pressões,
mas geralmente “era homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé” (At 11.24).[2]
Estudiosos
como Donald Guthrie e Adolf Pohl salientam o fato de que Barnabé era um judeu
convertido ao cristianismo e também um líder extremamente respeitado. Barnabé
era alguém que transitava sem encontrar nenhuma dificuldade entre os cristãos
de origem judaica e também os cristãos de origem gentia.
Destarte,
Paulo também diz ter a companhia de Tito. Paul Gardner o descreve assim: “Um
dos maiores companheiros de ministério de Paulo. Era tão útil e confiável que o
apóstolo o deixou em Creta e depois escreveu-lhe uma carta com as devidas
instruções para a estruturação de uma igreja com liderança significativa, de
maneira que ele depois pudesse andar sozinha. Assim, algumas instruções mais
detalhadas que temos sobre líderes (Tt 1:5-9), o papel dos anciãos (2.3), das
mulheres mais idosas (2.3), das mais jovens (2.4,5), dos jovens (2.6-8) e dos
escravos (2.9,10), chegam a nós por meio desta carta. Tito também era um
competente mestre; por isso, Paulo o exortou a ensinar a sã doutrina (2.1,15).
Precisava ser um modelo de caráter, pois o apóstolo queria que essas qualidades
fossem ensinadas à comunidade de Creta... Tito tinha qualidades de um servo
exemplar. Ele possuía um longo histórico de serviços prestados. Era fiel. Era
digno de confiança. Podia receber responsabilidades e realiza-las
adequadamente. Era suficientemente organizado para liderar outros e estabelecer
novos grupos de líderes. Foi uma das figuras fundamentais da Igreja primitiva.”
[3]
Os estudiosos destacam a sabedoria do apóstolo em
levar o jovem Tito que era grego de naturalidade e havia se convertido ao
evangelho de Jesus. É muito provável que Paulo estava desejoso de testar a
reação dos apóstolos ao receber para um convívio de comunhão alguém que não era
circuncidado e não guardava os ritos e cerimonias da lei de Moisés. Parece que
esse era o desejo realmente de Paulo e o descreve no versículo de número três
ao dizer que os apóstolos não exigiram que Tito se circuncidasse.
Gostaria
de salientar acerca da importância do discipulado para o amadurecimento cristão
saudável. No primeiro momento Barnabé abraçou a Paulo e o discipulou no inicio
de sua caminhada. Tendo Paulo se tornado um cristão maduro, um líder
proeminente. Agora é Paulo que irá discipular a Tito visando que o mesmo faça o
mesmo processo com outros homens fiéis (2Tm 2.2).
Urge
que a igreja possa retomar as bases do discipulado cristão realizado na igreja
primitiva onde um cristão mais maduro dedicava sua vida no processo de
maturação de outro cristão que havia acabado de se converter. É essencial esse
acompanhamento de vida na vida, da sã doutrina não apenas sendo transmitida
como conteúdo, mas também com a práxis do dia à dia.
O
apóstolo vai dizer que o motivo de sua ida a Jerusalém foi “por causa de uma
revelação”. Muito provavelmente a revelação a que Paulo esteja se referindo
seja a que o profeta Ágabo disse que haveria uma grande fome em todo o mundo.
Visando ajudar as necessidades dos santos em Jerusalém, os discípulos em Antióquia
se mobilizaram em levantar uma oferta para os irmãos. Paulo e Barnabé foram
incumbidos de levarem esta oferta (At 11.27-30).
Aproveitando
a possibilidade de estar com os líderes da igreja de Jerusalém, o apóstolo
Paulo expõe mais uma vez seu evangelho. Como anteriormente já dito no texto de
Keller, o apóstolo estava receoso com a possiblidade de que o trabalho por ele
realizado de evangelização e plantação de igrejas em meio aos gentios sofresse
danos graves devido as incursões dos chamados falsos mestres que iam pelas
igrejas tentando minar o trabalho de Paulo o acusando de baratear o evangelho e
também de não estar em consenso com os demais apóstolos e por não ser parte dos
doze, o acusando de ser oriundo de outra safra com outro evangelho.
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