quarta-feira, 8 de maio de 2024

10º AULA – 14 ANOS DEPOIS...

 


Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024

Professor – Roberto da Silva Meireles Rodrigues

Livro – Gálatas.

10º AULA – 14 ANOS DEPOIS...

“Depois de catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando Tito também comigo. Subi por causa de uma revelação e expus a eles o evangelho que prego entre os gentios, mas em particular aos que pareciam se destacar, para que de algum modo não corresse ou não tivesse corrido inutilmente.  (Gálatas 2:1-2)”

            Os estudiosos não conseguem cravar com exatidão a cronologia a que Paulo se refere em relação a expressão “depois de catorze anos”. Todavia, particularmente acredito que tenha sido o tempo sucedido após a sua primeira ida a Jerusalém. Quando o apóstolo relata no capítulo anterior que foi a Jerusalém, conheceu a Pedro e a Tiago, permaneceu por lá apenas 15 dias.

            Paulo ao descrever em uma linha do tempo a cronologia de suas duas primeiras idas a Jerusalém deseja esclarecer que em momento algum ele procurou aprovação para o seu ministério ou que o evangelho por ele pregado sofreu algum tipo de influência por algum dos outros apóstolos.

            Todavia, ao evidenciarmos as intenções de Paulo em deixar claro que sua autoridade e seu evangelho são oriundos de uma revelação que recebeu do próprio Senhor. Podemos incorrer no erro de pensar que o apóstolo Paulo andava em dissonância aos demais apóstolos que se encontravam na chamada igreja mãe que se localizava em Jerusalém. O que não é verdade. Aliás, muito pelo contrário, o apóstolo fazia questão em permanecer em total concordância com o colegiado apostólico e honrava sempre a igreja de Jerusalém e os doze por serem eles os responsáveis pelo pontapé inicial da propagação do evangelho do Senhor Jesus.

            Vale destacar o tempo que passa desde o decorrer da conversão do apóstolo Paulo até este momento em que ele escreveu esta carta aos Gálatas. Caso a percepção de que realimente haviam se passado dezessete anos esteja correta, até mesmo se diminuirmos os três anos, tendo o entendimento que os catorze anos são contados a partir de sua conversão e não a partir da primeira visita a Jerusalém. Estamos diante de um tempo extremamente considerável.

            Podemos considerar que Paulo já estava quase na metade de seu ministério ou pelo menos quase na metade. Sendo assim, a ideia que de alguma forma ele procurava a aprovação dos apóstolos em relação a sua autoridade apostólica ou até mesmo buscar a validação do conteúdo de seu evangelho se torna mais incongruente ainda. Pois que lógica teria após tantos procurar por estas coisas?

            Gosto da percepção que Timothy Keller tece em seu texto ao salientar o fato de que Paulo conseguiu enxergar o verdadeira ameaça que estava por detrás destas calúnias e difamações que ele estava enfrentando. Diz Tim Keller: “Nada ameaçava sua certeza, mas alguma coisa estava ameaçando sua capacidade de dar frutos. Se os outros apóstolos não confirmassem sua mensagem e não renunciassem aos falsos mestres, seria muito difícil para ele manter seus convertidos. Falsos mestres andavam dizendo a esses jovens cristãos que Paulo pregava um evangelho inadequado e não tão completo quanto o evangelho apostólico original pregado pelos líderes de Jerusalém. Insistiam em que Paulo ensinavam um “credo fácil”, sua própria mensagem excêntrica. Paulo sabia que sua mensagem fora revelada por Deus, portanto era verdadeira. Mas ele não seria capaz de manter suas igrejas debaixo do ensino sadio do evangelho, se não conseguisse refutar essas mentiras. Por isso temia o perigo de ter “corrido inutilmente” (v.2). Receava que seu ministério fosse abafado e relativamente infrutífero. De igual modo, a viagem de Paulo não fora motivada por medo de que os apóstolos de Jerusalém não tivessem o evangelho verdadeiro. O que ele temia, isto sim, é que os apóstolos de Jerusalém pudessem não ser fiéis a esse evangelho. Talvez não fizessem frente aos falsos mestres, mas, em vez disso, permitissem que os próprios preconceitos culturais os iludissem a ponto de deixar que esses mestres continuassem a fazer suas afirmações prejudiciais... Se os apóstolos de Jerusalém tivessem tomado partido de quem ensinava contra Paulo, ou mesmo se os tolerassem, teriam dividido a igreja em duas. Nenhum dos lados teria aceitado o outro plenamente, e ambos questionariam se os membros do outro grupo eram mesmo salvos! As igrejas gentias de Paulo duvidariam de que as igrejas judaicas tivessem mesmo fé em Cristo, e as igrejas judaicas também duvidariam da salvação dos gentios.”  [1]

            Paulo relata propositadamente o nome de dois companheiros de sua equipe missionária. Primeiro ele cita Barnabé como um coigual, no sentido de autoridade e relevância e, depois cita Tito um jovem cristão gentio que estava sendo discipulado pelo próprio apóstolo Paulo.

            É importante entendermos onde o apóstolo desejava chegar ao citar estes dois irmãos de caminhada. Vamos examinar por partes. O primeiro nome citado é o de Barnabé. Quem é Barnabé? Uma obra editada por Paul Gardner descreve da seguinte forma a pessoa de Barnabé: “O apelido que os apóstolos deram a um levita natural de Chipre que se tornou líder na igreja primitiva. Seu nome judeu era José, mas Lucas interpretou seu nome apostólico como “filho da consolação”, para sugerir algo de seu caráter (At 4.36). Barnabé é mencionado 29 vezes em Atos e cinco nas cartas de Paulo... O que se poderia dizer sobre o caráter de Barnabé? Era uma pessoa boa, generosa e calorosa, que ofertou abundantemente seu tempo e sues talentos para a causa de Cristo, tanto em casa como nos lugares distantes. Era um homem de oração, que buscava a direção do Espírito Santo para tomar as decisões. Encorajava seus companheiros de trabalho no ministério cristão e era um amigo sempre disposto a dar uma segunda chance a quem precisasse. Via potencial nas pessoas e desejava recrutá-las, mesmo que, só com o tempo, conforme aconteceu com Paulo, pudessem superar suas dificuldades. Como qualquer outro ser humano, Barnabé podia ceder às pressões, mas geralmente “era homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé” (At 11.24).[2]

            Estudiosos como Donald Guthrie e Adolf Pohl salientam o fato de que Barnabé era um judeu convertido ao cristianismo e também um líder extremamente respeitado. Barnabé era alguém que transitava sem encontrar nenhuma dificuldade entre os cristãos de origem judaica e também os cristãos de origem gentia.

            Destarte, Paulo também diz ter a companhia de Tito. Paul Gardner o descreve assim: “Um dos maiores companheiros de ministério de Paulo. Era tão útil e confiável que o apóstolo o deixou em Creta e depois escreveu-lhe uma carta com as devidas instruções para a estruturação de uma igreja com liderança significativa, de maneira que ele depois pudesse andar sozinha. Assim, algumas instruções mais detalhadas que temos sobre líderes (Tt 1:5-9), o papel dos anciãos (2.3), das mulheres mais idosas (2.3), das mais jovens (2.4,5), dos jovens (2.6-8) e dos escravos (2.9,10), chegam a nós por meio desta carta. Tito também era um competente mestre; por isso, Paulo o exortou a ensinar a sã doutrina (2.1,15). Precisava ser um modelo de caráter, pois o apóstolo queria que essas qualidades fossem ensinadas à comunidade de Creta... Tito tinha qualidades de um servo exemplar. Ele possuía um longo histórico de serviços prestados. Era fiel. Era digno de confiança. Podia receber responsabilidades e realiza-las adequadamente. Era suficientemente organizado para liderar outros e estabelecer novos grupos de líderes. Foi uma das figuras fundamentais da Igreja primitiva.” [3]

            Os estudiosos destacam a sabedoria do apóstolo em levar o jovem Tito que era grego de naturalidade e havia se convertido ao evangelho de Jesus. É muito provável que Paulo estava desejoso de testar a reação dos apóstolos ao receber para um convívio de comunhão alguém que não era circuncidado e não guardava os ritos e cerimonias da lei de Moisés. Parece que esse era o desejo realmente de Paulo e o descreve no versículo de número três ao dizer que os apóstolos não exigiram que Tito se circuncidasse.

            Gostaria de salientar acerca da importância do discipulado para o amadurecimento cristão saudável. No primeiro momento Barnabé abraçou a Paulo e o discipulou no inicio de sua caminhada. Tendo Paulo se tornado um cristão maduro, um líder proeminente. Agora é Paulo que irá discipular a Tito visando que o mesmo faça o mesmo processo com outros homens fiéis (2Tm 2.2).

            Urge que a igreja possa retomar as bases do discipulado cristão realizado na igreja primitiva onde um cristão mais maduro dedicava sua vida no processo de maturação de outro cristão que havia acabado de se converter. É essencial esse acompanhamento de vida na vida, da sã doutrina não apenas sendo transmitida como conteúdo, mas também com a práxis do dia à dia.

            O apóstolo vai dizer que o motivo de sua ida a Jerusalém foi “por causa de uma revelação”. Muito provavelmente a revelação a que Paulo esteja se referindo seja a que o profeta Ágabo disse que haveria uma grande fome em todo o mundo. Visando ajudar as necessidades dos santos em Jerusalém, os discípulos em Antióquia se mobilizaram em levantar uma oferta para os irmãos. Paulo e Barnabé foram incumbidos de levarem esta oferta (At 11.27-30).

            Aproveitando a possibilidade de estar com os líderes da igreja de Jerusalém, o apóstolo Paulo expõe mais uma vez seu evangelho. Como anteriormente já dito no texto de Keller, o apóstolo estava receoso com a possiblidade de que o trabalho por ele realizado de evangelização e plantação de igrejas em meio aos gentios sofresse danos graves devido as incursões dos chamados falsos mestres que iam pelas igrejas tentando minar o trabalho de Paulo o acusando de baratear o evangelho e também de não estar em consenso com os demais apóstolos e por não ser parte dos doze, o acusando de ser oriundo de outra safra com outro evangelho.

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. A Graça (II) / Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1999.

CALVINO, João. Gálatas. São José dos Campos, SP: Editora Fiel. 2007

CARSON, D. A. / MOO, Douglas J. / MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.

GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Editora Vida, 2005.

GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984.

HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento; São Paulo, SP: Hagnos, 2001.

HALLEY, Henry Hamptom. Manual Bíblico de Haley. São Paulo: Editora Vida, 2001.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019.

KELLER, Timothy. Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.

KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Vida Nova, 2015.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.

LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.

LUTERO, Martinho. Martinho Lutero: obras selecionadas, v.10 – Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008.

MacARTHUR, John. Comentário Bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.

MacGRATH, Alister. Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

NICODEMUS, Augustus. Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.

POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999.

STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.

WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023.

 

 



[1] KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Vida Nova, 2015, pg.40.

[2] GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Editora Vida, 2005, pg.88

[3] GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Editora Vida, 2005, pg.645.

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