quinta-feira, 9 de maio de 2024

11º AULA – LIBERDADE X ESCRAVIDÃO

 


Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024

Professor – Roberto da Silva Meireles Rodrigues

Livro – Gálatas.

11º AULA – LIBERDADE X ESCRAVIDÃO

“Mas nem mesmo Tito, que estava comigo, foi forçado a se circuncidar, embora fosse grego, e isso por causa dos falsos irmãos que haviam se intrometido e secretamente vieram espiar a liberdade que temos em Cristo Jesus, para nos escravizar. Mas nem por um momento cedemos, ou nos submetemos a eles, para que a verdade do evangelho permanecesse convosco (Gálatas 2:3-5)”

            Como já fora dito no comentário dos versos anteriores. O apóstolo Paulo foi extremamente ousado ao levar Tito com ele para uma reunião da alta cúpula dentro da igreja mãe em Jerusalém. O apóstolo sabia que todos os líderes da igreja eram judeus convertidos ao cristianismo.

            Também como fora dito no comentário dos versos anteriores. Paulo, em minha singela opinião, estava testando o posicionamento final dos “que pareciam se destacar” (os principais líderes da igreja) acerca da questão da guarda da lei litúrgica e cerimonialistas.

            A fala do apóstolo ao salientar “mas nem mesmo Tito, que estava comigo, foi forçado a se circuncidar, embora fosse grego”, nos deixa claro que os principais líderes da igreja de Jerusalém estavam junto com Paulo em seu pensamento acerca da liberdade que há na salvação em Cristo Jesus. Podemos afirmar isso de forma categórica até mesmo pelas palavras de Pedro e Tiago durante o concílio de Jerusalém.

Pedro disse: “E, havendo grande discussão, Pedro levantou-se e disse-lhes: Irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que os gentios ouvissem de minha boca a palavra do evangelho e cressem. E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, dando-lhes o Espírito Santo, assim como a nós; e não fez distinção alguma entre eles e nós, purificando-lhes o coração pela fé. Agora, por que quereis colocar Deus à prova, impondo aos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar? Pelo contrário, cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus, do mesmo modo que eles.” (Atos 15:7-11)

            Tiago disse: “Quando acabaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: Irmãos, ouvi-me: Simão relatou como primeiramente Deus foi ao encontro dos gentios para formar dentre eles um povo dedicado ao seu Nome. E com isso concordaram as palavras dos profetas: como está escrito: Depois disso voltarei e reconstruirei a tenda de Davi, que está caída; reconstruirei as suas ruínas e tornarei a levantá-la; para que o restante dos homens busque o Senhor, sim, todos os gentios, sobre os quais se invoca o meu nome, diz o Senhor que faz essas coisas, conhecidas desde a antiguidade.” Por isso, penso que não se deve perturbar os que dentre os gentios se convertem a Deus, mas escrever a eles que se abstenham das contaminações dos ídolos, da imoralidade, da carne de animais sufocados e do sangue.” (Atos 15:13-20)

            Em seu comentário Dr. John Stott assevera a importância da luta do apóstolo Paulo pela questão da liberdade cristã: “Paulo percebeu o ardil claramente. Não era uma simples questão de circuncisão ou incircuncisão, de costume gentio ou judeu. Era um assunto de importância fundamental referente à verdade do evangelho, isto é, de liberdade cristã versus escravidão. O cristão foi libertado da lei no sentido de que a sua aceitação diante de Deus dependa inteiramente da graça de Deus na morte de Jesus Cristo aceita pela fé. Introduzir obras da lei e fazer a nossa aceitação depende de nossa observância a regras e regulamento era fazer o homem livre retroceder para a escravidão. Neste princípio Tito era um teste. Era verdade que ele era um gentio incircunciso, mas era também um cristão convertido. Tendo cristo em Jesus, fora aceito por Deus em Cristo, e isso, dizia Paulo, era suficiente. Nada mais era necessário para a sua salvação, como o confirmou mais tarde o Concílio de Jerusalém (Veja Atos 15)”[1]

            Vale destacar a importância dos líderes na vida de uma comunidade cristã. Aqueles que são separados pelo Senhor, não pelos homens, possuem um papel de suma importância para preservação da sã doutrina. Talvez essa seja uma das grandes fraquezas da igreja de nossos dias, o preparo e estabelecimento de uma liderança bem capacitada no manejo da Palavra de Deus que não só possui o saber e o ensina, mas que também na práxis do cotidiano demonstre de forma clara e tangível.

            Outro ponto a destacar de suma importância é que Deus levanta líderes para defender o evangelho. Ser um líder implica diretamente em estar sempre na linha frente do combate, o que necessariamente o levará a embates e em alguns casos a situações extremamente complicadas. Mas a convicção plena que foi o Senhor quem o chamou para liderar é que lhe dará força, graça e perseverança para continuar na missão que recebeu do Eterno.

            Ao mencionarmos no texto acima da vitória de Paulo e os seus nesta questão podemos incorrer no erro de achar que tudo isso se deu de forma rápida e tranquila. O que na verdade foi o avesso disso. Os líderes da igreja primitiva unidos a Paulo e a sua comitiva travaram uma grande luta para que essa verdade fosse estabelecida e ficasse clara a vontade de Deus para vida da sua igreja. Não foi nada fácil!

            O apóstolo Paulo se refere aos judaizantes de “falsos irmãos” na linguagem que usamos em nossa comunidade, a linguagem Almeida Século XXI, já a Nova Tradução da Linguagem de Hoje vai usar “espiões”, a Bíblia de Jerusalém por sua vez vai chamá-los de “intrusos”. Todos os termos usados denotam de forma clara e objetiva que eles estavam lidando com pessoas que não haviam se convertido.

            Aqueles judaizantes estavam infiltrados no seio da igreja e estavam causando um imenso problema para os líderes. Eles estavam indo frontalmente contra a doutrina da justificação pela fé que é a espinha dorsal da sã doutrina. O apóstolo Paulo percebeu isso e por isso não ficou apenas orando e esperando as coisas acontecerem, ele foi para o embate, ele encarou aqueles falsos mestre que estavam desvirtuando o bom andamento dos irmãos.

            Timothy Keller ressaltar que a nossa liberdade em Cristo Jesus nos outorga duas significativas vitórias: a liberdade cultural e a liberdade emocional. Diz Keller: “Mas, afinal, como o evangelho produz liberdade? Primeiro, o evangelho leva à liberdade cultural. A religião moralista tende a pressionar seus membros a adotarem regras e regulamentos muito específicos quanto ao que que vestir e como se comportar no dia a dia. Por quê? Se sua salvação depende da obediência a regras, você quer que essas regras sejam muito específicas, exequíveis e claras. Você não quer um simples: Ame seu próximo como a si mesmo, porque esse é um padrão intangível de tão alto, com implicações infinitas! Você quer: Não vá ao cinema ou Não ingira álcool ou Não como esse tipo de comida. Nas regras e regulamentos desse tipo são da área da vida cultural diária. Se os falsos mestres tivessem imposto a sua vontade, um italiano ou um africano não poderia ser tornar-se cristão sem se tornar culturalmente judeu. Os cristãos teriam de formar pequenos guetos culturais em cada cidade. Isso significaria dar muito mais ênfase à separação cultual externa do que à distinção interna de espírito, motivação, percepção e perspectiva. Elevar a adequação cultural ao nível de virtude espiritual induz os cristãos a uma ênfase escravizante no culturalmente “bom” e “apropriado”, além de promover atitudes intolerantes e preconceituosas. Segundo, o evangelho leva à liberdade emocional. Quem acredita que nosso relacionamento com Deus se baseia na observação de um comportamento moral caminha sobre uma esteira móvel infinita de culpa e insegurança. Como revelam as cartas de Paulo, ele não liberou os crentes gentios dos imperativos morais dos dez mandamentos. Os cristãos não podiam mentir, roubar, cometer adultério e assim por diante. Todavia, mesmo não estando livres da lei moral como um modo de vida, os cristãos estão livres dela como um sistema de salvação. Obedecemos, não por medo e insegurança quanto à esperança de merecer nossa salvação, mas a liberdade e segurança de saber que já estamos salvos em Cristo. Obedecemos na liberdade da gratidão. Logo, tanto os falsos mestres quanto Paulo disseram aos cristãos para obedecerem aos dez mandamentos, mas por razões e motivações completamente diversas. E, a menos que seu motivo para obedecer a lei de Deus seja gratidão pela graça do evangelho, você está em escravidão. O evangelho oferece a liberdade, tanto em termos culturais quanto emocionais. O “outro evangelho” destrói as duas coisas.”[2]

            O apóstolo Paulo era perspicaz e sabia que caso ele não insistisse e lutasse pelo verdadeiro evangelho de Jesus as implicações seriam de uma magnitude que não teríamos nem dimensões para tentar quantificar ou ter o real alcance dessa catástrofe. Por isso ele diz que nem cedeu e muito menos ainda se submeteu aos falsos mestres.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. A Graça (II) / Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1999.

CALVINO, João. Gálatas. São José dos Campos, SP: Editora Fiel. 2007

CARSON, D. A. / MOO, Douglas J. / MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.

GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Editora Vida, 2005.

GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984.

HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento; São Paulo, SP: Hagnos, 2001.

HALLEY, Henry Hamptom. Manual Bíblico de Haley. São Paulo: Editora Vida, 2001.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019.

KELLER, Timothy. Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.

KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Vida Nova, 2015.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.

LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.

LUTERO, Martinho. Martinho Lutero: obras selecionadas, v.10 – Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008.

MacARTHUR, John. Comentário Bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.

MacGRATH, Alister. Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

NICODEMUS, Augustus. Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.

POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999.

STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.

WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023.

 

 

 



[1] STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007, pg.43.

[2] STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007, pg.44.

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