Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Livro
– Gálatas.
11º AULA – LIBERDADE X ESCRAVIDÃO
“Mas nem mesmo Tito, que
estava comigo, foi forçado a se circuncidar, embora fosse grego, e isso por
causa dos falsos irmãos que haviam se intrometido e secretamente vieram espiar a
liberdade que temos em Cristo Jesus, para nos escravizar. Mas nem por um
momento cedemos, ou nos submetemos a eles, para que a verdade do evangelho
permanecesse convosco (Gálatas 2:3-5)”
Como
já fora dito no comentário dos versos anteriores. O apóstolo Paulo foi
extremamente ousado ao levar Tito com ele para uma reunião da alta cúpula
dentro da igreja mãe em Jerusalém. O apóstolo sabia que todos os líderes da
igreja eram judeus convertidos ao cristianismo.
Também
como fora dito no comentário dos versos anteriores. Paulo, em minha singela
opinião, estava testando o posicionamento final dos “que pareciam se destacar”
(os principais líderes da igreja) acerca da questão da guarda da lei litúrgica
e cerimonialistas.
A
fala do apóstolo ao salientar “mas nem mesmo Tito, que estava comigo, foi
forçado a se circuncidar, embora fosse grego”, nos deixa claro que os
principais líderes da igreja de Jerusalém estavam junto com Paulo em seu
pensamento acerca da liberdade que há na salvação em Cristo Jesus. Podemos
afirmar isso de forma categórica até mesmo pelas palavras de Pedro e Tiago
durante o concílio de Jerusalém.
Pedro disse: “E, havendo grande discussão, Pedro
levantou-se e disse-lhes: Irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me
escolheu dentre vós, para que os gentios ouvissem de minha boca a palavra do
evangelho e cressem. E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor
deles, dando-lhes o Espírito Santo, assim como a nós; e não fez distinção
alguma entre eles e nós, purificando-lhes o coração pela fé. Agora, por que
quereis colocar Deus à prova, impondo aos discípulos um jugo que nem nossos
pais nem nós podemos suportar? Pelo contrário, cremos que somos salvos pela
graça de nosso Senhor Jesus, do mesmo modo que eles.” (Atos 15:7-11)
Tiago disse: “Quando acabaram de
falar, Tiago tomou a palavra e disse: Irmãos, ouvi-me: Simão relatou como
primeiramente Deus foi ao encontro dos gentios para formar dentre eles um povo
dedicado ao seu Nome. E com isso concordaram as palavras dos profetas: como
está escrito: Depois disso voltarei e reconstruirei a tenda de Davi, que está
caída; reconstruirei as suas ruínas e tornarei a levantá-la; para que o
restante dos homens busque o Senhor, sim, todos os gentios, sobre os quais se
invoca o meu nome, diz o Senhor que faz essas coisas, conhecidas desde a
antiguidade.” Por isso, penso que não se deve perturbar os que dentre os
gentios se convertem a Deus, mas escrever a eles que se abstenham das
contaminações dos ídolos, da imoralidade, da carne de animais sufocados e do
sangue.” (Atos 15:13-20)
Em seu comentário Dr. John Stott
assevera a importância da luta do apóstolo Paulo pela questão da liberdade
cristã: “Paulo percebeu o ardil claramente. Não era uma simples questão de
circuncisão ou incircuncisão, de costume gentio ou judeu. Era um assunto de
importância fundamental referente à verdade do evangelho, isto é, de liberdade
cristã versus escravidão. O cristão foi libertado da lei no sentido de que a
sua aceitação diante de Deus dependa inteiramente da graça de Deus na morte de
Jesus Cristo aceita pela fé. Introduzir obras da lei e fazer a nossa aceitação
depende de nossa observância a regras e regulamento era fazer o homem livre
retroceder para a escravidão. Neste princípio Tito era um teste. Era verdade
que ele era um gentio incircunciso, mas era também um cristão convertido. Tendo
cristo em Jesus, fora aceito por Deus em Cristo, e isso, dizia Paulo, era
suficiente. Nada mais era necessário para a sua salvação, como o confirmou mais
tarde o Concílio de Jerusalém (Veja Atos 15)”[1]
Vale destacar a
importância dos líderes na vida de uma comunidade cristã. Aqueles que são
separados pelo Senhor, não pelos homens, possuem um papel de suma importância
para preservação da sã doutrina. Talvez essa seja uma das grandes fraquezas da
igreja de nossos dias, o preparo e estabelecimento de uma liderança bem
capacitada no manejo da Palavra de Deus que não só possui o saber e o ensina,
mas que também na práxis do cotidiano demonstre de forma clara e tangível.
Outro ponto a destacar de suma
importância é que Deus levanta líderes para defender o evangelho. Ser um líder
implica diretamente em estar sempre na linha frente do combate, o que
necessariamente o levará a embates e em alguns casos a situações extremamente
complicadas. Mas a convicção plena que foi o Senhor quem o chamou para liderar
é que lhe dará força, graça e perseverança para continuar na missão que recebeu
do Eterno.
Ao mencionarmos no texto acima da
vitória de Paulo e os seus nesta questão podemos incorrer no erro de achar que
tudo isso se deu de forma rápida e tranquila. O que na verdade foi o avesso
disso. Os líderes da igreja primitiva unidos a Paulo e a sua comitiva travaram
uma grande luta para que essa verdade fosse estabelecida e ficasse clara a
vontade de Deus para vida da sua igreja. Não foi nada fácil!
O apóstolo Paulo se refere aos
judaizantes de “falsos irmãos” na linguagem que usamos em nossa comunidade, a
linguagem Almeida Século XXI, já a Nova Tradução da Linguagem de Hoje vai usar
“espiões”, a Bíblia de Jerusalém por sua vez vai chamá-los de “intrusos”. Todos
os termos usados denotam de forma clara e objetiva que eles estavam lidando com
pessoas que não haviam se convertido.
Aqueles judaizantes estavam
infiltrados no seio da igreja e estavam causando um imenso problema para os
líderes. Eles estavam indo frontalmente contra a doutrina da justificação pela
fé que é a espinha dorsal da sã doutrina. O apóstolo Paulo percebeu isso e por
isso não ficou apenas orando e esperando as coisas acontecerem, ele foi para o
embate, ele encarou aqueles falsos mestre que estavam desvirtuando o bom
andamento dos irmãos.
Timothy Keller ressaltar que a nossa
liberdade em Cristo Jesus nos outorga duas significativas vitórias: a liberdade
cultural e a liberdade emocional. Diz Keller: “Mas, afinal, como o evangelho
produz liberdade? Primeiro, o evangelho leva à liberdade cultural. A religião
moralista tende a pressionar seus membros a adotarem regras e regulamentos muito
específicos quanto ao que que vestir e como se comportar no dia a dia. Por quê?
Se sua salvação depende da obediência a regras, você quer que essas regras
sejam muito específicas, exequíveis e claras. Você não quer um simples: Ame seu
próximo como a si mesmo, porque esse é um padrão intangível de tão alto, com
implicações infinitas! Você quer: Não vá ao cinema ou Não ingira álcool ou Não
como esse tipo de comida. Nas regras e regulamentos desse tipo são da área da
vida cultural diária. Se os falsos mestres tivessem imposto a sua vontade, um
italiano ou um africano não poderia ser tornar-se cristão sem se tornar
culturalmente judeu. Os cristãos teriam de formar pequenos guetos culturais em
cada cidade. Isso significaria dar muito mais ênfase à separação cultual
externa do que à distinção interna de espírito, motivação, percepção e
perspectiva. Elevar a adequação cultural ao nível de virtude espiritual induz
os cristãos a uma ênfase escravizante no culturalmente “bom” e “apropriado”,
além de promover atitudes intolerantes e preconceituosas. Segundo, o evangelho
leva à liberdade emocional. Quem acredita que nosso relacionamento com Deus se
baseia na observação de um comportamento moral caminha sobre uma esteira móvel
infinita de culpa e insegurança. Como revelam as cartas de Paulo, ele não
liberou os crentes gentios dos imperativos morais dos dez mandamentos. Os cristãos
não podiam mentir, roubar, cometer adultério e assim por diante. Todavia, mesmo
não estando livres da lei moral como um modo de vida, os cristãos estão livres
dela como um sistema de salvação. Obedecemos, não por medo e insegurança quanto
à esperança de merecer nossa salvação, mas a liberdade e segurança de saber que
já estamos salvos em Cristo. Obedecemos na liberdade da gratidão. Logo, tanto
os falsos mestres quanto Paulo disseram aos cristãos para obedecerem aos dez
mandamentos, mas por razões e motivações completamente diversas. E, a menos que
seu motivo para obedecer a lei de Deus seja gratidão pela graça do evangelho,
você está em escravidão. O evangelho oferece a liberdade, tanto em termos
culturais quanto emocionais. O “outro evangelho” destrói as duas coisas.”[2]
O apóstolo Paulo era perspicaz e sabia
que caso ele não insistisse e lutasse pelo verdadeiro evangelho de Jesus as
implicações seriam de uma magnitude que não teríamos nem dimensões para tentar
quantificar ou ter o real alcance dessa catástrofe. Por isso ele diz que nem cedeu
e muito menos ainda se submeteu aos falsos mestres.
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