sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

INTRODUÇÃO

 Rio de Janeiro, 02 de fevereiro de 2025.

Série de Sermões – Peregrinos

Tema da Mensagem – Introdução

Texto Base - 1 Pedro 1:1

BREVE RETROSPECTIVA SOBRE A PESSOA DO APÓSTOLO PEDRO:

  • Os evangelhos terminam narrando em suas páginas finais a traição de Pedro e dos demais apóstolos e também especificamente no caso de Pedro seu choro amargo de arrependimento pelo que ele havia feito. (Mateus 26:69-75);

  • "É difícil imaginar que o homem que havia se colocado na defesa e negado: "Não conheço esse homem" (Mt 26.72), é o mesmo que mais tarde escreveria: "reverenciai a Cristo como Senhor no coração. Estai sempre preparados para responder a todo o que vos pedir a razão da vossa esperança que há em vós" (1Pe 3.15). Que homem era esse? De onde ele havia saído? O que havia transformado sua audácia petulante em confiança corajosa?" 1

  • Para podermos nos aprofundar no conhecimento dos escritos do apóstolo Pedro. Nós iremos precisar fazer uma recapitulação da sua história. Geralmente quando conhecemos uma pessoa, seus textos, suas mensagens, nos fazem mais sentido. Conseguimos imaginar as emoções, sentimentos e também compreender o que a pessoa gostaria de transmitir com seu texto.

  • A primeira narrativa que temos de Pedro se encontra registrada no evangelho de Marcos: "Enquanto andava às margens do mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, lançando redes ao mar, pois eram pescadores. Então, Jesus lhes disse: ― Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens. No mesmo instante, eles deixaram as redes e o seguiram." (Marcos 1.16-18)

  • Esse relato bíblico nos apresenta uma das principais características de Pedro, a impulsividade. Geralmente um adulto iria ponderar muito mais sobre a mudança de uma profissão que já exercia e dominava há muitos anos. Todavia, ao ouvir o chamado de Jesus os Galileus se aventuraram e seguiram o Mestre. "Josefo, historiador judeu e ex-general na Galiléia no primeiro século, descreve o temperamento doa galileus como "sempre afeito as inovações, naturalmente disposto a mudar e apreciador de sedições." William Barclay faz a seguinte observação: "Esquentado, impulsivo, emotivo, facilmente levado por um chamado à aventura, leal até o fim - Pedro era uma figura tipicamente galileia". 2

  • No evangelho de Mateus (Mt 10.2) na descrição dos nomes dos discípulos de Jesus o nome Pedro vem adjetivado com a palavra grega "protos" que significa "primeiro", que no texto não está ligado à questão de cronologia e sim de importância. Pedro era o líder e o porta-voz dos demais discípulos.

  • Pedro era detentor de uma coragem singular e, era essa coragem que o levava a fazer perguntas e indagações que nenhum dos outros faria. Como por exemplo: "Então, Pedro pediu-lhe: ― Explica-nos esta parábola. (Mt 15.15); "Então, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: ― Senhor, quantas vezes deverei perdoar o meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?" (Mateus 18.21); Então, Pedro lhe respondeu: ― Nós deixamos tudo para seguir-te! Que será de nós?" (Mateus 19.27).

  • A impulsividade quando dosada leva a iniciativa, a pró atividade. Porém, quando é desmedida ela pode trazer consequências danosas. Pedro foi advertido seriamente por Jesus quando o Senhor falou sobre sua morte e Pedro disse que não deveria ser assim e que ele não deixaria que isso acontecesse. Jesus o advertiu duramente dizendo: "Jesus virou-se e disse a Pedro: ― Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, pois não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens." (Mateus 16.23)

  • Talvez a parte da vida de Pedro mais conhecida seja a sua traição, a sua negação ao ser interpelado pelas pessoas que perguntaram a ele se era um discípulo de Jesus. Aquele episódio marcou profundamente a vida de Pedro. Ele ficou devastado. O evangelho de João no último capítulo descreve o momento em que Jesus já ressurreto vai ao encontro de Pedro para curá-lo daquele trauma que o assombrava. Talvez, nós também em algum momento já tenhamos negado ao Senhor escorregando em algum momento em nossa caminhada. Esse exemplo de Pedro nos ensina que a graça e a misericórdia de Deus nos ajudam a continuar a nossa caminhada quando nos arrependemos e pedimos perdão e buscamos nos aperfeiçoar com o auxílio do Espírito Santo.

  • A restauração de Pedro o levou a ser mais humilde e quebrantado. Jesus ao perguntar para Pedro se ele o amava mais do que os outros Pedro não responde usando a mesma palavra grega para amor que Jesus usa "agapao" que é a palavra que designa o amor de Deus pela a humanidade. Pedro usa a palavra "phileo" que é usada para descrever um "amor fraterno", "amor entre irmãos" e "amor entre amigos".

  • É depois desse encontro poderoso com Jesus ressurreto que Pedro após ascensão do Mestre se levanta como uma das principais vozes da liderança cristã do primeiro século. É Pedro quem guia a escolha de um substituto para Judas. (At 1.15); é Pedro que prega o sermão no dia de Pentecostes, na inauguração do ministério do Espírito Santo explicando aquele fenômeno que estava acontecendo. (At 2.14); Paulo vai chamá-lo de uma das colunas, ou seja, um dos principais líderes da igreja. (Gl 1.18; 2.7-9)

  • Pedro se tornou um líder humilde. Ele era humano e apto a erros e falhas. Ao ser confrontado por Paulo em um erro, ele não arruma desculpas para se justificar, ele reconhece e muda de postura. A certeza desse fato é que ele expressa sua mudança se posicionando publicamente sobre de forma correta acerca da questão que ele havia sido confrontado. (Gl 2.12-13; At 15:7-11)

  • O apóstolo Pedro se tornou um servo sensível a direção do Espirito Santo. A visão que ele teve da parte do Senhor para ir pregar o evangelho a Cornélio nos claro a submissão do apóstolo a vontade do Senhor. Pedro se permite ser orientado pelo Espírito em levar o evangelho aos gentios, pois é desejo do coração de Deus que todos os homens cheguem ao conhecimento da verdade. (At 10:9-48) Pedro irá se tornar um defensor da vontade de Deus que o evangelho seja anunciado também aos gentios;

  • Charles Swindoll em seu comentário pontua as principais atuações de Pedro e sua influência até metade do livro de Atos narrado: “1) Pedro tomou a frente no processo de escolha do décimo segundo discípulo que substituiria Judas (At 1); 2) Pedro tornou-se o grande porta-voz no primeiro episódio evangelístico (At 2); 3) Junto com João, Pedro curou um paralítico que ficava na porta do templo (At 3); 4) Pedro teve a coragem de desafiar o Sinédrio e negou-se a parar de pregar sobre Jesus Cristo (At 4); 5) Pedro liderou as ações da difícil tarefa de punir a mentira de Ananias e Safira (At 5); 6) Pedro confirmou a pregação do evangelho aos samaritanos e lidou com a questão do engano de Simão, praticante de artes mágicas (At 8); 7) Pedro curou um homem doente e ressuscitou uma mulher, na região de Lída, Sarona e Jope (At 9); 8) Pedro alcançou os gentios e concretizou a oferta universal do evangelho (At 10);”3

  • Em seu comentário o Reverendo Hernandes Dias Lopes faz uma síntese muito oportuna acerca da pessoa de Pedro: “Pedro foi um pescador galileu, da cidade de Betsaida, irmão de André, chamado por Cristo para ser discípulo. Seu nome é Simão, em aramaico Cefas, conhecido em grego como Pedro, cujo significado é “rocha” ou “fragmento de rocha”. Pedro foi escolhido por Cristo como apóstolo, e seu nome ocupa sempre o topo dessa lista. Líder natural entre o colégio apostólico, desfrutou com Tiago e João lugar de intimidade ao lado do Senhor. Guilherme Orr diz que Pedro foi porta-voz dos doze e figura de proa na igreja primitiva. Enquanto o nome de Paulo é mencionado 162 vezes, e os nomes de todos os outros apóstolos juntos são 142 vezes, Pedro é citado nominalmente 210 vezes. Em virtude de um temperamento esquentado, Pedro algumas vezes falava sem pensar, oscilando entre coragem e covardia, entre avanços e recuos. Mesmo tendo negado a Cristo, foi restaurado e poderosamente usado por Jesus para a porta do evangelho a judeus como a gentios. Foi encarregado de apascentar o rebanho de Cristo e fortalecer os irmãos. Essa missiva é o cumprimento desse ministério que Cristo lhe confiou. Na mesma linha de pensamento. Myer Pearlman escreve: “Esta epístola nos oferece uma ilustração esplêndida de como Pedro cumpriu a missão que lhe foi dada pelo Senhor: Tu, pois, quando converterdes, fortalece os teus irmãos (Lc 22.32)”” 4


AUTOR DA CARTA:

  • Quando estudamos um livro da Bíblia, começamos com perguntas básicas introdutórias: Quem escreveu o livro? A que público ele se dirigia na sua composição original? Em que momento da História o livro foi escrito? Quais eram as circunstâncias ou a ocasião que deram origem a esse tipo de livro? Fazer tais perguntas é o procedimento normal, não importa se estejamos estudando um dos Evangelhos, uma carta ou um livro do Antigo Testamento. Conhecer o autor do livro, o público para o qual foi escrito, o tempo em que foi escrito e as circunstâncias que o ocasionaram ajuda-nos a compreender o livro.” 5

  • Ao analisarmos a autoria de um texto Bíblico levamos em consideração as evidências internas e as evidências externas. Abordarei essas evidências pontuando cada uma delas;

  • Evidências internas – A epístola inicia com o autor se apresentando e dizendo ser Pedro, o apóstolo. Sem sombra de dúvidas é o mesmo Pedro que antes se chamara Simão e que teve o seu nome trocado por Jesus para Cefas, ou como é mais conhecido, Pedro. Além da apresentação do próprio autor, encontramos alguns destaques dentro do próprio texto que narra informações de uma testemunha ocular. Como por exemplo: Portanto, suplico aos presbíteros que há entre vós, eu que sou presbítero com eles, testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que será revelada: "pastoreai o rebanho de Deus que está entre vós, cuidando dele não por obrigação, mas espontaneamente, segundo a vontade de Deus; nem por interesse em ganho ilícito, mas de boa vontade;" nem como dominadores dos que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho. Quando o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imperecível coroa da glória.” (1 Pedro 5:1-4) É plausível entender que essa perícope foi escrita por alguém que presenciou os acontecimentos da semana da paixão e também que foi vocacionado pelo próprio Jesus a pastorear as suas ovelhas;

  • Evidências externas – A história da igreja é praticamente unânime em atribuir a Pedro a autoria da carta. Podemos citar nomes de importantes pais da igreja que atribuíram ao apóstolo a autoria: Clemente de Roma, Policarpo, Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Papias, Orígenes e Eusébio, o historiador. A autoria de Pedro só começar a ser questionada com o surgimento de teólogos liberais no século XIX.


DESTINATÁRIOS E DATA - “... aos eleitos peregrinos da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia,...” (1 Pe 1.1b)

  • O apóstolo escreve a carta para essas cinco cidades romanas na Ásia Menor, onde hoje se localiza a Turquia;

  • A maioria dos estudiosos acredita que era uma comunidade de cristãos compostas por judeus e gentios. Todavia, com a sua maioria de gentios;

  • Hernandes Dias Lopes destaca três palavras gregas usadas por Pedro aos irmãos daquelas comunidades. São elas: “paraikos” que é traduzido por exilados, forasteiros ou peregrinos. “Mueller explica que paroikos é um termo específico e técnico para designar uma classe da população que, embora residente em determinado lugar, não tinha plenos direitos de cidadania. Assim, a melhor maneira de traduzi paroikos seria “estrangeiros residentes”. É essa palavra que deu origem ao nome dessa série de mensagens. Influenciado também obviamente pela obra clássica escrita por John Bunyan chamada “O Peregrino”. A segunda palavra é “diáspora” era uma palavra que significava “dispersão”. Inicialmente foi usada para os judeus dispersos entre as nações em detrimento das inúmeras perseguições ou mesmo por interesses particulares. Os cristãos ao serem perseguidos também se utilizaram da palavra. A terceira e última palavra é “eklektos” cujo o significado é “eleitos”. Uma referência ao fato de serem escolhidos por Deus para comporem o seu povo.

  • O apóstolo Pedro provavelmente escreveu a carta antes do ano 64 d.C. Pois foi nessa data que Nero mandou que incendiasse Roma, local onde Pedro diz estar ao escrever a carta, ele se refere a Roma de forma figurada ao nomeá-la como “Babilônia” no último capítulo da carta.


PEREGRINOS ELEITOS NA DISPERSÃO:

  • Desse modo, a expressão “eleitos peregrinos” vale por um sermão de duas palavras para aos leitores de Pedro: eles são “peregrinos”; não no sentido secular (pois muitos certamente tinham morado em uma só cidade durante toda vida), mas espiritual. Sua verdadeira pátria era o céu (veja Fp 3.20); por isso, qualquer residência na terra era temporária. Ademais eles são peregrinos “eleitos”, a quem o Rei do universo escolheu para formar seu próprio povo, para desfrutar de sua proteção e habitar em seu reino celestial.” 6

  • Contudo, os eleitos são também “forasteiros da Dispersão”. Mesmo que sejam escolhidos de Deus e predestinados para a vida eterna, enquanto estão no mundo são “peregrinos e forasteiros” (2.11) e a vida deles aqui é uma “peregrinação” (1.17). Ao chamá-los de forasteiros. Pedro enfatiza que o lar deles é nos céus (veja 1.3-4): aqui neste mundo, eles não têm um lugar seguro e definitivo e estão sujeitos a toda sorte de sofrimentos e perseguições, como estrangeiros e peregrinos em terra alheia. A expressão “estrangeiros e peregrinos” só é usada além de Pedro (2.11), pelo autor de Hebreus, ao se referir aos heróis da fé (Hb 11.13; cf. 11.35-40). Em parte, era esta a situação dos destinatários de 1 Pedro, aflitos e oprimidos por perseguições promovidas por judeus e gentios (cf. Introdução).” 7

1SWINDOLL, Charles R. Comentário Bíblico Swindoll: Tiago e 1&2 Pedro . São Paulo: Hagnos, 2021, pg.153.

2Idem, pg.154.

3SWINDOLL, Charles R. Comentário Bíblico Swindoll: Tiago e 1&2 Pedro . São Paulo: Hagnos, 2021, pg.159.

4LOPES, Hernandes Dias. 1 Pedro, com os pés no vale e o coração no céu. São Paulo: Hagnos, 2012, pg; 13.

5SPROUL, R.C. Estudos Biblicos expositivos em 1 e 2 Pedro. São Paulo: Cultura Cristã, 2016, pg. 13.

6GRUDEM, Wayne. 1 Pedro: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 2017, pg. 30.

7LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando o Novo Testamento: 1 Pedro. São Paulo: Cultura Cristã, 2019, pg. 32.

 

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