sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Viva Esperança - 1Pedro 1:3-5


Rio de Janeiro, 09 de fevereiro de 2025.

Série de Sermões – Peregrinos

Tema da Mensagem – Viva Esperança!

Texto Base - 1 Pedro 1:3-5

 

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos regenerou para uma viva esperança, segundo a sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança que não perece, não se contamina nem se altera, reservada nos céus para vós, que sois protegidos pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para se revelar no último tempo”. (1 Pedro 1:3-5)

 

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo...”O apóstolo Pedro expressa um louvor a Deus por uma tão grande salvação. É comum os autores sagrados iniciarem ou terminarem seus textos com expressões de louvor a Deus. Essas expressões de louvor a Deus são conhecidas como “doxologias”. Sproul em seu comentário da epístola conceitua doxologia da seguinte forma: “Uma doxologia é um hino de louvor. A palavra vem do termo grego doxa, que se refere à glória que é atribuída a Deus, porque ela pertence eterna e intrinsicamente a ele. Na Bíblia, o conceito da glória refere-se ao poder de Deus, à profundeza do seu caráter”. [1]

            É importante ressaltar um dos motivos pelos quais o apóstolo estava escrevendo aos irmãos: o sofrimento. Diante de um sofrimento se alegrar parece algo impossível. Isto é, se olharmos do prisma deste tempo presente. Se assim o fizermos, incorremos no erro em que o apóstolo Paulo adjetivou que aquele baseia sua vida e sua esperança apenas neste tempo presente é“...o mais miseráveis de todos os homens”. (ICo 15.19)

            Pedro está convidando os irmãos a colocarem sua esperança no verdadeiro lugar da promessa, a vida eterna. Vida está que só pode experimentar por aquele que nasceu de novo, que encontrou na pessoa de Jesus perdão e graça. Aquele que encontrou em Cristo uma tão grande salvação pode se alegrar mesmo estando passando por um período de dor e sofrimento. Esse paradoxo existencial é permitido aquele que está em Cristo e espera pelo cumprimento das promessas.

 

“... que nos regenerou para uma viva esperança, segundo a sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos...” – O apóstolo continua seu convite agora trazendo os argumentos pelos quais devemos louvar a Deus. Logo no primeiro momento ele fala sobre a ‘regeneração”, também conhecido como “novo nascimento”. Precisamos entender o conceito que o apóstolo deseja transmitir ao se utilizar essa expressão “regeneração”. Grudem conceitua regeneração dessa forma: “Podemos definir regeneração da seguinte maneira: Regeneração é um ato secreto de Deus pelo qual ele nos concede nova vida espiritual. Isso é às vezes chamado de “nascer de novo” (na linguagem de João 3:3-8)[2]

            Zacarias de Aguiar diz: “Regeneração é a “obra do Espírito Santo ao criar uma nova vida nos pecadores que se arrependem e passam a viver em Cristo”. Na regeneração, Deus dá vida espiritual ao indivíduo. Essa nova vida se manifesta no viver diário do cristão. O indivíduo passa a ter uma nova inclinação para Deus. Daí pode-se dizer que regeneração Deus munda a disposição moral dominante da alma do indivíduo, tornando-o moral e espiritualmente semelhante a Cristo”. [3]

            É devido a essa obra miraculosa que o Senhor começou a fazer em nossas vidas, mas ainda não a consumou, é que podemos viver nesse tempo presente com a viva e verdade esperança no tempo futuro. O conceituado teólogo do Novo Testamento Geoge Eldon Ladd em sua obra de Teologia do Novo Testamento ressalta exatamente essa tensão escatológica gerada com a morte e a ressurreição de Jesus. Podemos hoje por estarmos em Cristo Jesus começamos a experimentar as os benefícios de sermos súditos do Rei do Reino, mas ainda não podemos experimentar esses benefícios em sua totalidade, pois só poderemos desfrutar da totalidade deste benefício quando o Reino de Deus foi totalmente consumado.

            Essa é a verdadeira e viva esperança do povo de Deus. O apóstolo Paulo descreve dizendo que nada pode ser comparar a glória que há de se revelar naquele grande dia. “Por isso não nos desanimamos. Ainda que o nosso exterior* esteja se desgastando, o nosso interior está sendo renovado todos os dias. Pois nossa tribulação leve e passageira produz para nós uma glória incomparável, de valor eterno, "pois não fixamos o olhar nas coisas visíveis, mas naquelas que não se veem; pois as visíveis são temporárias, ao passo que as que não se veem são eternas." (2 Coríntios 4:17-18)

            O apóstolo nos diz que isso é fruto da misericórdia de Deus. A citação desse atributo de Deus nos remete exatamente ao fato de que desfrutamos da benevolência de Deus, pois ao contrário de merecermos ser beneficiados, merecemos ser castigados. “Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo imenso amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos pecados, deu-nos vida juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e com ele nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo Jesus, para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus”. (Efésios 4:4-7)

            E tudo isso só é possível por causa da morte e da ressurreição de Jesus. O mesmo poder que ressuscitou Jesus dentre os mortos opera em nós e por nós para glória de Deus. “E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos há de dar vida também aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito, que em vós habita”. (Romanos 6.11)

 

“... para uma herança que não perece, não se contamina nem se altera, reservada nos céus para vós ...”A palavra usada pelo apóstolo Pedro era muito conhecida dos israelitas. Pois o Senhor havia prometido Abraão que lhes daria uma porção de terra, lugar este que ficou conhecido como Terra Prometida. O Senhor deu-lhes a terra, todavia eles nunca desfrutaram de paz e harmonia. Sempre estiveram envoltos a guerra e a rumores de guerra. Na verdade, a herança realmente prometida por Deus nunca foi vinculada propriamente dito a este tempo presente. Qualquer herança neste tempo está à mercê de sofrer danos, roubos, contaminação, alteração, perda, e outras coisas negativas. Todavia, a herança prometida por Deus aos seus filhos não pode sofrer nada destas coisas ruins. Ela é tão extraordinária que por não encontrar palavras positivas para descrevê-la o apóstolo tenta se utilizar de palavras negativas para que possamos ter algum vislumbre.

            O apóstolo Pedro foi testemunha ocular de um dos sermões mais conhecidos e reverberados de Jesus, o sermão do monte. Podemos especular que Pedro ao escrever esse texto possa estar fazendo menção ao ensino de Jesus ao se referir acerca da diferença de perspectiva que um cristão deve ter acerca do verdadeiro tesouro: “para uma herança que não perece, não se contamina nem se altera, reservada nos céus para vós, mas ajuntai tesouros no céu, onde nem traça nem ferrugem os consomem, e os ladrões não invadem nem roubam. Porque onde estiver teu tesouro, aí estará também teu coração”. (Mateus 6:19-21)

           

“... que sois protegidos pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para se revelar no último tempo...” - As heranças que recebemos durante este tempo podem ser perdidas, roubadas, alteradas, sofrerem danos e percalços. Mas a esperança que está guardada para nós jamais poderá ter algo que traga algum tipo de prejuízo para nós. Não pode sofrer ou mudar por que é Deus quem está guardando na eternidade. Essa herança não pode ser comparada a nenhum tipo de bem material deste tempo.

            “No Século 1, o termo soteria (salvação) era usado mais amplamente entre os falantes do grego do que é hoje entre alguns cristãos, que restringem sua referência à condição espiritual da pessoa. No mundo helenístico, soteria referia-se ao livramento de qualquer ameaça – pessoal, política ou militar- e não necessariamente por intervenção divina. No NT, esse substantivo e seu verbo cognato sozein (sozein, salvar) eram usados para o livramento do perigo físico (e.g., Mt 8.25), da doença (e.g., Mt 9.21) e do pecado (e.g., Mt 1.21). A mesma palavra refere-se à recompensa por permanecer firme em face da perseguição (e.g., Mt 10.22; 24.13). Em 1Pedro, os benefícios do novo nascimento são realidade presente, mas a salvação ainda está para ser revelada no final da história. O ensinamento de Pedro apresenta um bom corretivo a ideia popular de que os cristãos mortos “sobem” ao céu para receber sua recompensa completa e final. Pedro apresenta a salvação como totalmente alcançada apenas no juízo final, no fim da história, quando Jesus Cristo for revelado. Portanto, no pensamento de Pedro, soteria (salvação) diz respeito ao livramento futuro, objeto final da história redentora, do qual tomarão parte os crentes em Cristo. É um livramento dessa situação atual da existência como forasteiros em um mundo hostil a Deus para um lugar de existência, pois nasceram espiritualmente nele mediante a ressurreição de Cristo. Para Pedro, soteria é a herança vindoura, à qual eles têm total direito já, mas da qual ainda não dispõem plenamente”. [4]

            A salvação que recebemos mediante a fé nos é garantida pelo poder Deus. Aos peregrinos dispersos daqueles dias e deste é preciso trazer a memória a nossa verdadeira promessa, a salvação. Essa salvação é manifesta em três tempos: eu fui salvo (regeneração), eu sou salvo (santificação) e serei salvo (glorificação). Nesta caminhada da vida cristã precisamos voltara nossa esperança no verdadeiro prêmio, a vida eterna.

           



[1] SPROUL, R.C. Estudos Bíblicos expositivos em 1 e 2Pedro. São Paulo: Cultura Cristã, 2016, pg. 22.

[2] GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 2010, pg. 584.

[3][3] SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática – revisado e ampliado. Curitiba: A.D.Santos Editora, 2014, pg. 225.

[4] JOBES, Karen H. Comentário Exegético: 1Pedro. São Paulo: Vida Nova, 2024, pg. 112.

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