Rio de Janeiro, 09 de fevereiro de 2025.
Série de
Sermões – Peregrinos
Tema da
Mensagem – Viva Esperança!
Texto Base
- 1 Pedro 1:3-5
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, que nos regenerou para uma viva esperança, segundo a sua grande misericórdia,
pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança que não
perece, não se contamina nem se altera, reservada nos céus para vós, que sois
protegidos pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para se
revelar no último tempo”. (1 Pedro 1:3-5)
“Bendito
seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo...” – O apóstolo Pedro expressa um louvor a Deus por uma tão grande
salvação. É comum os autores sagrados iniciarem ou terminarem seus textos com
expressões de louvor a Deus. Essas expressões de louvor a Deus são conhecidas
como “doxologias”. Sproul em seu comentário da epístola conceitua doxologia da
seguinte forma: “Uma doxologia é um hino
de louvor. A palavra vem do termo grego doxa, que se refere à glória que é
atribuída a Deus, porque ela pertence eterna e intrinsicamente a ele. Na
Bíblia, o conceito da glória refere-se ao poder de Deus, à profundeza do seu
caráter”. [1]
É importante ressaltar um dos
motivos pelos quais o apóstolo estava escrevendo aos irmãos: o sofrimento.
Diante de um sofrimento se alegrar parece algo impossível. Isto é, se olharmos do
prisma deste tempo presente. Se assim o fizermos, incorremos no erro em que o
apóstolo Paulo adjetivou que aquele baseia sua vida e sua esperança apenas
neste tempo presente é“...o mais miseráveis
de todos os homens”. (ICo 15.19)
Pedro está convidando os irmãos a
colocarem sua esperança no verdadeiro lugar da promessa, a vida eterna. Vida
está que só pode experimentar por aquele que nasceu de novo, que encontrou na pessoa
de Jesus perdão e graça. Aquele que encontrou em Cristo uma tão grande salvação
pode se alegrar mesmo estando passando por um período de dor e sofrimento. Esse
paradoxo existencial é permitido aquele que está em Cristo e espera pelo cumprimento
das promessas.
“...
que nos regenerou para uma viva esperança, segundo a sua grande misericórdia,
pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos...” – O apóstolo
continua seu convite agora trazendo os argumentos pelos quais devemos louvar a
Deus. Logo no primeiro momento ele fala sobre a ‘regeneração”, também conhecido
como “novo nascimento”. Precisamos entender o conceito que o apóstolo deseja
transmitir ao se utilizar essa expressão “regeneração”. Grudem conceitua
regeneração dessa forma: “Podemos definir
regeneração da seguinte maneira: Regeneração é um ato secreto de Deus pelo qual
ele nos concede nova vida espiritual. Isso é às vezes chamado de “nascer de
novo” (na linguagem de João 3:3-8)[2]
Zacarias
de Aguiar diz: “Regeneração é a “obra do
Espírito Santo ao criar uma nova vida nos pecadores que se arrependem e passam
a viver em Cristo”. Na regeneração, Deus dá vida espiritual ao indivíduo. Essa
nova vida se manifesta no viver diário do cristão. O indivíduo passa a ter uma
nova inclinação para Deus. Daí pode-se dizer que regeneração Deus munda a
disposição moral dominante da alma do indivíduo, tornando-o moral e espiritualmente
semelhante a Cristo”. [3]
É devido a essa obra miraculosa que
o Senhor começou a fazer em nossas vidas, mas ainda não a consumou, é que
podemos viver nesse tempo presente com a viva e verdade esperança no tempo
futuro. O conceituado teólogo do Novo Testamento Geoge Eldon Ladd em sua obra
de Teologia do Novo Testamento ressalta exatamente essa tensão escatológica
gerada com a morte e a ressurreição de Jesus. Podemos hoje por estarmos em
Cristo Jesus começamos a experimentar as os benefícios de sermos súditos do Rei
do Reino, mas ainda não podemos experimentar esses benefícios em sua
totalidade, pois só poderemos desfrutar da totalidade deste benefício quando o
Reino de Deus foi totalmente consumado.
Essa é a verdadeira e viva esperança
do povo de Deus. O apóstolo Paulo descreve dizendo que nada pode ser comparar a
glória que há de se revelar naquele grande dia. “Por isso não nos desanimamos. Ainda que o nosso exterior* esteja se
desgastando, o nosso interior está sendo renovado todos os dias. Pois
nossa tribulação leve e passageira produz para nós uma glória incomparável, de
valor eterno, "pois não fixamos o olhar nas coisas visíveis, mas
naquelas que não se veem; pois as visíveis são temporárias, ao passo que as que
não se veem são eternas." (2 Coríntios 4:17-18)
O
apóstolo nos diz que isso é fruto da misericórdia de Deus. A citação desse
atributo de Deus nos remete exatamente ao fato de que desfrutamos da
benevolência de Deus, pois ao contrário de merecermos ser beneficiados,
merecemos ser castigados. “Mas Deus, que
é rico em misericórdia, pelo imenso amor com que nos amou, estando nós
ainda mortos em nossos pecados, deu-nos vida juntamente com Cristo (pela graça
sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e com ele nos fez
assentar nas regiões celestiais em Cristo Jesus, para mostrar nos
séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, pela sua bondade para conosco
em Cristo Jesus”. (Efésios 4:4-7)
E
tudo isso só é possível por causa da morte e da ressurreição de Jesus. O mesmo
poder que ressuscitou Jesus dentre os mortos opera em nós e por nós para glória
de Deus. “E, se o Espírito daquele que
ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo
Jesus dentre os mortos há de dar vida também aos vossos corpos mortais, pelo
seu Espírito, que em vós habita”. (Romanos 6.11)
“... para
uma herança que não perece, não se contamina nem se altera, reservada nos céus
para vós ...” – A palavra
usada pelo apóstolo Pedro era muito conhecida dos israelitas. Pois o Senhor
havia prometido Abraão que lhes daria uma porção de terra, lugar este que ficou
conhecido como Terra Prometida. O Senhor deu-lhes a terra, todavia eles nunca
desfrutaram de paz e harmonia. Sempre estiveram envoltos a guerra e a rumores
de guerra. Na verdade, a herança realmente prometida por Deus nunca foi
vinculada propriamente dito a este tempo presente. Qualquer herança neste tempo
está à mercê de sofrer danos, roubos, contaminação, alteração, perda, e outras
coisas negativas. Todavia, a herança prometida por Deus aos seus filhos não
pode sofrer nada destas coisas ruins. Ela é tão extraordinária que por não
encontrar palavras positivas para descrevê-la o apóstolo tenta se utilizar de
palavras negativas para que possamos ter algum vislumbre.
O apóstolo Pedro foi testemunha
ocular de um dos sermões mais conhecidos e reverberados de Jesus, o sermão do
monte. Podemos especular que Pedro ao escrever esse texto possa estar fazendo
menção ao ensino de Jesus ao se referir acerca da diferença de perspectiva que
um cristão deve ter acerca do verdadeiro tesouro: “para uma herança que não perece, não se contamina nem se altera,
reservada nos céus para vós, mas ajuntai tesouros no céu, onde nem traça nem
ferrugem os consomem, e os ladrões não invadem nem roubam. Porque onde
estiver teu tesouro, aí estará também teu coração”. (Mateus 6:19-21)
“...
que sois protegidos pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação
preparada para se revelar no último tempo...” - As heranças que recebemos durante este tempo podem ser perdidas,
roubadas, alteradas, sofrerem danos e percalços. Mas a esperança que está
guardada para nós jamais poderá ter algo que traga algum tipo de prejuízo para
nós. Não pode sofrer ou mudar por que é Deus quem está guardando na eternidade.
Essa herança não pode ser comparada a nenhum tipo de bem material deste tempo.
“No
Século 1, o termo soteria (salvação) era usado mais amplamente entre os
falantes do grego do que é hoje entre alguns cristãos, que restringem sua
referência à condição espiritual da pessoa. No mundo helenístico, soteria
referia-se ao livramento de qualquer ameaça – pessoal, política ou militar- e
não necessariamente por intervenção divina. No NT, esse substantivo e seu verbo
cognato sozein (sozein, salvar) eram usados para o livramento do perigo
físico (e.g., Mt 8.25), da doença (e.g., Mt 9.21) e do pecado (e.g., Mt 1.21).
A mesma palavra refere-se à recompensa por permanecer firme em face da
perseguição (e.g., Mt 10.22; 24.13). Em 1Pedro, os benefícios do novo
nascimento são realidade presente, mas a salvação ainda está para ser revelada
no final da história. O ensinamento de Pedro apresenta um bom corretivo a ideia
popular de que os cristãos mortos “sobem” ao céu para receber sua recompensa
completa e final. Pedro apresenta a salvação como totalmente alcançada apenas
no juízo final, no fim da história, quando Jesus Cristo for revelado. Portanto,
no pensamento de Pedro, soteria (salvação) diz respeito ao livramento futuro,
objeto final da história redentora, do qual tomarão parte os crentes em Cristo.
É um livramento dessa situação atual da existência como forasteiros em um mundo
hostil a Deus para um lugar de existência, pois nasceram espiritualmente nele
mediante a ressurreição de Cristo. Para Pedro, soteria é a herança vindoura, à
qual eles têm total direito já, mas da qual ainda não dispõem plenamente”. [4]
A salvação que recebemos mediante a
fé nos é garantida pelo poder Deus. Aos peregrinos dispersos daqueles dias e
deste é preciso trazer a memória a nossa verdadeira promessa, a salvação. Essa
salvação é manifesta em três tempos: eu fui salvo (regeneração), eu sou salvo
(santificação) e serei salvo (glorificação). Nesta caminhada da vida cristã
precisamos voltara nossa esperança no verdadeiro prêmio, a vida eterna.
[1] SPROUL,
R.C. Estudos Bíblicos expositivos em 1 e 2Pedro. São Paulo: Cultura Cristã,
2016, pg. 22.
[2]
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática:
atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 2010, pg. 584.
[3][3]
SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual
de Teologia Sistemática – revisado e ampliado. Curitiba: A.D.Santos Editora,
2014, pg. 225.
[4]
JOBES, Karen H. Comentário
Exegético: 1Pedro. São Paulo: Vida Nova, 2024, pg. 112.
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