quarta-feira, 22 de outubro de 2025

6ª AULA – DEUS ALÉM DE DEUS: PAUL TILLICH

 


Rio de Janeiro, 22 de outubro de 2025.

INSTITUTO BÍBLICO EFATÁ

MÓDULO DE TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA

6ª AULA – DEUS ALÉM DE DEUS: PAUL TILLICH

PROFESSOR – PR. ROBERTO DA SILVA MEIRELES RODRIGUES

CONTEXTTO HISTÓRICO E TEOLÓGICO:

O capítulo inicia situando Paul Tillich (1886–1965) como uma das figuras mais influentes da teologia protestante do século XX. Ed. L. Miller e Stanley Grenz destacam que Tillich foi um teólogo que buscou “reconciliar a fé cristã com a cultura moderna”, procurando um diálogo entre teologia e filosofia existencialista.

Tillich viveu as duas guerras mundiais e experimentou pessoalmente a crise espiritual e cultural da modernidade. Segundo Miller e Grenz, ele viu a tarefa da teologia como a de responder às perguntas existenciais do homem moderno, sem perder a verdade do conteúdo cristão.

Por isso, a teologia de Tillich é marcada por uma tensão entre fé e razão, teologia e cultura, revelação e filosofia. Essa tensão não é um problema a ser eliminado, mas um método de correlação — seu princípio teológico básico.

O MÉTODO DA CORRELAÇÃO:

Tillich parte da constatação de que a teologia tradicional falhou em dialogar com o pensamento moderno. A religião, isolada do mundo, torna-se irrelevante. Ele propõe, então, um novo caminho: o método da correlação. A tarefa da teologia é responder, de maneira adequada e significativa, às perguntas existenciais que surgem da situação humana.

Esse método é dialógico: a filosofia (particularmente a fenomenologia e o existencialismo) levanta as perguntas — como o sentido da vida, a culpa, a angústia e a morte — e a teologia responde a partir da revelação cristã. Assim, Tillich não começa com a Bíblia como uma coleção de doutrinas, mas com a experiência humana da ansiedade existencial.

Dentro do pensamento de Tillich a teologia e a filosofia são parceiras de diálogo. A teologia fornece respostas simbólicas e revelatórias às perguntas que a filosofia coloca. Assim, a fé não é irracional; é uma resposta à situação humana.

O “DEUS ALÉM DE DEUS”: O FUNDAMENTO DO SER.

O título do capítulo vem de uma das expressões mais conhecidas de Tillich: “Deus além de Deus”, desenvolvida em sua obra The Courage to Be (1952).

Tillich critica o conceito tradicional de Deus como um ser supremo — um ente dentro da cadeia dos seres, apenas mais poderoso. Para ele, isso leva inevitavelmente ao ateísmo, porque um “Deus-ente” compete com o mundo.

Deus não é um ser, nem mesmo o ser supremo. Deus é o próprio fundamento do ser, o poder do ser-em-si”.

Portanto, quando alguém nega “Deus” no sentido de um ente entre outros, ele pode, paradoxalmente, estar se aproximando do verdadeiro Deus, que está além de todo conceito finito. Daí a famosa ideia de Tillich: o homem precisa “negar o deus que não é Deus” para encontrar o verdadeiro Deus, o Deus além de Deus.

Miller e Grenz comentam que essa redefinição busca preservar a transcendência divina: Deus não é um objeto que se possa manipular ou descrever. Ele é “a base ontológica de toda a realidade”. Contudo, os autores reconhecem que essa formulação gera um risco: a despersonalização de Deus e o enfraquecimento do conceito bíblico de um Deus que se relaciona com o ser humano.

A TEOLOGIA DO SER E DA NÃO-EXISTÊNCIA:

Tillich formula sua teologia dentro de uma estrutura ontológica: o ser humano experimenta a tensão entre o ser e o não-ser. A realidade humana é marcada pela finitude, pela consciência da morte e pela possibilidade de não-existir. Essa angústia existencial é, para ele, a base de toda experiência religiosa.

A fé nasce da coragem de afirmar o ser apesar da ameaça do não-ser. Essa coragem de ser é sustentada por Deus — o fundamento do ser. Assim, Deus não é um refúgio sentimental, mas a própria força ontológica que possibilita a existência.

Os autores explicam que, para Tillich, o pecado não é apenas desobediência moral, mas a ruptura do ser — a alienação do homem de seu fundamento. A salvação, portanto, é a reintegração do ser humano com esse fundamento: o restabelecimento da unidade do ser.

CRISTO, O “NOVO SER”:

Tillich entende Cristo não apenas como uma figura histórica, mas como uma manifestação simbólica do “novo ser”.

Em Jesus, o Cristo, o fundamento do ser se manifesta de modo concreto, e o poder da nova existência vence o não-ser.

Cristo é aquele em quem a alienação é superada — o ponto de encontro entre o divino e o humano. Em Tillich, a encarnação não é tanto um evento físico, mas um símbolo da unificação entre Deus e a humanidade. O “Cristo histórico” é importante enquanto mediação simbólica dessa realidade eterna.

Tillich redefine a doutrina da salvação em termos ontológicos, não jurídicos: A cruz e a ressurreição significam, para Tillich, a vitória do ser sobre o não-ser, e não uma substituição penal.

Essa leitura é profundamente existencial e simbólica, mas também levanta objeções quanto à historicidade dos eventos do evangelho.

FÉ E SÍMBOLOS:

Tillich concebe a fé como “preocupação última” — isto é, a orientação existencial mais profunda da pessoa. Toda pessoa tem uma fé, ainda que não religiosa, pois todos têm algo que ocupa o centro de sua vida.

A fé é o ato pelo qual o ser humano se entrega incondicionalmente ao que ele considera seu valor supremo.

A linguagem religiosa, portanto, é simbólica. Termos como “Deus”, “céu”, “salvação” e “juízo” não descrevem realidades empíricas, mas apontam para dimensões da realidade última.

Para Tillich, os símbolos participam da realidade à qual apontam, sem se identificarem com ela. Quando um símbolo deixa de apontar para o mistério, ele morre.

A teologia deve, portanto, atualizar os símbolos, reinterpretando-os para que continuem significativos para o homem moderno. Isso, porém, gera um dilema: até que ponto é possível reinterpretar sem esvaziar o conteúdo revelado?

CRÍTICAS E LIMITES:

Miller e Grenz reconhecem o valor da teologia de Tillich como ponte entre fé e cultura, mas apontam três críticas principais:

Despersonalização de Deus – Ao definir Deus como “fundamento do ser”, Tillich corre o risco de diluir o Deus pessoal das Escrituras em uma abstração filosófica.

Enfraquecimento da cristologia bíblica – Cristo como símbolo pode perder a centralidade histórica e soteriológica da encarnação literal.

Ambiguidade da linguagem simbólica – Se tudo é símbolo, a linha entre verdade e mito se torna tênue.

Ainda assim, os autores concluem que Tillich mantém vivo o desafio de pensar a fé cristã em diálogo com a cultura moderna, oferecendo uma teologia profundamente relevante para quem vive entre o desespero e a busca de sentido.

CONCLUSÃO:

O capítulo encerra afirmando que a contribuição de Tillich está em sua coragem de pensar Deus não como objeto da razão, mas como o mistério que dá razão a tudo o mais.

Tillich nos lembra que a teologia deve falar não apenas à igreja, mas ao homem moderno que luta com a perda de sentido. Seu método da correlação continua a ser uma ponte indispensável entre fé e cultura.

 

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