Capítulo III
– Os primeiros conflitos com o estado e a perseguição do primeiro
século.
1 – OS
PRIMEIROS CONFLITOS COM O ESTADO.
“O Vencedor
Herdará estas cousas, e eu lhe serei Deus e ele me será filho”.
(Ap. 21.7)
A fé cristã desde
o seu nascedouro nunca gozou de uma tranquilidade absoluta. Pelo
contrário, o inicio e a trajetória de seu desenvolvimento foram
marcados pelas perseguições e martírios.
O Senhor e dono da
igreja, Jesus Cristo, foi perseguido e condenado a morte de cruz.
Dando sequência ao Senhor, outros logo no inicio da caminhada da
igreja primitiva pagaram com suas vidas. Exemplos: Estevão (um dos
sete diáconos), Tiago filho de Zebedeu (irmão de João e um dos
doze apóstolos), e muitos outros desconhecidos.
Essas perseguições
não se deflagraram pelo mesmo motivo e nem em meio as mesmas
circunstâncias. No desenvolvimento da história as variações de
motivos e circunstâncias encontraram dramas e enredos diferentes.
Vamos realizar algumas pontuações para clarificar nosso
entendimento acerca do que fora dito acima:
1.1. A nova seita
judaica.
Neste ponto iremos
elucidar a cosmovisão que os judeus possuíam acerca do
cristianismo, e também a cosmovisão que os cristãos tinham acerca
do judaísmo.
1.1.1. Cosmovisão
dos Judeus em relação ao cristianismo
Os judeus não
enxergavam o cristianismo como uma nova seita. Como anteriormente
falamos o judaísmo não gozava de uma unidade monolítica. Existiam
diversas ramificações dentro do judaísmo. Os judeus encaravam o
cristianismo como uma nova heresia para os remanescentes fiéis a
tradição de seus pais. Eles tinham a convicção bíblica de que
eles estavam sendo castigados (estando debaixo do julgo de Roma) por
que não foram fiéis a leis de Deus. Então este fato trazia aquele
momento histórico um profundo sentimento nacionalista e de temor
novamente a incorrer no mesmo erro de seus antepassados e se
afastarem da pessoa de Deus.
1.1.2. Cosmovisão
dos cristãos em relação ao judaísmo.
Os cristãos não
acreditavam que estavam criando ou fundando uma nova religião ou
seita. Eles acreditavam que estavam vivenciando a promessa que o
Senhor fizer aos seus antepassados acerca da era messiânica. Sua
convicção de fé era que o Eterno havia cumprido na pessoa de Jesus
a promessa de um Salvador, de um Messias.
Este fato fica
claro para nós quando analisamos a mensagem nos primeiros sermões
da igreja primitiva. A mensagem que saia da boca dos apóstolos e de
seus discípulos eram que as promessas que Deus fizera a Abraão, a
Isaque, a Jacó e também a todos os prometas estava ao seu alcance.
Bastando apenas a eles (judeus) a se colocarem debaixo da mesma. Ou
seja, acreditarem de fato de que a promessa messiânica havia se
cumprido na pessoa de Jesus.
E também por este
motivo que o convite destes mesmo homens (cristãos primitivos) aos
gentios era que eles se colocassem como descendentes de Abraão pela
fé, pois sendo eles descendentes de Abraão a promessa seria
estendida a eles. E o Antigo Testamento outorgava-lhes o direito de
professarem esta fé e mensagem, pelo fato das promessas de que Deus
atrairia todas as nações da terra a Sião.
1.1.3 A perseguição
dos judeus aos cristãos nos primeiros anos.
Conforme foi
pontuado acima. Os judeus pelo seu zelo ao Senhor, por não quererem
serem castigados novamente. Começaram a perseguir aos cristãos. Em
alguns casos houve morte, em outros casos, a confusão tomava uma
proporção maior, Roma se envolvia e tomava as rédias, evitando
maiores problemas. Mas quando não se ganhava proporção nos
tumultos, Roma não se metia, e deixava que as partes se entendessem.
No pensamento de Roma tanto cristãos como judeus faziam parte da
mesma religião. Só que com divergências entre algumas doutrinas.
Esse fato exposto é
claro quando olhamos para Atos 18.14-15. Paulo esta na cidade de
Corinto pregando, então alguns judeus levam até o procônsul Gálio
a queixa de que Paulo estava persuadindo aos judeus a adorarem a Deus
de forma contra a lei de Moisés. Gálio lhes dá a seguinte
resposta: “mas se é questão de palavras, de nomes, e de vossa
lei, tratai disso vós mesmos; eu não quero ser juiz destas cousas”.
Isso nos dá a entender que o Estado via tanto o cristianismo quanto
o judaísmo como uma só coisa.
Mas quando o
tumulto era muito grande ai Roma intervinha. Ao olharmos Atos 18.2, a
Bíblia nos relata que Cláudio o imperador expulsa os judeus da
cidade de Roma. A Bíblia não elucida o motivo por tal atitude do
imperador. Porém o historiador romano “Suetônio” vai dizer em
seus relatos que os judeus foram expulsos por causa de “Cresto”,
é bem provável que ele queira ter dito Cristo, porém por um erro
de grafia escreveu Cresto. É bem provável que os cristãos estavam
pregando a mensagem acerca da pessoa de Jesus o Cristo e os judeus
criaram alvoroços quanto a isso. Então tomou uma proporção grande
que o imperador teve que intervir para restaurar a ordem na cidade.
Porém com o passar
dos tempos foi diminuindo o número de judeus no seio da igreja.
Então cada vez mais fora se diferenciando o cristianismo do
judaísmo. Os judeus também começaram a se tornarem muitos radicais
e a causarem problemas de relacionamento com o Estado. Os cristãos
começaram a se posicionar contra aquelas atitudes nacionalistas de
revolta. Então as divergências de pensamentos começaram realmente
a separar um do outro.
1.2. A
perseguição sob Nero.
Nero assumiu o
trono em 54 d.C. No inicio de seu reinado ao contrário da fama que
receberia no futuro, promulgou leis que beneficiavam os pobres e os
despojados. Porém com o passar dos anos a ambição, o poder, a
fama, o cegaram e fizeram com que Nero se tornasse sinônimo de
ditador e desposta.
O jovem imperador
foi colecionando inimigos com o decorrer dos anos. O povo vivia sobre
um julgo de tirania e opressão. Os críticos e intelectuais
começaram a difundir a ideia de que Nero não tinha capacitação
para exercer o cargo que estava ocupando. Também começou a
espalhar-se no império a noticia de quem se opunha a Nero ou era
assinado misteriosamente ou era convidado a cometer suicídio.
Em 18 de julho de
64, a cidade de Roma foi incendiada. Nero se encontrava nessa
ocasião, em sua residência de Antuim, a umas quinze léguas de
Roma. Mas mesmo assim, o povo daquela época e praticamente todos os
historiadores acreditam que Nero estava louco, e que ele havia
mandado incendiar a cidade. O historiador Tácito, que se encontrava
em Roma fala sobre os rumores do povo sua convicção a cerca de Nero
ser o causador do incêndio e o mesmo também deixa implícito em
seus relatos a percepção de que ele mesmo acretiva que Nero havia
sido o responsável pelo mesmo.
Nero tentou de
todas as maneiras possíveis se desvencilhar da culpa. Porém duas
das cidades que não foram afetadas pelo incêndio eram habitadas por
sua grande maioria de judeus e cristãos. Nero de posse deste
argumento culpou os cristãos de terem incendiado a cidade.
O historiador
Tácito vai realizar o seguinte relato:
“Apesar
de todos os esforços humanos, da liberalidade do imperador e dos
sacrifícios oferecido aos deuses, nada bastava para apartar as
suspeitas nem para destruir a crença de que o fogo havia sido
ordenado. Portanto, para destruir este rumor, Nero fez aparecer como
culpados os cristãos, uma gente odiada por todos por suas
abominações, e os castigou com mui refinada crueldade. Cristo, de
quem tomam o nome, foi executado por Pôncio Pilatos durante o
reinado de Tibério. Detida por um instante, esta superstição
daninha apareceu de novo, não somente na Judeia, onde estava a raiz
do do mal, mas também em Roma, esse lugar onde se narra e encontram
seguidores de todas as coisas atrozes e abomináveis que chegam desde
todos os rincões do mundo. Portanto, primeiro foram presos os que
confessaram (ser cristãos), e baseadas nas provas que eles deram foi
condenada uma grande multidão, ainda que não os condenaram tanto
pelo incêndio mas sim pelo seu ódio à raça humana. (Anais,
15.44)”1
Este relato se
torna valiosíssimo a nossa pesquisa de como se enxergavam os
cristãos daquela época. E também pelo fato de que Tácito não
acreditava no fato de que os cristãos tivessem envolvimento com o
incêndio. Porém devemos avaliar algumas palavras de forma que
possamos entender melhor o por quê dos cristãos não serem acusados
pelo incêndio e sim por suas abominações e seu ódio a raça
humana.
Vamos analisar
estes dois termos:
Abominações –
Começou a circular a alguns boatos sobre os cristãos que ficaram
conhecidos como abomináveis. Vamos citar alguns exemplos: A chamada
festa Ágape, ou festa do amor, onde só se podia participar os
iniciados na fé (os batizados). Durante esta festa os cristãos
comiam e se embriagavam e depois se entregavam as paixões carnais,
sendo que o pior deste boato, era o fato dos cristãos chamarem-se de
irmãos, os incrédulos pensavam que existiam relações entre
parentes, ou seja incestos.
Outro boato era
acerca da ceia do Senhor. Quando se é celebrado a Ceia do Senhor, é
explicado que o pão simboliza o corpo de Cristo, e que ao comer do
pão estamos lembrando do sacrifício de Jesus. Então se ligou este
fato de comer o corpo de Cristo com o seu nascimento em um estábulo
e começou a correr o boato de que os cristãos pediam que aquele que
quisesse iniciar na fé em Cristo deveriam de comer um recém-nascido
dentro de um pão.
Outro boato era
ligado ao fato de os cristãos adorarem a um Asno crucificado. Este
boato era oriundo do boato que fora levantado contra os judeus no
passado de serem também adoradores de um Asno. E agora acrescentaram
ao Asno o fato da crucificação de Cristo.
Ódio a raça humana
- Esse termo se deu pelo fato dos cristão se absterem do convívio
social com o restante do povo. Não que os cristãos fossem anti
sociais, mas sim por que as programações sociais está sempre
engajada com adoração a ídolos. Isso era fato nos esportes,
teatros, no exército, letras, filosofia, etc.
Pelas palavras do
historiador podemos notar que ele como todo o seu povo. Nutria uma
certa aversão aos cristãos. Mas, que o castigo do imperador era
excessivo não em prol da justiça, mas sim em prol dos desmandos do
imperador. O mesmo Tácito vai falar sobre como o imperador procedia
contra os cristãos: “Além de matá-los (aos cristãos) fê-los
servir de diversão para o público. Vestiu-os em peles de animais
para que os cachorros os matassem a dentadas. Outros foram
crucificados. E a outros acendeu-lhes fogo ao cair da noite, para que
iluminassem. Nero fez que abrissem os seus jardins para esta
exibição, e no circo ele mesmo ofereceu um espetáculo, pois
misturava-se com as multidões, disfarçando-se condutor de
carruagem, ou dava voltas em sua carruagem...”2
Depois da morte de
Nero. O império entrou em sucessões e desencontro quanto as mesmas.
E neste período os cristãos ficaram em paz. E parecem ter sido
esquecidos pelo império. Porém vale ressaltar que em 70 Jerusalém
havia sido destruída pelo imperador Tito.
1.3. A
perseguição sob Domiciano
No
ano de 81 assumiu o império Domiciano. No início ele foi benigno
aos cristãos a semelhança de seus antecessores. Porém no final de
seu governo ele desencadeou novamente sobre os cristãos a
perseguição.
A
perseguição de Domiciano se deu pelo fato do mesmo querer resgatar
a tradição de seus antecessores no império. E já era de se
esperar que os cristãos fossem perseguidos pelo fato da religião do
império ir de desencontro ao pensamento cristão de um único Deus,
invisível.
Os
judeus começaram a sofrer perseguições extensivas do imperador.
Ainda mais agora que não existia mais o templo em Jerusalém.
Domiciano exigia que eles revertessem suas ofertas a Roma assim
também como sua conduta para com Jerusalém à Roma. Como a relação
da diferenciação entre cristianismo e judaísmo ainda não era
claro. Logo se desencadeou sobre os cristãos as perseguições
novamente. Clemente vai relata estas em sua epístola aos coríntios:
“os males e provas
inesperadas e seguidas que sobrevieram a nós (I Clemente I).”3
Após
a estas atrocidades Domiciano foi assassinado em seu palácio. Menos
pior que ele desencadeou as perseguições no final de sua vida e
governo. Após sua morte a igreja voltou a gozar de paz mais alguns
anos.
1GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do
cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 55.
2GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do
cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 56.
3Id.
pág. 60.
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