segunda-feira, 30 de abril de 2012

Capítulo V - Os Mestres da igreja


Capítulo V – Os  Mestres da Igreja:


1. OS MESTRES DA IGREJA.
“Quem não aprendeu a palavra, pode se escudar atrás de sua própria ignorância. Mas quem já a escutou, e persiste em sua incredulidade, receberá maior dano quanto maior que seja a sua sabedoria”.
(Clemente de Alexandria)
1.1. INTRODUÇÃO:
            Como já havíamos mencionado no capítulo anterior. As ameaças heréticas do Gnosticismo, dos Marcionitas e outras heresias mais, levaram aos pais da igreja a criarem uma construção teológica para poder debater apologeticamente com tais erros doutrinários. No primeiro século da igreja não se havia esta necessidade haja vista que os apóstolos estavam vivos. Porém, com o passar dos anos os mesmos foram morrendo. E se tornou necessário à sistematização da fé cristã.
            Essa sistematização começou a ser realizada; de modo mais lógico e organizado a partir da metade do século segundo e início do século terceiro. Isso graças à obra de Justino que facilitou a construção da fé cristã com a cultura local. Nos primeiros séculos não conseguímos ter total ciência do pensamento teológico de seus escritores. Por exemplo: Quando olhamos para os escritos de Paulo. Não conseguimos sistematizar todo o seu pensamento teológico. Haja vista que suas cartas tiveram propósitos específicos. Como exemplo o tratado acerca da ressurreição, em I Co. 15. Sua intenção era corrigir um erro doutrinário da igreja de Corinto acerca da doutrina da ressurreição. Só conhecemos seu pensamento teológico acerca da ressurreição por este motivo.
            Outro exemplo é o de Inácio, onde na semana em que iria sofrer seu martírio escreveu sua cosmovisão sobre o mesmo. Neste relato é impossível nos conhecermos a totalidade de seu pensamento teológico, e também seria até injusto de nossa parte, querer que alguém sistematizasse todo o seu pensamento teológico no período de sua construção literária.
            Com as ameaças heréticas crescendo, a igreja teve que se defender criando um conjunto de doutrinas. A igreja viu surgir em seu seio grandes escritores teológicos. Tais como: Irineu de Leão, Clemente de Alexandria, Tertuliano de Cartago e Orígenes, também de Alexandria.

1.2. IRINEU DE LEÃO

Local de Nascimento – Natural da Ásia Menor – provavelmente de Esmirna.
Data de Nascimento – Por volta de 130 d.C.
Que o discipulou? – Foi discipulado por Policarpo.
Ordenação ao Ministério – Foi ordenado bispo de Leão após o martírio do bispo Fontino.
Obras literárias – “A demonstração da fé apostólica”, “A refutação da falsa gnosis” e “Contra as Heresias”.
            Irineu estava preocupado como todo e bom pastor em proteger o seu rebanho de falácias heréticas. Seus escritos não têm a preocupação de agregar coisas novas. E sim, ratificar a sã doutrina na vida cristã dos crentes de sua comunidade local.
            Seu pensamento teológico é centrado no fato de Deus como o Supremo Pastor. Sendo assim, toda a história da humanidade é o discorrer de como este Supremo Pastor, encaminhou e dirigiu a mesma até o dia da consumação final.
            Em seu escritos encontramos alguns conceitos teológicos sistematizados. Vejamos alguns:
Doutrina do Homem – "A coroa da criação de Deus é a criatura humana. O ser humano foi criado desde o princípio como um ser livre e portanto responsável. Essa liberdade é tal, que mediante ela podemos conformar-nos mais e mais a vontade e à natureza divina, e gozar de uma comunhão sempre crescente com nosso criador. Mas, por outra parte, a criatura humana não foi criada desde um princípio em toda sua perfeição. Como pastor que Deus é, Deus colocou o primeiro casal no paraíso, não em um estado de perfeição, mas "como meninos" (ou "como crianças"). O que isto quer dizer é que Deus tinha o propósito de que ser humano crescesse de tal modo em comunhão com ele que com o tempo chegasse a estar ainda acima dos anjos.”[1]

Doutrina dos Anjos – “Os anjos são seres superiores a nós somente provisoriamente. Quando se cumprir na humanidade o propósito divino, os seres humanos estarão acima dos anjos, pois gozaremos de uma comunhão com Deus mais estreita que a deles. A função dos anjos é semelhante à do tutor que dirige os primeiros passos de um príncipe. ainda por um momento o tutor está acima do príncipe, mas com o tempo será subordinado a ele.”[2]

Doutrina do pecado – “Mas um dos anjos, Satanás, sentiu ciúmes do destino tão elevado que Deus reservava à criatura humana e, portanto, tentou e fez pecarem Adão e Eva. Como resultado do pecado, a criatura humana foi expulsa do paraíso, e seu crescimento ficou torcido. Portanto, a história tal como se desenvolveu é resultado do pecado”.[3]

Doutrina de Cristo – "O mesmo se pode dizer com respeito à encarnação de Deus em Jesus Cristo. A encarnação não é o resultado do pecado humano. Ao contrário, desde o princípio Deus tinha o propósito de se unir a humanidade como o fez em Cristo Jesus. De fato, o Verbo encarnado foi o modelo que Deus utilizou ao criar o ser humano segundo sua "imagem e semelhança". Adão e Eva foram criados para que, depois de um processo de crescimento e instrução, chegassem a ser como o Verbo que havia de encarnar. Por causa do pecado, o que sucedeu é que a encarnação tomou outro propósito, e veio a ser também remédio contra o pecado e meio para a derrota de Satanás".[4]

O Antigo Testamento – “O Antigo Testamento não é a revelação de um Deus estranho a fé cristã, mas é a história de como Deus continuou os seus propósitos redentores mesmo depois do pecado de Adão e Eva”.

Doutrina das coisas futuras – “Em suma sua ressurreição (Jesus) começou a ressurreição final, da qual todos os que formam parte de seu corpo serão participantes. Quando chegar a consumação final, e o Reino de Deus se estabelecer, isto não vai querer dizer que a tarefa de Deus como pastor terá terminado. Ao contrário, a humanidade redimida continuará crescendo em comunhão com Deus, e o processo de divinização continuará por toda a eternidade. Levando-nos sempre mais perto de Deus”.[5]

            Irineu em sua teologia formula ação de Deus na história e como a sua criação se relacionou com o mesmo. Até o ponto auge da história da humanidade. Onde o próprio Deus em Cristo se humanizou. Trazendo ao homem a possibilidade dele comungar na história o que só poderia ser desfrutado na Eternidade, que por sua vez, um dia chegará e trará a consumação do plano de Deus para humanidade.

1.3.CLEMENTE DE ALEXANDRIA

Local de Nascimento – Natural de Atenas.
Data de Nascimento – Por volta dos anos 150 d.C.
Que o discipulou? – Panteno.
Ordenação ao Ministério – Não exerceu o ministério. Exerceu o magistério, iniciando em 202, como sucessor de seu mestre.
Obras literárias –

            Diferentemente de Irineu de Leão, Clemente de Alexandria não tinha o intuito de conduzir um rebanho acerca da sã doutrina cristã. Sua teologia foi formulada através de forte influência do pensamento filosófico de sua época. Essa construção de sua cosmovisão, teve início em sua conversão. O mesmo buscou algum mestre que conseguisse explicar-lhe sobre o que de fato era o cristianismo. E encontrou em Panteno alguém que de fato o fizera.
            Clemente não foi pastor como Irineu, ele foi mestre, e mestre dos mais brilhantes intelectuais do império. Haja vista que Alexandria era considerada como a capital do império Romano, no que diz respeito a intelectualidade. Lá se encontrava a famosíssima biblioteca e seu museu.
            Por ele não ser pastor, seu intuito não é meramente repetir os dogmas dos apóstolos. E sim, ajudar aqueles que buscam respostas mais profundas acerca do que é a verdade. Seu intuito é convencer os pensadores pagãos que o cristianismo não é uma religião absurda, dotada em seu corpo de indoutos e ignorantes.
            Seu pensamento permeava em que Deus havia se revelado aos judeus através da lei. E aos gregos através da filosofia. E por este motivo, qualquer um dos lados tinha o intuito de conhecer o que de fato é a verdade. Em sua opinião, só existe uma verdade, tendo sido revelada de forma diferente a estes dois povos. Sua defesa acerca desta tese é que as Escrituras são cheias de alegorias, parábolas, metáforas, que não podem ser traduzidas de forma literal. Pois o seu significado é mais profundo. E muitos filósofos alcançaram este significado profundo de outra forma.
            Sua exegese se dá de forma alegórica e esta marca será uma marca da escola Aleandrina, como veremos no futuro, como por exemplo em Orígenes. Sua principal ênfase no discurso foi acerca do Verbo Encarnado, onde o Ser Inefável (segundo Platão e outros pensadores antes do mesmo) se deu a revelar a humanidade, e por consequência os filósofos e os profetas puderam conhecer no Verbo, o que é de fato a verdade. Essa sua perspectiva faz seu pensamento ser Cristocentrico.
            Podemos observar que a maior preocupação de Clemente é construir um discurso teológico que faça ponte entre a pessoa de Deus e a cultura local. Porém, sua proposta alcançou não a massa, mais simples em seu modo de pensar, e sim a classe mais erudita, acadêmica.
           
1.4. TERTULIANO DE CARTAGO

Local de Nascimento – Cartago na África
Data de Nascimento – Por volta dos anos 150 d.C.
Que o discipulou?
Ordenação ao Ministério – Não exerceu o ministério.
Obras literárias – “Apologética”, “Do Batismo”, “Prescrição contra os heréticos”, “Da oração”, “Tratado sobre a alma”, “Contra Marcião” e “Contra Praxeas”.

            Este homem é considerado como uma das figuras mais ilustres do século II e III da história da igreja. Também é reconhecido como o mais brilhante teólogo ortodoxo entre os pais da igreja. Seus escritos tiveram duas ênfases: refutar as heresias e convencer aos incrédulos acerca da veracidade do evangelho de Jesus.
            Neste grande teólogo encontramos uma grande influência jurídica. Ao contrário de Clemente e Orígenes que tinham uma grande influência da filosofia. Seu pensamento foi alicerçado com uma solidez jurídica tremenda. Essa influência jurídica se deu pela sua formação. Tertuliano se formou em direito em Roma, recebendo uma extensa educação em retórica e leis.
            Foi o primeiro dos escritores da história da igreja a escrever seus tratados em latim. Ele também foi o primeiro a tratar a teologia como uma ciência autônoma, sem precisar de outras ciências e nem outros métodos. Ele foi o responsável pelo início da sistematização Bíblica. Vejamos:

Da Bibliologia – Tertuliano sempre deu o devido valor as Sagradas Escrituras. Para ele a Bíblia não era somente a revelação de Deus, mas também a única que em podemos realmente confiar. Seu zelo pela Bíblia o fez considerar a mesma como patrimônio somente a igreja.

Da Trindade – Ele foi o primeiro teólogo a utilizar-se do termo para a descrição da manifestação de nosso Deus. Foi o primeiro a cunha os temos – ‘uma substância”, “três pessoas” – Esses termos proporcionaram uma melhor elucidação a cerca dos ministérios do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Também mais a frente se tornaram grandes armas na luta contra o arianismo.

Da Cristologia – Foi também brilhante ao descrever a dupla natureza de Cristo, a saber a natureza divina e a natureza humana. Sua concepção das duas naturezas foram importantíssimas para o concílio de Nicéia.

Da Pneumatologia – Sua contribuição a cerca do Espírito Santo se dá no fato do reconhecimento do mesmo como o próprio Deus, sendo Ele a manifestação da terceira pessoa da trindade. Um ser caráter pessoal, divino, a semelhança do Pai e do Filho.

            Tertuliano em um determinado momento de sua vida se tornou montanista. A percepção aparentemente que temos que esse fato se dá devido ao mesmo ter um grande zelo pelo uma vida piedosa e por encontrar na igreja muitas divergência da práxis da vida cristã da recomendada na Palavra de Deus.
            No final de sua vida ele se afasta também dos montanistas criando uma nova seita chamada “Tertulianistas” sendo ele mesmo o fundado e dogmatizador da mesma. O que nos parece é que sua personalidade forte e sua genialidade intelectual o impediu de continuar a desfrutar do convívio da comunhão com os irmãos no seio da igreja ao qual o mesmo fazia parte.

 BIBLIOGRAFIA:

CAIRNS, E.E. O Cristianismo Através do Século. São Paulo: Vida. 2006.
GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995.
SILVA, Elias Gomes da. O pensamento Teológico de Tertuliano. São Paulo. – consultado no site: www.monergismo.com – acessado em 29/04/2012, às 18:02h.





[1] GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. pág.112.
[2] GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. pág.113.
[3] GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. pág.113.
[4] GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. pág.113.
[5] GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. pág.114.

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