Capítulo V – Os Mestres da
Igreja:
1. OS MESTRES DA IGREJA.
“Quem não aprendeu a palavra, pode se escudar
atrás de sua própria ignorância. Mas quem já a escutou, e persiste em sua
incredulidade, receberá maior dano quanto maior que seja a sua sabedoria”.
(Clemente de Alexandria)
1.1. INTRODUÇÃO:
Como
já havíamos mencionado no capítulo anterior. As ameaças heréticas do
Gnosticismo, dos Marcionitas e outras heresias mais, levaram aos pais da igreja
a criarem uma construção teológica para poder debater apologeticamente com tais
erros doutrinários. No primeiro século da igreja não se havia esta necessidade
haja vista que os apóstolos estavam vivos. Porém, com o passar dos anos os
mesmos foram morrendo. E se tornou necessário à sistematização da fé cristã.
Essa
sistematização começou a ser realizada; de modo mais lógico e organizado a
partir da metade do século segundo e início do século terceiro. Isso graças à
obra de Justino que facilitou a construção da fé cristã com a cultura local.
Nos primeiros séculos não conseguímos ter total ciência do pensamento teológico
de seus escritores. Por exemplo: Quando olhamos para os escritos de Paulo. Não
conseguimos sistematizar todo o seu pensamento teológico. Haja vista que suas
cartas tiveram propósitos específicos. Como exemplo o tratado acerca da
ressurreição, em I Co. 15. Sua intenção era corrigir um erro doutrinário da
igreja de Corinto acerca da doutrina da ressurreição. Só conhecemos seu
pensamento teológico acerca da ressurreição por este motivo.
Outro
exemplo é o de Inácio, onde na semana em que iria sofrer seu martírio escreveu
sua cosmovisão sobre o mesmo. Neste relato é impossível nos conhecermos a
totalidade de seu pensamento teológico, e também seria até injusto de nossa
parte, querer que alguém sistematizasse todo o seu pensamento teológico no
período de sua construção literária.
Com
as ameaças heréticas crescendo, a igreja teve que se defender criando um
conjunto de doutrinas. A igreja viu surgir em seu seio grandes escritores
teológicos. Tais como: Irineu de Leão, Clemente de Alexandria, Tertuliano de
Cartago e Orígenes, também de Alexandria.
1.2. IRINEU DE LEÃO
Local de Nascimento – Natural da Ásia Menor –
provavelmente de Esmirna.
Data de Nascimento – Por volta de 130 d.C.
Que o discipulou? – Foi discipulado por Policarpo.
Ordenação ao Ministério – Foi ordenado bispo de
Leão após o martírio do bispo Fontino.
Obras literárias – “A demonstração da fé
apostólica”, “A refutação da falsa gnosis” e “Contra as Heresias”.
Irineu
estava preocupado como todo e bom pastor em proteger o seu rebanho de falácias
heréticas. Seus escritos não têm a preocupação de agregar coisas novas. E sim,
ratificar a sã doutrina na vida cristã dos crentes de sua comunidade local.
Seu
pensamento teológico é centrado no fato de Deus como o Supremo Pastor. Sendo
assim, toda a história da humanidade é o discorrer de como este Supremo Pastor,
encaminhou e dirigiu a mesma até o dia da consumação final.
Em
seu escritos encontramos alguns conceitos teológicos sistematizados. Vejamos
alguns:
Doutrina do Homem – "A coroa da criação de Deus é a criatura humana. O ser humano foi
criado desde o princípio como um ser livre e portanto responsável. Essa
liberdade é tal, que mediante ela podemos conformar-nos mais e mais a vontade e
à natureza divina, e gozar de uma comunhão sempre crescente com nosso criador.
Mas, por outra parte, a criatura humana não foi criada desde um princípio em
toda sua perfeição. Como pastor que Deus é, Deus colocou o primeiro casal no
paraíso, não em um estado de perfeição, mas "como meninos" (ou
"como crianças"). O que isto quer dizer é que Deus tinha o propósito
de que ser humano crescesse de tal modo em comunhão com ele que com o tempo
chegasse a estar ainda acima dos anjos.”[1]
Doutrina dos Anjos – “Os anjos são seres superiores a nós somente provisoriamente. Quando se
cumprir na humanidade o propósito divino, os seres humanos estarão acima dos
anjos, pois gozaremos de uma comunhão com Deus mais estreita que a deles. A
função dos anjos é semelhante à do tutor que dirige os primeiros passos de um
príncipe. ainda por um momento o tutor está acima do príncipe, mas com o tempo
será subordinado a ele.”[2]
Doutrina do pecado – “Mas um dos anjos, Satanás, sentiu ciúmes do destino tão elevado que
Deus reservava à criatura humana e, portanto, tentou e fez pecarem Adão e Eva.
Como resultado do pecado, a criatura humana foi expulsa do paraíso, e seu
crescimento ficou torcido. Portanto, a história tal como se desenvolveu é
resultado do pecado”.[3]
Doutrina de Cristo – "O mesmo se pode dizer com respeito à encarnação de Deus em Jesus
Cristo. A encarnação não é o resultado do pecado humano. Ao contrário, desde o
princípio Deus tinha o propósito de se unir a humanidade como o fez em Cristo
Jesus. De fato, o Verbo encarnado foi o modelo que Deus utilizou ao criar o ser
humano segundo sua "imagem e semelhança". Adão e Eva foram criados
para que, depois de um processo de crescimento e instrução, chegassem a ser
como o Verbo que havia de encarnar. Por causa do pecado, o que sucedeu é que a
encarnação tomou outro propósito, e veio a ser também remédio contra o pecado e
meio para a derrota de Satanás".[4]
O Antigo Testamento – “O Antigo Testamento não é a revelação de um Deus estranho a fé cristã,
mas é a história de como Deus continuou os seus propósitos redentores mesmo
depois do pecado de Adão e Eva”.
Doutrina das coisas futuras – “Em suma sua ressurreição (Jesus) começou a
ressurreição final, da qual todos os que formam parte de seu corpo serão
participantes. Quando chegar a consumação final, e o Reino de Deus se
estabelecer, isto não vai querer dizer que a tarefa de Deus como pastor terá
terminado. Ao contrário, a humanidade redimida continuará crescendo em comunhão
com Deus, e o processo de divinização continuará por toda a eternidade. Levando-nos
sempre mais perto de Deus”.[5]
Irineu
em sua teologia formula ação de Deus na história e como a sua criação se
relacionou com o mesmo. Até o ponto auge da história da humanidade. Onde o
próprio Deus em Cristo se humanizou. Trazendo ao homem a possibilidade dele
comungar na história o que só poderia ser desfrutado na Eternidade, que por sua
vez, um dia chegará e trará a consumação do plano de Deus para humanidade.
1.3.CLEMENTE DE ALEXANDRIA
Local de Nascimento – Natural de Atenas.
Data de Nascimento – Por volta dos anos 150 d.C.
Que o discipulou? – Panteno.
Ordenação ao Ministério – Não exerceu o
ministério. Exerceu o magistério, iniciando em 202, como sucessor de seu
mestre.
Obras literárias –
Diferentemente
de Irineu de Leão, Clemente de Alexandria não tinha o intuito de conduzir um
rebanho acerca da sã doutrina cristã. Sua teologia foi formulada através de
forte influência do pensamento filosófico de sua época. Essa construção de sua
cosmovisão, teve início em sua conversão. O mesmo buscou algum mestre que
conseguisse explicar-lhe sobre o que de fato era o cristianismo. E encontrou em
Panteno alguém que de fato o fizera.
Clemente
não foi pastor como Irineu, ele foi mestre, e mestre dos mais brilhantes
intelectuais do império. Haja vista que Alexandria era considerada como a
capital do império Romano, no que diz respeito a intelectualidade. Lá se
encontrava a famosíssima biblioteca e seu museu.
Por
ele não ser pastor, seu intuito não é meramente repetir os dogmas dos
apóstolos. E sim, ajudar aqueles que buscam respostas mais profundas acerca do
que é a verdade. Seu intuito é convencer os pensadores pagãos que o
cristianismo não é uma religião absurda, dotada em seu corpo de indoutos e
ignorantes.
Seu
pensamento permeava em que Deus havia se revelado aos judeus através da lei. E
aos gregos através da filosofia. E por este motivo, qualquer um dos lados tinha
o intuito de conhecer o que de fato é a verdade. Em sua opinião, só existe uma
verdade, tendo sido revelada de forma diferente a estes dois povos. Sua defesa
acerca desta tese é que as Escrituras são cheias de alegorias, parábolas,
metáforas, que não podem ser traduzidas de forma literal. Pois o seu
significado é mais profundo. E muitos filósofos alcançaram este significado
profundo de outra forma.
Sua
exegese se dá de forma alegórica e esta marca será uma marca da escola
Aleandrina, como veremos no futuro, como por exemplo em Orígenes. Sua principal
ênfase no discurso foi acerca do Verbo Encarnado, onde o Ser Inefável (segundo
Platão e outros pensadores antes do mesmo) se deu a revelar a humanidade, e por
consequência os filósofos e os profetas puderam conhecer no Verbo, o que é de
fato a verdade. Essa sua perspectiva faz seu pensamento ser Cristocentrico.
Podemos
observar que a maior preocupação de Clemente é construir um discurso teológico
que faça ponte entre a pessoa de Deus e a cultura local. Porém, sua proposta
alcançou não a massa, mais simples em seu modo de pensar, e sim a classe mais
erudita, acadêmica.
1.4. TERTULIANO DE CARTAGO
Local de Nascimento – Cartago na África
Data de Nascimento – Por volta dos anos 150 d.C.
Que o discipulou? –
Ordenação ao Ministério – Não exerceu o
ministério.
Obras literárias – “Apologética”, “Do Batismo”,
“Prescrição contra os heréticos”, “Da oração”, “Tratado sobre a alma”, “Contra
Marcião” e “Contra Praxeas”.
Este
homem é considerado como uma das figuras mais ilustres do século II e III da
história da igreja. Também é reconhecido como o mais brilhante teólogo ortodoxo
entre os pais da igreja. Seus escritos tiveram duas ênfases: refutar as
heresias e convencer aos incrédulos acerca da veracidade do evangelho de Jesus.
Neste
grande teólogo encontramos uma grande influência jurídica. Ao contrário de
Clemente e Orígenes que tinham uma grande influência da filosofia. Seu
pensamento foi alicerçado com uma solidez jurídica tremenda. Essa influência
jurídica se deu pela sua formação. Tertuliano se formou em direito em Roma,
recebendo uma extensa educação em retórica e leis.
Foi
o primeiro dos escritores da história da igreja a escrever seus tratados em
latim. Ele também foi o primeiro a tratar a teologia como uma ciência autônoma,
sem precisar de outras ciências e nem outros métodos. Ele foi o responsável
pelo início da sistematização Bíblica. Vejamos:
Da Bibliologia – Tertuliano sempre deu o devido
valor as Sagradas Escrituras. Para ele a Bíblia não era somente a revelação de
Deus, mas também a única que em podemos realmente confiar. Seu zelo pela Bíblia
o fez considerar a mesma como patrimônio somente a igreja.
Da Trindade – Ele foi o primeiro teólogo a
utilizar-se do termo para a descrição da manifestação de nosso Deus. Foi o
primeiro a cunha os temos – ‘uma substância”, “três pessoas” – Esses termos
proporcionaram uma melhor elucidação a cerca dos ministérios do Pai, do Filho e
do Espírito Santo. Também mais a frente se tornaram grandes armas na luta
contra o arianismo.
Da Cristologia – Foi também brilhante ao
descrever a dupla natureza de Cristo, a saber a natureza divina e a natureza
humana. Sua concepção das duas naturezas foram importantíssimas para o concílio
de Nicéia.
Da Pneumatologia – Sua contribuição a cerca do
Espírito Santo se dá no fato do reconhecimento do mesmo como o próprio Deus,
sendo Ele a manifestação da terceira pessoa da trindade. Um ser caráter
pessoal, divino, a semelhança do Pai e do Filho.
Tertuliano
em um determinado momento de sua vida se tornou montanista. A percepção
aparentemente que temos que esse fato se dá devido ao mesmo ter um grande zelo
pelo uma vida piedosa e por encontrar na igreja muitas divergência da práxis da
vida cristã da recomendada na Palavra de Deus.
No
final de sua vida ele se afasta também dos montanistas criando uma nova seita
chamada “Tertulianistas” sendo ele mesmo o fundado e dogmatizador da mesma. O
que nos parece é que sua personalidade forte e sua genialidade intelectual o
impediu de continuar a desfrutar do convívio da comunhão com os irmãos no seio
da igreja ao qual o mesmo fazia parte.
BIBLIOGRAFIA:
CAIRNS, E.E. O
Cristianismo Através do Século. São Paulo: Vida. 2006.
GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São
Paulo: Vida Nova, 1995.
SILVA, Elias Gomes da. O pensamento Teológico de
Tertuliano. São Paulo. – consultado no site: www.monergismo.com
– acessado em 29/04/2012, às 18:02h.
[1]
GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo.
São Paulo: Vida Nova, 1995. pág.112.
[2]
GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo.
São Paulo: Vida Nova, 1995. pág.113.
[3] GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São
Paulo: Vida Nova, 1995. pág.113.
[4] GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São
Paulo: Vida Nova, 1995. pág.113.
[5]
GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo.
São Paulo: Vida Nova, 1995. pág.114.
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