segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Capítulo XII – Martinho Lutero: o caminho da reforma.


Capítulo XII – Martinho Lutero: o caminho da reforma.
“Muitos têm crido que a fé cristã é uma coisa simples e fácil, e até têm chegado a contá-la entre as virtudes. Isso ocorre porque não a têm experimentado de verdade, nem têm provado a grande força que existe na fé..”
(Martinho Lutero)


1.1. INTRODUÇÃO:
            Martinho Lutero sem sombra de dúvidas é o homem mais comentado, debatido e questionado da história da igreja. Para o catolicismo romano ele é a serpente que pairou na ceara do Senhor e trouxe inúmeros prejuízos. Para os protestantes ele é simplesmente um notável herói que trouxe novamente a fé cristã genuína aos seus fiéis. Porém, estes dois extremos têm ao longo dos anos vem sendo abandonados. E tanto, católicos, como protestantes, desmitificaram a figura de Martinho Lutero em suas concepções.
            Os católicos conseguem enxergar que Martinho não foi um monge puro e simplesmente rebelde em suas condutas e convicções. Já os protestantes, conseguem enxergar que Lutero não foi um homem que esteve livre de tentações e das mazelas ocasionadas pelo pecado como todo e qualquer ser humano.
             Ao nos debruçarmos sobre a vida de Lutero encontramos um homem extremamente erudito, inteligente, mas ao mesmo tempo, um homem rude e muito duro em algumas posições. Seus questionamentos e convicções eram sinceros. O desejo de seu coração era esclarecer, as massas populares que não possuíam acesso a informações que lhes eram necessário para abstrai tal conhecimento para construção e solidificação de sua fé.
            Quando clarifica em sua mente e coração o que Deus queria que ele se posicionasse de forma extrema a certos erros e abusos cometidos por homens poderosos que detinham em sua mão o poder. Ele não hesitava e com muita coragem e caráter afirma suas convicções seja a quem fosse. Porém, sua paixão exagera e suas convicções o levaram a cometer muitos erros, e não somente ele, como também seus seguidores. Mais tarde eles se arrependeriam de tal coisa profundamente.
            Alguns fatores favoreceram a Lutero durante a sua empreitada a cerca da construção de sua cosmovisão. A invenção da imprensa, por exemplo, possibilitou que os escritos de Lutero se difundissem rapidamente nas mãos do povo. Outro fator importante a ser destacado foi o crescente nacionalismo alemão ao qual Lutero era um participante deste movimento, em muitas questões Lutero pode contar com ajuda de homens que também sonhavam que a reforma acontecesse. Erasmo era um dos que apoiava Lutero em algumas questões. As reformas políticas que Alemanha vinha sofrendo impediu também que Lutero fosse condenado. Quando os poderosos resolveram tomar uma atitude, já era tarde demais.
            Gosto do comentário de González acerca da vida e obra de Lutero. Diz ele: “Ao estudar a vida de Lutero e também a sua obra, uma coisa fica bem clara: é que a tão esperada reforma se produziu, não porque Lutero ou outra pessoa se havia proposto a isso, mas porque ele chegou no momento oportuno e porque nesse momento o Reformador, e muitos outros junto dele, estiveram dispostos a cumprir sua responsabilidade histórica.

1.2. BREVE BIOGRAFICA DE LUTERO            :
            Martinho nasceu em 1483, em Eislebem, Alemanha. Seus pais eram camponeses, pessoas simples que trabalhavam em minas. Lutero não teve a melhor das infâncias, seus pais eram muito exigentes e lhe cobravam de modo extremo e severo que Martinho se dedicasse aos estudos. A vontade de seu pai era que Matinho se tornasse um advogado. Porém, Lutero não tinha essa profissão em seu coração.
            Em 1505, faltando pouco para completar 22 anos, Lutero ingressou no monge Agostiniano de Erfurt. As causas que levaram Martinho a tomar tal decisão foram muitas. Durante uma tempestade uma tormenta elétrica apavorou Lutero, e o deixou com medo do inferno, desesperado o mesmo prometeu a Santa Ana que se lhe poupasse a vida ele iria se dedica ao monastério. Outro possível fator é a questão da imposição de seu pai em relação ao mesmo se tornar advogado. Porém, o fator mais latente em Lutero era seu interesse sobre a salvação. Martinho não conseguia nutrir em seu coração um desejo de construir algum tipo de carreira, pois enxergava a vida como uma coisa efêmera. Sendo assim, um extremo incomodo brotava em seu coração sobre sua vida após a morte.
            Martinho fora ordenado sacerdote ao final de seu noviciado. Lutero se destacava entre os monges pelo seu extremo temor de Deus. Para todos os outros monges, uma vida livre de pecados e com práticas de boas obras já lhes eram suficientes, já lhes seriam necessárias para que fossem salvos do juízo de Deus. Porém, para Lutero, estas coisas não funcionavam. Martinho tinha uma profunda convicção de ser um pecador.
Mesmo, ele se confessando sempre, cumprindo seus deveres monásticos, se autoflagelando tentando matar os desejos pecaminosos de sua carne, ele não conseguia se enxergar livre deste sentimento de miséria pecadora. Lutero enxergava a Deus como um carrasco, um juiz severo, muito parecido com seus pais e professores.
Diante desta situação seu conselheiro, que era seu superior, mandou que Lutero fosse estudar o misticismo. Durante algum tempo, a semelhança do monasticismo, Lutero se deteve no misticismo. Porém, o axioma dos místicos era que todo homem deveria apenas a amar a Deus, pois o homem é um resultado de seu amor.
Para o nosso nobre monge, amar alguém que ele atribuía uma visão severa e vingadora era impossível. Lutero projetava em Deus a imagem que tinha de seus pais e professores do passado. Martinho não se relacionava com Deus por amor, mas sim por medo do castigo eterno, o inferno.
Seu superior percebendo que o misticismo não funcionara com Martinho. Lembrou-se do caso de Jerônimo, que se sentia muito tentado e tinha um tamanho senso de pecado. E, quando o mesmo se dedicou ao estudo das Sagradas Escrituras e ao hebraico, encontrou alívio e respostas para sua alma.
Lutero foi enviado para Wittenberg para lecionar e cuidar dos paroquianos daquela localidade. Alguns, erroneamente acreditam que fora ao ter acesso neste momento as Escrituras que Lutero se converteu. Porém, vale ressaltar que Martinho era um monge Agostiniano e deveria recitar em suas orações e cânticos os Salmos, e que também em 1512, Lutero se graduou em Doutor em Teologia.
Em 1513, Lutero começou uma exposição do livro de Salmos. Antes o monge recitava os Salmos dentro do calendário litúrgico. Agora, ele se aprofundava e enxergava os Salmos como uma exposição do Cristo que sofria inúmeras dores para remissão dos pecados da humanidade. Essa série de exposições iniciou Lutero para a construção de sua teologia e cosmovisão acerca da Bíblia e da pessoa de Cristo.
A conversão de Lutero se iniciou em 1515, quando o mesmo começou a realizar uma exposição do livro de Romanos. Como ele mesmo conta o famoso verso: “o justo viverá pela fé”. Não foi imediatamente absorvido por Lutero de modo fácil. Haja vista, que o versículo na sua parte inicial diz: “no evangelho a justiça de Deus se revela”. Nosso querido Martinho tinha uma enorme dificuldade com esta questão “a justiça de Deus”. Anteriormente nós já falamos como Lutero enxergava Deus e sua justiça. Foi difícil para Lutero se livrar desta cosmovisão.
Um tempo depois Lutero conseguiu entender que a “justiça de Deus” ao qual o apóstolo Paulo falará no texto, não era uma questão de meritocrática pessoal de boas obras diante de Deus para a sua própria justificação, mas, que o próprio evangelho, ou seja, a própria obra de salvação feita por Jesus na cruz do Calvário propiciou o homem ser justificado por Ele, Jesus, que a si mesmo se entregou por nós. E, que essa justificação em Cristo, se dava pela fé, era gratuita, porque a mesma era baseada nos méritos de Jesus e não nos nossos.
Lutero comentando a sua descoberta ele diz: “senti que havia nascido de novo e que as portas do paraíso me haviam sido abertas. As Escrituras todas tiveram um novo sentido. E a partir de então a frase “a justiça de Deus” não me encheu mais de ódio, mas se tornou indizivelmente doce em virtude de um grande amor”.[1]

1.3. ACONTECIMENTOS POSTERIORES A CONVERSÂO:
            Após sua descoberta, Lutero continuou se dedicando aos estudos das Escrituras Sagradas. Não foi imediatamente que ele começou a empreitada de desbancar as doutrinas romanas de sua época. Até mesmo porque ele inicialmente não enxergou que sua nova cosmovisão Bíblica se dirigia para contramão das doutrinas da igreja ao qual representava.
            Lutero começou a divulgar suas teses no círculo acadêmico ao qual estava inserido. Sua intenção inicial não era promulgar para todas as suas teses. Até que, em um determinado momento compôs as 95 teses. Eram comuns naquela época debates acadêmicos sobre teses novas. Porém, Martinho estava atacando diretamente toda teologia escolástica e por consequência a igreja católica. No dia do debate, as teses de Lutero não surtirão o efeito que ele esperava. Só compareceram para o debate os seus colegas de academicismo, e não estava presente ninguém de fora, oriundo de outro canto do mundo como representante da igreja.
            Nosso querido monge após este fato escreveu novas teses, e em um delas atacou diretamente a venda das indulgências. Lutero jamais imaginaria que suas novas teses tomariam tamanha proporção que tomaram. Rapidamente toda Europa tinha em suas mãos os Escritos de Lutero que contrariavam diretamente seus superiores malignos, como exemplo o papa Leão X. Que tão cego pela busca do poder e de construir a basílica de São Pedro, autorizou e legalizou as maiores loucuras e devaneios cometidos por um papa.
            Foi durante este tempo que Lutero fixou as suas 95 teses na catedral de Wittenberg. Suas teses estavam escritas em Latim, nosso querido Martinho jamais imaginaria que tomaria as proporções que tomaram. Muitos concordavam com Lutero e estavam cansados dos exploradores estrangeiros que estava usurpando o povo alemão. E então começou uma revolução sobre as teses expostas. As teses foram fixadas no dia 31 de Outubro de 1517, véspera do dia de todos os santos, este dia se tornou tão importante para os cristãos protestantes, que é nele que se comemora do dia reforma protestante.
            Após estes acontecimentos Lutero se tornou um inimigo da igreja mesmo que o mesmo não quisesse ser. Duque Frederico escondeu Lutero de toda tirania dos poderes até que o mesmo tivesse um julgamento justo. Haja vista que 100 anos antes, John Huss não desfrutará de tal coisa e fora condenado injustamente.
            Martinho passou por diversos debates, o mais conhecido deles contra Eck que desafiou outro professor da Universidade que defendia as teses de Lutero. O monge percebendo a maldade de Eck interveio e participou do debate. Lutero era muito melhor que Eck no domínio das Escrituras, Eck dominava o direito canônico e a teologia medieval. Lutero caiu na cilada de Eck e se identificou com as doutrinas de Huss, que havia sido condenado como herege.
            Diante de muita disputa política e partidária, por último Martinho fora levado a Worms, que era o imperador da Alemanha. Este pediu que Lutero se retrata-se de seus escritos e teses. Lutero respondeu: “Não posso nem quero retratar-me de coisa alguma, pois ir contra a minha consciência não é justo nem seguro. Deus me ajude. Amém".
            O papa emitiu uma bula, na mesma estava relatando a rebeldia de Lutero e pedindo que todo e qualquer de seus descritos fossem queimados, pois se tratavam de heresias e afronta a santa igreja. Quando Lutero recebeu a bula, ele a queimou, rompendo totalmente com Roma e depois do que falara diante do imperador, se recusando se retratar, rompia também com o império. Bastando somente a Lutero se lançar nas mãos de Deus.

           
           
           



[1] GONZALEZ, Justo L. A era dos reformadores. São Paulo: Vida Nova, 2005. Pg. 50. 

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