Capítulo XII – Martinho Lutero: o caminho da reforma.
“Muitos têm crido que a
fé cristã é uma coisa simples e fácil, e até têm chegado a contá-la entre as
virtudes. Isso ocorre porque não a têm experimentado de verdade, nem têm provado
a grande força que existe na fé..”
(Martinho Lutero)
1.1. INTRODUÇÃO:
Martinho
Lutero sem sombra de dúvidas é o homem mais comentado, debatido e questionado
da história da igreja. Para o catolicismo romano ele é a serpente que pairou na
ceara do Senhor e trouxe inúmeros prejuízos. Para os protestantes ele é
simplesmente um notável herói que trouxe novamente a fé cristã genuína aos seus
fiéis. Porém, estes dois extremos têm ao longo dos anos vem sendo abandonados. E
tanto, católicos, como protestantes, desmitificaram a figura de Martinho Lutero
em suas concepções.
Os
católicos conseguem enxergar que Martinho não foi um monge puro e simplesmente
rebelde em suas condutas e convicções. Já os protestantes, conseguem enxergar
que Lutero não foi um homem que esteve livre de tentações e das mazelas
ocasionadas pelo pecado como todo e qualquer ser humano.
Ao nos debruçarmos sobre a vida de Lutero
encontramos um homem extremamente erudito, inteligente, mas ao mesmo tempo, um
homem rude e muito duro em algumas posições. Seus questionamentos e convicções eram
sinceros. O desejo de seu coração era esclarecer, as massas populares que não
possuíam acesso a informações que lhes eram necessário para abstrai tal
conhecimento para construção e solidificação de sua fé.
Quando
clarifica em sua mente e coração o que Deus queria que ele se posicionasse de
forma extrema a certos erros e abusos cometidos por homens poderosos que
detinham em sua mão o poder. Ele não hesitava e com muita coragem e caráter
afirma suas convicções seja a quem fosse. Porém, sua paixão exagera e suas
convicções o levaram a cometer muitos erros, e não somente ele, como também
seus seguidores. Mais tarde eles se arrependeriam de tal coisa profundamente.
Alguns
fatores favoreceram a Lutero durante a sua empreitada a cerca da construção de
sua cosmovisão. A invenção da imprensa, por exemplo, possibilitou que os
escritos de Lutero se difundissem rapidamente nas mãos do povo. Outro fator
importante a ser destacado foi o crescente nacionalismo alemão ao qual Lutero
era um participante deste movimento, em muitas questões Lutero pode contar com
ajuda de homens que também sonhavam que a reforma acontecesse. Erasmo era um
dos que apoiava Lutero em algumas questões. As reformas políticas que Alemanha
vinha sofrendo impediu também que Lutero fosse condenado. Quando os poderosos
resolveram tomar uma atitude, já era tarde demais.
Gosto
do comentário de González acerca da vida e obra de Lutero. Diz ele: “Ao estudar
a vida de Lutero e também a sua obra, uma coisa fica bem clara: é que a tão
esperada reforma se produziu, não porque Lutero ou outra pessoa se havia
proposto a isso, mas porque ele chegou no momento oportuno e porque nesse
momento o Reformador, e muitos outros junto dele, estiveram dispostos a cumprir
sua responsabilidade histórica.
1.2. BREVE BIOGRAFICA DE LUTERO :
Martinho
nasceu em 1483, em Eislebem, Alemanha. Seus pais eram camponeses, pessoas
simples que trabalhavam em minas. Lutero não teve a melhor das infâncias, seus
pais eram muito exigentes e lhe cobravam de modo extremo e severo que Martinho
se dedicasse aos estudos. A vontade de seu pai era que Matinho se tornasse um
advogado. Porém, Lutero não tinha essa profissão em seu coração.
Em
1505, faltando pouco para completar 22 anos, Lutero ingressou no monge
Agostiniano de Erfurt. As causas que levaram Martinho a tomar tal decisão foram
muitas. Durante uma tempestade uma tormenta elétrica apavorou Lutero, e o
deixou com medo do inferno, desesperado o mesmo prometeu a Santa Ana que se lhe
poupasse a vida ele iria se dedica ao monastério. Outro possível fator é a
questão da imposição de seu pai em relação ao mesmo se tornar advogado. Porém,
o fator mais latente em Lutero era seu interesse sobre a salvação. Martinho não
conseguia nutrir em seu coração um desejo de construir algum tipo de carreira,
pois enxergava a vida como uma coisa efêmera. Sendo assim, um extremo incomodo
brotava em seu coração sobre sua vida após a morte.
Martinho
fora ordenado sacerdote ao final de seu noviciado. Lutero se destacava entre os
monges pelo seu extremo temor de Deus. Para todos os outros monges, uma vida
livre de pecados e com práticas de boas obras já lhes eram suficientes, já lhes
seriam necessárias para que fossem salvos do juízo de Deus. Porém, para Lutero,
estas coisas não funcionavam. Martinho tinha uma profunda convicção de ser um
pecador.
Mesmo, ele se confessando sempre, cumprindo seus
deveres monásticos, se autoflagelando tentando matar os desejos pecaminosos de
sua carne, ele não conseguia se enxergar livre deste sentimento de miséria pecadora.
Lutero enxergava a Deus como um carrasco, um juiz severo, muito parecido com
seus pais e professores.
Diante desta situação seu conselheiro, que era
seu superior, mandou que Lutero fosse estudar o misticismo. Durante algum
tempo, a semelhança do monasticismo, Lutero se deteve no misticismo. Porém, o
axioma dos místicos era que todo homem deveria apenas a amar a Deus, pois o
homem é um resultado de seu amor.
Para o nosso nobre monge, amar alguém que ele atribuía
uma visão severa e vingadora era impossível. Lutero projetava em Deus a imagem
que tinha de seus pais e professores do passado. Martinho não se relacionava
com Deus por amor, mas sim por medo do castigo eterno, o inferno.
Seu superior percebendo que o misticismo não
funcionara com Martinho. Lembrou-se do caso de Jerônimo, que se sentia muito
tentado e tinha um tamanho senso de pecado. E, quando o mesmo se dedicou ao
estudo das Sagradas Escrituras e ao hebraico, encontrou alívio e respostas para
sua alma.
Lutero foi enviado para Wittenberg para lecionar
e cuidar dos paroquianos daquela localidade. Alguns, erroneamente acreditam que
fora ao ter acesso neste momento as Escrituras que Lutero se converteu. Porém,
vale ressaltar que Martinho era um monge Agostiniano e deveria recitar em suas
orações e cânticos os Salmos, e que também em 1512, Lutero se graduou em Doutor
em Teologia.
Em 1513, Lutero começou uma exposição do livro de
Salmos. Antes o monge recitava os Salmos dentro do calendário litúrgico. Agora,
ele se aprofundava e enxergava os Salmos como uma exposição do Cristo que
sofria inúmeras dores para remissão dos pecados da humanidade. Essa série de exposições
iniciou Lutero para a construção de sua teologia e cosmovisão acerca da Bíblia
e da pessoa de Cristo.
A conversão de Lutero se iniciou em 1515, quando
o mesmo começou a realizar uma exposição do livro de Romanos. Como ele mesmo
conta o famoso verso: “o justo viverá pela fé”. Não foi imediatamente absorvido
por Lutero de modo fácil. Haja vista, que o versículo na sua parte inicial diz:
“no evangelho a justiça de Deus se revela”. Nosso querido Martinho tinha uma
enorme dificuldade com esta questão “a justiça de Deus”. Anteriormente nós já
falamos como Lutero enxergava Deus e sua justiça. Foi difícil para Lutero se
livrar desta cosmovisão.
Um tempo depois Lutero conseguiu entender que a “justiça
de Deus” ao qual o apóstolo Paulo falará no texto, não era uma questão de
meritocrática pessoal de boas obras diante de Deus para a sua própria
justificação, mas, que o próprio evangelho, ou seja, a própria obra de salvação
feita por Jesus na cruz do Calvário propiciou o homem ser justificado por Ele,
Jesus, que a si mesmo se entregou por nós. E, que essa justificação em Cristo,
se dava pela fé, era gratuita, porque a mesma era baseada nos méritos de Jesus
e não nos nossos.
Lutero comentando a sua descoberta ele diz: “senti
que havia nascido de novo e que as portas do paraíso me haviam sido abertas. As
Escrituras todas tiveram um novo sentido. E a partir de então a frase “a
justiça de Deus” não me encheu mais de ódio, mas se tornou indizivelmente doce
em virtude de um grande amor”.[1]
1.3. ACONTECIMENTOS POSTERIORES A CONVERSÂO:
Após
sua descoberta, Lutero continuou se dedicando aos estudos das Escrituras
Sagradas. Não foi imediatamente que ele começou a empreitada de desbancar as
doutrinas romanas de sua época. Até mesmo porque ele inicialmente não enxergou
que sua nova cosmovisão Bíblica se dirigia para contramão das doutrinas da
igreja ao qual representava.
Lutero
começou a divulgar suas teses no círculo acadêmico ao qual estava inserido. Sua
intenção inicial não era promulgar para todas as suas teses. Até que, em um
determinado momento compôs as 95 teses. Eram comuns naquela época debates
acadêmicos sobre teses novas. Porém, Martinho estava atacando diretamente toda
teologia escolástica e por consequência a igreja católica. No dia do debate, as
teses de Lutero não surtirão o efeito que ele esperava. Só compareceram para o
debate os seus colegas de academicismo, e não estava presente ninguém de fora,
oriundo de outro canto do mundo como representante da igreja.
Nosso
querido monge após este fato escreveu novas teses, e em um delas atacou
diretamente a venda das indulgências. Lutero jamais imaginaria que suas novas
teses tomariam tamanha proporção que tomaram. Rapidamente toda Europa tinha em
suas mãos os Escritos de Lutero que contrariavam diretamente seus superiores
malignos, como exemplo o papa Leão X. Que tão cego pela busca do poder e de
construir a basílica de São Pedro, autorizou e legalizou as maiores loucuras e
devaneios cometidos por um papa.
Foi
durante este tempo que Lutero fixou as suas 95 teses na catedral de Wittenberg.
Suas teses estavam escritas em Latim, nosso querido Martinho jamais imaginaria
que tomaria as proporções que tomaram. Muitos concordavam com Lutero e estavam
cansados dos exploradores estrangeiros que estava usurpando o povo alemão. E
então começou uma revolução sobre as teses expostas. As teses foram fixadas no
dia 31 de Outubro de 1517, véspera do dia de todos os santos, este dia se tornou
tão importante para os cristãos protestantes, que é nele que se comemora do dia
reforma protestante.
Após
estes acontecimentos Lutero se tornou um inimigo da igreja mesmo que o mesmo não
quisesse ser. Duque Frederico escondeu Lutero de toda tirania dos poderes até
que o mesmo tivesse um julgamento justo. Haja vista que 100 anos antes, John
Huss não desfrutará de tal coisa e fora condenado injustamente.
Martinho
passou por diversos debates, o mais conhecido deles contra Eck que desafiou
outro professor da Universidade que defendia as teses de Lutero. O monge
percebendo a maldade de Eck interveio e participou do debate. Lutero era muito
melhor que Eck no domínio das Escrituras, Eck dominava o direito canônico e a
teologia medieval. Lutero caiu na cilada de Eck e se identificou com as
doutrinas de Huss, que havia sido condenado como herege.
Diante
de muita disputa política e partidária, por último Martinho fora levado a
Worms, que era o imperador da Alemanha. Este pediu que Lutero se retrata-se de
seus escritos e teses. Lutero respondeu: “Não posso nem quero retratar-me de
coisa alguma, pois ir contra a minha consciência não é justo nem seguro. Deus
me ajude. Amém".
O
papa emitiu uma bula, na mesma estava relatando a rebeldia de Lutero e pedindo
que todo e qualquer de seus descritos fossem queimados, pois se tratavam de
heresias e afronta a santa igreja. Quando Lutero recebeu a bula, ele a queimou,
rompendo totalmente com Roma e depois do que falara diante do imperador, se
recusando se retratar, rompia também com o império. Bastando somente a Lutero
se lançar nas mãos de Deus.
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