segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Capítulo XIV - Zuínglio e Calvino organizam o pensamento protestante.


Capítulo XIV – Zuínglio e Calvino organizam o pensamento protestante.
“Se o homem interior é tal que acha seu deleite na lei de Deus, porque tem sido criado conforme a imagem divina, com a finalidade de ter comunhão com Ele, é certo que não haverá lei nem palavra alguma que lhe cause mais deleite do que a Palavra de Deus.”
(Ulríco Zwínglio)



1.1.  Introdução:
Como anteriormente estudamos na vida do grande reformador Lutero, o mesmo nunca deteve uma preocupação em construir o seu pensamento de forma sistemática. Por este motivo sua construção teológica foi conhecida como luterana ou evangélica. Porém, Zuínglio e Calvino já se preocuparam em organizar e sistematizar o que em um futuro ficaria conhecido como “teologia reformada” ou “pensamento reformado”.
A teologia reformada rapidamente foi espalhada pelos seguintes países: Holanda, Escócia, Inglaterra, Suíça, etc. Alguns grandes pensadores estiveram envolvidos neste movimento que fora se espalhando por toda Europa, mas, dois se destacaram entre todos. Eles foram: Zuínglio e Calvino. Sem sombra de dúvidas estes foram os dois mais célebres pensadores deste movimento.

1.2.  TEOLOGIA REFORMADA:
Antes de começarmos a discorrer sobre a matéria, devemos primeiramente lançar base para a construção de nosso pensamento. Para isso, vamos conceituar primeiramente o que é teologia reformada. Roger Olson conceitua da seguinte forma:
“É uma forma de teologia protestante e, portanto, tem em comum com Lutero e com outros reformadores protestantes os três grandes princípios protestantes: a salvação pela Graça mediante a fé somente, a autoridade especial e final das Escrituras e o sacerdócio universal de todos os crentes. Entretanto, a teologia protestante reformada tem seu próprio toque teológico. Embora concorde inteiramente com Lutero no tocante à maioria das questões, trata de modo distinto várias questões doutrinárias, interpretando-as e enfatizando-as à sua própria maneira.
Não raro, ouve-se a generalização de que a teologia reformada é uma ramificação do pensamento protestante que enfatiza de modo especial a soberania de Deus”.[1]

            De fato a teologia reformada possui uma grande ênfase na Soberania Divina, mais este fator não a faz possuir ser a detentora de tal doutrina. Haja vista que, pensamentos de grandes homens do passado já enfatizavam de forma enfática a concepção da Soberania divina, exemplos claros desta afirmação são: Agostinho e Tomás de Aquino.
            Olson acredita que a identificação popular e também erudita da teologia da reforma com a ênfase na soberania de Deus, inclusive na providência e predestinação monergista, é resultado do fato de após a morte de Lutero, seu discípulo Filipe Melâncton, tenha tendido ao sinergismo e tenha abrandado o pensamento Luterano acerca da eleição. Os anabatistas e os anglicanos por sua vez não tinham uma posição sólida sobre o assunto, sempre estavam em variações sobre o assunto, mas, tinha uma forte inclinação ao sinergismo. Por este motivo, a identificação destes fatores com a teologia reformada, o que não quer dizer que a mesma possui o monopólio de tal questão.
            Os teólogos reformados iriam divergir dos pensamentos luteranos nas seguintes doutrinas: Soteriologia (Doutrina da Salvação), Eclesiologia (Doutrina da Igreja) e a teologia Sacramental. Iremos entender mais a frente as minúcias destas diferenças.
1.3.  A VIDA E A CARREIRA DO REFORMADOR ULRICO ZUÍNGLIO
Ulríco Zuínglio é conhecido como o pai da teologia reformada. O mesmo, teve o seu bilho ofuscado pelo seu colega João Calvino, que de modo brilhante sistematizou e organizou todo o pensamento reformado dando origem ao que nos conhecemos hoje como teologia sistemática. Calvino possuía um dom que todos os outros dois célebres pensadores não possuíam que era a capacidade de sistematização. Porém, segundo Roger Olson, fica muito difícil encontrarmos nos escritos de Calvino algo que seja criação de sua parte. Calvino fico muito conhecido pela divulgação que seus pensamentos tiveram através de seus sucessores que estudaram com ele mesmo, em Genebra, escola esta que ficou conhecida como “a mais perfeita escola de Cristo desde os tempos apostólicos”.
Zuínglio nasceu no dia 1º de Janeiro, de 1484, na cidade de Glarus na Suíça. Era oriundo de família de classe média alta, teve a felicidade de estudar em excelentes universidades tais como: Viena e Basiléia. Nestas universidades existiam uma forte ênfase humanistas por parte de seus pensadores. Em 1506 recebeu o título de Mestre em Teologia pela universidade da Basiléia, logo após retornou para sua cidade natal e iniciou seu pastorado. Logo foi destaque pelas suas pregações, escritos e também pelo seu patriotismo.
Olson destaca que o ponto crucial da vida do reformador Suiço foi seu encontro com Erasmo em 1516. A contar desta data tornou-se seguidor declarado do pensamento humanista de Erasmo e seu modo de pensar acerca da pessoa de Cristo. Tornou-se um defensor sem reservas do humanismo Bíblico. Em 1519, em Zurique, se tornou “sacerdote do povo” na Grande Münster (catedral) ao completar 35 anos.
Zuínglio foi um grande influenciador da sociedade em seu torno. Através de sua influência, juntamente com os líderes religiosos de sua cidade, solicitaram a prefeitura que as missas públicas fossem substituídas por cultos protestantes na igreja de Zurique e nas demais regiões. A contar de 1520 a reforma protestante ganhou tanta amplitude que quando chegou em 1530, quase não se achava mais vestígios do catolicismo romano.
As igrejas da época perderam as estátuas e seus ministros substituíram suas vestes talares sacerdotais por togas semelhantes as que eram usadas pelos professores universitários. Zuínglio começou a bradar de forma iminente contra o culto a Maria, as indulgências, e as orações pelos mortos (deixando claramente seu pensamento contrário ao purgatório) e ainda começaram a derrubar muitas outras doutrinas católicas tradicionais.
A reforma realizada sobre os ideais de Zuínglio foram além das reformas idealizadas pelas ideias de Lutero. Algumas pessoas ao observarem as mudanças e os paradigmas quebrados fixados nestes ideias chegaram a expressar a seguinte frase acerca das igrejas reformadas Suíças: “quatro paredes limpas e um sermão”. Já as igrejas Luteranas na Alemanha continuaram com muitos símbolos católicos medievais e também com sua administração realizadas pelos chamados bispos, mesmo Lutero afirmando que a função dos mesmos eram meramente administrativas e não espiritual.
Zuínglio fora um exímio pregador e escritor. Suas obras mais conhecidas são: Da providência de Deus (1531), Da religião verdadeira e falsa (1525), Explicação da religião de Zuínglio (1530) e Exposição breve e clara da fé cristã (1531). A obra “da religião verdadeira e falsa” é considerada com o primeira obra dogmática (sistemática) reformada.
O célebre reformador morreu no dia 11 de Outubro de 1931, ao envolver-se em uma guerra contra os católicos da Suíça. Ele e vários outros ministros protestantes foram a frente de batalha, que ficou conhecida como: “A segunda guerra de Kappel”. Zuínglio morreu em meio a luta junto de outros soldados de Zurique sua cidade.

1.4.  A TEOLOGIA DE ZUÍNGLIO
A semelhança de Lutero o reformador suíço enfatizava o ensino das Escrituras como autoridade final para a fé e práticas cristãs. Lutero acreditava que na Bíblia existia “um cânon dentro do cânon”, ou seja: as partes na Bíblia que não enfatizavam a Cristo eram secundárias. Já Zuínglio acreditava que toda a Escritura era inspirada sem diferenças em seu conteúdo. Lutero dava uma ênfase nos evangelhos por apresentar a Cristo, comparando as Escrituras a Jesus nesse sentido. Já Zuínglio não separava nenhuma porção das Escrituras como mais inspirada que outra.
Existiam algumas semelhanças em relação a forma de elucidação das Escrituras ao homem. Todos eles (Lutero, Zuínglio e Calvino) entendiam que era impossível ter o entendimento das Escrituras sem a iluminação do Santo Espírito. Sendo assim, o Espírito e as Escrituras andam juntos dentro deste aspecto.
Zuínglio pela sua formação acadêmica humanista pensava diferentemente de Lutero, que acreditava que o pensamento teológico não possuía nenhuma ligação com os filósofos. A semelhança dos pais apostólicos, Zuínglio acreditava que toda verdade provinha de Deus. E, sendo assim, seja a origem em que a mesma possuir, se o pensamento for verdade, ela é oriunda de Deus e que merece ser examinada. Uma prova deste fato é que no livro “Da providencia” o reformador suíço aproveita a teologia natural para explicar a existência de Deus.
O pensamento acerca da Soberania de Deus em Zuínglio ocupava o espaço em toda a sua teologia. Já na cosmovisão de Lutero se dava somente no que tange a doutrina sotereológica. Seu pensamento argumentava o seguinte: “Se Deus é Deus, é lógico que todas as coisas estão debaixo de sua autoridade e permissão”.
Acerca de sue pensamento sotereológico, nosso célebre pensador acreditava que Deus é que predestinava os eleitos e repudiava os demais. Sendo assim, ele não se utilizava da expressão “eleição para reprovação” para se remeter as demais pessoas que soberanamente o Senhor havia rejeitado em sua eleição.
No tocante a lei x evangelho, o reformador suíço tinha uma ênfase totalmente diferente de Lutero. Zuínglio acreditava que somente através da lei nós poderíamos saber a melhor forma para podermos servir melhor ao Senhor. A teologia reformada inicia através desse pensamento de Zuínglio uma forte ênfase na santificação e discipulado, totalmente contrário a Lutero.

1.5 ZUÍNGLIO SE OPÕE A LUTERO A RESPEITO DO SACRAMENTO
            Para Zuinglio o nome sacramento era uma forma errônea sobre a concepção das ordens que Jesus ordenara a sua igreja. Em sua concepção, era impossível algo material conceder algum tipo de Graça, ou até mesmo poder corporificar o sangue e o corpo de Cristo. Um dos seus versos favoritos sobre esta questão é: “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que vos tenho dito são espírito e são vida”. (João 6.63)
A divergência de pensamento se dava exatamente neste sentido. Para Zuínglio a ceia do Senhor e o Batismo apenas eram simbolismos da fé cristã. Mais tarde estes símbolos receberiam o nome de ordenanças.


1.5.1. O BATISMO NA COSMOVISÃO DE ZUÍNGLIO
Sua concepção de Batismo era uma forma de testemunho público de fé. Por este motivo ele não cria que o Batismo era uma forma de Deus conceder alguma Graça ou até mesmo salvação. Sua percepção era que só podia ser Batizado quem de fato já havia crido e confessado Cristo Jesus como seu único e suficiente salvador.
Porém, o nosso querido reformador acreditava no batismo infantil como um ato simbólico de participação da criança que já nascera inserida no povo de Deus. Sua ideia possuía a semelhança da circuncisão da Antiga Aliança. Quando uma criança era circuncidada ela automaticamente era inserida e vista como parte do povo Hebreu. Assim também uma criança que nascera de pais cristãos precisa exteriorizar as crenças de seus pais simbolizando que a mesma também fazia parte de tal comunidade de fé.
Essa sua percepção o fez discordar do movimento Anabatista que começou a rebatizar todo aquele cristão que havia se batizado quando criança. Pois, na concepção do movimento Anabatista aquele batismo não possuí validade. Haja vista que para que o Batismo seja realizado a pessoa antes deve ter se arrependido de seus pecados e posto sua fé única e exclusivamente em Cristo Jesus. O Batismo é o ato público dessa fé já absorvida e que agora é exposta.

1.5.2. A CEIA DO SENHOR NA COSMOVISÃO DE ZUÍNGLIO
A ceia do Senhor na cosmovisão de Zuínglio é um memorial. É quando a igreja do Senhor se reúne para uma refeição visando lembrar-se do que Cristo fizera na cruz do Calvário e também alimentar a esperança de que um dia Ele voltará e nos levará para o seu Reino Eterno e lá poderemos partilhar de suas bodas.
Vejamos o que Zuínglio diz:
“Comer o corpo de Cristo espiritualmente não é outra coisa senão confiar, de corpo e alma na misericórdia e na bondade de Deus em Cristo, ou seja, ter a certeza, a fé inabalável, de que Deus perdoará os nossos pecados e nos outorgará  a alegria da bem-aventurança eterna por causa de seu Filho, que foi feito inteiramente nosso e oferecido em nosso nome para reconciliar a justiça divina para nós.”[2]

Na concepção de Zuinglio todo cristão que pertencente ao corpo de Cristo deveria participar da Ceia do Senhor demonstrando ao seu irmão de fé e ordem sua ligação e comprometimento com Cristo e com sua Igreja.

Conclusão:
            Talvez fosse o momento de muitos historiadores reverem seus conceitos acerca da importância desse homem para a história da teologia cristã. Suas contribuições foram muitas para a construção sistemática da chamada fé reformada. Que por ironia levou o nome de outro reformador.  Infelizmente as pessoas se dirigem para Zuínglio somente como um pensador que divergiu de Lutero em relação aos Sacramentos e suas mais diversas facetas teológicas.
            Hoje sua influência teológica é claramente encontrada nos movimentos reformados, Anabatistas, Batistas e outros cristãos que foram altamente influenciadas em sua eclesiologia e teologia pelos pensamentos desse célebre pensador cristão.
           



[1] OLSON, Roger. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo: Vida. 2001. Pg. 407.
[2] OLSON, Roger. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo: Vida. 2001. Pg. 417.

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