Capítulo XIV – Zuínglio e Calvino organizam o pensamento protestante.
“Se o homem interior é
tal que acha seu deleite na lei de Deus, porque tem sido criado conforme a
imagem divina, com a finalidade de ter comunhão com Ele, é certo que não haverá
lei nem palavra alguma que lhe cause mais deleite do que a Palavra de Deus.”
(Ulríco Zwínglio)
1.1. Introdução:
Como anteriormente
estudamos na vida do grande reformador Lutero, o mesmo nunca deteve uma
preocupação em construir o seu pensamento de forma sistemática. Por este motivo
sua construção teológica foi conhecida como luterana ou evangélica. Porém, Zuínglio
e Calvino já se preocuparam em organizar e sistematizar o que em um futuro
ficaria conhecido como “teologia reformada” ou “pensamento reformado”.
A teologia reformada
rapidamente foi espalhada pelos seguintes países: Holanda, Escócia, Inglaterra,
Suíça, etc. Alguns grandes pensadores estiveram envolvidos neste movimento que
fora se espalhando por toda Europa, mas, dois se destacaram entre todos. Eles
foram: Zuínglio e Calvino. Sem sombra de dúvidas estes foram os dois mais célebres
pensadores deste movimento.
1.2. TEOLOGIA REFORMADA:
Antes de começarmos a
discorrer sobre a matéria, devemos primeiramente lançar base para a construção
de nosso pensamento. Para isso, vamos conceituar primeiramente o que é teologia
reformada. Roger Olson conceitua da seguinte forma:
“É uma forma de
teologia protestante e, portanto, tem em comum com Lutero e com outros
reformadores protestantes os três grandes princípios protestantes: a salvação
pela Graça mediante a fé somente, a autoridade especial e final das Escrituras
e o sacerdócio universal de todos os crentes. Entretanto, a teologia
protestante reformada tem seu próprio toque teológico. Embora concorde
inteiramente com Lutero no tocante à maioria das questões, trata de modo
distinto várias questões doutrinárias, interpretando-as e enfatizando-as à sua
própria maneira.
Não raro, ouve-se a
generalização de que a teologia reformada é uma ramificação do pensamento
protestante que enfatiza de modo especial a soberania de Deus”.[1]
De
fato a teologia reformada possui uma grande ênfase na Soberania Divina, mais
este fator não a faz possuir ser a detentora de tal doutrina. Haja vista que,
pensamentos de grandes homens do passado já enfatizavam de forma enfática a
concepção da Soberania divina, exemplos claros desta afirmação são: Agostinho e
Tomás de Aquino.
Olson
acredita que a identificação popular e também erudita da teologia da reforma
com a ênfase na soberania de Deus, inclusive na providência e predestinação
monergista, é resultado do fato de após a morte de Lutero, seu discípulo Filipe
Melâncton, tenha tendido ao sinergismo e tenha abrandado o pensamento Luterano
acerca da eleição. Os anabatistas e os anglicanos por sua vez não tinham uma
posição sólida sobre o assunto, sempre estavam em variações sobre o assunto,
mas, tinha uma forte inclinação ao sinergismo. Por este motivo, a identificação
destes fatores com a teologia reformada, o que não quer dizer que a mesma possui
o monopólio de tal questão.
Os
teólogos reformados iriam divergir dos pensamentos luteranos nas seguintes
doutrinas: Soteriologia (Doutrina da Salvação), Eclesiologia (Doutrina da
Igreja) e a teologia Sacramental. Iremos entender mais a frente as minúcias
destas diferenças.
1.3. A VIDA E A CARREIRA DO REFORMADOR ULRICO ZUÍNGLIO
Ulríco Zuínglio é conhecido como o pai da
teologia reformada. O mesmo, teve o seu bilho ofuscado pelo seu colega João
Calvino, que de modo brilhante sistematizou e organizou todo o pensamento
reformado dando origem ao que nos conhecemos hoje como teologia sistemática. Calvino
possuía um dom que todos os outros dois célebres pensadores não possuíam que
era a capacidade de sistematização. Porém, segundo Roger Olson, fica muito difícil
encontrarmos nos escritos de Calvino algo que seja criação de sua parte. Calvino
fico muito conhecido pela divulgação que seus pensamentos tiveram através de
seus sucessores que estudaram com ele mesmo, em Genebra, escola esta que ficou
conhecida como “a mais perfeita escola de Cristo desde os tempos apostólicos”.
Zuínglio nasceu no dia 1º de Janeiro, de 1484, na
cidade de Glarus na Suíça. Era oriundo de família de classe média alta, teve a
felicidade de estudar em excelentes universidades tais como: Viena e Basiléia. Nestas
universidades existiam uma forte ênfase humanistas por parte de seus
pensadores. Em 1506 recebeu o título de Mestre em Teologia pela universidade da
Basiléia, logo após retornou para sua cidade natal e iniciou seu pastorado. Logo
foi destaque pelas suas pregações, escritos e também pelo seu patriotismo.
Olson destaca que o ponto crucial da vida do
reformador Suiço foi seu encontro com Erasmo em 1516. A contar desta data
tornou-se seguidor declarado do pensamento humanista de Erasmo e seu modo de
pensar acerca da pessoa de Cristo. Tornou-se um defensor sem reservas do
humanismo Bíblico. Em 1519, em Zurique, se tornou “sacerdote do povo” na Grande
Münster (catedral) ao completar 35 anos.
Zuínglio foi um grande influenciador da sociedade
em seu torno. Através de sua influência, juntamente com os líderes religiosos
de sua cidade, solicitaram a prefeitura que as missas públicas fossem substituídas
por cultos protestantes na igreja de Zurique e nas demais regiões. A contar de
1520 a reforma protestante ganhou tanta amplitude que quando chegou em 1530,
quase não se achava mais vestígios do catolicismo romano.
As igrejas da época perderam as estátuas e seus
ministros substituíram suas vestes talares sacerdotais por togas semelhantes as
que eram usadas pelos professores universitários. Zuínglio começou a bradar de
forma iminente contra o culto a Maria, as indulgências, e as orações pelos
mortos (deixando claramente seu pensamento contrário ao purgatório) e ainda
começaram a derrubar muitas outras doutrinas católicas tradicionais.
A reforma realizada sobre os ideais de Zuínglio
foram além das reformas idealizadas pelas ideias de Lutero. Algumas pessoas ao
observarem as mudanças e os paradigmas quebrados fixados nestes ideias chegaram
a expressar a seguinte frase acerca das igrejas reformadas Suíças: “quatro
paredes limpas e um sermão”. Já as igrejas Luteranas na Alemanha continuaram
com muitos símbolos católicos medievais e também com sua administração realizadas
pelos chamados bispos, mesmo Lutero afirmando que a função dos mesmos eram
meramente administrativas e não espiritual.
Zuínglio fora um exímio pregador e escritor. Suas
obras mais conhecidas são: Da providência de Deus (1531), Da religião
verdadeira e falsa (1525), Explicação da religião de Zuínglio (1530) e Exposição
breve e clara da fé cristã (1531). A obra “da religião verdadeira e falsa” é
considerada com o primeira obra dogmática (sistemática) reformada.
O célebre reformador morreu no dia 11 de Outubro
de 1931, ao envolver-se em uma guerra contra os católicos da Suíça. Ele e vários
outros ministros protestantes foram a frente de batalha, que ficou conhecida como:
“A segunda guerra de Kappel”. Zuínglio morreu em meio a luta junto de outros
soldados de Zurique sua cidade.
1.4. A TEOLOGIA DE ZUÍNGLIO
A semelhança de Lutero o reformador suíço
enfatizava o ensino das Escrituras como autoridade final para a fé e práticas
cristãs. Lutero acreditava que na Bíblia existia “um cânon dentro do cânon”, ou
seja: as partes na Bíblia que não enfatizavam a Cristo eram secundárias. Já Zuínglio
acreditava que toda a Escritura era inspirada sem diferenças em seu conteúdo. Lutero
dava uma ênfase nos evangelhos por apresentar a Cristo, comparando as
Escrituras a Jesus nesse sentido. Já Zuínglio não separava nenhuma porção das
Escrituras como mais inspirada que outra.
Existiam algumas semelhanças em relação a forma
de elucidação das Escrituras ao homem. Todos eles (Lutero, Zuínglio e Calvino) entendiam
que era impossível ter o entendimento das Escrituras sem a iluminação do Santo
Espírito. Sendo assim, o Espírito e as Escrituras andam juntos dentro deste
aspecto.
Zuínglio pela sua formação acadêmica humanista
pensava diferentemente de Lutero, que acreditava que o pensamento teológico não
possuía nenhuma ligação com os filósofos. A semelhança dos pais apostólicos, Zuínglio
acreditava que toda verdade provinha de Deus. E, sendo assim, seja a origem em
que a mesma possuir, se o pensamento for verdade, ela é oriunda de Deus e que
merece ser examinada. Uma prova deste fato é que no livro “Da providencia” o reformador
suíço aproveita a teologia natural para explicar a existência de Deus.
O pensamento acerca da Soberania de Deus em Zuínglio
ocupava o espaço em toda a sua teologia. Já na cosmovisão de Lutero se dava
somente no que tange a doutrina sotereológica. Seu pensamento argumentava o
seguinte: “Se Deus é Deus, é lógico que todas as coisas estão debaixo de sua
autoridade e permissão”.
Acerca de sue pensamento sotereológico, nosso célebre
pensador acreditava que Deus é que predestinava os eleitos e repudiava os
demais. Sendo assim, ele não se utilizava da expressão “eleição para reprovação”
para se remeter as demais pessoas que soberanamente o Senhor havia rejeitado em
sua eleição.
No tocante a lei x evangelho, o reformador suíço
tinha uma ênfase totalmente diferente de Lutero. Zuínglio acreditava que
somente através da lei nós poderíamos saber a melhor forma para podermos servir
melhor ao Senhor. A teologia reformada inicia através desse pensamento de Zuínglio
uma forte ênfase na santificação e discipulado, totalmente contrário a Lutero.
1.5 ZUÍNGLIO SE OPÕE A LUTERO A RESPEITO DO
SACRAMENTO
Para
Zuinglio o nome sacramento era uma forma errônea sobre a concepção das ordens
que Jesus ordenara a sua igreja. Em sua concepção, era impossível algo material
conceder algum tipo de Graça, ou até mesmo poder corporificar o sangue e o
corpo de Cristo. Um dos seus versos favoritos sobre esta questão é: “O espírito é o que vivifica; a carne para
nada aproveita; as palavras que vos tenho dito são espírito e são vida”. (João
6.63)
A divergência de pensamento se dava exatamente
neste sentido. Para Zuínglio a ceia do Senhor e o Batismo apenas eram simbolismos
da fé cristã. Mais tarde estes símbolos receberiam o nome de ordenanças.
1.5.1.
O BATISMO NA COSMOVISÃO DE ZUÍNGLIO
Sua concepção de Batismo era uma forma de testemunho
público de fé. Por este motivo ele não cria que o Batismo era uma forma de Deus
conceder alguma Graça ou até mesmo salvação. Sua percepção era que só podia ser
Batizado quem de fato já havia crido e confessado Cristo Jesus como seu único e
suficiente salvador.
Porém, o nosso querido reformador acreditava no batismo
infantil como um ato simbólico de participação da criança que já nascera
inserida no povo de Deus. Sua ideia possuía a semelhança da circuncisão da
Antiga Aliança. Quando uma criança era circuncidada ela automaticamente era
inserida e vista como parte do povo Hebreu. Assim também uma criança que
nascera de pais cristãos precisa exteriorizar as crenças de seus pais simbolizando
que a mesma também fazia parte de tal comunidade de fé.
Essa sua percepção o fez discordar do movimento
Anabatista que começou a rebatizar todo aquele cristão que havia se batizado
quando criança. Pois, na concepção do movimento Anabatista aquele batismo não
possuí validade. Haja vista que para que o Batismo seja realizado a pessoa
antes deve ter se arrependido de seus pecados e posto sua fé única e
exclusivamente em Cristo Jesus. O Batismo é o ato público dessa fé já absorvida
e que agora é exposta.
1.5.2.
A CEIA DO SENHOR NA COSMOVISÃO DE ZUÍNGLIO
A ceia do Senhor na cosmovisão de Zuínglio é um
memorial. É quando a igreja do Senhor se reúne para uma refeição visando
lembrar-se do que Cristo fizera na cruz do Calvário e também alimentar a
esperança de que um dia Ele voltará e nos levará para o seu Reino Eterno e lá
poderemos partilhar de suas bodas.
Vejamos o que Zuínglio diz:
“Comer o corpo de Cristo espiritualmente não é
outra coisa senão confiar, de corpo e alma na misericórdia e na bondade de Deus
em Cristo, ou seja, ter a certeza, a fé inabalável, de que Deus perdoará os
nossos pecados e nos outorgará a alegria
da bem-aventurança eterna por causa de seu Filho, que foi feito inteiramente nosso
e oferecido em nosso nome para reconciliar a justiça divina para nós.”[2]
Na concepção de Zuinglio todo cristão que pertencente
ao corpo de Cristo deveria participar da Ceia do Senhor demonstrando ao seu irmão
de fé e ordem sua ligação e comprometimento com Cristo e com sua Igreja.
Conclusão:
Talvez
fosse o momento de muitos historiadores reverem seus conceitos acerca da importância
desse homem para a história da teologia cristã. Suas contribuições foram muitas
para a construção sistemática da chamada fé reformada. Que por ironia levou o
nome de outro reformador. Infelizmente
as pessoas se dirigem para Zuínglio somente como um pensador que divergiu de
Lutero em relação aos Sacramentos e suas mais diversas facetas teológicas.
Hoje
sua influência teológica é claramente encontrada nos movimentos reformados,
Anabatistas, Batistas e outros cristãos que foram altamente influenciadas em
sua eclesiologia e teologia pelos pensamentos desse célebre pensador cristão.
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