quinta-feira, 16 de abril de 2015

Resenha do Livro: "Andando com o tanque vazio" de Wayne Cordeiro

CORDEIRO, Wayne. Andando com o tanque vazio? Encha o tanque e renove sua paixão. São Paulo: Vida, 2011.

Roberto da Silva Meireles Rodrigues[1]

O autor da obra tem como finalidade abordar um assunto de extrema relevância para líderes religiosos. Ele parte de sua própria experiência e de uma pesquisa de campo realizada com os líderes que sofreram os mesmo sintomas apresentados por ele ao serem submetidos diariamente aos desafios que lhes são impostos por suas atribuições eclesiásticas.
            Wayne Cordeiro inicia sua obra falando sobre o período que foi abatido por uma doença chamada: Síndrome de Bournaut. A doença se dá devido a um excesso de atividades, falta de exercício físico e por uma forte gama de variações emocionais. O autor é pastor em uma mega igreja evangélica no Havaí, estando envolvido com a preparação e o treinamento de lideranças no âmbito cristão mundial.
            É extremamente interessante a narração do autor sobre o seu enfrentamento da doença. Na verdade, Cordeiro só dimensionou a gravidade da situação quando esteve diante de uma espécie de colapso, ocasião em que ele se viu sentado em uma calçada quando estava praticando esporte.
            Foi durante este momento difícil de sua vida que ele se deparou com um quadro que é muito preocupante em relação ao oficio pastoral. Pelo conteúdo de suas palavras, a impressão transmitida é que, a partir deste momento, seus olhos foram abertos para esta realidade da vocação pastoral.
Ele cita uma estatística feita nos Estados Unidos da América acerca do ministério pastoral. E a constatação desta estatística é no mínimo um alarme para os pastores. Ele diz que: 80% consideram que o ministério pastoral afeta suas famílias negativamente; 33% dizem que estar no ministério é claramente um risco para suas famílias; 75% relatam que já tiveram pelo menos uma vez alguma crise importante relacionada a estresse; 50% sentem-se incapazes de satisfazer as necessidades da função; 25% das esposas de pastor veem a agenda de trabalho do marido como uma fonte de conflito; os que estão no ministério têm a propensão a ver seu casamento acabar em divórcio na mesma proporção que os membros da igreja local; entre todas as profissões, o clero tem a segunda taxa mais alta de divórcio; 80% dos pastores dizem que não passam tempo suficiente com as esposas; 56% das esposas de pastores dizem que não têm amigos próximos; 45% das esposas de pastores dizem que o maior perigo para elas e sua família é o burnout físico, emocional, mental e espiritual; 52% dos pastores dizem que eles e suas esposas acreditam que estar no ministério pastoral é perigoso para o bem-estar e a saúde da família; 45,5% dos pastores dizem ter experimentado depressão ou burnout em um nível tal que precisaram tirar licença do ministério; 70% não têm alguém que considerem um amigo próximo (p. 32).
O autor relata um drama vivido por ele e também, acredito, que também seja experiência da grande maioria dos pastores. A expectativa em relação ao ministro é algo simplesmente impossível de ser satisfeito. Criou-se um mito sobre a figura do pastor que simplesmente requer-se do mesmo a perfeição. Não só deles, mas também de suas famílias. Fora criada uma espécie de figura de super-homem.
Ele conta como foi difícil para ele lidar com essa situação. Afinal de contas, o que iriam pensar dele? Será que seus liderados irão ainda lhe enxergar como um líder? Qual seria a reação das pessoas em relação à sua fraqueza e exposição?
Foi então que ele resolveu encarar a doença como deveria. Sua primeira atitude foi uma tentativa de se isolar na tentativa de obter um tempo para descanso e busca a Deus através de disciplina espirituais. Seu desejo era sair desse emaranhado de situações que nos envolvemos em nossos dia a dia.
É interessante a observação de Cordeiro acerca do que ele chama de “prima maligna” do burnout, a depressão. Ao trabalhar esta questão ele faz uma verdadeira lista de personalidades que tiveram problemas com depressão e conseguiram vence-la através da graça de Deus. Neste momento, o pastor se utiliza da perspectiva paulina de que o poder de Deus se aperfeiçoa em nossa fraqueza. Ele fundamenta essa questão com o fato destas grandes “personalidades”, mesmo em meio às suas fraquezas, se lançarem nas mãos de Deus e se tornarem pessoas que foram usadas pelo Altíssimo para fazer uma grande diferença no momento histórico em que estavam inseridos.
O autor irá dedicar uma boa parte da sua obra para comentar sobre os perigos da depressão e como identifica-la. A depressão é considerada por muitos estudiosos como a doença do século. Cordeiro também realiza apontamentos sobre possíveis fatores que concorrem para a culminação da depressão. Interessante é que o autor não só aponta o problema, mas também aponta soluções para o mesmo.
Nos capítulos finais do livro ele se apropria de sua experiência pessoal e aponta para possíveis resoluções que possam nos ajudar em nossas atribuições e vida cotidiana. Ele aponta ferramentas que foram desenvolvidas por ele em sua vida que a deixaram mais “leve”.
Trata-se de um excelente livro. Sua linguagem é simples e clara. Uma boa dica para a quebra de paradigmas sobre a questão do cristão não poder adoecer emocionalmente, e também um voz que soa como trombeta para alertar sobre a necessidade de cuidados pessoais de todo aquele que exerce liderança, seja ela em que âmbito for.       
Em minha singela opinião uma leitura importantíssima para todo líder cristão. Que Deus nos ajude a desenvolvermos uma espiritualidade sadia.



[1] Pastor-Presidente da Primeira Igreja Batista de Rocha Miranda, Rio de Janeiro. Mestrando em Ministérios Globais pelo Seminário Teológico Betel, Rio de Janeiro, e graduado em Teologia pela mesma instituição. Professor do Seminário Teológico Evangélico Peniel, Rio de Janeiro.

Um comentário:

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