CORDEIRO, Wayne. Andando com o tanque vazio? Encha o tanque
e renove sua paixão. São Paulo: Vida, 2011.
Roberto da Silva Meireles Rodrigues[1]
O autor da obra tem como finalidade abordar um
assunto de extrema relevância para líderes religiosos. Ele parte de sua própria
experiência e de uma pesquisa de campo realizada com os líderes que sofreram os
mesmo sintomas apresentados por ele ao serem submetidos diariamente aos
desafios que lhes são impostos por suas atribuições eclesiásticas.
Wayne Cordeiro inicia sua obra
falando sobre o período que foi abatido por uma doença chamada: Síndrome de
Bournaut. A doença se dá devido a um excesso de atividades, falta de exercício
físico e por uma forte gama de variações emocionais. O autor é pastor em uma
mega igreja evangélica no Havaí, estando envolvido com a preparação e o treinamento
de lideranças no âmbito cristão mundial.
É extremamente interessante a
narração do autor sobre o seu enfrentamento da doença. Na verdade, Cordeiro só
dimensionou a gravidade da situação quando esteve diante de uma espécie de
colapso, ocasião em que ele se viu sentado em uma calçada quando estava
praticando esporte.
Foi durante este momento difícil de
sua vida que ele se deparou com um quadro que é muito preocupante em relação ao
oficio pastoral. Pelo conteúdo de suas palavras, a impressão transmitida é que,
a partir deste momento, seus olhos foram abertos para esta realidade da vocação
pastoral.
Ele cita uma estatística feita nos Estados Unidos da
América acerca do ministério pastoral. E a constatação desta estatística é no
mínimo um alarme para os pastores. Ele diz que: 80% consideram que o ministério
pastoral afeta suas famílias negativamente; 33% dizem que estar no ministério é
claramente um risco para suas famílias; 75% relatam que já tiveram pelo menos
uma vez alguma crise importante relacionada a estresse; 50% sentem-se incapazes
de satisfazer as necessidades da função; 25% das esposas de pastor veem a
agenda de trabalho do marido como uma fonte de conflito; os que estão no
ministério têm a propensão a ver seu casamento acabar em divórcio na mesma
proporção que os membros da igreja local; entre todas as profissões, o clero
tem a segunda taxa mais alta de divórcio; 80% dos pastores dizem que não passam
tempo suficiente com as esposas; 56% das esposas de pastores dizem que não têm
amigos próximos; 45% das esposas de pastores dizem que o maior perigo para elas
e sua família é o burnout físico, emocional, mental e espiritual; 52% dos
pastores dizem que eles e suas esposas acreditam que estar no ministério
pastoral é perigoso para o bem-estar e a saúde da família; 45,5% dos pastores
dizem ter experimentado depressão ou burnout em um nível tal que precisaram
tirar licença do ministério; 70% não têm alguém que considerem um amigo próximo
(p. 32).
O autor relata um drama vivido por ele e também,
acredito, que também seja experiência da grande maioria dos pastores. A
expectativa em relação ao ministro é algo simplesmente impossível de ser
satisfeito. Criou-se um mito sobre a figura do pastor que simplesmente requer-se
do mesmo a perfeição. Não só deles, mas também de suas famílias. Fora criada
uma espécie de figura de super-homem.
Ele conta como foi difícil para ele lidar com essa
situação. Afinal de contas, o que iriam pensar dele? Será que seus liderados
irão ainda lhe enxergar como um líder? Qual seria a reação das pessoas em
relação à sua fraqueza e exposição?
Foi então que ele resolveu encarar a doença como
deveria. Sua primeira atitude foi uma tentativa de se isolar na tentativa de
obter um tempo para descanso e busca a Deus através de disciplina espirituais.
Seu desejo era sair desse emaranhado de situações que nos envolvemos em nossos
dia a dia.
É interessante a observação de Cordeiro acerca do
que ele chama de “prima maligna” do burnout, a depressão. Ao trabalhar esta
questão ele faz uma verdadeira lista de personalidades que tiveram problemas
com depressão e conseguiram vence-la através da graça de Deus. Neste momento, o
pastor se utiliza da perspectiva paulina de que o poder de Deus se aperfeiçoa
em nossa fraqueza. Ele fundamenta essa questão com o fato destas grandes
“personalidades”, mesmo em meio às suas fraquezas, se lançarem nas mãos de Deus
e se tornarem pessoas que foram usadas pelo Altíssimo para fazer uma grande
diferença no momento histórico em que estavam inseridos.
O autor irá dedicar uma boa parte da sua obra para
comentar sobre os perigos da depressão e como identifica-la. A depressão é
considerada por muitos estudiosos como a doença do século. Cordeiro também
realiza apontamentos sobre possíveis fatores que concorrem para a culminação da
depressão. Interessante é que o autor não só aponta o problema, mas também
aponta soluções para o mesmo.
Nos capítulos finais do livro ele se apropria de sua
experiência pessoal e aponta para possíveis resoluções que possam nos ajudar em
nossas atribuições e vida cotidiana. Ele aponta ferramentas que foram
desenvolvidas por ele em sua vida que a deixaram mais “leve”.
Trata-se de um excelente livro. Sua linguagem é
simples e clara. Uma boa dica para a quebra de paradigmas sobre a questão
do cristão não poder adoecer emocionalmente, e também um voz que soa como
trombeta para alertar sobre a necessidade de cuidados pessoais de todo aquele
que exerce liderança, seja ela em que âmbito for.
Em minha singela opinião uma leitura
importantíssima para todo líder cristão. Que Deus nos ajude a desenvolvermos
uma espiritualidade sadia.
[1] Pastor-Presidente da Primeira
Igreja Batista de Rocha Miranda, Rio de Janeiro. Mestrando em Ministérios
Globais pelo Seminário Teológico Betel, Rio de Janeiro, e graduado em Teologia
pela mesma instituição. Professor do Seminário Teológico Evangélico Peniel, Rio
de Janeiro.
Parabéns
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