Rio de Janeiro, 26 de abril de 2023.
Série de Mensagens
– O mais puro evangelho
Tema da Mensagem
– Ações de graças e oração pelos cristãos de Roma.
Texto Base
– Romanos 1.8-13
“Em
primeiro lugar, por meio de Jesus Cristo, dou graças ao meu Deus por todos vocês,
porque a fé que vocês têm é proclamada no mundo inteiro.” (verso 8)
·
“Em primeiro lugar...”
– Essa expressão usada pelo apóstolo parece não quer caracterizar uma
sistematização de pensamento por uma espécie de enumeração, acredito que seja
apenas uma forma literária de chamar atenção de seus leitores como uma espécie
de iniciação de sua didática.
·
“...por meio de Jesus Cristo...”
– O Senhor Jesus não somente aquele que concede a graça da salvação, mas também
é aquele que é o mediador, o intercessor entre Deus e os homens.
·
“...Dou graças ao meu Deus por
todos vocês...”
–
O apóstolo Paulo parece se utilizar de uma linguagem mais piedosa, muito
similar a dos salmistas nesta expressão. Todavia, vale destacar o fato de
evidenciar o seu amor e gratidão ao Deus Pai de Cristo Jesus que o resgatou do
reino das trevas e o levou para o reino do Filho do seu amor. O apóstolo como
costumeiramente o faz dar graças ao Senhor pela vida das igrejas, com a exceção
dos gálatas que não aparece essa mesma expressão e nem outra similar, podendo
ser efeito da percepção do apóstolo que os crentes da galácia estavam se
desviando do evangelho da graça e se identificando com uma espécie de evangelho
legalista;
·
“...porque a fé que vocês têm é
proclamada no mundo inteiro.”
–
John Stott comenta: “Admitindo-se que
haja aqui uma certa hipérbole, até legítima, ainda assim é verdade que, onde
quer que a igreja chegasse, chegava também a notícia de que havia cristãos na
capital. E, embora Paulo não tivesse sido o responsável por anunciar-lhes o
evangelho, isso não o impedia de dar graças porque Roma havia sido
evangelizada.”[1]
“Pois Deus, a quem sirvo em meu
espírito, no evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como nunca deixo de
fazer menção de vocês em todas minhas orações, pedindo que, em algum momento,
pela vontade de Deus, surja uma oportunidade de visitá-los.” (versos 9 e 10)
·
“Pois Deus, a quem sirvo em meu
espírito, no evangelho de seu Filho...” – Paulo usa a
expressão “sirvo em meu espírito” para assegurar que servia ao Senhor com toda
a inteireza e a sinceridade mais profunda de seu ser. Não acredito que a
palavra “espírito” esteja ligada ao Espírito Santo, mesmo que a palavra que o
apóstolo use a mesma palavra no original: “pneuma”. Todavia, pelo contexto do
texto é mais provável que a tradução esteja ligada a questão da sinceridade,
inteireza. Paulo sempre deixava claro que sua mensagem era do “evangelho de seu
Filho” (evangelho de Jesus Cristo). Uma vez que a mensagem do evangelho já
naqueles dias era distorcida. Nos versos anteriores o apóstolo Paulo já anunciava
o duplo cumprimento escatológico deste evangelho: a restauração de Israel e a
salvação dos gentios.
·
“...é minha testemunha de como
nunca deixo de fazer menção de vocês em todas as minhas orações...”
– O apóstolo evoca o Senhor como sua testemunha, mas uma vez acredito querendo
evidenciar sua sinceridade, querendo ratificar a verdade de sua fala. Ele
sempre levava em oração ao Senhor o nome dos irmãos da igreja de Roma, mesmo
nunca os tendo conhecidos. É evidente que devemos orar por todas as pessoas,
inclusive aqueles a quem não conhecemos pessoalmente, mas podemos nos tornar
intercessores constantes pela vida delas.
·
“...pedindo que, em algum momento,
pela vontade de Deus, surja uma oportunidade para visitá-los.” –
Agora o velho apóstolo revela o seu pedido, qual tem sido o conteúdo de sua
oração a Deus. O apóstolo não está determinado ou querendo colocar o Senhor
contra parede para que Ele, o Altíssimo, possa fazer o que Paulo deseja, muito
pelo contrário, ele sabe que é servo e precisa ser submisso a vontade do
Senhor, por isso mesmo expressa “pela vontade de Deus”. O pedido de Paulo ao
Senhor não envolve benefícios pessoais, mas sim o desejo da edificação do
Reino. Muito provavelmente os irmãos em Roma estavam sentiam-se desmerecidos
pelo apóstolo nunca os ter visitado e Paulo queria desfazer essa impressão ou
até mesmo sentimento daqueles irmãos. Quem dera cada um de nós pudéssemos ter
em nossos corações o desejo de abrir mão de nossos interesses pelo bem maior do
nosso próximo para edificação do Reino de Deus.
·
Diz Hernandes Dias Lopes em seu
comentário: “Mesmo não conhecendo
pessoalmente a igreja de Roma, Paulo ora pelos crentes sem cessar, chamando o
próprio Deus por testemunha. Em todas as suas orações havia sempre um propósito
firme e incansável de rogar a Deus uma oportunidade para visitar a igreja.
Paulo acredita na eficácia da oração. Ele não apenas ensina sobre a importância
da oração, mas também ora. A teologia da oração e a prática da oração andam de
mão dadas na vida do apóstolo. A oração é o meio ordenado por Deus para conceder
bênçãos ao seu povo. Citando Robert Haldane, Geoffrey Wilson registra: “Orar
sem trabalhar é zombar de Deus; trabalhar sem orar é roubar de Deus sua glória.”[2]
“Porque desejo muito vê-los, a fim
de repartir com vocês algum dom espiritual, para que vocês sejam fortalecidos,
isto é, para que nos consolemos uns aos outros por meio da fé mútua: a de vocês
e a minha.” (versos 11 e 12)
·
Dougla Moo aponta em seu comentário três
razões pelas quais Paulo deseja ir a Roma: 1) a primeira expressa nesse verso
de número onze. Paulo deseja compartilhar um dom espiritual; 2) “para ter uma
colheita” (verso 13); 3) “para pregar o evangelho” (verso 15);
·
“...algum dom espiritual”
– Ao explicar sobre o significado dessa expressão diz John Stott: “À primeira vista, parece natural
interpretar o referido dom espiritual como sendo um dos dons (charismata)
relacionados por Paulo em 1Coríntios 12 e, depois, também em Romanos 12 e
Efésios 4. Mas, pelo visto, há uma objeção falta a isso, uma vez que nessas
outras passagens os dons são concedidos pela soberana decisão de Deus, de Cristo
ou do Espírito. Portanto o apóstolo dificilmente poderia se declarar capaz de “compartilhar”
um charisma. Assim ele pode estar usando a Palavra num sentido mais
geral.Talvez esteja se referindo ao seu próprio ensino ou exortação, que ele
espera passar a elas quando chegar, se bem, que haja nessa sua afirmação “uma
indefinição proposital”, talvez porque a essa altura dos acontecimentos ele nem
sabe quais serão as suas necessidades espirituais básicas.”[3]
·
“...isto é, para que nos consolemos
uns aos outros por meio da fé mútua: a de vocês e a minha.” – A
humildade de Paulo é demonstrada neste versículo onde sendo quem ele é se
coloca na posição de aprendiz mesmo que o aprendizado venha de neófitos na fé,
pois Paulo sabe que é o Espírito que gera capacitação através dos dons para que
a sua igreja seja edificada. João Calvino comenta sobre esta questão: “Observe a que grau de modéstia seu piedoso
coração se submeteu, de modo que não desdenha de buscar confirmação da parte de
inexperientes neófitos. Ele sabe o que diz, pois ninguém é tão destituído de
dons, na Igreja de Cristo, que seja incapaz de contribuir com algo para nosso
benefício. Má vontade e orgulho, contudo nos impedem de extrair tal fruto uns
dos outros.”[4]
“Quero que vocês saibam, irmãos,
que muitas vezes me propus a ir visitá-los – no que tenho sido, até agora,
impedido -, para conseguir algum fruto igualmente entre vocês, assim também
como tenho conseguido entre outros gentios.” (verso 13)
·
“Quero que vocês saibam...”
– É como se o apóstolo Paulo estivesse dizendo: “quero que estejam atentos ao
que desejo falar-lhes!”
·
“...irmãos...”
– A palavra irmãos é usada para denotar não o sentido biológico, mas sim o
sentido de fraternidade espiritual, ou seja, todo aquele que está em Cristo é
filho de Deus, sendo assim parte da grande família de Deus.
·
“...que muitas vezes me propus ir
visitá-los – no que tenho sido, até agora, impedido...”
– Como já mencionei antes os irmãos em Roma estavam ansiosos para saber qual
era o motivo do apóstolo aos gentios ainda não ter ido pessoalmente visitá-los,
afinal de contas, a igreja de Roma estava no coração, era capital do mundo
gentílico. Paulo justifica-se dizendo que muitas vezes planejou estar com os
irmãos, todavia foi impedido pelo que nos dá a entender pelo próprio Deus.
·
“...para conseguir algum fruto
igualmente entre vocês, assim também como tenho conseguido entre outros
gentios.” – Comenta Hernandes sobre esta questão: “Por “fruto” entende-se, sem dúvida, a
recompensa esperada de suas atividades apostólicas, a conquista de novos
convertidos e o fortalecimento da fé e da obediência daqueles que já criam.
Paulo não quer apenas semear, mas também colher. Ele não deseja apenas ter o
pesado labor do investimento, mas anseia também obter a deleitosa recompensa
desses investimentos, e não apenas entre os crentes de Roma, mas igualmente
entre os demais gentios.”[5]
[1]
STOTT,
John. A mensagem
de Romanos. São Paulo: ABU, 2007, pg.58.
[2] LOPES, Hernandes Dias. Romanos: o evangelho segundo Paulo. São
Paulo: Hagnos, 2010, pg. 49.
[3]
STOTT,
John. A mensagem
de Romanos. São Paulo: ABU, 2007, pg.59.
[4]
HENDRIKSEN,
William.
Comentário do Novo Testamento – Romanos. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, pg.
72.
[5]
LOPES,
Hernandes Dias. Romanos:
o evangelho segundo Paulo. São Paulo: Hagnos, 2010, pg. 50.
Nenhum comentário:
Postar um comentário