quinta-feira, 7 de março de 2024

2º AULA – AUTORIDADE DO APOSTOLADO DE PAULO E SEU EVANGELHO – Gl 1.1-5

 


Projeto
– “De bem com a Bíblia” – Março de 2024

Professor – Roberto da Silva Meireles Rodrigues

Livro – Gálatas.

2º AULA – AUTORIDADE DO APOSTOLADO DE PAULO E SEU EVANGELHO – Gl 1.1-5

“Paulo, apóstolo – não da parte de pessoas, nem por meio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos -, e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Gálacia. Que a graça e a paz de estejam com vocês, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, o qual entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos livrar deste mundo perverso, segundo a vontade de Deus e Pai, a quem seja a glória para todo sempre. Amém!” (Galátas 1.1-5)

VERSO 1 e 2“Paulo, apóstolo – não da parte de pessoas, nem por meio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos morto -, e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Gálacia.”

            A maioria das epístolas que escritas por Paulo tecia elogios e costumeiramente era gentil em suas palavras introdutórias. Todavia, ao escrever aos Gálatas ele parece estar focado unicamente em resolver os problemas doutrinários identificados. Problemas estes que geram no apóstolo um mix de sentimentos e uma insatisfação “santa” que é nitidamente percebida em suas palavras.

            Donald Guthrie comenta sobre esta questão: “Embora todas as saudações iniciais nas Espistolas de Paulo tenham certos aspectos em comum, cada uma possui características próprias, e esta Epístola tem um aspecto que a destaca nitidamente das demais. É mais abrupta e omite o aspecto usual do louvor aos leitores, refletindo imediatamente o estado de ânimo do escritor. Ele não se monstra inclinado a enfatizar qualquer sentimento de afeto por este grupo de cristãos, porque um propósito mais urgente está à sua frente. Deve ter ficado profundamente sentido com a falha destas pessoas em ficar à altura das suas expectativas, porque em todas as demais Epístolas usa o encorajamento no início, mesmo quando mais tarde pass a críticas.”[1]

“Já no primeiro parágrafo de sua carta aos gálatas, Paulo menciona dois temas aos quais ele irá retornar constantemente: seu apostolado e o seu evangelho. No mundo antigo todas as cartas começavam com o nome do autor, seguindo-se o nome do destinatário e uma saudação ou mensagem. Nesta epístola aos Gálatas, no entanto, Paulo se estende mais do que era de costume naquele tempo e mais do que costumava fazer em suas outras cartasd, tanto na apresentação de suas credenciais como autor quanto na saudação. Ele tinha bons motivos para fazê-lo... Paulo percebe claramente os perigos desse duplo ataque, e por isso lança, bem no começo da Epístola, uma declaração de sua autoridade apostólica e do seu evangelho da graça. Mais adiante ele irá desenvolver estes temas; observe, porém, como ele começa: Paulo, apóstolo (não um impostor)... Graça a vós. Estes dois termos, “apóstolo” e “graça”, eram palavras muito significativas nessa situação e, se nós a entendermos corretamente, captaremos os dois assuntos principais da Epístola aos Gálatas.”[2]

“Paulo, apóstolo...”Como seu chamado está sendo questionado e junto com sua autoridade o seu ensino. Paulo ratifica o fato de que seu chamado não era meramente para seu uma espécie de enviado como o termo “apóstolos” é também comumente usado no Novo Testamento. O apóstolo está reenvindicado para si um chamado especial. Semelhante ao chamado dos doze discípulos feito diretamente pelo Senhor Jesus. Ele também possui um chamado feito pelo próprio Senhor Jesus na estrada de Damasco atribuindo ao mesmo o mesmo ofício dado aos doze para anunciar ao evangelho e lançar os fundamentos doutrinários da igreja que estava em seu nascedouro.

O estudioso do Novo Testamento, Adolf Pohl, em seu comentário sobre o verso faz uma observação importante dizendo que: “No Cristianismo primitivo também havia “apóstolos das igrejas” (2Co 8.23 cf bj), que como tais realmente eram pessoas respeitadas (cf Gl 2.12). Contudo Paulo não se insere nessa fileira. Ele não é o expoente de um grupo de cristãos, p.ex., da igreja de Jerusalém. A partir do v 16 ele o comprovará. Ele tampouco foi incumbido de sua mensagem por intermédio de homem algum, p.ex., por Pedro. No v 18 ele especificará o seu relacionamento com Pedro.”[3]

 

“... não da parte de pessoas, nem por meio de homem algum...”O apóstolo deseja enfatizar a origem de sua vocação; deseja expôr seu argumento defendo a autoridade de seu apostolado que não é oriundo de pessoas. Ele enfatiza bem essa questão negando ao longo do capítulo mais quatro vezes que seu chamado não provém de homens. Adolf Pohl comenta essa questão: “Nos v 10ss Paulo ainda acrescenta nada mais nada menos que quatro negações do ser humano: Não para aprovação das pessoas (v 10ª), não para agradar as pessoas (v 10b), não segundo a maneira humana (v 11) e não recebido nem aprendido de seres humanos (v 12). Por que nesse assunto o ser humano é tão nitidamente escluído? Por causa do ser humano, para que lhe seja preservado o evangelho de Deus. A pregação de Paulo não constituiu nenhum acontecimento interativo entre pessoas. Nela o ser humano não tem a ver consigo próprio, não telefona consigo mesmo, não se ergue pessoalmente do pântano pelos cabelos.”        

            Muitos estudiosos comentam que a expressão “... nem por meio de homem algum...” pode designar duas possibilidades. A primeira era o questionamento realizado pelos falsos mestres de que Paulo não era discípulo direto de nenhum dos doze apóstolos e por essa questão não possuia uma espécie de linhagem apostólica. A segunda possibilidade levantada pelos estudiosos era uma ligação de Paulo com Ananias no momento da imposição de mãos dele. O fato é que seja qual for o questionamento levantado pelos falsos mestres, o apóstolo deixa bem claro que a origem de seu chamado, de sua vocação, era do próprio Jesus ressurreto. Assim como fora no comissionamento dos doze.

“... mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos...” Após negar de forma veemente a ligação de seu apostolado a homens, o apóstolo faz uma afirmação categórica da origem de seu chamado ser oriunda da pessoa do próprio Senhor Jesus Cristo. O link de seu apostolado é a mesma dos demais doze apóstolos. Paulo, também enfatiza a legitimidade do próprio Jesus pelo fato do mesmo ter sido oriundo do próprio Deus, ou seja possuir a mesma substância e que Deus aprovou o sacrifício de Jesus o ressuscitando dentre os mortos que é o alicerce de toda construção da fé cristã. Pois, como diz o próprio apóstolo Paulo escrevendo aos crentes de Coríntios: “Ora, se o que se prega é que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como alguns de vocês afirmam que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e é vã a fé que vocês têm.” (1Co 15.12-14)

            “O “apostolado” de Paulo, como ele explicará adiante no capítulo, é o resultado do seu próprio encontro pessoal com o Jesus ressuscitado e do chamado consequente do Deus único para ser uma testemunha credenciada. Portanto, sua condição “não provém de fontes humanas”. Paulo também não aprendeu os rudimentos da mensagem de qualquer outras pessoa: seu apostolado não “veio por meio de um ser humano”, como novamente ele explicará no momento adequado. Em vez disso, do mesmo que em Romanos 1:3-4, Paulo define a si mesmo e sua obra nos termos do próprio evangelho: seu chamado vio “de Jesus, o Messias, e de Deus, o Pai, que o ressuscitou dentre os mortos”. A ressurreição quase não faz parte do argumento posterior de Gálatas, mas, do mesmo modo que o alicerce sólido de uma casa bem construída, é importante (por exemplo, em 2:19-20 e na promessa culminante da “nova criação”, em 6:15), ainda que esteja praticamente invisível. Para Paulo, a ressurreição do Jesus crucificado, que é realizada por Deus – que, de outro modo, seria tido como um “falso messias” que desviou Israel -, se constituía na base de tudo o mais que ele ensinava e vivia, bem cono no que ele cria.”[4]

“... e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Gálacia.”O apóstolo faz questão de citar os irmãos que são seus companheiros em suas suas empreitadas missionárias. A citação não dá direito para que estes sejam também autores da carta. A obra pertence exclusivamente a Paulo. Logo após, ele cita os destinatários da carta. Não entraremos nos pormenores desta questão, pois essa questão fora debatida na primeira aula na intrudução do estudo a epístola.

VERSOS DE 3 Á 5 – “Que a graça e a paz estejam com vocês, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, o qual entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos livrar deste mundo perverso, segundo a vontade de Deus e Pai, a quem seja a glória para todo sempre. Amém!”

“Que a graça e a paz estejam com vocês...” – Mesmo estando descontente e exortando-os, o apóstolo continua considerando os cristãos das igrejas da Galácia como seus irmãos. Sendo assim, o apóstolo os saúda como costumeiramente ele o faz em pelo menos 10 de suas Epístolas e como era de costume no mundo antigo. Todavia, a saudação carrega um profundo significado teológico. Dr. John Stott comenta: “... Não são termos formais e sem sentido. “Graça” e “paz”, embora sejam palavras comuns, estão empregnadas de conteúdo teológico Na verdade, elas resumem o evangelho da salvação pregado por Paulo. A natureza da salvação é a paz, ou reconciliação: paz com Deus, paz com os homens, paz interior. A fonte da salvação é a graça, o favor livre de Deus, independente de qualquer mérito ou obras humanas, sua benevolência para com os que não merecem. E esta graça e paz flui tanto do Pai quanto do Filho. Paulo passa imediatamente ao grande evento histórico no qual a graça de Deus foi exibida e do qual deriva a Sua paz, isto é, a morte de Jesus Cristo na cruz: o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai (verso 4). Embora Paulo tenha declarado antes que Deus Pai rescussitou Cristo dos mortos (versículo 1), agora ele escreve que é através da sua entrega para morrer na cruz que Jesus nos salva. Consideremos o rico ensinamento que temos aqui acerca da morte de Cristo.”[5] Após ter feito essas considerações Stott cita os seguintes ensinamentos realizados por Paulo nestes versos acerca da morte de Cristo: a) Cristo morreu por nossos pecados; b) Cristo morreu para nos libertar deste mundo; c) Cristo morreu de acordo com a vontade de Deus.

“... da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo,o qual entregou a si mesmo pelos nossos pecados para nos livrar deste mundo perverso, segundo a vontade de Deus e Pai...”Cristo morreu pelos nossso pecados. O apóstolo Paulo é meticuloso no uso das palavras. Donald Guthrie comenta: “A combinação do Senhor (kurios) com Cristo (Christos = Messias) é significativa por expressar o cumprimento das mais altas esperanças tanto dos gentios quanto dos judeus. O título inteiro tinha, portanto, profundo significado.”[6]

            O conceituado estudioso do Novo Testamento Dr. Ladd em sua “Teologia do Novo Testamento” pontua o fato de Paulo não utilizar muito o termo “messias” para se referir a Jesus pela questão de a maioria de suas cartas possuir como destinatários gentios. Porém, o que não significa que Paulo não dá creditava muito valor a esta doutrina, muito pelo contrário, ele tinha total consciência de que Jesus era o Messsias e foi por este conceito tão entranhado de sua cultura judaíca que ao ter um encontro com Jesus na estada de Damasco percebeu que Jesus era o Messias prometido pelos profetas.

            “Paulo fala pouco tanto sobre o Reino de Deus quanto do messianato de Jesus, porém ambos são doutrinas fundamentais em seu pensamento. Provavelmente, a razão disso seja devido ao fato das cartas de Paulo serem dirigidas à audiência dos gentios, em vez dos judeus. Se tivéssemos uma correspondência de Paulo dirigida aos judeus, provavelmente encontraríamos muito mais a respeito do messianato de Jesus e de seu Reino. Devemos recordar que esses assuntos eram extremamente mal interpretados. Proclmar qualquer rei que não fosse César era algo passível de condenação, ou seja, essa pessoa seria condenada à pena de sedição (At 17:3,7).”[7]

            Ladd também vai enfatizar a palavra “kyrios” que em Paulo toma conotações de uma espécie de confissão de fé, um credo. Haja vista que Paulo vai dizer: “E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” (1Co 12:3). O estudioso vai explicar que não impossível uma pessoa falar sem ter o real entendimento. Todavia, aquele que confessa essa verdade com siceridade de coração, o faz movido pelo Espírito Santo. Isso se torna a marca de um verdadeiro cristão, a confissão de que Jesus Cristo é o Senhor.

            “Confessar que Jesus é o Senhor não é simplesmente uma expressão de devoção pessoal, pois essa devoção pessoal está, em si mesma, baseada em um fato mais importante: a autoridade cósima de Jesus. No ato da confissão, aquele que O confessa não apenas reconhece uma nova relação pessoal com Cristo, também afirma um artigo de fé, a saber, que, por sua morte e ressurreição, Jesus foi elevado a um lugar de soberania sobre todos os seres humanos, tanto os vivos como os mortos (Rm 14:9). Só confessamos que Jesus é o Senhor, porque Jesus foi de fato glorificado e é o Senhor exaltado acima de todos os outros deuses e senhores, quer reais, quer imaginários (1Co 8:5-6)... A importância do título Kyrios é encontrada no fato de Kyrios ser a tradução grega do tetragrama YHWH, o nome de Deus na aliança do Antigo Testamento. O Jesus exaltado ocupa o papel do próprio Deus no governo do mundo. Deus está satisfeito em realizar, na pessoa de seu Filho encarnado, Jesus Cristo, a restauração de um universo decaído. Quando o mundo adora a Jesus Cristo como Senhor, está adorando a Deus.”[8]

“... o qual entregou a si mesmo pelos nossos pecados...” – A esperança apontada acima por Donald Guthrie reside no fato de Jesus ter nos livrado da escrita de morte que nos aguardava. Com a queda no jardim do Éden o homem foi impossibilitado pelo pecado de se relacionar com Deus e consecutivamente foi expulso do Jardim. Agora com o homem já nascendo maculado pelo pecado e incapaz de si mesmo livrar-se dessa condenação precisava da intervenção divina para se ver livre das amarras que o prendiam. Não cabia ao Senhor somente perdoar os pecados do homem, mas o Eterno precisava também que sua justiça fosse saciada, uma vez que o homem pecou contra o Altíssimo violando uma ordem expressa. Gosto da percepção de Anselmo teológo do sec XI com sua alegoria sobre a “satisfação” da justiça de Deus. Alister McGrath vai explicar em sua obra “Teologia para amadores” esse conceito de Anselmo: “Mas como pode a morte de Cristo de ter esse efeito? Para analisar esse ponto, devemos olhar a resposta fornecida por um teológo profissional – o teológo do século XI, Anselmo de Cantuária. Deus criou a humanidade para que púdessemos ter a vida eterna, mas o pecado infelizmente interveio para impedir que a obtivéssemos sem ajuda. Se é para termos vida eterna, Deus terá que fazer algo a respeito. Deus não pode fazer de conta que o pecado não existe, ou considerá-lo irrelevante. É uma força que tratou de interromper tudo o que ele havia planejado na sua criação. Um remédio que desfaça os efeitos do pecado, ainda que le seus aspectos morais a sério, deve ser encontrado. Anselmo deu ênfase ao pecado como problema moral. Ele não pode ser simplesmente ignorado, mas deve ser confrontado. Então, como a ofensa do pecado pode ser removida? Como pode o pecado ser perdoado justamente, de maneira que abranja tanto a ofensa causada a Deus pelo pecado quanto seu generoso amor? Ao responder essa questão, Anselmo formula uma analogia vinda dos tempos feudais. Na vida comum, uma ofensa contra alguém pode ser perdoada desde que algum tipo de compensação seja oferecido em contrapartida. Anselmo se refere a essa compensação como uma “satisfação”. Vejamos, por exemplo, um homem que rouba uma quantia de dinheiro. Para satisfazer as exigências da justiça, ele teria de devolver o dinheiro além de uma quantia adicional pela ofensa do roubo. Essa quantia adicional é a “satisfação”. Anselmo argumenta que o pecado é uma ofensa séria contra Deus, ela exige uma satisfação. Como Deus é infinito, essa satisfação deve ser também infinita. Mas por sermos finitos, não podemos pagar por ela. Parece impossível, então, que tenhamos vida eterna. Mas esse não é o fim da questão! Deus deseja que sejamos salvos – e salvos de maneira a preservar tanto a misericórdia quanto a justiça dele. Embora nós, como seres humanos pecadores, devêssemos pagar pela propriciação de nosso pecado, a verdade é que não podemos. Simplesmente não temos os requisitos ou a habilidade para quitar esse débito. Em contrapartida, ainda que Deus não tenha nenhuma obrigação de pagar por isso, ela ainda ssim o faria, se quisesse. Então, Anselmo assevera, fica claro que um Deus-homem seria, ao mesmo tempo, capaz e obrigado a pagá-la. Assim, a morte de Jesus Cristo, como o Filho de Deus, é o meio de resolver esse dilema. Como ser humano, Cristo tem a obrigação de pagá-la; como Deus, ele tem a habilidade de pagá-la. A dívida, então, está paga e nós podemos recuperar a vida eterna. A teoria de Anselmo mostra como a morte de Cristo permite que Deus perdoe nossos pecados sem esquecer da sua justiça.”[9]

“...para nos livrar deste mundo perverso, segundo a vontade de Deus e Pai...” – A ideia utilizada pelo apóstolo é a mesma do ensino da libertação de Israel do Egito registrada no livro do Êxodo. Era muito comum o ensino de que Jesus era o nosso cordeiro Pascal, a nova Páscoa, o sacrifício da nova aliança de Deus com os homens. Agora não somente para com Israel, mas para com toda a humanidade. Havia um anseio pelo cumprimento das promessas de Deus da vinda do Messias e a manifestação do Reino Messiânico. O momento em que esse Reino fosse estabelcido o povo de Deus estaria livre de todos os tormentos deste tempo presente. A teologia de Paulo é marcada por essa sentão entre as duas eras: “era presente” e “era vindoura”. Os escritos do apóstolo nos fazem acreditar que ele acreditava que a morte a ressurreição de Jesus haviam dado início ao advento da “era vindoura” e que agora as duas eras conviviam de modo paralelo até que a “era vindoura” seja totalmente estabelecida. O teológo N.T.Wright diz o seguinte: “Em outras palavras, a morte de Jesus “pelos nossos pecados” – um tema central do evangelho em suas várias tradições primitivas, como fica claro em 1Coríntios 15:3 – não tinha o objetivo de fazer as pessoas “irem para o céu”, como em boa parte da tradição cristã posterior, mas, sim, resgatar as pessoas dos poderes da escuridão que haviam escravizado o mundo. Aqui deparamos com um sintoma de um problema recorrente na teologia ocidental como um todo, o qual já foi observado na introdução. A maioria dos cristãos ocidentais, quando é indagada sobre o motivo pelo qual Jesus morreu por nossos pecados, responderia que foi “para que púdessemos ir para o céu”. No entanto – de modo espantoso, pode-se pensar -, essa nunca foi a resposta do Novo Testamento. Esperar que a “alma vá para o céu” depois da morte não é característica de Paulo, nem dos outros cristãos do século 1, mas dos platonistas do século 1, como, por exemplo, Plutarco. Porém, no Novo Testamento, essa nunca é o propósito da ação redendora de Deus, pela boa razão de que Deus quer resgatar a ordem criada, e não sequestrar pessoas dela e depois abandoná-la. Com certeza, já que a própria morte se encontra entre os poderes da escuridão da “presente era maligna”, então a “salvação” definitiva, o resgate da morte, acaba entrando em pauta. Isso indicará a ressurreição do corpo para participar do novo mundo de Deus. Paulo explica esse tema longamente em 1Coríntios 15 e Romanos 8. Quando relacionamos algumas afirmações cristãs iniciais sobre a morte de Jesus alcançou, percebemos que são impactantes. Nessa passagem, o propósito da morte resgatadora de Jesus é para que os crisão possam ser o povo da nova era de Deus, resgatados da presente era maligna. Em Gálatas 3:14, lemos que “assim foi para que a bênção de Abraão pudesse fluir por todas as nações [...] e para que púdessemos receber a promessa do Espírito, por meio da fé.” Em Apocalipse 5:9-10, a ação redentora de Deus em Jesus é alcançanda para que os seres humanos resgatados possam formar “um reino e sacerdotes para o nosso Deus”, que reinarão sobre a terra, e assim por diante. Como já afirmei em outras obras, recebemos uma escatologi equivocada e, portanto, uma teologia da expiação que induz ao erro. Não se trata de “ir para o céu”, mas da inauguração da “era vindoura” de Deus aqui e agora, em meio ao caos da “presente era maligna”. Havia uma moda na década de 1980 de um movimento que se autodenominava “Nova Era”: mas essa moda parece ter passado. Entretanto, para Paulo, a “nova era” não começou com uma configuração estranha de planetas e de símbolos do zodíaco, mas quando Jesus de Nazaré saiu do túmulo, no início da manhã de Páscoa.”[10]

“...segundo a vontade de Deus e Pai, a quem seja a glória para todo sempre. Amém!”- Como anteriormente dito na citação da teoria de Anselmo, foi da vontade Deus propiciar a humanidade um meio pelo qual ela pudesse novamente se reconciliar consigo.

Paulo termina essa perícope expressando essa verdade que deve ser entendida a luz das suas últimas palavras contidas nestes versos iniciais. O Eterno fez tudo isso para sua glória. Ao entendermos que estávamos perdidos ou como próprio Paulo diz “mortos” em nossos próprios pecados, ou seja, impossibilitados de sairmos da situação ao qual estávamos e foi única e exclusivamente pela graça e misericórdia de Deus que podemos experimentar uma nova vida em Cristo Jesus, nosso Senhor.

A doxologia final deste verso de Paulo manifesta a alegria do coração do cristão que encontrou a graça salvadora de Jesus que lhe deu o diretiro de ser chamado filho de Deus. Essa salvação que não pode ser alcançada por nenhum esforço, obra ou mérito humano. Mas sim, somente pela graça mediante a fé em Cristo Jesus. O apósolo inicia a epístola trovejando essa doutrina que é o cerne do evangelho e que estava sendo atacada por seus opositores.

 

 

 

 

 

BILIOGRAFIA:

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. A Graça (II) / Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1999.

CALVINO, João. Gálatas. São José dos Campos, SP: Editora Fiel. 2007

CARSON, D. A. / MOO, Douglas J. / MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.

GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984.

HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento; São Paulo, SP: Hagnos, 2001.

HALLEY, Henry Hamptom. Manual Bíblico de Haley. São Paulo: Editora Vida, 2001.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019.

KELLER, Timothy. Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.

LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.

LUTERO, Martinho. Martinho Lutero: obras selecionadas, v.10 – Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008.

MacARTHUR, John. Comentário Bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.

MacGRATH, Alister. Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

NICODEMUS, Augustus. Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.

POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999.

STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.

WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023.

 

 

 

 



[1] GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984.

[2] STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007, pg.14.

[3] POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999, pg.34.

[4] WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023, pg.73.

[5] STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007, pg. 18.

[6] GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984, pg. 69.

[7] LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003, pg. 569.

 

[8] LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003, pg. 575.

[9] MacGRATH, Alister. Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, pg.18.

[10] WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023, pg.77.




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