Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Livro
– Gálatas.
6º AULA – ANTERIORMENTE NA VIDA DE
PAULO...
“Porque vocês ouviram
qual foi, no passado, o meu modo de agir no judaísmo, como, de forma violenta,
eu perseguia a igreja de Deus e procurava destruí-la. E, na minha nação, quanto
ao judaísmo, levava vantagem sobre muitos na minha idade, sendo extremamente
zeloso das tradições dos meus pais.”. (Gálatas 1.13-14)”.
“Porque vocês ouviram
qual foi, no passado, o meu modo de agir no judaísmo, como, de forma violenta,
eu perseguia a igreja de Deus e procurava destruí-la.” (verso 13)
Após dizer que seu evangelho não procedia de nenhum
tipo de relação humana e categoricamente enfatizar a revelação recebida do
próprio Senhor Jesus. Paulo agora começa a usar mais argumentos de que se
estivesse interessado em agradar a homens ele não seria um “servo de Cristo”.
Tendo
o desejo de reforçar seu argumento de que se estivesse desejoso de agradar a
homens ele não seria cristão; ele descreve como era o seu procedimento como um
judeu.
Obviamente, por ter sido o “garoto propaganda” da
alta cúpula judaica, seu argumento é endossado de forma muito mais elucidativa,
ou seja, o apóstolo meio que começa a preparar o terreno para o cheque mate em
seus opositores, ou melhor, nos opositores do evangelho de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. Afinal de contas, Paulo não queria vencer uma batalha de
cunho pessoal, alguma espécie de guerra de ego.
Lendo o texto e elucubrando sobre esta construção de
pensamento do apóstolo. Posso crer que Paulo tinha em mente deixar claro quem
ele era para dimensionar o que significava sua conversão do ponto de vista de
impacto, por exemplo, guardando as devidas proporções é claro, era como se um
dos mais cruéis terroristas do mundo se convertesse ao Senhor Jesus. Talvez,
seja um bom exemplo para tentar de alguma forma dimensionar o impacto da
conversão do apóstolo.
O conceituado estudioso Dr. John Stott faz a mesma
leitura ao tecer as seguintes palavras: “Esta era condição de Saulo de Tarso
antes de sua conversão: um fanático inveterado, completamente dedicado ao
Judaísmo e à perseguição de Cristo e da igreja. Um home nessa condição mental e
emocional de maneira alguma mudaria de opinião, nem se deixaria influenciar por
outras pessoas. Nenhum reflexo condicionado ou qualquer outro artifício
psicológico poderia converter um homem assim. Apenas Deus poderia alcançá-lo –
e foi o que Deus fez!”[1]
Aparentemente
os irmãos já tinham conhecimento do testemunho da conversão do ainda Saulo de
Tarso. Penso que sim pela expressão usada por Paulo: “Porque vocês ouviram
qual foi, no passado, o meu modo de agir no judaísmo...”
Sendo assim, não era nenhuma novidade o conteúdo da
vida regressa e a conversão do apóstolo aos gentios. Alguns estudiosos chegam
acreditar que o testemunho de conversão de Paulo fazia parte de seu processo de
evangelização de seus ouvintes, era uma espécie de comprovação vívida do poder
transformador do evangelho da graça de Deus.
O estudioso N.T.Wright faz uma pontuação
interessante sobre o significado que recebe em nossos dias “judaísmo”,
“cristianismo”, ou seja, a ideia contida de uma religião. Diz Wright em seu
comentário: “O pior erro que podemos cometer ao ler os versículos 13 e 14 é
considerar a palavra “judaísmo” o nome do que chamamos uma “religião”. No nosso
sentido, não existia “religião” no século 1. Praticamente toda as pessoas
sabiam que Deus ou os deuses estavam envolvidos em todos os aspectos da vida
comum. Paulo não está contrastando algo que chamaríamos nos dias de hoje de
“judaísmo” como algo que hoje chamaríamos de “cristianismo”. Ninguém pensava
assim no mundo dele. De modo nenhum: a palavra grega Ioudaismos tinha um
sentido sutilmente diferente. Era uma palavra ativa: indicava a atividade de
promover o estilo de vida judaico, recomendando esse estilo, reforçando-o sobre
os judeus mais acomodados e defendendo-o contra a intrusão de pagãos. Portanto,
quando Paulo diz que ele estava vivendo “no judaísmo”, quer dizer que fazia
parte do grupo zeloso chamado de fariseus, que tinha como propósito, como ele
diz no versículo 14, ser “zeloso” para com as “tradições ancestrais”. Paulo
pressupõe que eles ouviram a respeito de “como [ele] costumava agir quando
praticava o “judaísmo” – em outras palavras, enquanto ele ainda fazia parte dos
movimentos ativos e zelosos para purificar o povo judeu de infiltrações pagãs,
para reforçar a determinação e manter os acomodados e os transigentes sob
controle.”[2]
É
extremamente interessante ele adjetivar sua conduta como “violenta” e dizer que
“eu perseguia a igreja de Deus, e tentava destruí-la.” Aparentemente, o
apóstolo deseja criar um antagonismo entre quem ele era e o que se tornou.
Donald Guthrie destaca que esse antagonismo propositadamente criado por Paulo
nos faz dimensionar o poder do evangelho. Diz Guthrie: “O antagonismo de
Paulo não ficou restrito a uma única ocasião, mas foi marcado pela
persistência. O motivo de chamar atenção para o seu zelo em perseguir tem o
propósito de demonstrar a origem divina de um evangelho com poder suficiente
para transformar um inimigo violento como ele em um missionário zeloso. Ao
descrever a igreja como sendo a “igreja de Deus”, Paulo está sem dúvida
relembrando que ao perseguir a igreja estava, na realidade, perseguindo seu
divino causador (cf. 1Co 15:9) [...] e a devastava: o mesmo verbo usado em Atos
9.21. Mais tarde neste capítulo, Paulo relembra o relatório que circulou depois
de sua conversão, e o mesmo verbo volta a ser usado no que diz respeito às suas
tentativas de destruir a fé. Dificilmente poderia ter havido um antagonista
mais notório da Igreja Cristã. Sua transformação veio a ser, não somente um
testemunho indisputável do poder de Deus, em benefício dos outros, mas também
uma causa incessante de assombro para o próprio Paulo.”[3]
“E, na minha nação,
quanto ao judaísmo, levava vantagem sobre muitos na minha idade, sendo
extremamente zeloso das tradições dos meus pais.”. (Gálatas 1.14)”.
No
verso anterior o apóstolo fala sobre como ele era violento em persegui a igreja
de Jesus. Neste verso, ele começa a descrever o motivo pelo qual ele acreditava
ser alguém que estava agindo de forma correta. Ele revela os motivos os quais o
motivam a agir da forma que ele agia. William Hendicksen comenta: “A
atividade de perseguição já foi descrita, ainda que em termos gerais. Agora o
que é descrito é o motivo ou ímpeto que estava por trás dessa atividade
destruidora. Para Paulo, esse estímulo recebeu apoio do progresso que ele alcançaria
dentro do judaísmo farisaico, uma religião de obras e escravidão, e por sua
descoberta de que esta religião era precisamente o oposto da religião cristã,
religião cuja a base era a graça e a liberdade. Ele entendeu claramente que o
judaísmo e o cristianismo eram inimigos irreconciliáveis. Além disso, o
elemento indiferença não corria em seu sangue. Ele não fazia parte daquela
categoria de pessoas que, adotando uma atitude relativamente indiferente,
afligiam os outros com obediência a ordens expressas. Ao contrário, o homem de
Tarso nutria em si mesmo a índole para a opressão e destruição, e punha nisso todo
seu coração. Ele era um perseguidor plenamente convicto, crendo de todo coração
que o que ele fazia tinha que ser feito (At 26.9). É à luz de tudo isso que
devemos compreendê-lo, quando escreve: e
progredi na religião judaica mais do que muitos de meus contemporâneos dentre meu
povo, e era o mais ardoroso e entusiasta das tradições de meus pais. Paulo se descreve em estado ainda não convertido:
um entusiasta devotado (cf. Fp 3.6), cheio de zelo farisaico. Aliás, no
original a palavra “entusiasta” é literalmente “zelote”. Em outras passagens
Paulo se descreve como perseguindo “este caminho até à morte” (At 22.4), e como
estando “demasiadamente enfurecido” contra os santos (At 26.11). Lucas escreve
que Saulo de Tarso “respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor”
(At 9.1). Isso não nos surpreende, pois, como no-lo diz em Gálatas 1.14, ele
estava “progredindo” na religião judaica, estava “abrindo caminho” à semelhança
de um prisioneiro, que com sua foice vai abrindo uma picada pela floresta,
destruindo todo obstáculo a fim de poder avançar.”
João
Calvino ao comentar sobre este verso ele salienta de igual forma que Paulo está
usando sua vida regressa para provar que sua conversão ao evangelho e por consequência
o seu evangelho é algo sobrenatural, não é fruto de um trabalho humano. Diz
Calvino: “Toda esta narrativa foi introduzida como parte do argumento de Paulo.
Ele relata que, durante toda a sua vida, nutrira tão profunda rejeição pelo
evangelho, que se tornara um inimigo mortal e um destruidor do cristianismo.
Isso nos leva a inferir que a conversão de Paulo foi divina. E, de fato, ele
convoca os gálatas a serem testemunhas de um assunto indubitável, para remover
toda controvérsia concernente ao que ele diria.” O reformador também elucida que
Paulo ao dizer que “levava vantagem sobre muitos de sua idade” – referia-se na
verdade ao fato de que ele já ultrapassava também os mais experientes, todavia
seria inadequado fazer essa comparação. Paulo na leitura de Calvino já havia
ultrapassado e muito as pessoas de sua faixa etária dentro do judaísmo.
Ao
utilizar a palavra “zelo” o apóstolo deseja ser enfático, aliás Paulo gosta de
causar estes impactos em suas narrativas. Donald Guthrie faz uma observação
pertinente ao salientar: “O zelo é melhor do que a mornidão quando se trata
de pôr em prática as convicções da pessoa, mas um zelo exagerado numa causa
errada pode causar muitos danos, conforme Paulo descobriu à sua própria custa.
Pelo menos nenhum de seus opositores poderia acusa-lo de indiferença nos assuntos
judaicos.”[4]
Paulo mais uma reforça seu argumento de que era preciso muito mais do que algo
do ponto de vista humano para mudar suas convicções.
A
maioria dos estudiosos concordam que a palavra “paradoseis” traduzida
por “tradições” geralmente é usada para se remeter àquela coleção de
ensinamentos orais que eram complementares à lei escrita, e que possuíam autoridade
semelhante a própria lei escrita. Erroneamente alguns estudiosos interpretam “meus
pais” de forma literal, a maioria dos estúdios acreditam que é uma forma metafórica
de se referir aos mestres que ensinavam passando os conteúdos de geração em
geração.
BIBLIOGRAFIA:
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STOTT, John R.W.
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WRIGHT, N.T.
Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson,
2023.
[1] STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas:
somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007, pg. 32.
[2] WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a
formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023, pg. 92.
[3] GUTHRIE, Donald. Introdução e
comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984, pg. 80.
[4] GUTHRIE, Donald. Introdução e
comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984, pg. 81.
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