Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Livro
– Gálatas.
9º AULA – O FEITIÇO VIROU CONTRA O
FEITICEIRO!
“Depois, fui para as
regiões da Síria e da Cilícia. Eu não era conhecido pessoalmente pelas igrejas
de Cristo na Judeia. Apenas tinham ouvido dizer: Aquele que nos perseguia agora
prega a fé que antes tentava destruir. E glorificavam a Deus por minha causa. (Gálatas
1:21-24)”
O apóstolo Paulo continua a enfatizar que não teve
nenhum contato com nenhum dos apóstolos e por este motivo ele cita que foi para
regiões distantes de Jerusalém provando que não teve nenhum contato com alguém
dentre os líderes de Jerusalém para que seu evangelho tivesse algum tipo de
influência ou que fosse fruto de alguma espécie de discipulado que tenha
recebido neste período em que esteve em Jerusalém.
Hendicksen chega a conjecturar uma possível fala de
Paulo ao tentar explicar o que ele quis dizer com esse verso: “Então deixei
Jerusalém e fui para lugares tão distantes que fica excluída a possibilidade de
contato com os Doze, para receber deles o evangelho ou ser por eles seriamente
influenciado.”[1]
Em seu comentário sobre o tempo que Paulo passou
nessas regiões Adolf Pohl diz que foram mais de 10 anos e que não foi desejo do
apóstolo entrar em detalhes de suas atividades que seu resumo apenas desejava
salientar o fato de que ele se manteve longe da região de Jerusalém pelos
motivos já expostos acima até mesmo no pensamento de Hendicksen. Adolf salienta
também a questão de Lucas não ter também entrado em detalhes sobre essas
movimentações de Paulo.
“E não era conhecido de vista: o verbo ressalta a
continuidade do estado de não saber. Desta maneira, o apóstolo deixa
perfeitamente claro que até aquele tempo, não aparecera pessoalmente em
qualquer das igrejas da Judeia. A expressão grega é vívida, e significa que
Paulo era desconhecido “fisionomicamente”, embora os cristãos da Judeia
devessem ter sabido de muita coisa acerca dele para sua reputação, conforme
sugere o v. 23, das igrejas da Judeia, que estavam em Cristo: a descrição das
igrejas aqui como estando en Christo (“em Cristo” ao invés de “de Cristo”) é um
toque tipicamente paulino para distinguir as comunidades cristãs na Judeia
daquelas puramente judaicas. Tem havido muita discussão sobre o uso que Paulo
certamente a visitara. Tem sido sustentado, portanto, que a Judeia, e Paulo
certamente a visitara. Tem sido sustentado, portanto, que a Judeia realmente
podia ser considerada em separado de Jerusalém (assim Lightfoot), como Mateus
3:5. Seja qual for a decisão acerca do significado que Jerusalém fique excluída
dessa área. Se esta for a interpretação correta, qual teria sido o motivo de
Paulo fazer qualquer alusão às igrejas da Judeia? A única resposta razoável
parece ser que a Judeia provavelmente teria sido o campo dos esforços
missionários de Paulo se ele estivesse trabalhando sob os auspícios da igreja
de Jerusalém. Além disto, o fato de não ser conhecido pessoalmente entre as
igrejas da Judeia não teria sido uma desvantagem para Paulo aos olhos do
partido judaizante ao qual se dirigia? Não teriam mais respeito por ele se sua
obra tivesse sido oficialmente patrocinada por estas comunidades? Mas não! Está
independente do patrocínio cristão judaico. De fato, o versículo seguinte
acrescentou mais peso a isto.”[2]
O apóstolo Paulo se refere aos irmãos que estão na
região da Judeia como a “igreja de Cristo na Judeia”. Vale destacar a palavra
usada por Paulo “Ekklesia” traduzida por igreja. Essa palavra era usada pelos
gregos para assembleias, ou algum outro tipo de reunião que envolvia pessoas.
N.T.Wright em seu comentário explica como nos dias
de Paulo essa palavra era utilizada: “A palavra ekklesia simplesmente
significa “uma assembleia”, uma reunião de pessoas. Era usada para corpos
legislativos, reuniões estatutárias, reuniões mais informais e, principalmente,
para as reuniões dos antigos israelitas. O temo “se popularizou entre os
cristãos nas reuniões em que se falava o grego sobretudo por duas razões: para
afirmar a continuidade com Israel pelo uso de uma palavra que se encontra nas
traduções gregas das Escrituras Hebraicas, e para afastar qualquer suspeita,
especialmente na esfera política, de que os cristãos se constituíam em um grupo
desordenado”. Uma ekklesia na Judeia “no Messias” deve ter sido uma assembleia
cívica local ou, de fato, uma sinagoga (equivalente, nos círculos judaicos da
época, praticamente à mesma coisa). Uma ekklesia na Judeia “no Messias” era um
modo de se referir às pequenas comunidades de Jesus que estavam surgindo nas
regiões do entorno de Jerusalém. Eram os membros dessas reuniões que não
conheciam Paulo; ele só tinha conhecido os crentes em Jerusalém, e, dentre os
próprios apóstolos, somente Pedro e Tiago. Paulo continua a destacar sua
independência dos líderes de Jerusalém, o ponto a respeito do qual ele havia sido
questionado.” [3]
Um axioma popular expressava da seguinte forma
o fato de alguém que desejava realizar algo maléfico e acabava sofrendo pelo
próprio mal que desejava ocasionar: “O feitiço se virou contra o feiticeiro!” Esse
axioma expressa exatamente o que o apóstolo Paulo experimentava ao deixar de
ser o perseguidor da fé, daqueles que estavam no caminho, se tornando
perseguido por agora ser um pregador desse evangelho que antes desdenhava e
buscava destruir com todas as suas forças.
Essas
eram as notícias que os irmãos na igreja na região da Judeia apenas ouviam, e o
tempo verbal denota exatamente que eles continuavam “ouvindo” as notícias
acerca das obras das mãos do apóstolo. Aquele
antigo Saulo perseguidor dos irmãos agora é Paulo o pregador das boas novas de
salvação em Cristo Jesus e, se tornara alvo tanto quanto qualquer um deles que
professavam a mesma fé por seus inquisidores tomados pela cegueira espiritual.
O
apóstolo termina o capítulo dizendo que seu testemunho de vida e de pregação do
evangelho rendiam glórias ao nome de Deus Pai. Algo que vale muito destacar. Em
muitas ocasiões ouvi inúmeros testemunhos de conversões onde a pessoa focava
muito em si mesmo do que na graça transformadora de Deus. Era como se a pessoa
colocasse os holofotes em si mesmo, sobre como maravilhosa ela era quem ela
havia si tornado. Todavia, um testemunho que é digno de ser chamado de
testemunho tem por finalidade enaltecer a obra redentora de Cristo e poder
transformador do evangelho. É o Senhor que deve ser engrandecido, enaltecido,
pela maravilhosa que fez, faz e continuará fazendo em nossas vidas até nos
encontrarmos com Ele através da sua parousia ou de nossa morte. [4]
BIBLIOGRAFIA:
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Graça (II) / Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1999.
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São José dos Campos, SP: Editora Fiel. 2007
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D. A. / MOO, Douglas J. / MORRIS, Leon. Introdução ao Novo
Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.
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HALE, Broadus David.
Introdução ao estudo do Novo Testamento; São Paulo, SP: Hagnos, 2001.
HALLEY, Henry Hamptom.
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HENDRIKSEN, William.
Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019.
KELLER, Timothy.
Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.
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LADD, George Eldon.
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LOPES, Hernandes Dias.
Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.
LUTERO, Martinho.
Martinho Lutero: obras selecionadas, v.10 – Interpretação do Novo Testamento –
Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia,
2008.
MacARTHUR, John. Comentário
Bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Rio de
Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.
MacGRATH, Alister.
Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
NICODEMUS, Augustus.
Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP:
Vida Nova, 2016.
POHL, Adolf.
Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica
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STOTT, John R.W.
A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.
WRIGHT, N.T.
Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson,
2023.
[1] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo
Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019, pg. 81.
[2] GUTHRIE, Donald. Introdução e
comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984, pg. 89.
[3] WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a
formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023, pg.108.
[4] Parousia – Termo grego
usado para descrever a segunda volta de Jesus Cristo.
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