quinta-feira, 25 de abril de 2024

9º AULA – O FEITIÇO VIROU CONTRA O FEITICEIRO!

 


Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024

Professor – Roberto da Silva Meireles Rodrigues

Livro – Gálatas.

9º AULA – O FEITIÇO VIROU CONTRA O FEITICEIRO!

“Depois, fui para as regiões da Síria e da Cilícia. Eu não era conhecido pessoalmente pelas igrejas de Cristo na Judeia. Apenas tinham ouvido dizer: Aquele que nos perseguia agora prega a fé que antes tentava destruir. E glorificavam a Deus por minha causa. (Gálatas 1:21-24)”

O apóstolo Paulo continua a enfatizar que não teve nenhum contato com nenhum dos apóstolos e por este motivo ele cita que foi para regiões distantes de Jerusalém provando que não teve nenhum contato com alguém dentre os líderes de Jerusalém para que seu evangelho tivesse algum tipo de influência ou que fosse fruto de alguma espécie de discipulado que tenha recebido neste período em que esteve em Jerusalém.

Hendicksen chega a conjecturar uma possível fala de Paulo ao tentar explicar o que ele quis dizer com esse verso: “Então deixei Jerusalém e fui para lugares tão distantes que fica excluída a possibilidade de contato com os Doze, para receber deles o evangelho ou ser por eles seriamente influenciado.”[1]

Em seu comentário sobre o tempo que Paulo passou nessas regiões Adolf Pohl diz que foram mais de 10 anos e que não foi desejo do apóstolo entrar em detalhes de suas atividades que seu resumo apenas desejava salientar o fato de que ele se manteve longe da região de Jerusalém pelos motivos já expostos acima até mesmo no pensamento de Hendicksen. Adolf salienta também a questão de Lucas não ter também entrado em detalhes sobre essas movimentações de Paulo.

“E não era conhecido de vista: o verbo ressalta a continuidade do estado de não saber. Desta maneira, o apóstolo deixa perfeitamente claro que até aquele tempo, não aparecera pessoalmente em qualquer das igrejas da Judeia. A expressão grega é vívida, e significa que Paulo era desconhecido “fisionomicamente”, embora os cristãos da Judeia devessem ter sabido de muita coisa acerca dele para sua reputação, conforme sugere o v. 23, das igrejas da Judeia, que estavam em Cristo: a descrição das igrejas aqui como estando en Christo (“em Cristo” ao invés de “de Cristo”) é um toque tipicamente paulino para distinguir as comunidades cristãs na Judeia daquelas puramente judaicas. Tem havido muita discussão sobre o uso que Paulo certamente a visitara. Tem sido sustentado, portanto, que a Judeia, e Paulo certamente a visitara. Tem sido sustentado, portanto, que a Judeia realmente podia ser considerada em separado de Jerusalém (assim Lightfoot), como Mateus 3:5. Seja qual for a decisão acerca do significado que Jerusalém fique excluída dessa área. Se esta for a interpretação correta, qual teria sido o motivo de Paulo fazer qualquer alusão às igrejas da Judeia? A única resposta razoável parece ser que a Judeia provavelmente teria sido o campo dos esforços missionários de Paulo se ele estivesse trabalhando sob os auspícios da igreja de Jerusalém. Além disto, o fato de não ser conhecido pessoalmente entre as igrejas da Judeia não teria sido uma desvantagem para Paulo aos olhos do partido judaizante ao qual se dirigia? Não teriam mais respeito por ele se sua obra tivesse sido oficialmente patrocinada por estas comunidades? Mas não! Está independente do patrocínio cristão judaico. De fato, o versículo seguinte acrescentou mais peso a isto.”[2]

O apóstolo Paulo se refere aos irmãos que estão na região da Judeia como a “igreja de Cristo na Judeia”. Vale destacar a palavra usada por Paulo “Ekklesia” traduzida por igreja. Essa palavra era usada pelos gregos para assembleias, ou algum outro tipo de reunião que envolvia pessoas.

N.T.Wright em seu comentário explica como nos dias de Paulo essa palavra era utilizada: “A palavra ekklesia simplesmente significa “uma assembleia”, uma reunião de pessoas. Era usada para corpos legislativos, reuniões estatutárias, reuniões mais informais e, principalmente, para as reuniões dos antigos israelitas. O temo “se popularizou entre os cristãos nas reuniões em que se falava o grego sobretudo por duas razões: para afirmar a continuidade com Israel pelo uso de uma palavra que se encontra nas traduções gregas das Escrituras Hebraicas, e para afastar qualquer suspeita, especialmente na esfera política, de que os cristãos se constituíam em um grupo desordenado”. Uma ekklesia na Judeia “no Messias” deve ter sido uma assembleia cívica local ou, de fato, uma sinagoga (equivalente, nos círculos judaicos da época, praticamente à mesma coisa). Uma ekklesia na Judeia “no Messias” era um modo de se referir às pequenas comunidades de Jesus que estavam surgindo nas regiões do entorno de Jerusalém. Eram os membros dessas reuniões que não conheciam Paulo; ele só tinha conhecido os crentes em Jerusalém, e, dentre os próprios apóstolos, somente Pedro e Tiago. Paulo continua a destacar sua independência dos líderes de Jerusalém, o ponto a respeito do qual ele havia sido questionado.” [3]

             Um axioma popular expressava da seguinte forma o fato de alguém que desejava realizar algo maléfico e acabava sofrendo pelo próprio mal que desejava ocasionar: “O feitiço se virou contra o feiticeiro!” Esse axioma expressa exatamente o que o apóstolo Paulo experimentava ao deixar de ser o perseguidor da fé, daqueles que estavam no caminho, se tornando perseguido por agora ser um pregador desse evangelho que antes desdenhava e buscava destruir com todas as suas forças.

            Essas eram as notícias que os irmãos na igreja na região da Judeia apenas ouviam, e o tempo verbal denota exatamente que eles continuavam “ouvindo” as notícias acerca das obras das mãos do apóstolo.  Aquele antigo Saulo perseguidor dos irmãos agora é Paulo o pregador das boas novas de salvação em Cristo Jesus e, se tornara alvo tanto quanto qualquer um deles que professavam a mesma fé por seus inquisidores tomados pela cegueira espiritual.

            O apóstolo termina o capítulo dizendo que seu testemunho de vida e de pregação do evangelho rendiam glórias ao nome de Deus Pai. Algo que vale muito destacar. Em muitas ocasiões ouvi inúmeros testemunhos de conversões onde a pessoa focava muito em si mesmo do que na graça transformadora de Deus. Era como se a pessoa colocasse os holofotes em si mesmo, sobre como maravilhosa ela era quem ela havia si tornado. Todavia, um testemunho que é digno de ser chamado de testemunho tem por finalidade enaltecer a obra redentora de Cristo e poder transformador do evangelho. É o Senhor que deve ser engrandecido, enaltecido, pela maravilhosa que fez, faz e continuará fazendo em nossas vidas até nos encontrarmos com Ele através da sua parousia ou de nossa morte. [4]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. A Graça (II) / Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1999.

CALVINO, João. Gálatas. São José dos Campos, SP: Editora Fiel. 2007

CARSON, D. A. / MOO, Douglas J. / MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.

GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984.

HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento; São Paulo, SP: Hagnos, 2001.

HALLEY, Henry Hamptom. Manual Bíblico de Haley. São Paulo: Editora Vida, 2001.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019.

KELLER, Timothy. Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.

KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Vida Nova, 2015.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.

LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.

LUTERO, Martinho. Martinho Lutero: obras selecionadas, v.10 – Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008.

MacARTHUR, John. Comentário Bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.

MacGRATH, Alister. Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

NICODEMUS, Augustus. Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.

POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999.

STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.

WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023.

 

 



[1] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019, pg. 81.

[2] GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984, pg. 89.

[3] WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023, pg.108.

[4] Parousia – Termo grego usado para descrever a segunda volta de Jesus Cristo.

 

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