quinta-feira, 23 de maio de 2024

13º AULA – AS MARCAS DA UNIDADE – PARTE 2

 


Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024

Professor – Roberto da Silva Meireles Rodrigues

Livro – Gálatas.

13º AULA – AS MARCAS DA UNIDADE – PARTE 2

“Pois aquele que agiu por meio de Pedro para o apostolado da circuncisão também agiu por meu intermédio para o apostolado aos gentios. E quando reconheceram a graça que me havia sido dada, Tiago, Cefas e João, considerados colunas, estenderam a mão direita de comunhão a mim e a Barnabé, para que fôssemos aos gentios, e eles, à circuncisão. E nos recomendaram somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com cuidado.” (Gálatas 2:8-10)”

            Como foi bem posto no episódio anterior Paulo não deseja apontar uma diferença entre as mensagens pregadas por ele e Pedro. Não existem dois evangelhos, ou qualquer outra variante nesse sentido. Muito pelo contrário, o que o apóstolo está enfatizando é a forma que o mesmo é anunciado e também a vocação específica dada pelo Senhor a ele, Paulo aos gentios, e a Pedro os judeus.

             “Assim, enquanto no versículo 7 ele destaca que Deus havia confiado a ele e a Pedro levar o mesmo evangelho a esses dois grupos, no versículo 8 ele destaca que o poder de Deus agiu em ambos os casos: “aquele que deu a Pedro o poder para ser um apóstolo para a circuncisão me deu poder de ir aos gentios”. A palavra é energeo, da qual recebemos a palavra “energia”; Paulo não se referindo tanto à energia física necessária para executar uma tarefa, embora isso certamente também esteja envolvido, mas, sim, ao poder divino em ação nos dois casos. Como sempre, Paulo se recusava a ver o evangelho como algo que ele tinha e que poderia distribuir. Ele lhe havia sido concedido em confiança. Quando ele o anunciava e percebia seu efeito de transformar vidas, sempre se apressava a dizer que essa obra de Deus, e não dele.”[1]

            Os apóstolos que são chamados “pilares”, ou seja, os líderes da igreja de Jerusalém reconhecem a ação de Deus através da vida de Paulo e sua equipe missionária. O reconhecimento vem pelo que chamamos de “sinais”. Tiago, Pedro e João reconheceram que o mesmo Espírito que se manifestava através deles também se manifestava através de Paulo e sua equipe missionária.

            O termo usado pelo apóstolo “colunas” para se referir aos líderes da igreja era comumente conhecido e evidenciava a importância e o respeito daqueles irmãos no seio da igreja. Adolf Pohl explica: “Na Antiguidade a coluna era conhecida como figura para pessoas especialmente experimentadas. Entretanto, no judaísmo e claramente no NT essa comparação implica mais do que reconhecer a confiabilidade humana. Para as “colunas” em Ap 3.12 e 1Tm 3.15 é importante que elas estejam erigidas num templo espiritual. Portanto, trata-se de seres humanos que o próprio Deus havia colocado ali como portadores determinantes da revelação. Com isso passa para segundo plano a ideia de qualidades humanas. A ênfase reside na autoridade de seu serviço presenteada por Deus. É essa autoridade que Paulo, pois, reconhece honestamente nas três pessoas aqui citadas. Foi ela que motivou sua viagem a Jerusalém (v.2, cf Gl 1.18). Por causa dela ele lutou por esse entendimento solene. É por isso que também possui força para convencer os gálatas.” [2]

Todavia, N.T.Wright faz uma análise teológica interessante sobre essa questão. Ele diz em seu comentário: “Mais uma observação sobre os versículos 6 a 10. Paulo e Barnabé tinham levado dinheiro de Antioquia para Jerusalém. Uma das coisas que sabemos sobre a igreja ao longo de seus séculos iniciais é que o cuidado com os pobres fazia parte do DNA do movimento desde o começo. Afinal, isso está relacionado ao próprio ensino e prática de Jesus, com base em passagens como a pauta messiânica do salmo 72. A razão pela qual a glória de Deus enche toda a terra, no final deste salmo, é que o rei faz justiça aos pobres e aos oprimidos. Do mesmo modo que o rei deve construir o templo para que a glória divina possa habitar nele, o rei ideal deve tratar os pobres e necessitados com justiça e misericórdia, a fim de que a glória divina possa habitar em toda a terra. No evangelho, essas duas ideias se juntam; Jesus estabeleceu o novo templo – com alguns de seus amigos sendo reconhecidos como “pilares”! – e o próprio Espírito de Deus enche essa comunhão de glória. Entretanto, isso não acontece sem um propósito definido. Isso se dá para que, por meio disso, as passagens do salmo 72 e as outras, por sua vez, se cumpram. A revelação gloriosa de Deus no templo é o sinal do propósito de Deus de encher todo o mundo com sua glória e, mediante a obra dos seguidores de Jesus, esse propósito deve ser posto em prática, alcançando o mundo de forma mais ampla (como em Gálatas 6.10). Esse DNA régio, esse fio messiânico, aparece claramente na vida da igreja primitiva. Eles eram seguidores de Jesus, e isso indicava que estavam cuidando dos pobres.”[3]

            A comunhão existente entre os principais líderes e a igreja do Senhor Jesus possibilitavam um ambiente para a manifestação do poder de Deus. Vale citar mais um salmo: “Como é bom e agradável os irmãos viverem em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce para à barba, a barba de Arão, e desce sobre a gola das suas vestes; como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali o Senhor ordena a benção e a vida para sempre”. (Salmo 133)

            Em comunhão, em oração diante do Senhor eles concordam sobre como haveria de ser as divisões de áreas geográficas para cada qual pregar o evangelho do Reino de Deus. Na minha humilde opinião, a divisão da obra do Senhor se deu por questões geográficas e não étnicas. Pois, ao lermos o livro de Atos dos Apóstolo podemos perceber o apóstolo Paulo chegando aos lugares em suas viagens missionárias e indo diretamente as sinagogas. Caso as divisões de trabalho se dessem por etnias acredito que Paulo não teria atitudes semelhantes.

            O Rev. Hernandes Dias Lopes foi muito feliz em seu comentário ao que toda boa doutrina desemboca em prática. Até mesmo porque sabemos que a fé sem obras é morta. Ele aplica ressaltando duas questões importantes: 1) não há conflito entre fé e obras. Hernandes diz: “O evangelho da graça é integral. Ele provê salvação para alma e redenção para o corpo. É transcendental e ao mesmo tempo assistencial. Não existe conflito entre evangelização e ação social. Fé e obras não se excluem; complementam-se. Quando o coração está aberto para Deus, está também franqueado para o próximo. A conversão do coração passa também pela generosidade do bolso. Quem ama a Deus também serve ao próximo. Quem adora a Deus também socorre ao necessitado.”; 2) não conflito entre evangelização e ação social. Ele diz: “Evangelização sem ação social gera um pietismo alienado; ação social sem evangelização produz um assistencialismo humanista. Ao longo dos séculos o evangelho de Cristo tem sido o vetor inspirador para as maiores obras sociais do mundo, criando hospitais, escolas, asilos e dezenas de instituições que cuidam do ser humano.”

            Ao estudarmos a Palavra de Deus fica evidente o desejo de Deus que o evangelho seja anunciado de forma integral. A fé precisa levar as obras e, as obras por sua vez, deve ser jungida a mensagem salvadora do evangelho. Foi exatamente isso que concluiu o Pacto de Lausanne quando diz: “O evangelho todo para o ser humano todo, e para todo o ser humano”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. A Graça (II) / Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1999.

CALVINO, João. Gálatas. São José dos Campos, SP: Editora Fiel. 2007

CARSON, D. A. / MOO, Douglas J. / MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.

GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Editora Vida, 2005.

GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984.

HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento; São Paulo, SP: Hagnos, 2001.

HALLEY, Henry Hamptom. Manual Bíblico de Haley. São Paulo: Editora Vida, 2001.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019.

KELLER, Timothy. Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.

KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Vida Nova, 2015.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.

LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.

LUTERO, Martinho. Martinho Lutero: obras selecionadas, v.10 – Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008.

MacARTHUR, John. Comentário Bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.

MacGRATH, Alister. Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

NICODEMUS, Augustus. Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.

POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999.

STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.

WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023.

 

 

 



[1] WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023, pg. 120.

[2] POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999, pg. 69.

[3] WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023, pg. 122.

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