Projeto – “De bem com a Bíblia” – abril de 2024
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Livro
– Gálatas.
13º AULA – AS MARCAS DA UNIDADE –
PARTE 2
“Pois aquele que agiu por
meio de Pedro para o apostolado da circuncisão também agiu por meu intermédio
para o apostolado aos gentios. E quando reconheceram a graça que me havia sido
dada, Tiago, Cefas e João, considerados colunas, estenderam a mão direita de
comunhão a mim e a Barnabé, para que fôssemos aos gentios, e eles, à
circuncisão. E nos recomendaram somente que nos lembrássemos dos pobres, o que
também procurei fazer com cuidado.” (Gálatas 2:8-10)”
Como
foi bem posto no episódio anterior Paulo não deseja apontar uma diferença entre
as mensagens pregadas por ele e Pedro. Não existem dois evangelhos, ou qualquer
outra variante nesse sentido. Muito pelo contrário, o que o apóstolo está
enfatizando é a forma que o mesmo é anunciado e também a vocação específica
dada pelo Senhor a ele, Paulo aos gentios, e a Pedro os judeus.
“Assim, enquanto no versículo 7 ele destaca
que Deus havia confiado a ele e a Pedro levar o mesmo evangelho a esses dois
grupos, no versículo 8 ele destaca que o poder de Deus agiu em ambos os casos: “aquele
que deu a Pedro o poder para ser um apóstolo para a circuncisão me deu poder de
ir aos gentios”. A palavra é energeo, da qual recebemos a palavra “energia”;
Paulo não se referindo tanto à energia física necessária para executar uma
tarefa, embora isso certamente também esteja envolvido, mas, sim, ao poder
divino em ação nos dois casos. Como sempre, Paulo se recusava a ver o evangelho
como algo que ele tinha e que poderia distribuir. Ele lhe havia sido concedido
em confiança. Quando ele o anunciava e percebia seu efeito de transformar
vidas, sempre se apressava a dizer que essa obra de Deus, e não dele.”[1]
Os apóstolos que são chamados “pilares”, ou seja, os
líderes da igreja de Jerusalém reconhecem a ação de Deus através da vida de
Paulo e sua equipe missionária. O reconhecimento vem pelo que chamamos de “sinais”.
Tiago, Pedro e João reconheceram que o mesmo Espírito que se manifestava
através deles também se manifestava através de Paulo e sua equipe missionária.
O
termo usado pelo apóstolo “colunas” para se referir aos líderes da igreja era comumente
conhecido e evidenciava a importância e o respeito daqueles irmãos no seio da
igreja. Adolf Pohl explica: “Na Antiguidade a coluna era conhecida como
figura para pessoas especialmente experimentadas. Entretanto, no judaísmo e
claramente no NT essa comparação implica mais do que reconhecer a confiabilidade
humana. Para as “colunas” em Ap 3.12 e 1Tm 3.15 é importante que elas estejam
erigidas num templo espiritual. Portanto, trata-se de seres humanos que o
próprio Deus havia colocado ali como portadores determinantes da revelação. Com
isso passa para segundo plano a ideia de qualidades humanas. A ênfase reside na
autoridade de seu serviço presenteada por Deus. É essa autoridade que Paulo,
pois, reconhece honestamente nas três pessoas aqui citadas. Foi ela que motivou
sua viagem a Jerusalém (v.2, cf Gl 1.18). Por causa dela ele lutou por esse
entendimento solene. É por isso que também possui força para convencer os
gálatas.” [2]
Todavia, N.T.Wright faz uma análise teológica
interessante sobre essa questão. Ele diz em seu comentário: “Mais uma observação
sobre os versículos 6 a 10. Paulo e Barnabé tinham levado dinheiro de Antioquia
para Jerusalém. Uma das coisas que sabemos sobre a igreja ao longo de seus
séculos iniciais é que o cuidado com os pobres fazia parte do DNA do movimento
desde o começo. Afinal, isso está relacionado ao próprio ensino e prática de Jesus,
com base em passagens como a pauta messiânica do salmo 72. A razão pela qual a
glória de Deus enche toda a terra, no final deste salmo, é que o rei faz
justiça aos pobres e aos oprimidos. Do mesmo modo que o rei deve construir o
templo para que a glória divina possa habitar nele, o rei ideal deve tratar os
pobres e necessitados com justiça e misericórdia, a fim de que a glória divina
possa habitar em toda a terra. No evangelho, essas duas ideias se juntam; Jesus
estabeleceu o novo templo – com alguns de seus amigos sendo reconhecidos como “pilares”!
– e o próprio Espírito de Deus enche essa comunhão de glória. Entretanto, isso
não acontece sem um propósito definido. Isso se dá para que, por meio disso, as
passagens do salmo 72 e as outras, por sua vez, se cumpram. A revelação
gloriosa de Deus no templo é o sinal do propósito de Deus de encher todo o
mundo com sua glória e, mediante a obra dos seguidores de Jesus, esse propósito
deve ser posto em prática, alcançando o mundo de forma mais ampla (como em Gálatas
6.10). Esse DNA régio, esse fio messiânico, aparece claramente na vida da
igreja primitiva. Eles eram seguidores de Jesus, e isso indicava que estavam
cuidando dos pobres.”[3]
A
comunhão existente entre os principais líderes e a igreja do Senhor Jesus possibilitavam
um ambiente para a manifestação do poder de Deus. Vale citar mais um salmo: “Como
é bom e agradável os irmãos viverem em união! É como o óleo precioso sobre a
cabeça, que desce para à barba, a barba de Arão, e desce sobre a gola das suas
vestes; como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali o
Senhor ordena a benção e a vida para sempre”. (Salmo 133)
Em
comunhão, em oração diante do Senhor eles concordam sobre como haveria de ser
as divisões de áreas geográficas para cada qual pregar o evangelho do Reino de
Deus. Na minha humilde opinião, a divisão da obra do Senhor se deu por questões
geográficas e não étnicas. Pois, ao lermos o livro de Atos dos Apóstolo podemos
perceber o apóstolo Paulo chegando aos lugares em suas viagens missionárias e
indo diretamente as sinagogas. Caso as divisões de trabalho se dessem por
etnias acredito que Paulo não teria atitudes semelhantes.
O Rev.
Hernandes Dias Lopes foi muito feliz em seu comentário ao que toda boa doutrina
desemboca em prática. Até mesmo porque sabemos que a fé sem obras é morta. Ele
aplica ressaltando duas questões importantes: 1) não há conflito entre fé e
obras. Hernandes diz: “O evangelho da graça é integral. Ele provê salvação
para alma e redenção para o corpo. É transcendental e ao mesmo tempo
assistencial. Não existe conflito entre evangelização e ação social. Fé e obras
não se excluem; complementam-se. Quando o coração está aberto para Deus, está
também franqueado para o próximo. A conversão do coração passa também pela generosidade
do bolso. Quem ama a Deus também serve ao próximo. Quem adora a Deus também
socorre ao necessitado.”; 2) não conflito entre evangelização e ação
social. Ele diz: “Evangelização sem ação social gera um pietismo alienado;
ação social sem evangelização produz um assistencialismo humanista. Ao longo
dos séculos o evangelho de Cristo tem sido o vetor inspirador para as maiores
obras sociais do mundo, criando hospitais, escolas, asilos e dezenas de instituições
que cuidam do ser humano.”
Ao
estudarmos a Palavra de Deus fica evidente o desejo de Deus que o evangelho
seja anunciado de forma integral. A fé precisa levar as obras e, as obras por
sua vez, deve ser jungida a mensagem salvadora do evangelho. Foi exatamente
isso que concluiu o Pacto de Lausanne quando diz: “O evangelho todo para o ser
humano todo, e para todo o ser humano”.
BIBLIOGRAFIA:
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Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.
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Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.
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Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia,
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STOTT, John R.W.
A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.
WRIGHT, N.T.
Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson,
2023.
[1] WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a
formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023, pg. 120.
[2] POHL, Adolf.
Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica
Esperança, 1999, pg. 69.
[3] WRIGHT, N.T.
Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023,
pg. 122.
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