Projeto – “De bem com a Bíblia” – junho de 2024
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Livro
– Gálatas.
16º AULA – INSENSATEZ
“Ó gálatas insensatos!
Quem vos seduziu? Não foi diante de vós que Jesus Cristo foi exposto como
crucificado? É só isto que quero saber de vós: foi pelas obras da lei que
recebestes o Espírito, ou pela fé naquilo que ouvistes? Sois tão insensatos
assim, a ponto de, tendo começado pelo Espírito, estar agora vos aperfeiçoando
pela carne? Será que sofrestes tanto por nada? Se é que isso foi por nada!
Aquele que vos dá o Espirito, e que realiza milagres entre vós, será que o faz
pelas obras da lei ou pela fé naquilo que ouviste?” (Gálatas 3:1-5)”
Como
anteriormente estudamos e por esse motivo podemos concluir que nos dois
primeiros capítulos da epístola aos Gálatas o apóstolo Paulo se dedicou
exaustivamente a argumentar acerca da autenticidade de seu apostolado e da
autoridade do evangelho ministrado por ele. Deixando claro que tanto seu
chamado quanto a mensagem que ele pregava eram oriundas diretamente da pessoa
do Senhor Jesus, não tendo participação ou algum tipo de vínculo humano.
Paulo
inicia o capítulo se remetendo aos irmãos de uma forma veemente forte. Ele os
chama de “insensatos”. Essa palavra em nosso vernáculo possui o sentido de
imprudência, alguém desprovido de juízo, podemos até mesmo usar como palavras
sinônimas a insensatez as seguintes palavras: demência, loucura, disparate,
desorientação, aluamento. Sendo mais objetivo essa palavra em nossa língua
possui a conotação de pessoas que estão desprovida de bom senso.
Porém,
será que a palavra usada no original grego pelo apóstolo possui essa mesma
conotação? O comentarista William Hedriksen responde essa reflexão em seu
comentário: “Um estudo da palavra “insensato” ou “néscio”, em Lucas 24.25;
Romanos 1.14; 1Timotéo 6.9, bem como em Tito 3.3, evidenciará que a palavra no
original indica uma atitude do coração e não apenas de um estado de mente.
Refere-se não propriamente à obtusidade, mas à negligência pecaminosa de uma
pessoa em usar seu poder mental para tirar o melhor proveito. Os gálatas, ao
darem ouvidos aos argumentos dos legalistas, não foram propriamente lerdos, mas
irrefletidos; não foram ignorantes, mas insensatos; não foram estultos, mas
néscios. E não são néscios todos aqueles que trocam a verdade de Deus pela
maneira de Satanás, a paz pela intranquilidade, a certeza pela dúvida, o
regozijo pelo medo e a liberdade pela escravidão?”[1]
Logo
depois de chamá-los de insensatos o apóstolo diz que eles foram enfeitiçados. A
pergunta que o apóstolo faz na verdade é retórica. Ele sabe o nome e sabe quem
são as pessoas que estão envolvidas por trás desse processo que seduziram os
gálatas ao desvio da sã doutrina. Ele na verdade não deseja é que eles recebam
atenção e por isso nem aos menos os cita por nome.
A expressão “seduziu” ou em outras
traduções “enfeitiçados” não pode ser interpretada de forma literal como
acredito que comumente iria ser entendida. O apóstolo não estava dizendo que
eles estavam possessos, ou algo semelhante. Mas desejando expressar sua surpresa
ao deparar com o fato de que eles estavam sendo dissuadidos a pensar e a viver
um evangelho diferente do que lhe fora ensinado por Paulo.
Paulo faz outra pergunta retórica os
indagando acerca da crucificação de Jesus. Na verdade, Paulo não estava
querendo dizer que eles foram testemunhas oculares do momento da crucificação,
mas sim que o evangelho que foi ensinado a eles tinha como base doutrinária a
obra expiatória de Jesus na cruz do Calvário.
O
apóstolo estava enfatizando as implicações do sacrifício de Jesus na vida
daqueles que o confessam como Senhor e Salvador de suas vidas, como os gálatas
haviam feito anos atrás em decorrência do ministério e da pregação do apóstolo.
É por essa questão que Paulo fica perplexo com o desvio doutrinário dos irmãos,
pois eles haviam recebido o verdadeiro evangelho e experimentado em suas
próprias vidas os benefícios do mesmo. Esse fator se tornar um dos principais
argumento do apóstolo nos próximos versículos que iremos analisar.
Donald
Guthrie comenta que a forma e a linguagem usada por Paulo para se comunicar com
os gálatas e semelhante a que um professor de crianças poderia utilizar.
Destarte, destaco que o Paulo continua realizando perguntas retóricas com
intuito de levar seus leitores a compreensão que ele almeja.
O
argumento principal de Paulo nestes versos é a implicação da salvação outorgada
por Jesus na vida de todo aquele o confessa como Senhor e Salvador de sua vida.
Paulo estava desejoso de conscientizar os irmãos acerca da justificação pela fé
em detrimento da justificação pelas obras da lei.
Uma
vez justificados pela fé em Cristo Jesus recebemos do Senhor o seu Penhor
(Espírito Santo) que agora nos encaminhará em um processo de amadurecimento
espiritual ao qual geralmente chamamos de santificação. Ao estudarmos a
disciplina de teologia sistemática nos deparamos com que é nominado três
processos da salvação: regeneração, santificação e glorificação.
Adolf
Pohl diz que existem três contribuições destacadas pelo apóstolo Paulo nesta
questão: 1) falar do recebimento do Espírito faz parte da descrição normal de
como alguém se torna cristão: recebe-se participação no Espírito de Jesus
Cristo. “Aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele” (1Co 6.17; cf Hb 6.4;
“se tornaram participantes do Espírito Santo”); Com a mesma naturalidade vale o
seguinte: O recebimento do Espírito está combinado com a mensagem da cruz. A
cruz de Cristo como contexto explícito não apenas apareceu na frase anterior,
mas já constituiu o ponto de orientação, versículo por versículo, desde Gl 2.19;
recebimento do Espírito é uma experiência que passa ao nível da consciência.”
Concluindo
esse pensamento Pohl vai salientar: “Ninguém poderia negar que Deus começa
agir no abscôndito do coração, subtraído da consciência humana. Porém Deus não
se esconde ali. Ela busca a publicidade. Seu Espírito preenche corpo e alma,
rompe para fora em palavras e ações. Por isso ninguém se torna cristão sem percebê-lo.
Nossa carta arrola características do recebimento do Espírito. Conforme Gl 4.6
existe o milagre da oração na certeza da salvação, conforme Gl 4.14,15 e 3.38
ocorre o estabelecimento de uma comunhão até então desconhecida entre pessoas
totalmente estranhas entre si, conforme Gl 5.1 acontece uma inesquecível saída
para a liberdade. Aqui, no v.4, Paulo resume tudo com a expressão de que os gálatas
haviam experimentado “tão grandes coisas” (BJ) (e ainda as experimentavam, v
5). Naturalmente essas características não são provas para a pessoa cética,
contudo são existentes enquanto fenômenos, os quais podem ser submetidas à
dúvida. Tornar-se cristão não acontece, por princípio, na transcendência.” [2]
O
apóstolo termina fazendo uma ligação entre o desenvolvimento cristão com a
atuação do Espírito Santo e que só é possibilitado a pessoa que já passou pelo
processo de regeneração. É ao nascer de novo que recebemos o Espírito Santo e,
é este Espírito que nos santificará n’Ele, nos dará dons espirituais como
capacitação para realizarmos a obra do Senhor e também nos fará perseverar em
santidade até aquele grande dia.
Mais
uma vez o apóstolo faz o contraste entre a carne e o espírito. Paulo deixa bem
claro que ao tentarmos realizarmos qualquer um dos processos da salvação tendo
como pressuposto as obras da lei estamos entrando em um processo de engano, ou
seja, estamos sendo guiados pela carne.
Todavia,
ao depositarmos nossa confiança no Senhor Jesus, na obra salvadora realizada
por Ele na cruz do Calvário. Estamos depositando nossa confiança n’Ele e
realmente somos levados ao novo nascimento e ao processo de santificação pelo
Espírito Santo até o dia de nossa glorificação que também será uma obra d’Ele.
A
grande insensatez dos gálatas residia no fato de terem conhecido o verdadeiro
evangelho ensinado pelo apóstolo Paulo e agora estarem dando ouvidos aos falsos
mestres judaizantes. É por este motivo que o apóstolo está indignado, mas ao
mesmo tempo perplexo: “Estou admirado de que estejais vos desviando tão
depressa daquele que vos chamou pela graça de Cristo para outro evangelho.” (Gl
1.6)
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