quinta-feira, 20 de junho de 2024

17º AULA – Filhos de Abraão

 


Projeto – “De bem com a Bíblia” – junho de 2024

Professor – Roberto da Silva Meireles Rodrigues

Livro – Gálatas.

17º AULA – Filhos de Abraão

“Assim foi com Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi atribuído como justiça. Sabei, então, que os da fé é que são filhos de Abraão. E a Escritura, prevendo que Deus iria justificar os gentios pela fé, anunciou com antecedência a boa notícia a Abraão, dizendo: Em ti serão abençoadas todas as nações. Desse modo, os da fé são abençoados juntamente com Abraão, homem que creu.” (Gálatas 3:6-9)”

            O apóstolo Paulo nestes versos começa a usar um argumento de mestre contra aqueles que eram seus algozes. Como os falsos mestres judaizantes acreditavam ser discípulos de Moisés o apóstolo irá usar os escritos do próprio Moises para argumentar com eles acerca da justificação pela fé.

Além disso, Abraão é conhecido como o pai do povo judeu. O apóstolo Paulo como sempre tem sempre suas considerações e argumentos muito bem arquitetados e concatenados. Em um português mais popular: “Ele não dá ponto sem nós!”

Paulo irá usar a passagem que descreve a promessa de Deus a Abraão: “Então o levou para fora e disse: olha agora para o céu e conta as estrelas, se é que consegues conta-las; e acrescentou: assim será a tua descendência. E Abrão creu no Senhor; e o Senhor atribuiu-lhe isso como justiça.” (Gênesis 15:5,6)

            Existia uma crença entre os judeus e obviamente preservada pelos mestres judaizantes que perseguiam ao apóstolo Paulo de que simplesmente por serem biologicamente descentes de Abraão eles herdavam as bençãos prometidas pelo Senhor ao chamado “pai da fé”.

            Porém, a crença deles estava baseada em uma compreensão errada acerca da promessa de Deus a Abraão estabelecida no texto. A promessa nunca esteve ligada ao Abraão, mas sim ao seu descendente e, por isso o texto diz que Abraão creu e isso lhe foi imputado como Justiça. Afinal, em que Abraão creu? Ele creu que de sua descendência viria o verdadeiro filho da promessa e o Moriá foi uma forma pedagógica de Deus simbolizar o que iria acontecer no Calvário.

            Na verdade, a justificação de Abraão não se deu por alguma ação ou por algum mérito pessoal dele mesmo. Mas, sim, na fé que Abraão teve na promessa que Deus o havia feito e por isso o autor aos Hebreus vai dizer: “Portanto, também de um homem já sem vigor físico nasceu uma descendência tão numerosa quanto as estrelas do céu e incontável como a areia na praia do mar. Todos esses morreram mantendo a fé, sem ter recebido as promessas; mas tendo-as visto e acolhendo-as de longe, declararam ser estrangeiros e peregrinos na terra.” (Hebreus 11:12,13)

            O comentarista Timothy Keller tece os seguintes comentários: “Quando Deus “atribui justiça”, confere status legal alguém. Trata essa pessoa como justa de fato e a livra de condenação, embora ela continue injusta no coração e em comportamento. Ela está “justificada”. Isso vai contra toda religião tradicional, que nos diz que, de duas uma: ou vivemos da maneira certa – portanto agradando a Deus e sem aceitáveis a ele – ou vivemos de modo injusto – portanto separados de Deus. Mas Paulo (e Abraão) está mostrando que é possível ser amado e aceito por Deus, embora sejamos pecadores e imperfeitos. A famosa frase de Martinho Lutero diz que os cristãos são simul justus er peccator – simultaneamente justos e pecadores. Paulo defende a mesma ideia em Romanos, ao declarar que Deus “justifica o ímpio (Rm 4.5; observe que nesse capítulo, como em Gl 3, Paulo cita Abraão para servir de base ao seu argumento). Quando uma pessoa recebe justiça atribuída (i.e., justificada), continua sendo ímpia! O status de justificado não lhe é atribuído por ela ter levado o próprio coração a determinado nível de submissão e adoração. Você não purifica sua vida a fim de fazer por merecer a justiça atribuída, antes você a recebe enquanto ainda é um pecador”. [1]

            A justificação de Abraão se deu pela fé e por este motivo que o apóstolo Paulo vai dizer que: “Sabei, então, que os da fé é que são filhos de Abraão.” (verso 7) Ou seja, os verdadeiros filhos de Abraão não são aqueles que são simplesmente seus descendentes biológicos, mas sim os que possuem a mesma fé que possuiu Abraão.

            O apóstolo é tão perspicaz que ele usa os últimos versos para aplicar esse seu argumento dizendo que é por este motivo que os gentios pela fé se tornam filhos de Abraão. Diz ele: “E a Escritura, prevendo que Deus iria justificar os gentios pela fé, anunciou com antecedência a boa notícia a Abraão, dizendo: Em ti serão abençoadas todas as nações. Desse modo, os da fé são abençoados juntamente com Abraão, homem que creu”. (versos 8 e 9)

            John Stott explica de forma magistral em seu comentário: “Com essa promessa de Deus a Abraão Paulo agora passa para uma outra promessa mais recente. Versículo 7-9: Sabeis, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, prenunciou o evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos. Aqui Paulo está citando Gênesis 12:3 (cf. Gn 22:17, 18; At 3:25). Convém examinarmos que bênção era essa e como todas as nações viriam a herdá-la. A bênção é a justificação, a maior de todas as bênçãos, pois os verbos “justificar” e “abençoar” são usados como equivalentes no versículo 8. E o meio pelo qual a bênção seria herdada é a fé (“Deus justificaria pela fé os gentios”), que era a única forma de os gentios herdarem a bênção de Abraão, uma vez que Abraão era o pai da raça judia. Talvez os judaizantes estivessem dizendo aos gálatas convertidos que deviam se tornar filhos de Abraão através da circuncisão. Paulo, então, os contradiz, dizendo que os gálatas já eram filhos de Abraão, não pela circuncisão, mas pela fé.”[2]

           

           

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. A Graça (II) / Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1999.

CALVINO, João. Gálatas. São José dos Campos, SP: Editora Fiel. 2007

CARSON, D. A. / MOO, Douglas J. / MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.

GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo: Editora Vida, 2005.

GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984.

HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento; São Paulo, SP: Hagnos, 2001.

HALLEY, Henry Hamptom. Manual Bíblico de Haley. São Paulo: Editora Vida, 2001.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019.

KELLER, Timothy. Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.

KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Vida Nova, 2015.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.

LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.

LUTERO, Martinho. Martinho Lutero: obras selecionadas, v.10 – Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008.

MacARTHUR, John. Comentário Bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.

MacGRATH, Alister. Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

NICODEMUS, Augustus. Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.

POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999.

STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.

WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023.

 

 

 



[1] KELLER, Timothy. Gálatas para você. São Paulo: Vida Nova, 2015, pg. 75.

[2] STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007, pg. 68.

 

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