Projeto – “De bem com a Bíblia” – junho de 2024
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Livro
– Gálatas.
17º AULA – Filhos de Abraão
“Assim foi com Abraão,
que creu em Deus, e isso lhe foi atribuído como justiça. Sabei, então, que os
da fé é que são filhos de Abraão. E a Escritura, prevendo que Deus iria
justificar os gentios pela fé, anunciou com antecedência a boa notícia a
Abraão, dizendo: Em ti serão abençoadas todas as nações. Desse modo, os da fé
são abençoados juntamente com Abraão, homem que creu.” (Gálatas 3:6-9)”
O
apóstolo Paulo nestes versos começa a usar um argumento de mestre contra
aqueles que eram seus algozes. Como os falsos mestres judaizantes acreditavam
ser discípulos de Moisés o apóstolo irá usar os escritos do próprio Moises para
argumentar com eles acerca da justificação pela fé.
Além disso, Abraão é conhecido como o pai do povo
judeu. O apóstolo Paulo como sempre tem sempre suas considerações e argumentos
muito bem arquitetados e concatenados. Em um português mais popular: “Ele não
dá ponto sem nós!”
Paulo irá usar a passagem que descreve a promessa de
Deus a Abraão: “Então o levou para fora e disse: olha agora para o céu e
conta as estrelas, se é que consegues conta-las; e acrescentou: assim será a
tua descendência. E Abrão creu no Senhor; e o Senhor atribuiu-lhe isso como
justiça.” (Gênesis 15:5,6)
Existia
uma crença entre os judeus e obviamente preservada pelos mestres judaizantes
que perseguiam ao apóstolo Paulo de que simplesmente por serem biologicamente
descentes de Abraão eles herdavam as bençãos prometidas pelo Senhor ao chamado
“pai da fé”.
Porém,
a crença deles estava baseada em uma compreensão errada acerca da promessa de
Deus a Abraão estabelecida no texto. A promessa nunca esteve ligada ao Abraão,
mas sim ao seu descendente e, por isso o texto diz que Abraão creu e isso lhe
foi imputado como Justiça. Afinal, em que Abraão creu? Ele creu que de sua
descendência viria o verdadeiro filho da promessa e o Moriá foi uma forma
pedagógica de Deus simbolizar o que iria acontecer no Calvário.
Na
verdade, a justificação de Abraão não se deu por alguma ação ou por algum
mérito pessoal dele mesmo. Mas, sim, na fé que Abraão teve na promessa que Deus
o havia feito e por isso o autor aos Hebreus vai dizer: “Portanto, também de
um homem já sem vigor físico nasceu uma descendência tão numerosa quanto as
estrelas do céu e incontável como a areia na praia do mar. Todos esses morreram
mantendo a fé, sem ter recebido as promessas; mas tendo-as visto e acolhendo-as
de longe, declararam ser estrangeiros e peregrinos na terra.” (Hebreus
11:12,13)
O comentarista Timothy Keller tece os seguintes
comentários: “Quando Deus “atribui justiça”, confere status legal alguém.
Trata essa pessoa como justa de fato e a livra de condenação, embora ela
continue injusta no coração e em comportamento. Ela está “justificada”. Isso
vai contra toda religião tradicional, que nos diz que, de duas uma: ou vivemos
da maneira certa – portanto agradando a Deus e sem aceitáveis a ele – ou
vivemos de modo injusto – portanto separados de Deus. Mas Paulo (e Abraão) está
mostrando que é possível ser amado e aceito por Deus, embora sejamos pecadores
e imperfeitos. A famosa frase de Martinho Lutero diz que os cristãos são simul
justus er peccator – simultaneamente justos e pecadores. Paulo defende a mesma
ideia em Romanos, ao declarar que Deus “justifica o ímpio (Rm 4.5; observe que
nesse capítulo, como em Gl 3, Paulo cita Abraão para servir de base ao seu
argumento). Quando uma pessoa recebe justiça atribuída (i.e., justificada),
continua sendo ímpia! O status de justificado não lhe é atribuído por ela ter
levado o próprio coração a determinado nível de submissão e adoração. Você não
purifica sua vida a fim de fazer por merecer a justiça atribuída, antes você a
recebe enquanto ainda é um pecador”. [1]
A justificação de Abraão se deu pela fé e por este
motivo que o apóstolo Paulo vai dizer que: “Sabei, então, que os da fé é que
são filhos de Abraão.” (verso 7) Ou seja, os verdadeiros filhos de Abraão
não são aqueles que são simplesmente seus descendentes biológicos, mas sim os
que possuem a mesma fé que possuiu Abraão.
O
apóstolo é tão perspicaz que ele usa os últimos versos para aplicar esse seu
argumento dizendo que é por este motivo que os gentios pela fé se tornam filhos
de Abraão. Diz ele: “E a Escritura, prevendo que Deus iria justificar os
gentios pela fé, anunciou com antecedência a boa notícia a Abraão, dizendo: Em
ti serão abençoadas todas as nações. Desse modo, os da fé são abençoados
juntamente com Abraão, homem que creu”. (versos 8 e 9)
John Stott explica de forma magistral em seu
comentário: “Com essa promessa de Deus a Abraão Paulo agora passa para uma
outra promessa mais recente. Versículo 7-9: Sabeis, pois, que os da fé é que
são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria
pela fé os gentios, prenunciou o evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados
todos os povos. Aqui Paulo está citando Gênesis 12:3 (cf. Gn 22:17, 18; At
3:25). Convém examinarmos que bênção era essa e como todas as nações viriam a
herdá-la. A bênção é a justificação, a maior de todas as bênçãos, pois os
verbos “justificar” e “abençoar” são usados como equivalentes no versículo 8. E
o meio pelo qual a bênção seria herdada é a fé (“Deus justificaria pela fé os
gentios”), que era a única forma de os gentios herdarem a bênção de Abraão, uma
vez que Abraão era o pai da raça judia. Talvez os judaizantes estivessem
dizendo aos gálatas convertidos que deviam se tornar filhos de Abraão através
da circuncisão. Paulo, então, os contradiz, dizendo que os gálatas já eram
filhos de Abraão, não pela circuncisão, mas pela fé.”[2]
BIBLIOGRAFIA:
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POHL, Adolf.
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STOTT, John R.W.
A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.
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2023.
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