Projeto – “De bem com a Bíblia” – agosto de 2024
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Livro
– Gálatas.
25º AULA – PLENITUDE DOS TEMPOS –
PARTE 3
“Vindo, porém, a
plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido da lei,
para resgatar os que estavam debaixo da lei.” (Gálatas 4.4)”
“Como Jesus pode ser plenamente Deus
e plenamente homem, e ainda assim uma pessoa?”
Sempre
foi um dos grandes desafios teológicos a tentativa de compreensão da junção de
forma plena das duas naturezas da pessoa de Jesus. Na tentativa de tentar
compreender essa doutrina diversos concílios foram convocados para que os
grandes teólogos epocais debatessem sobre essa questão.
Grudem
conceitua a pessoa de Cristo da seguinte maneira: “Jesus Cristo foi plenamente
Deus e plenamente homem em uma só pessoa e assim o será para sempre.”[1]
Acredito
que precisamos antes de mergulhar na doutrina da união hipostática (a união
plena das duas naturezas de Jesus: humana e divina), precisamos primeiro nos
certificar de que realmente Jesus foi plenamente homem e plenamente Deus, ou
seja, analisar os aspectos bíblicos teológicos das duas naturezas encontradas
na pessoa de Jesus.
Tendo
esclarecido a complexidade desta doutrina, iremos analisar separadamente as
duas naturezas encontradas em Jesus. Iniciaremos hoje com a doutrina da
encarnação que nos remete a questão de o divino ter se tornado um de nós, ou
seja, homem.
A DIVINDADE DE JESUS:
Para
completar o ensino bíblico acerca de Jesus Cristo, precisamos declarar não só
que ele era plenamente humano, mas também plenamente divino. Embora a palavra
não ocorra de maneira explícita na Bíblia, a igreja tem empregado o termo
encarnação para referir-se ao fato de que Jesus era Deus em carne humana. A
encarnação foi o ato pelo qual Deus Filho assumiu a natureza humana. A
comprovação bíblica da divindade de Cristo é bem ampla no Novo Testamento.
Vamos examiná-la sob várias categorias.
1. Alegações bíblicas diretas. Nesta
seção, examinamos declarações diretas da Bíblia de que Jesus é Deus ou de que é
divino.
a. A palavra Deus (theos) atribuída a Cristo. Apesar
de a palavra theos, “Deus”, ser em geral reservada no Novo Testamento para Deus
Pai, há algumas passagens em que é também empregada em referência a Jesus
Cristo. Em todos esses trechos, a palavra “Deus” é empregada com um sentido
denso em referência àquele que é Criador do céu e da terra, o governante de
tudo.
b. A palavra
Senhor (kyrios) atribuída a Cristo. Às vezes a palavra Senhor (gr. kyrios) é
empregada simplesmente como tratamento respeitoso dispensado a um superior
(veja Mt 13.27; 21.30; 27.63; Jo 4.11). Às vezes pode simplesmente significar
“patrão” de um servo ou escravo (Mt 6.24; 21.40). Ainda assim, a mesma palavra
é também empregada na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento, de
uso comum na época de Cristo) como uma tradução do hebraico yhwh, “Javé”, ou
(conforme traduzido com frequência) “o SENHOR” ou “Jeová”.
c. Outras fortes alegações de divindade. Além dos
usos da palavra Deus e Senhor em referência a Cristo, temos outras passagens
que defendem com vigor a divindade de Cristo. Quando Jesus disse a seus
opositores judeus que Abraão vira seu dia (o dia de Cristo), eles o
contestaram: “Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?” (Jo 8.57). Aqui
uma resposta suficiente para provar a eternidade de Jesus teria sido: “Antes
que Abraão fosse, eu era”. Mas não foi isso que Jesus disse. Antes, ele fez uma
declaração muito mais estarrecedora: “Em verdade, em verdade eu vos digo: antes
que Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8.58).
2. Sinais de que Jesus possuía
atributos de divindade.
Além das afirmações específicas da
divindade de Jesus vistas nas muitas passagens citadas acima, vemos muitos
exemplos de atos na vida de Jesus que indicam seu caráter divino. Jesus
demonstrou sua onipotência quando acalmou a tempestade no mar com uma palavra
(Mt 8.26-27), multiplicou os pães e peixes (Mt 14.19) e transformou a água em
vinho (Jo 2.1-11). Alguns podem objetar, dizendo que esses milagres só
mostraram o poder do Espírito Santo agindo por intermédio dele, assim como o
Espírito Santo poderia agir por meio de qualquer outro ser humano e, assim,
isso não comprova a divindade de Jesus.
3. Teria Jesus desistido de algum
atributo enquanto estava na terra (a teoria da kenosis)?
Paulo escreve aos filipenses: “Tende em vós o
mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em
forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo
se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens;
e, reconhecido em figura humana... (Fp 2.5-7).”
Partindo
desse texto, alguns teólogos da Alemanha (a partir de 1860-1880) e da
Inglaterra (a partir de 1890-1910) passaram a defender uma idéia de encarnação
que jamais fora defendida na história da igreja. Essa nova idéia foi chamada
“teoria da kenosis”, e a posição geral representada por ela foi chamada
“teologia kenótica”.
4. Conclusão: Cristo é plenamente
divino.
O Novo Testamento, em centenas de versículos
explícitos que chamam Jesus de “Deus” e “Senhor” e empregam alguns outros
títulos de divindade em referência a ele, e em muitas passagens que lhe
atribuem ações ou palavras aplicáveis somente ao próprio Deus, declara
repetidas vezes a divindade plena e absoluta de Jesus Cristo. “Aprouve a Deus
que, nele, residisse toda a plenitude” (Cl 1.19) e “nele, habita,
corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9).
5. Seria a doutrina da encarnação
“compreensível” hoje?
Ao longo de toda a história levantam-se objeções ao
ensino neotestamentário da plena divindade de Cristo. Um ataque recente a essa
doutrina merece menção aqui por ter criado grande controvérsia, pois os que
contribuíram para o texto eram todos líderes eclesiásticos de renome na
Inglaterra. O livro era chamado The Mith of God Incarnate [o mito do Deus
encarnado], editado por John Hick (London: SCM, 1977). O título apresenta a
tese do livro: a idéia de que Jesus era “Deus encarnado” ou “Deus vindo em carne”
é um “mito” — uma história que talvez se adequasse à fé das gerações
anteriores, mas que não merece crédito hoje. 6. Por que é necessária a
divindade de Jesus? Na seção anterior alistamos alguns motivos pelos quais era
necessário que Jesus fosse plenamente humano para obter nossa redenção. Aqui
cabe reconhecer que é também crucialmente importante insistir na plena
divindade de Cristo, não só porque ela é ensinada de maneira clara nas
Escrituras, mas também porque:
(1) só alguém que fosse Deus infinito poderia arcar
com toda a pena de todos os pecados de todos os que cressem nele — qualquer
criatura finita não seria capaz de arcar com tal pena;
(2) a salvação vem do Senhor (Jn 2.9 ARC), e toda a
mensagem das Escrituras é moldada para mostrar que nenhum ser humano, nenhuma
criatura, jamais conseguiria salvar o homem — só Deus mesmo poderia; e
(3) só alguém que fosse verdadeira e plenamente Deus
poderia ser o mediador entre Deus e homem (1Tm 2.5), tanto para nos levar de
volta a Deus como também para revelar Deus de maneira mais completa a nós (Jo
14.9).
Assim, se Jesus não é plenamente Deus, não temos
salvação e, por fim, nenhum cristianismo. Não é por acaso que ao longo da
história os grupos que abandonaram a crença na plena divindade de Cristo não
têm permanecido muito tempo na fé cristã, desviando-se logo para um tipo de
religião representada pelo unitarismo nos Estados Unidos e em outros lugares.
“Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem
Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (2Jo 9).
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