domingo, 16 de fevereiro de 2025

O paradoxo da Alegria em meio ao sofrimento - 1 Pedro 1:6-9

 


Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2025.

Série de Sermões – Peregrinos

Tema da Mensagem – O paradoxo da Alegria em meio ao sofrimento.

Texto Base - 1 Pedro 1:6-9

 

“Nisso exultais, ainda que agora sejais necessariamente afligidos por várias provações por um pouco de tempo, para que a comprovação da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. Pois, sem tê-lo visto, vós o amais e, sem vê-lo agora, crendo, exultais com alegria inexprimível e cheia de glória, alcançando o objetivo da vossa fé, a salvação da vossa alma”. (1 Pedro 1:6-9)

 

“O Novo nascimento causa grande alegria nos leitores de Pedro, pois eles têm tanto uma esperança viva para a vida presente quanto uma herança eterna na vida futura. No entanto, sua identidade como cristãos também lhes acarreta sofrimento e pesar em várias espécies de provação. Pedro faz a espantosa afirmação de que o sofrimento pelo qual eles passam no momento é um teste de fé que resultará em louvor, glória e honra quando Jesus Cristo for revelado. O sofrimento é um teste de genuinidade da fé deles em Cristo, especialmente porque eles nunca o viram no passado e nem o veem no presente. Portanto, até mesmo o sofrimento deles é uma oportunidade para se alegrarem, pois confirma a fé e a salvação que, no final, certamente lhes pertencerá”.[1]

 

“Nisso exultais...” – Muito provavelmente é uma referência a esperança futura escatológica tratada pelo apóstolo Pedro nos versos anteriores. Mesmo mediante as dificuldades podemos adorar a Deus entregando a Ele o melhor do nosso ser. Vale ressaltar como exemplo desse paradoxo o caso de Paulo e Silvas na cidade de Filipo registrado no livro de Atos dos Apóstolos no capítulo dezesseis. Após serem flagelados e presos injustamente a Palavra de Deus nos conta que Paulo e Silas estavam orando e cantando hinos a Deus. Podemos nesse tempo presente termos dores e lutas, mas a vida que nos aguarda na eternidade nos pode trazer esperança e a certeza de que um dia tudo isso irá passar!

 

“... ainda que agora sejais necessariamente afligidos por várias provações por um pouco de tempo...” – “O verbo traduzido por sofrer (RSV) é mais bem traduzido por “sejais[...]afligidos” ou por “ser entristecidos” [NVI]. O verbo (lypeo) sempre se refere à emoção da tristeza, não ao sofrimento que produz tristeza (Veja Mt 14.9; 17.23; 18.31; 1Ts 4.13) [2]

Em seu comentário sobre este verso Dr. Russel Shedd ressalta o fato de que um cristão triste é uma anomalia. Segundo Dr. Shedd a alegria de um cristão é gerada pelo seu relacionamento com o Senhor Jesus. Ela não é gerada a partir de estímulos mundanos ou qualquer coisa que tenha vínculo com este tempo presente. Essa alegria dita por Pedro é um fruto do Espírito Santo.

“O apóstolo admite que até mesmo os santos se afligem. O termo lupetheutes sugere depressão e tristeza. Além disso, é uma exigência divina que os cristãos tenham de suportar provações da fé, apesar de sua alegria interior enraizada nas promessas de Deus. Contudo, a luta dura um “breve tempo”. Deveríamos saber o suficiente sobre a guerra satânica para ter como certo que suas armas estão “prontas para um ataque arrojado. Seria [...] simplório aquele que esperasse uma navegação tranquila em qualquer obra de Deus.”[3]

O Reverendo Hernandes Dias Lopes destaca pelo menos seis fatos apontados pelo apóstolo Pedro no texto. São eles: 1) Provações são pedagógicas (v.6); 2) Provações são variadas (v.6); 3) Provações são dolorosas (v.6); 4) Provações são passageiras (v.6); 5) Provações são proveitosas (v.7); Provações são uma preparação para a glória (v.8 e 9)

“... para que a comprovação da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo...” - As provações elas são proveitosas, na verdade não podemos enxergar e encará-las como um mero acaso ou até mesmo algo que não esteja ligado ao Altíssimo. Deus é Soberano e está no controle de todas as coisas. Um dos aspectos pedagógicos das provações, do sofrimento, é o fato de que durante esse processo nossa fé está sendo provada. O apóstolo Pedro usa uma analogia de comparação com o trabalho do ourives em seu trabalho de purificação do metal precioso, aqui no texto o caso do ouro. O ourives leva o ouro até temperaturas altíssimas para que ao ser derretido as impurezas possam aparecer e serem retiradas. Hernandes Dias Lopes faz a seguinte observação sobre esse processo no Oriente, diz Hernandes: “Alguém disse que, no Oriente, o ourives deixava o metal derreter até ser capaz de ver seu rosto refletido nele. Da mesma forma, o Senhor nos mantém na fornalha do sofrimento até refletimos a glória e a beleza de Jesus Cristo.”[4]

R.C.Sproull em seu comentário destaca a doutrina da providência divina ao tratar sobre o assunto da providência e do sofrimento. Ele até mesmo cita o caso de José e seus irmãos como exemplo. Os irmãos de José foram responsáveis por muitos males que José sofreu em sua vida. Todavia, Deus usou o mal e o tornou em bem. A fé de José foi provada em meio as dores, sofrimentos e provações. Porém, ao ser aprovada redundou em glórias a Deus.

O Altíssimo se utiliza da maldade realizada por pessoas más, pessoas ímpias para manifestar a sua graça, sua misericórdia, seu poder. Isso para nós cristãos deve ser um alívio. Ao sofrermos por causa de pessoas más devemos guardar nosso coração no Senhor e esperar n’Ele e em sua promessa de que um dia estaremos livres de todo mal e desfrutaremos da sua bendita presença para todo o sempre!

“A fé genuína que surge após as provações é mais preciosa do que o ouro que perece, embora provada pelo fogo. Há muitos séculos o ouro é normalmente reconhecido como símbolo do mais precioso e duradouro bem material, mas a fé genuína é mais preciosa que o ouro (literalmente, “muito mais preciosa”) ou, por consequência, ela vale mais do qualquer outro bem material.” [5]

 

“Pois, sem tê-lo visto, vós o amais e, sem vê-lo agora, crendo, exultais com alegria inexprimível e cheia de glória, alcançando o objetivo da vossa fé, a salvação da vossa alma”. - Aparentemente parece que o apóstolo Pedro tem em sua mente ao escrever esses versos o momento em que Jesus adverte a Tomé por sua fala sobre crer que o Senhor havia ressuscitado. Tomé diz que ele precisava ver para crer. (João 20.25) Ao apóstolo ressalta a fé dos irmãos usando a fé em dois tempos “sem tê-lo visto” e “sem vê-lo agora”. Alguns comentaristas chegam a pensar que talvez os apóstolos por terem sido testemunhas oculares do Senhor Jesus acreditassem que sua fé era maior do que a dos demais cristãos. E o fato destes irmãos passando por inúmeras provações e sofrimentos permanecerem firmes no Senhor tenha causado admiração por parte do apóstolo.

Mais uma vez Pedro fala sobre exultação e alegria. Ainda usa o adjetivo “inexprimível”, ou seja, não dá para colocar em palavras a sensação efusiva de um crente em Jesus acerca da gratidão do seu coração e da esperança de sua fé.

O verso termina dizendo que o objetivo final da perseverança na fé é a salvação. Todavia, esse resultado alcançado para ser expresso em dois tempos. Eu alcanço o objetivo ao ser fiel ao Senhor passando por minhas provações e sofrimentos e, também alcançarei meu objetivo ao chegar no final da vida perseverante na fé e receber a coroa que me fora prometida pelo meu próprio Senhor.



[1] JOBES, Karen H. Comentário Exegético: 1Pedro. São Paulo: Vida Nova, 2024, pg. 114.

[2] GRUDEM, Wayne. Introdução e comentário 1 Pedro. São Paulo: Editora Vida Nova, 2016, pg. 64.

[3] SHEDD, Russell P. Nos passos de Jesus: uma exposição de 1 Pedro. São Paulo: Editora Vida Nova, 1993, pg. 20.

[4] LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro: com os pés no vale e o coração no céu. São Paulo: Hagnos, 2012, pg.37.

[5] GRUDEM, Wayne. Introdução e comentário 1 Pedro. São Paulo: Editora Vida Nova, 2016, pg. 66.

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