quarta-feira, 22 de outubro de 2025

5ª AULA – A TEOLOGIA DE ATOS DOS APÓSTOLOS


Rio de Janeiro, 15 de outubro de 2025.

INSTITUTO BÍBLICO EFATÁ

MÓDULO DE TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

5ª AULA – A TEOLOGIA DE ATOS DOS APÓSTOLOS

PROFESSOR – PR. ROBERTO DA SILVA MEIRELES RODRIGUES

INTRODUÇÃO:

            O livro de Atos dos Apóstolos tem como objetivo fornecer ao estudioso um esboço confiável da Igreja desde seus primeiros passos, iniciando em Jerusalém, até a o ápice com o principal personagem que é Paulo, outrora Saulo de Tarso. O livro também se propõe a apresentar a narrativa de como o evangelho chegou até a principal cidade do Império Romano, Roma.

            O texto escrito de forma minuciosa por Lucas relata como era vida dos cristãos primitivos e também o conteúdo da pregação dos mesmos. Também relata a expansão missionária da igreja principalmente após a conversão de Saulo que se tornou o principal expoente da expansão missionária daquele momento histórico, e talvez, por que não dizer, da história da igreja.

            Os sermões registrados de Pedro, Estevão e Paulo nos fornecem uma gama de informações para que seja possível analisar as crenças que a igreja chamada primitiva nutria e defendia em sua prática cristã.

            Lucas é um habilidoso escritor que com muita maestria relata suas experiências pessoais e também registros históricos de seu companheiro Paulo, o apóstolo. Na introdução de seu evangelho ele nos relata esta afirmação: “que os precisaram desde o princípio e foram ministros da palavra”. (Lucas 1.2)

            O estudioso do Novo Testamento, George Eldon Ladd, em sua Teologia do Novo Testamento, conclui: “Concluímos, assim, que podemos usar os primeiros capítulos de Atos como uma fonte confiável para a teologia da igreja em Jerusalém. Isso não requer, de nossa parte, o reconhecimento de que os sermões que Lucas registra sejam narrativas literais; são muito resumidos para permitirem essa conclusão. Também não devemos ter dúvidas no sentido de afirmar que Lucas seja o autor desses sermões em sua forma presente. Podemos, entretanto, aceitar a conclusão de que eles são resumos breves, porém precisos, da pregação primitiva dos apóstolos. Fica claro também que Lucas não é um historiador crítico no sentido moderno da palavra. Ele é altamente seletivo nos eventos que relata; introduz fatos importantes sem quaisquer explicações (11.30); seus personagens aparecem e desaparecem de cena de modo frustrante (12.17). No entanto, todo escrito histórico real deve envolver seleção e interpretação, e Lucas seleciona das fontes de informação que estavam disponíveis, tanto na escrita quanto oral, e seleciona aqueles fatos que lhe pareceram ser os eventos mais importantes, para traçar a extensão da Igreja, desde uma pequena comunidade judaica em Jerusalém até uma congregação gentílica na cidade que era a capital do Império Romano.”[1]

A RESSURREIÇÃO DE JESUS

A IMPORTÂNCIA DA RESSURREIÇÃO:

            Os discípulos de Jesus se apegaram firmemente a esperança do estabelecimento do Reino de Deus dentro de um curto período de tempo. Algumas porções das Escrituras Sagradas nos permitem concluir este pensamento. “Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: "Quem é o maior no Reino dos céus? "(Mateus 18.1)Eles responderam: "Permite que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda". (Marcos 10.37)Então os que estavam reunidos lhe perguntaram: "Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel? "(Atos 1.6) É bem claro nos textos a esperança dos discípulos que fosse restaurado em Israel um reino Teocrático.

            Quando o Senhor Jesus foi preso, e sentenciado a morte de cruz os discípulos simplesmente o abandonaram. Muitos estudiosos do Novo Testamento alegam que eles abandonam Jesus por sua esperança estar muito arraigada no estabelecimento novamente do reino de Davi neste tempo presente. “A morte de Jesus significou a morte de suas esperanças. A vinda do Reino fora um sonho perdido, aprisionado no túmulo junto com o corpo de Jesus... Por definição, o Messias deveria ser um soberano que reinaria, não um criminoso crucificado”. [2]

            Todavia, em poucos dias, os frustrados discípulos se levantaram cheios de vida e esperança para proclamar uma nova mensagem. Afirmavam que Jesus era de fato Messias (Atos 2.36), que seu sofrimento e sua morte estavam de acordo com a vontade de Deus para o cumprimento de seu Plano Eterno, mesmo que os assassinos fossem indesculpáveis perante o Senhor, pois haviam assassinado o autor da vida. (Atos 2.23; 3.15). E no ápice do seu discurso estava a conclusão de que foi através da morte desse Jesus que o Senhor Deus oferecia a humanidade caída a possibilidade de arrependimento e perdão para os pecados. (Atos 3.21)

            A Bíblia nos apresenta que a causa dessa transformação radical de suas posturas e mensagens sejam a ressurreição de Jesus. A ressurreição de Jesus dentre os mortos mudou todo cenário e devolveu aos discípulos a esperança e a convicção de Jesus era de fato o Messias tão esperado, prometido pelos profetas.

            O cerne do discurso de Pedro estava baseado na ressurreição de Jesus e não em seus sublimes ensinamentos, em suas curas extraordinárias ou em sua vida incontaminável. Não mesmo. A base para o discurso de Pedro era o fato de que Jesus ressuscitou dentro os mortos e Deus o exaltou sobre maneira dando-lhe o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus todo joelho se sobre e toda língua confesse que Ele é o Senhor para a glória de Deus Pai. (Filipenses 2.9-11)

            A função principal dos apóstolos não era dominar ou governar, mas serem testemunhos da ressurreição de Jesus. Alguns textos são claros ao servir de base sólida para esta construção de pensamento. O sucessor de Judas deveria ser alguém foi participante e testemunha da ressurreição de Jesus. (Atos 1.22) Os primeiros sermões o tema central deles era a ressurreição (Atos 3.14,15) Foi o testemunho oficial da ressurreição que incitou os líderes religiosos contra os apóstolos. (Atos 4.1,2; 5.31,32)

            Em suma, o cristianismo primitivo não consistia de uma nova doutrina sobre Deus nem de uma nova esperança de imortalidade, nem mesmo de novas perspectivas teológicas a respeito da natureza da salvação. Consistia do recital de um grande evento, de um poderoso ato de Deus: a ressurreição de Cristo dentre os mortos. Quaisquer novas ênfases surgidas na teologia representam o significado inevitável desse ato redentor de Deus, ao ressuscitar dentre os mortos o Jesus Crucificado.”[3]

O FATO DA RESSURREIÇÃO:

                “Se não há ressurreição dos mortos, então nem mesmo Cristo ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm. (1 Coríntios 15.13,14)

            A ressurreição de Jesus foi um fato histórico e não algo mítico ou existencial. A Bíblia nos garante através de testemunhos oculares que Jesus que estava morto foi ressuscitado dentre os mortos pelo poder de Deus. Toda a fé cristã não está baseada em erudição de seus ensinos, não está baseada em seus princípios e valores, mas no fato de que Jesus ressuscitou dentre os mortos abrindo a possibilidade para que todas as demais coisas acontecessem.

            Não foi a fé dos discípulos que deu origem a ressurreição. Foi à ressurreição que deu origem a fé dos discípulos. Neste caso, a ordem dos fatores altera completamente o produto.

A NATUREZA DA RESSURREIÇÃO:

            Jesus ressurgiu dentre os mortos em seu próprio corpo. Todavia, este corpo foi glorificado. O corpo que seria possível somente na Eternidade, no que a Bíblia nos ensina como “O dia do Senhor”, teve esse evento antecipado e apresentado pela pessoa de Jesus em sua ressurreição.

            O caráter da ressurreição foi corpóreo e confirmado por muitas formas. Seu corpo provocou sentidos físicos. A visão e audição (Jo. 20.16); A prova de que era um corpo pelo toque dos discípulos. (Lc. 24.39); Jesus foi capaz de comer. (Lc. 24.42,43). Porém, este corpo, como antes bem disse, não era um corpo normal. O corpo de Jesus não estava mais limitado as estruturas metafísicas deste tempo. Ele entrou enquanto as portas estavam fechadas. (Jo. 20.19; 26) Em Emaús, Ele simplesmente some antes de partir o pão com os discípulos. (Lc. 24.31) Essa ressurreição não é um fato isolado. Ela é garantia de que na parousia nós iremos ressuscitar assim como Ele ressuscitou. Paulo escrevendo a carta aos crentes de Corinto nos ensina exatamente isso.


[1] LADD, pp.450.

[2] LADD, pp. 455.

[3] LADD, pp. 456.



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