Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2025.
INSTITUTO BÍBLICO EFATÁ
MÓDULO DE ANÁLISE DA EPÍSTOLA DE
EFÉSIOS
1ª AULA – INTRODUÇÃO A EPÍSTOLA DE
EFÉSIOS E PRÓLOGO
PROFESSOR – PR. ROBERTO DA SILVA
MEIRELES RODRIGUES
INTRODUÇÃO:
AUTOR E AUTENTICIDADE:
A carta é tradicionalmente atribuída ao apóstolo Paulo, uma posição defendida por estudiosos clássicos e
contemporâneos.
Russell Shedd observa que “a
estrutura literária, a teologia da união com Cristo e o estilo de exaltação
espiritual são marcas inconfundíveis do apóstolo” (Efésios – Série Cultura
Bíblica).
Harold Hoehner, em sua monumental Efésios:
Comentário Exegético, reforça que o vocabulário e as ideias presentes são
coerentes com outras epístolas paulinas escritas no cárcere (Colossenses,
Filipenses e Filemon).
D.A. Carson e Douglas Moo, em Introdução ao Novo Testamento,
defendem a autoria paulina tradicional, salientando que as diferenças
estilísticas decorrem do propósito da carta: uma epístola circular, meditativa
e teocêntrica.
Embora parte da crítica moderna questione a autoria paulina, John Stott lembra que o tom pastoral e
a profundidade teológica da carta “refletem um coração apostólico e uma mente
moldada pelo evangelho de Cristo” (A Mensagem de Efésios).
DESTINATÁRIO E CONTEXTO HISTÓRICO
A carta
foi provavelmente escrita entre 60 e 62
d.C., durante o primeiro
cativeiro de Paulo em Roma (At 28.16,30-31).
Francis Foulkes explica que a ausência de
saudações pessoais sugere que Efésios possa ter sido uma carta circular, destinada a várias
igrejas da região da Ásia Menor, não apenas à cidade de Éfeso, importante
centro comercial e religioso do Império Romano (Tyndale New Testament
Commentary).
Hernandes Dias Lopes destaca que Éfeso era “uma
cidade cosmopolita, dominada pelo culto à deusa Diana (Ártemis), onde o
paganismo e o ocultismo exerciam forte influência espiritual e moral sobre a
população” (Efésios – A Igreja Gloriosa). Assim, Paulo escreve a uma
comunidade que precisava compreender a
supremacia de Cristo sobre todos os poderes espirituais e humanos.
Broadus David Hale complementa que a comunidade efésia vivia sob
intensa pressão cultural e espiritual, e Paulo escreve para afirmar a superioridade de Cristo sobre todo principado
e potestade, restaurando a confiança da Igreja em meio à hostilidade do
mundo greco-romano.
TEMA CENTRAL
O grande tema da carta é a nova identidade do cristão em Cristo
e a unidade da Igreja como corpo de
Cristo.
Para John Stott, Efésios é “a carta da
Igreja”, pois revela o propósito eterno de Deus de reunir todas as coisas em
Cristo e de criar uma nova humanidade reconciliada com Deus e entre si.
Timothy Keller complementa que a carta mostra
“como o evangelho não apenas salva indivíduos, mas cria uma comunidade
radicalmente nova, marcada por graça, santidade e amor” (Center Church).
Russell Shedd sintetiza: “Efésios é uma carta
que nos eleva às regiões celestiais e, ao mesmo tempo, nos traz à vida prática
do lar e da sociedade”.
ESTRUTURA E CONTEÚDO TEOLÓGICO
Harold
Hoehner e Francis Foulkes identificam uma
divisão clara em duas partes:
Capítulos 1–3: Doutrina — o que Deus fez por nós em
Cristo.
- A
eleição e predestinação (1.3-14);
- A
reconciliação pela graça mediante a fé (2.1-10);
- A
unidade de judeus e gentios em um só corpo (2.11–3.21).
Capítulos 4–6: Prática — como devemos viver em resposta
a essa graça.
- Unidade
e maturidade no corpo de Cristo (4.1-16);
- Vida
santa no mundo e no lar (4.17–6.9);
- A
batalha espiritual (6.10-20).
João Calvino, em seu Comentário sobre
Efésios, vê na carta “um compêndio da doutrina da graça”, onde Paulo
demonstra que toda a salvação é “obra exclusiva de Deus em Cristo, sem mérito
humano”.
Já Martinho
Lutero, em seu Prefácio à Epístola aos Efésios, a chama de “uma
epístola sublime, que nos ensina que tudo o que temos e somos está escondido
com Cristo em Deus”.
TEMAS
TEOLÓGICOS PRINCIPAIS:
A união
com Cristo – O conceito recorrente “em Cristo” é o centro da teologia paulina
nesta carta. Segundo Stott, é “a chave que destranca cada porta da vida
cristã”.
A Igreja
como corpo e templo de Cristo – Hernandes Dias Lopes enfatiza que Efésios “eleva a visão da Igreja, mostrando-a como expressão visível do Cristo
invisível no mundo”.
A graça e
a salvação – William Barclay
observa que Paulo escreve para que “os
cristãos jamais esqueçam que a salvação não é conquista, mas dom gratuito da
graça divina”.
A Unidade
e a Paz – Broadus David Hale sublinha que “a reconciliação horizontal entre povos inimigos é fruto da
reconciliação vertical com Deus”.
A batalha
espiritual – Shedd e Keller lembram que Efésios 6 não trata
de superstição, mas de viver a vitória
de Cristo sobre os poderes malignos, mediante fé e santidade.
PROPÓSITO DA CARTA:
O propósito é revelar o plano eterno de Deus de reconciliar todas as coisas em
Cristo (1.10) e instruir os crentes a
viver de modo digno dessa vocação (4.1).
Como resume John
Stott, Efésios “nos chama a sermos
o que já somos em Cristo”.
Hernandes Dias Lopes conclui: “Deus não apenas nos salvou individualmente, mas nos inseriu em um povo,
a Igreja, para que o mundo veja nele o reflexo da glória de Cristo”.
MENSAGEM
CONTEMPORÂNEA:
Timothy Keller observa que Efésios continua
sendo uma carta vital para a Igreja moderna, pois apresenta um evangelho profundamente teológico e intensamente prático.
Em um mundo fragmentado, a mensagem paulina de unidade em Cristo, santidade no amor e poder no Espírito é um
antídoto contra o individualismo e a superficialidade espiritual.
Calvino lembraria que “a glória de Deus é o fim último da
redenção”. E Lutero, que “a fé viva se mostra nas obras de amor”.
Efésios une essas duas verdades em perfeita harmonia.
SÍNTESE FINAL:
Efésios é a carta da Igreja triunfante —
chamada, unida e fortalecida em Cristo para viver no mundo com santidade, amor
e poder espiritual.
PRÓLOGO
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade
de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso: Graça a
vós e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” (Efésios
1:1-2)
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por
vontade de Deus” (Verso 1a)
- Termo-chave: apóstolos (ἀπόστολος) — literalmente
“enviado”, alguém comissionado com autoridade;
- Hoehner enfatiza que Paulo não se
autoproclamou apóstolo, mas foi designado soberanamente por Deus (At
9:15);
- Calvino comenta que a autoridade de
Paulo não vem de homens, mas do próprio Cristo; isso legitima toda a
mensagem da epístola;
- Lutero ressalta que “a vontade de
Deus” é a base de todo chamado ministerial — a vocação não é mérito
humano, mas expressão da graça divina;
- Shedd complementa que o
ministério apostólico de Paulo se fundamenta na vontade soberana e não na
conveniência da igreja ou do apóstolo.
“Aos santos que vivem
em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus” (Verso 1b)
·
O termo “santos” (ἅγιοι)
significa “separados” — não por mérito, mas por posição em Cristo;
·
Stott distingue:
“Paulo não se dirige a uma elite espiritual, mas a todos os que pertencem a
Cristo”;
·
Hernandes Dias Lopes enfatiza que o cristão é “santo” por posição e “fiel” por vocação — a
santidade se manifesta na fidelidade prática;
·
Barclay explica que “fiéis em Cristo Jesus” (πιστοῖς ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ) pode
significar tanto “crentes” quanto “confiáveis”; a fé e a fidelidade são
inseparáveis.
·
Timothy Keller observa que Paulo une identidade e missão: ser “em Cristo” é uma nova
realidade que redefine completamente quem somos.
·
Douglas Moo e D.A. Carson (no Comentário Bíblico do NT)
destacam que a expressão “em Cristo” é
central para toda a teologia paulina — aparecendo mais de 30 vezes nesta
epístola — e descreve a nova esfera de existência do crente.
“Graça a vós outros e paz, da parte
de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.” (verso 2)
- Graça
(χάρις) e paz (εἰρήνη) eram saudações típicas (grega e
hebraica), mas Paulo as transforma em bênçãos teológicas;
- Shedd
e Foulkes
afirmam que “graça” é a fonte e “paz” é o resultado da obra redentora.
- Calvino explica que a graça é a causa
eficiente da salvação e a paz é seu fruto, evidenciando a reconciliação
com Deus;
- Lutero entende que essa saudação
resume o evangelho: graça é o favor imerecido, paz é o descanso obtido
pela justificação;
- Hernandes Dias Lopes destaca que essa
saudação não é mera formalidade — é uma proclamação pastoral do evangelho
condensado;
- Keller
observa que a verdadeira paz (shalom) é mais que
ausência de conflito: é a restauração da harmonia integral entre Deus, o
homem e a criação;
- Broadus David Haley comenta que a
estrutura binária “Deus Pai e Senhor Jesus Cristo” reafirma a plena
divindade de Cristo e a unidade entre o Pai e o Filho como fonte das
bênçãos espirituais.
PERGUNTAS
PARA REFLEXÃO:
1. O
que significa, na prática, ser “chamado por vontade de Deus”?
2. Como
compreender a santidade como identidade e não como conquista?
3. De
que maneira “graça e paz” sintetizam o evangelho de Cristo?
4. Como
a consciência de estar “em Cristo” transforma nossa visão de mundo?

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