Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2025.
CULTO OÁSIS
Tema –
Sede de Deus em tempos de seca espiritual
Texto Base –
Salmos 42
INTRODUÇÃO:
Os
Salmos 42 e 43 são considerados por muitos estudiosos somente um. Pois o salmo
43 não apresenta título, sendo somente ele e o salmo 71 no segundo livro dos
saltérios.
O
Salmo 42 é atribuído aos filhos de Corá, e forma, junto com o Salmo 43, um
único cântico de lamento. Hernandes Dias Lopes observa que se trata de um
“salmo do deserto da alma”, escrito por alguém afastado do templo e privado da
adoração comunitária. O salmista experimenta sede espiritual, lembranças
dolorosas e conflito interior entre fé e desespero.
Eles
partilham de um estribilho em comum: “Porque
está abatida, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim?
Ponha sua esperança em Deus”. (42.5,11; 43.5)
A
transição do livro 1 do saltério para o livro 2 se dá principalmente pela forma
como os autores se rementem ao Altíssimo. No livro de número a expressão usada
é “Elohim” no livro 2 é usado o chamado tetragrama sublime: “YHWH”.
Derek
Kidner destaca que o refrão que se repete no verso 5 e 11 indica que o salmo é
uma luta interior da fé contra o sentimento. Walter Kaiser Jr. reforça que o
gênero é de lamento individual, mas permeado de esperança — um lamento que se
transforma em adoração.
1º APONTAMENTO – A SAUDADE DE DEUS
(Versos 1 a 2):
O
salmista no primeiro verso expressa sua imensa vontade de pode estar no
ajuntamento dos santos, mas por algum motivo que ele não menciona não pode
estar. O salmista inicia com uma das metáforas mais belas da Escritura: a sede
espiritual. Luiz Sayão comenta que a imagem da corça fugindo sob calor e sede
revela o anseio vital da alma por Deus — não por bênçãos, mas pelo próprio
Deus. Spurgeon escreve: “A corça busca as
correntes de águas, mas o crente busca o Deus das correntes”.
Mais
uma vez o salmista demonstra sua preocupação em poder estar na presença de
Deus, e compara o Senhor como uma água viva que sacia o sedento por Ele.
Martyn
Lloyd-Jones diz que o salmista não sofre simplesmente por circunstâncias externas,
mas pela ausência sentida da presença de Deus. Timothy Keller acrescenta que a
fé madura não é a ausência de sede, mas a capacidade de transformar a sede em
busca.
2º APONTAMENTO – A LEMBRANÇA DA
COMUNHÃO PERDIDA (Versos 3 e 4)
O Salmista nos versos 3 e
4 demonstra como sofreu por causa das indagações de seus inimigos e fala de sua
saudade ao conduzir a caravana do povo de Deus em adoração para uma das festas
anuais obrigatórias.
“As
minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite...” O salmista vive um
tempo de exílio espiritual. Hernandes Dias Lopes comenta que ele sente saudade
da comunhão santa — a ausência do templo simboliza a distância da presença
manifesta de Deus.
Vale
ressaltar que as lágrimas se tornaram seu alimento — uma expressão poética da
dor contínua. O inimigo ainda o provoca: “Onde
está o teu Deus? ”
Augustus
Nicodemus lembra que essa provocação ecoa as tentações do inimigo em tempos de
silêncio divino. Mas o salmista reage com memória espiritual: ele recorda as
peregrinações e o louvor comunitário. A lembrança se torna um ato de
resistência da fé.
3º APONTAMENTO – A CONVERSA DA ALMA
CONSIGO MESMA (Versos 5 e 6, 11)
Lloyd-Jones explica que o problema
espiritual começa quando ouvimos a nós mesmos, em vez de falarmos à nossa alma.
O salmista prega à própria alma. Spurgeon comenta: “Ele se repreende, mas também se consola”; John Stott observa que
esse diálogo interno é o núcleo da espiritualidade bíblica. Timothy Keller
ressalta: “A fé não ignora as
circunstâncias, mas as coloca sob a lente do caráter de Deus”.
O
salmista faz uma pausa e tenta diagnosticar em si mesmo o que está o levando a
sentir-se angustiado. Ele então faz um apelo a si mesmo a razão para lembrar-se
do caráter do Deus a quem Ele servia.
4º APONTAMENTO – A PROFUNDA ANGÚSTIA
E A SOBERANIA DE DEUS. (Versos 6 a 10)
A
geografia citada pelo salmista nos dá entender que ele está bem longe do lugar
de reunião do povo de Deus.
Nos
versículos iniciais nós o vemos falando da água da vida, agora ele somente foca
na tribulação que Ele está inserido.
“Um
abismo chama outro abismo...” O salmista reconhece que
as ondas que o afligem vêm do próprio Deus. Hernandes Dias Lopes afirma: “Ele sabe que o mesmo Deus que permite a dor
é aquele que controla as águas”. Kidner interpreta o abismo como a
profundidade do sofrimento que se comunica com a alma. Augustus Nicodemus
observa que esse verso destrói a ideia de um sofrimento fora da soberania
divina. Spurgeon comenta: “O Senhor pode
esconder o rosto, mas nunca o coração”.
Em
meio a angustia de sua alma ele consegue se lembrar do Senhor e de sua graça e
misericórdia para com ele. Nos momentos mais sombrios que estivermos passando
em nossas vidas, precisamos nos voltar para o Senhor e nos lembrar de sua
imensa graça e misericórdia sobre as nossas vidas.
Mesmo
mediante a toda sua dor e angústia no verso 9, o salmista chama o Senhor de
“minha Rocha”. Nos momentos de dor e sofrimento precisamos exercitar a nossa fé
e expressar confiança no Senhor que é a nossa Rocha e não murmurar!
O
salmista está sentindo uma dor profunda, a expressão: “os meus ossos se esmigalham” remete-se a esse entendimento. Muitas
vezes ao passarmos por lutas e dissabores as pessoas ao nosso redor questionam
sobre o nosso Deus e, sobre o porquê dele nos deixar passar por momentos como
estes. Não podemos nos permitir nos abater e nem que essas palavras entrem em
nossos corações. Precisamos manter nossos olhos firmes na Rocha, em suas
promessas de vida eterna.
5º APONTAMENTO – A ESPERANÇA QUE
PERSISTE NA ESCURIDÃO. (Verso 11)
“Por que estás abatida, ó minha
alma? Espera em Deus, pois ainda o louvarei...” O salmo termina sem
resolução emocional, mas com decisão espiritual. Lloyd-Jones nota que a fé
bíblica nem sempre sente o consolo, mas se agarra à promessa. Keller diria: “O louvor não vem depois da libertação, mas
durante a espera”. Sayão conclui que
o salmista ainda está no vale, mas com o olhar no monte.
O
salmista termina seu salmo tentando trazer a sua memória o caráter de Deus,
tentando tirar de sua alma aquela perturbação, pois Deus estava cuidando dele.
Certamente que por quem Deus É, sempre o louvaremos. Pois Ele é bom e a sua
misericórdia dura para sempre.
APLICAÇÕES PRÁTICAS:
1. A sede espiritual é um
sinal de vida espiritual.
2. A fé fala à alma.
3. A soberania de Deus é consolo, não ameaça.
4. Lembrar é um ato espiritual.
5. A esperança cristã canta antes do amanhecer.
CONCLUSÃO:
O
Salmo 42 é o clamor de uma alma que não se satisfaz com nada menos que Deus. Em
tempos de deserto espiritual, quando a presença divina parece distante, o
salmista nos ensina a transformar a saudade em oração e o desespero em
esperança. Spurgeon: “A fé é o olhar que
atravessa as lágrimas”. Lloyd-Jones: “A
verdadeira fé não é ausência de crise, mas persistência no louvor, mesmo quando
a alma está abatida”.

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