Capítulo III
– Os primeiros conflitos com o estado e a perseguição do século
segundo.
2. A PERSEGUIÇÂO
DO SÉCULO SÉCULO SEGUNDO:
“Estou
começando a ser discípulo... o fogo e a cruz, multidões de feras,
ossos quebrados (…) tudo hei de aceitar, contanto que eu alcance a
Jesus Cristo.
(Inácio de
Antioquia)
O primeiro século
deu inicio as perseguições sobre a igreja. Já nas primeiras
perseguições pudemos visualizar em nossas elucubrações o martírio
de muitos irmãos que haviam entregues suas vidas ao Senhorio de
Jesus.
Porém com o passar
dos anos os martírios foram aumentando. E o que mais nos detalha
sobre este fato são documentos que podemos encontrar no século
segundo que narram muitos destes episódios sombrio da espécie
humana.
Um destes
documentos ficou conhecido como a “ata dos mártires”. Eram
descrições que continham detalhes sobre as prisões,
encarceramento, julgamento do mártir e sua morte. Algumas atas são
tão detalhistas que parecem terem sido copiadas do próprio processo
penal. Outras parecem terem sido escritas após a morte dos mártires.
Mas estas atas são um dos mais valiosos documentos da igreja cristã.
Existem também
outros documentos escritos por cristãos que de alguma forma possuem
relacionamento com os martírios e as perseguições. Um bom exemplo
deste aspecto são as sete cartas escritas por Inácio de Antioquia a
caminho do martírio. Outro bom exemplo é encontrado em
correspondências entre os governantes, ou de governantes com pessoas
ligadas a eles por algum motivo. Nestes documentos nós encontramos
as atitudes dos pagãos para com os cristãos, e mais especificamente
a atitude de seus governantes. Uma citação que podemos fazer é a
correspondência de Plínio, o Jovem e o imperador Trajano.
2.1. A
correspondência de Plínio, o Jovem e o imperador Trajano.
Plínio Segundo, o
Jovem, foi governador da Bitínia, atualmente hoje chamada de
Turquia. Ele foi nomeado em 111 d.C. As fontes históricas irão
dizer que Plínio era um homem justo, cumpridos das leis e das
tradições romanas. Logo que assumiu sua posição governamental.
Plínio recebeu uma lista de acusação contra alguns cristão que
residiam em sua cidade. Por sua falta de experiência, intentou fazer
uma pesquisa em como proceder para a realização do julgamento dos
mesmos. É então que ele escreve a carta ao imperador Trajano.
A sua carta a
Trajano nos traz alguns detalhes muito interessantes. Por exemplo
parece que existiam um número consideráveis de cristãos. A citação
que consta este assunto é a seguinte: “o contágio desta
superstição penetrou, não só nas cidades, mas também nos
povoados e nos campos”.1
Em seus primeiros
julgamentos Plínio começou a chamar os primeiros cristãos. Ele os
pressionava a negarem a Cristo. Aqueles que negavam, ou diziam que já
haviam abandonado sua fé. Ele exigia dos mesmos que invocassem aos
deuses, que adorassem ao imperador e que maldissessem a Cristo. Quem
realizava tais procedimentos, era posto em liberdade. Ele diz
exatamente isso a Trajano neste trecho: “é impossível obrigar
aos verdadeiros cristãos fazerem estas cousas”.2
Aos que se
recusavam a negar sua fé. O imperador sentenciava-os a morte. Não
com a acusação de serem cristãos, mas sim com a acusação de
obstinação e desobediência ante ao representante do imperador.
González relata em
seu livro as acusações que os cristãos recebiam. Diz ele:
“Tanto
uns como outros, contaram ao governador o mesmo testemunho: Seu crime
consistia em se reunir para cantar antifonalmente hino: “a Cristo
como Deus”, para fazer voto de não cometer roubos, adultérios ou
outros pecados e para uma refeição em que não se fazia cousa
alguma contrária a lei e aos bons costumes. Já que algum tempo
antes, seguindo as ordens do imperador, Plínio havia proibido as
reuniões secretas, os cristãos já não se reuniam como antes.
Perplexo diante de tais informações, Plínio fez torturar duas
escravas que eram ministras da igreja; mas ambas as mulheres
confirmaram o que os demais cristãos haviam dito. Tudo isto
representava ao governador um problema difícil de justiça e
jurisprudência: devia castigar aos cristãos só por levarem esse
nome, ou era necessário provar algum crime?”3
A resposta do
imperador a Plínio era que cada caso era um caso. Que o mesmo não
deveria gastar suas forças em buscar a saber das acusações. Mas
que só tomasse partido das mesmas se chegassem ao seu conhecimento
por acusações de testemunhas existentes. Que ai ele deveria
analisar se eles realmente se recusavam a adorar aos deuses.
Tertuliano, o
advogado cristão, cem anos depois com este pensamento ainda vigente
vai tecer o seguinte comentário: “Oh! Sentença necessariamente
confusa! Nega-se a buscá-los como a inocentes; e manda castigá-los
como culpados. Tens misericórdia e és severa; dissimulas e
castigas. Como evitas então censurar-te a ti mesma? Se condenas, por
que não investigas? E se não investigas, por quê não absolves?
(Apologia 2)4
Por mais que
a resposta de Trajano não tivesse sentido lógico. Havia o sentido
político. Ele sabia que Plínio tinha razão em suas indagações.
Os cristãos não representavam nenhum perigo ao estado. Porém,
quando acusados com testemunhas de não adorarem ao imperador. Isso
poderia enfraquecer o poder do Estado e aos poucos minar o poder do
imperador. Até porque uma das coisas que mantinha o império
unificado era o culto ao imperador. O poder da religião exerce uma
grande influência com toda certeza.
Essa política de
Trajano perdurou por todo o segundo século e por uma boa parte do
terceiro século também. Podemos encontrar esta filosofia permeada
nas sete cartas de Inácio de Antioquia.
2.2. Inácio de
Antioquia: o portador de Deus.
No ano 107 d.C., o
bispo de Antioquia, Inácio, fora condenado a morte por ter se
recusado a adorar aos deuses do império. Roma nestas circunstâncias
estava em festa. Devido a vitória sobre os dácio. Inácio fora
levado a Roma para ser um dos espetáculos destas comemorações. Em
sua trajeto ao martírio ele escreveu as sete cartas, um dos domingos
mais preciosos da história da igreja cristã.
Inácio nasceu
entre os anos 30 e 35 d.C., isso nos dá a dimensão que quando selou
o seu martírio já era um ancião. Em suas cartas ele mesmo se
intitula o “Portador de Deus”, o que denota o respeito e
autoridade que o mesmo desfrutava diante da comunidade cristã. Mais
tarde com algumas pequenas mudanças literárias em seu texto ficou
sendo chamado como, “levado por Deus”, daí surgiu a lena de que
ele era o menino que Jesus havia colocado em seu colo quando as
pessoas o rodeavam. (Marcos 10:13-15). Inácio também desfrutava do
respeito de ser no inicio do segundo século de ser o segundo bispo
de maior influência, haja vista que sua comunidade cristã era a
segunda comunidade cristã mais antiga.
Em sua peregrinação
a Roma, o velho bispo e os soldados que o acompanhavam passaram pela
Ásia Menor, nestas passagens, muitos cristãos viam ter com Inácio.
E foram nestas visitas que surgiram a maioria do conteúdo das
literaturas de Inácio.
Inácio ficou
sabendo do plano de alguns irmãos de o resgatarem então pedi aos
mesmos que desistam do plano. Pois eles poderiam estar atrapalhando
os desígnios de Deus. Diz ele em sua carta: “Temo vossa
bondade, que pode me causar dano. Pois vós podeis fazer com
facilidade o que projetais; mas se vós não prestardes atenção ao
que vos peço, ser-me-á, muito difícil alcançar a Deus (Romanos
1.2).”5
Inácio não queria
ser reconhecido por seu sacrifício. Mas sua intenção era ser um
imitador autêntico de seu Senhor. Que havia pagado com sua própria
vida. Outras frases marcaram a carreira cristã de Inácio são elas:
“Sou
trigo de Deus, e os dentes das feras hão de me moer, para que possa
ser oferecido como pão limpo de Cristo”.6
“Meu
amor está crucificado (…) Não me agrada mais a comida
corruptível, (…) mas quero o Plano de Deus, que é a carne de
Jesus Cristo (…) e seu seu sangue quero beber, que é bebida
imperecível”.
“quando
eu sofrer, serei livre em Jesus Cristo, e com ele ressuscitarei em
liberdade”.
Inácio segundo a
tradição morreu em Roma ao ser jogado aos famintos leões. Algum
tempo depois Policarpo bispo de Esmirna escreveu aos crentes de
Filipo pergunta sobre a sorte do companheiro. Porém não encontramos
na história resposta a sua indagação.
2.3. O martírio
de Policapo.
Em
meio ao ano de 155 d.C., ainda estava valendo a política apresentada
a Trajano ao seu governador Plínio. Este por sua vez. Policarpo era
bispo de Esmirna, quando iniciou-se, uma série de acusações contra
os membros de sua igreja. Os relatos eram que os cristãos eram
submetidos as torturas mais bárbaras, mas não negavam a Cristo.
Foi
quando chamaram um ancião chamado Germânico a presença do juiz. E
este não negou a sua fé. Quando o juiz incitou a multidão contra o
ancião o mesmo não negou a sua fé, e começou a ser chamado de
Ateu, por acreditava em um Deus invisível e um Deus apenas. Mas
acrescentaram ao fato de chamarem-no de Ateu o pedido de trazer
Policarpo diante do tribunal. Haja vista que ele era o líder do
movimento naquela região.
Quando
Policarpo soube da situação, fugiu. Ainda por umas três vezes
trocou sua localização. Pois alguns se rendiam ao império e
deduravam ao bispo. Porém em uma dessas ocasiões Policarpo decidiu
não mais fugir e foi capturado e levado ao juiz.
Diante
do juiz, Policarpo foi orientado a negar sua fé. Sendo pressionado
pelo inqueridor e também pela multidão a sua volta. Porém o mesmo
deu a seguinte resposta ao juiz:
“Vivi
oitenta anos e seis anos servindo-lhe, e nenhum mal me fez. Como
poderia eu maldizer ao meu rei, que me salvou?”7
O
juiz ainda insistiu. Pediu que Policarpo apresentasse a multidão sua
defesa contra as acusações. O bispo porém disse que a mesma não
era digna de ouvir tal coisa. O juiz então o ameaçou com as feras,
com fogo, e com muitos outros tipos de tortura. Porém, o experiente
ancião respondeu que o fogo que o juiz acenderia só poderia durar
um tempo. Mas o mesmo não se compararia ao fato de passar a
eternidade em sofrimento continuo, por um fogo que jamais se
apagaria.
Com
isso o bispo de Esmirna fora queimado vivo, mas antes de morrer
elevou seus olhos aos céus e orou dizendo: “Senhor
Deus Soberano (…) dou-te graças, porque me consideraste digno
deste momento, para que, junto aos teus mártires, eu possa ser parte
no cálice de Cristo. (…) Por isso te bendigo e te glorifico (…)
Amém.”8
2.4. A
perseguição sob Marco Aurélio
Marco
Aurélio no ano de 161 d.C., assumiu o império. O mesmo fora adotado
anos antes por seu predecessor, Antônio Pio. Diferente de Nero e
Domiciano, Marco Aurélio ficou conhecido por sua erudição e
conhecimento. Seu espírito culto e erudito o levaram a construir em
seus pensamentos uma coleção de escritos pessoais, que levou o nome
de “Meditações”.
Ao
contrário do se que se podia imaginar a cerca da relação deste
refinado imperador a os cristãos, ele desencadeou sobre a igreja do
Senhor Jesus uma terrível perseguição. Nos primeiros anos do
reinado de Marco Aurélio o povo sofreu inúmeras tragédias:
invasões, inundações, epidemias e etc. Logo começou um boato que
a culpa de todas estas coisas era dos cristãos. Então Marco Aurélio
desencadeou uma enorme perseguição aos mesmos os culpando por tais
fatos.
Entre
os mártires que mais ganharam fama estão Felicidade uma viúva,
Justino o Mártir e Blandina.
2.5. Até o fim
do século segundo.
Marco
Aurélio morreu no de 180 d.C., e seu sucessor foi Cômodo. Que
governou em um período muito tumultuado por guerras civis, o que
para os cristãos resultou em uma relativa paz, mesmo ainda existindo
casos de martírios esporádicos.
No
século segundo a igreja sofreu forte perseguição. Mesmo que essa
não se desse em toda a extensão territorial do império romano.
1GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do
cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 62.
2GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do
cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 63.
3GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do
cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 64.
4GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do
cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 64.
5GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do
cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 68.
6
GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada
do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 68.
7GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do
cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 70.
8GONZÁLEZ,
Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do
cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 72.
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