quinta-feira, 21 de março de 2024

4º AULA – OS FALSOS MESTRES E A INFELIDADE DOS GÁLATAS – PARTE 2:


Projeto
– “De bem com a Bíblia” – março de 2024

Professor – Roberto da Silva Meireles Rodrigues

Livro – Gálatas.

4º AULA – OS FALSOS MESTRES E A INFELIDADE DOS GÁLATAS – PARTE 2:

“Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu pregue a vocês um evangelho diferente daquele que temos pregado, que esse seja anátema. Como já dissemos, e agora repito, se alguém está pregando a vocês um evangelho diferente daquele que já receberam, que esse seja anátema. Por acaso eu procuro, agora, o favor das pessoas ou o favor de Deus? Ou procuro agradar pessoas? Se ainda estivesse procurando agradar pessoas, eu não seria servo de Cristo (versos 8 e 10)”.

            Em seu comentário Stott faz uma observação muito perspicaz. John vai dizer que no primeiro momento o apóstolo ficou surpreso (verso 6) como os gálatas estavam abandonando o evangelho que Paulo os havia ensinado e estavam se desviando para um “outro evangelho”. Depois de sua surpresa, Paulo agora mostra sua indignação e por isso ele expressa seu furor através da palavra “anátema”.

Donald Guthrie em seu comentário explica a utilização do termo anátema utilizado pelo apóstolo Paulo: “anátema: a palavra anathema é relacionada com o hebraico herem, usado para aquilo que era dedicado a Deus, usualmente para a destruição. Alguns têm suposto que a palavra era usada entre os judeus para expressar a excomunhão (assim Williams). No uso neotestamentário é uma expressão forte, indicando separação de Deus. Ela subentende a desaprovação de Deus. Realmente, “anátema” é contraste máximo com a graça de Deus. Seu uso aqui é uma asseveração contra os que pervertem o evangelho, reflete a avaliação de Paulo quanto à gravidade do ponto de vista deles. Não se tratava de uma explosão irada pelo fato de estarem abandonando aquilo que Paulo pregara. Não era uma questão de prestígio pessoal, mas a própria essência do evangelho estava em jogo. Se os falsos mestres estavam diretamente contradizendo o evangelho da graça de Cristo, não haveria qualquer possibilidade de evitarem incorrer no forte desagrado de Cristo. É de certo modo estranho que Paulo se expressasse tão violentamente antes de delinear a natureza da perversão, mas isso demonstra a intensidade das apreensões do apóstolo acerca do problema. Na igreja primitiva o caráter do evangelho era mais plenamente apreciado do que tem sido frequentemente o caso na história subsequente da Igreja. Nos tempos modernos tem havido uma forte tendência no sentido de confundir as personalidades com o conteúdo do evangelho, mas a inclusão do próprio Paulo ou mesmo de um anjo na possibilidade de um anátema torna indisputavelmente clara a superioridade da mensagem sobre o mensageiro. Para o uso semelhante de um anátema, cf. 1Co 12:3; Rm 9:3.”[1]

            As possibilidades citadas por Paulo acerca dos possíveis erros com os mensageiros nos fazem entender que isso de fato não era algo de cunho pessoal, ou seja, não era questão de orgulho ferido de Paulo, mas sim uma questão de zelo pelo evangelho. Gosto das pontuações realizadas pelo reverendo Hernandes em seu comentário sobre essas possibilidades citadas por Paulo em detrimento as possibilidades de alteração na real mensagem do evangelho. Hernandes cita alguns fatores: 1) o evangelho é maior que os apóstolos; 2) o evangelho é maior que os anjos; 3) o evangelho é maior que os falsos mestres; 4) o evangelho pregado e recebido traz bênção, mas o evangelho adulterado gera maldição.

            Gosto de pensar e muitas vezes expresso essa verdade que Paulo nos ensina em uma frase que de alguma forma sintetiza bem esse pensamento: o compromisso de Deus não é com o mensageiro, mas o compromisso de Deus é com a sua Palavra. Uma vez que o mensageiro que possui a incumbência de apenas transmitir as Palavras daquele que o enviou, não o faz sendo infiel, adulterando a mensagem ele deixa de ter cumprindo a missão que recebeu de ser apenas um mensageiro.

            A sacada de Paulo é fantástica. Uma vez tendo condenado toda e qualquer criatura que distorça o evangelho, agora ele se vira para os falsos mestres e os sentencia por estarem adulterando o evangelho da graça de Jesus Cristo. É brilhante o argumento após ter incluído ele mesmo, e indo além, incluindo os anjos, ou seja, ninguém pode incorrer neste erro de alterar aquilo que foi estabelecido pelo próprio Senhor Jesus, de quem ele recebeu o evangelho da salvação.

“Por acaso eu procuro, agora, o favor das pessoas ou o favor de Deus? Ou procuro agradar pessoas? Se ainda estivesse procurando agradar pessoas, eu não seria servo de Cristo.”

            A maioria dos estudiosos comentam que o apóstolo Paulo estava sendo acusado de oportunista e bajulador. Eles o acusavam de adaptar a mensagem do evangelho para facilitar a vida daqueles que estavam ouvindo sua mensagem. O “anátema” lançado pelo apóstolo era uma resposta a estes acusadores, pois se Paulo estivesse distorcendo o evangelho de Jesus; também seria réu da maldição! Ou seja, Paulo não se esquivou em se posicionar acerca de seu caráter e da mensagem que ele anunciava.

            Donald Guthrie faz uma observação interessante quanto aos verbos usados por pelo apóstolo: “procurar favor (conciliar – peitho)” e “agradar” (areskein). Diz Guthrie: “A primeira das perguntas retóricas é repetida para ênfase adicional, como uma mudança significativa do verbo, de “conciliar” para “agradar” (areskein). É mais do que repetição que está envolvida. O primeiro verbo refere-se a tornar simples para os homens aceitarem o evangelho, ao passo que este verbo sugere o emprego da lisonja tendo em vista a obtenção da popularidade.”[2]

            Na última parte do verso o apóstolo usa o argumento de sua vida regressa. Ele certeiramente alega que para ele era muito mais conveniente continuar sendo Saulo o perseguidor da igreja do que Paulo, o servo de Jesus e perseguido por amor a este Jesus. Propositadamente o apóstolo usa a expressão “doulos” traduzido como servo, mas em uma melhor aplicação “escravo”. O que é mais fácil ser escravo ou ser livre? Dar ordens ou receber ordens? Ser castigado ou

Rev. Augustus Nicodemus foi muito feliz ao pontuar sobre a realidade de muitas igrejas evangélicas hoje e a importância da aplicação do texto de Gálatas. Diz ele: “Aprendemos com isso uma lição importante para os dias atuais. Há igrejas, comunidades e ministérios inteiros que existem para este único propósito: agradar aos homens, dizer o que as multidões querem ouvir. Nesses lugares, em geral, não se ouve falar sobre pecado nem sobre arrependimento. Não se fala em mudança de vida, em transformação, nem na necessidade de abandonar o pecado e seguir o caminho estreito da santificação. Esse evangelho que é pregado às massas enfatiza a prosperidade e a saúde, com o único propósito de fazer que as pessoas se sintam bem.

            Outra característica marcante desse evangelho pregado nos dias de hoje é a ênfase na autoajuda. Centenas de livros publicado por autores nacionais e estrangeiros exploram o desejo humano de ser bem-sucedido, de se sentir bem, de ser feliz. O principal propósito do evangelho, no entanto, não é fazer os seres humanos felizes. O autêntico evangelho de Cristo não diz respeito a colocarmos a nós mesmos em primeiro lugar, mas, sim a Deus, sua glória e sua vontade. Diz respeito a quem é Deus e aos direitos e reinvindicações dele, não aos nossos. É lamentável que muitas igrejas no Brasil estejam lotadas apenas por serem lugares onde se prega o que as pessoas querem ouvir. Procura-se ali agradar a multidão. Ora, se alguém busca agradar aos homens dessa maneira em seu ministério, já não pode, segundo Paulo, considerar-se um servo de Cristo Jesus.”

Todavia, quando afirmamos que não devemos agradar a homens em nosso ministério não queremos com isso dizer que, para sermos verdadeiros servos de Cristo, precisamos ser rudes com as pessoas ou tratá-las com indiferença. Queremos dizer, isto sim, que nosso dever é falar-lhes a verdade de Deus, conforme revelada na Bíblia Sagrada.”[3]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BILIOGRAFIA:

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. A Graça (II) / Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1999.

CALVINO, João. Gálatas. São José dos Campos, SP: Editora Fiel. 2007

CARSON, D. A. / MOO, Douglas J. / MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.

GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984.

HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento; São Paulo, SP: Hagnos, 2001.

HALLEY, Henry Hamptom. Manual Bíblico de Haley. São Paulo: Editora Vida, 2001.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019.

KELLER, Timothy. Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.

LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.

LUTERO, Martinho. Martinho Lutero: obras selecionadas, v.10 – Interpretação do Novo Testamento – Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia, 2008.

MacARTHUR, John. Comentário Bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.

MacGRATH, Alister. Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

NICODEMUS, Augustus. Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.

POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 1999.

STOTT, John R.W. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.

WRIGHT, N.T. Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2023.

 



[1] GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984, pg. 75.

[2] GUTHRIE, Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984, pg. 77.

[3] NICODEMUS, Augustus. Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016, pg. 34.

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