Projeto – “De bem com a Bíblia” – março de 2024
Professor
– Roberto da Silva Meireles Rodrigues
Livro
– Gálatas.
4º AULA – OS FALSOS MESTRES E A
INFELIDADE DOS GÁLATAS – PARTE 2:
“Mas, ainda que nós ou
mesmo um anjo vindo do céu pregue a vocês um evangelho diferente daquele que
temos pregado, que esse seja anátema. Como já dissemos, e agora repito, se
alguém está pregando a vocês um evangelho diferente daquele que já receberam,
que esse seja anátema. Por acaso eu procuro, agora, o favor das pessoas ou o
favor de Deus? Ou procuro agradar pessoas? Se ainda estivesse procurando
agradar pessoas, eu não seria servo de Cristo (versos 8 e 10)”.
Em
seu comentário Stott faz uma observação muito perspicaz. John vai dizer que no
primeiro momento o apóstolo ficou surpreso (verso 6) como os gálatas estavam
abandonando o evangelho que Paulo os havia ensinado e estavam se desviando para
um “outro evangelho”. Depois de sua surpresa, Paulo agora mostra sua indignação
e por isso ele expressa seu furor através da palavra “anátema”.
Donald Guthrie em seu comentário explica a
utilização do termo anátema utilizado pelo apóstolo Paulo: “anátema: a
palavra anathema é relacionada com o hebraico herem, usado para aquilo que era
dedicado a Deus, usualmente para a destruição. Alguns têm suposto que a palavra
era usada entre os judeus para expressar a excomunhão (assim Williams). No uso
neotestamentário é uma expressão forte, indicando separação de Deus. Ela
subentende a desaprovação de Deus. Realmente, “anátema” é contraste máximo com
a graça de Deus. Seu uso aqui é uma asseveração contra os que pervertem o
evangelho, reflete a avaliação de Paulo quanto à gravidade do ponto de vista
deles. Não se tratava de uma explosão irada pelo fato de estarem abandonando
aquilo que Paulo pregara. Não era uma questão de prestígio pessoal, mas a
própria essência do evangelho estava em jogo. Se os falsos mestres estavam
diretamente contradizendo o evangelho da graça de Cristo, não haveria qualquer
possibilidade de evitarem incorrer no forte desagrado de Cristo. É de certo
modo estranho que Paulo se expressasse tão violentamente antes de delinear a
natureza da perversão, mas isso demonstra a intensidade das apreensões do
apóstolo acerca do problema. Na igreja primitiva o caráter do evangelho era
mais plenamente apreciado do que tem sido frequentemente o caso na história
subsequente da Igreja. Nos tempos modernos tem havido uma forte tendência no
sentido de confundir as personalidades com o conteúdo do evangelho, mas a
inclusão do próprio Paulo ou mesmo de um anjo na possibilidade de um anátema
torna indisputavelmente clara a superioridade da mensagem sobre o mensageiro.
Para o uso semelhante de um anátema, cf. 1Co 12:3; Rm 9:3.”[1]
As
possibilidades citadas por Paulo acerca dos possíveis erros com os mensageiros
nos fazem entender que isso de fato não era algo de cunho pessoal, ou seja, não
era questão de orgulho ferido de Paulo, mas sim uma questão de zelo pelo
evangelho. Gosto das pontuações realizadas pelo reverendo Hernandes em seu
comentário sobre essas possibilidades citadas por Paulo em detrimento as
possibilidades de alteração na real mensagem do evangelho. Hernandes cita
alguns fatores: 1) o evangelho é maior que os apóstolos; 2) o evangelho é maior
que os anjos; 3) o evangelho é maior que os falsos mestres; 4) o evangelho
pregado e recebido traz bênção, mas o evangelho adulterado gera maldição.
Gosto
de pensar e muitas vezes expresso essa verdade que Paulo nos ensina em uma
frase que de alguma forma sintetiza bem esse pensamento: o compromisso de Deus
não é com o mensageiro, mas o compromisso de Deus é com a sua Palavra. Uma vez
que o mensageiro que possui a incumbência de apenas transmitir as Palavras
daquele que o enviou, não o faz sendo infiel, adulterando a mensagem ele deixa
de ter cumprindo a missão que recebeu de ser apenas um mensageiro.
A sacada de Paulo é fantástica. Uma vez tendo
condenado toda e qualquer criatura que distorça o evangelho, agora ele se vira
para os falsos mestres e os sentencia por estarem adulterando o evangelho da
graça de Jesus Cristo. É brilhante o argumento após ter incluído ele mesmo, e
indo além, incluindo os anjos, ou seja, ninguém pode incorrer neste erro de
alterar aquilo que foi estabelecido pelo próprio Senhor Jesus, de quem ele
recebeu o evangelho da salvação.
“Por acaso eu procuro,
agora, o favor das pessoas ou o favor de Deus? Ou procuro agradar pessoas? Se
ainda estivesse procurando agradar pessoas, eu não seria servo de Cristo.”
A maioria dos estudiosos comentam que o apóstolo
Paulo estava sendo acusado de oportunista e bajulador. Eles o acusavam de
adaptar a mensagem do evangelho para facilitar a vida daqueles que estavam
ouvindo sua mensagem. O “anátema” lançado pelo apóstolo era uma resposta a
estes acusadores, pois se Paulo estivesse distorcendo o evangelho de Jesus;
também seria réu da maldição! Ou seja, Paulo não se esquivou em se posicionar
acerca de seu caráter e da mensagem que ele anunciava.
Donald
Guthrie faz uma observação interessante quanto aos verbos usados por pelo
apóstolo: “procurar favor (conciliar – peitho)” e “agradar” (areskein).
Diz Guthrie: “A primeira das perguntas retóricas é repetida para ênfase adicional,
como uma mudança significativa do verbo, de “conciliar” para “agradar”
(areskein). É mais do que repetição que está envolvida. O primeiro verbo refere-se
a tornar simples para os homens aceitarem o evangelho, ao passo que este verbo
sugere o emprego da lisonja tendo em vista a obtenção da popularidade.”[2]
Na última parte do verso o apóstolo usa o argumento
de sua vida regressa. Ele certeiramente alega que para ele era muito mais
conveniente continuar sendo Saulo o perseguidor da igreja do que Paulo, o servo
de Jesus e perseguido por amor a este Jesus. Propositadamente o apóstolo usa a
expressão “doulos” traduzido como servo, mas em uma melhor aplicação “escravo”.
O que é mais fácil ser escravo ou ser livre? Dar ordens ou receber ordens? Ser castigado
ou
Rev. Augustus Nicodemus foi muito feliz ao pontuar sobre
a realidade de muitas igrejas evangélicas hoje e a importância da aplicação do
texto de Gálatas. Diz ele: “Aprendemos com isso uma lição importante para os
dias atuais. Há igrejas, comunidades e ministérios inteiros que existem para
este único propósito: agradar aos homens, dizer o que as multidões querem
ouvir. Nesses lugares, em geral, não se ouve falar sobre pecado nem sobre
arrependimento. Não se fala em mudança de vida, em transformação, nem na
necessidade de abandonar o pecado e seguir o caminho estreito da santificação.
Esse evangelho que é pregado às massas enfatiza a prosperidade e a saúde, com o
único propósito de fazer que as pessoas se sintam bem.
Outra
característica marcante desse evangelho pregado nos dias de hoje é a ênfase na
autoajuda. Centenas de livros publicado por autores nacionais e estrangeiros
exploram o desejo humano de ser bem-sucedido, de se sentir bem, de ser feliz. O
principal propósito do evangelho, no entanto, não é fazer os seres humanos
felizes. O autêntico evangelho de Cristo não diz respeito a colocarmos a nós
mesmos em primeiro lugar, mas, sim a Deus, sua glória e sua vontade. Diz
respeito a quem é Deus e aos direitos e reinvindicações dele, não aos nossos. É
lamentável que muitas igrejas no Brasil estejam lotadas apenas por serem
lugares onde se prega o que as pessoas querem ouvir. Procura-se ali agradar a
multidão. Ora, se alguém busca agradar aos homens dessa maneira em seu
ministério, já não pode, segundo Paulo, considerar-se um servo de Cristo Jesus.”
Todavia, quando afirmamos que não devemos agradar a
homens em nosso ministério não queremos com isso dizer que, para sermos
verdadeiros servos de Cristo, precisamos ser rudes com as pessoas ou tratá-las
com indiferença. Queremos dizer, isto sim, que nosso dever é falar-lhes a
verdade de Deus, conforme revelada na Bíblia Sagrada.”[3]
BILIOGRAFIA:
AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. A
Graça (II) / Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1999.
CALVINO, João. Gálatas.
São José dos Campos, SP: Editora Fiel. 2007
CARSON,
D. A. / MOO, Douglas J. / MORRIS, Leon. Introdução ao Novo
Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1997.
GUTHRIE, Donald. Introdução
e comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984.
HALE, Broadus David.
Introdução ao estudo do Novo Testamento; São Paulo, SP: Hagnos, 2001.
HALLEY, Henry Hamptom.
Manual Bíblico de Haley. São Paulo: Editora Vida, 2001.
HENDRIKSEN, William.
Comentário do Novo Testamento – Gálatas. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2019.
KELLER, Timothy.
Gálatas o valor inestimável do evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2015.
LADD, George Eldon.
Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.
LOPES, Hernandes Dias.
Gálatas: A carta da liberdade cristã. São Paulo, SP: Hagnos, 2011.
LUTERO, Martinho.
Martinho Lutero: obras selecionadas, v.10 – Interpretação do Novo Testamento –
Gálatas – Tito. São Leopoldo: Sinodal, Canoas: ULBRA, Porto Alegre: Concórdia,
2008.
MacARTHUR, John. Comentário
Bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Rio de
Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.
MacGRATH, Alister.
Teologia para amadores. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
NICODEMUS, Augustus.
Livrem em Cristo – A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP:
Vida Nova, 2016.
POHL, Adolf.
Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba, PR: Editora Evangélica
Esperança, 1999.
STOTT, John R.W.
A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU Editora, 2007.
WRIGHT, N.T.
Gálatas: comentário para a formação cristã. Rio de Janeiro: Thomas Nelson,
2023.
[1] GUTHRIE,
Donald. Introdução e comentário de Gálatas. São Paulo, SP:
Vida Nova, 1984, pg. 75.
[2] GUTHRIE, Donald. Introdução e
comentário de Gálatas. São Paulo, SP: Vida Nova, 1984, pg. 77.
[3] NICODEMUS, Augustus. Livrem em Cristo –
A mensagem de Gálatas para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016,
pg. 34.
Texto de excelência! Aprendendo muito!
ResponderExcluirExcelente exposição .
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