sábado, 21 de junho de 2025

3º Capítulo - Os primeiros conflitos com o Estado e a perseguição doo primeiro século

 


Capítulo III – Os primeiros conflitos com o estado e a perseguição do primeiro século.

1 – OS PRIMEIROS CONFLITOS COM O ESTADO.

“O Vencedor Herdará estas cousas, e eu lhe serei Deus e ele me será filho”. (Ap. 21.7)

            A fé cristã desde o seu nascedouro nunca gozou de uma tranquilidade absoluta. Pelo contrário, o início e a trajetória de seu desenvolvimento foi marcada pelas perseguições e martírios.

            O Senhor e dono da igreja, Jesus Cristo foi perseguido e condenado à morte de cruz. Dando sequência ao Senhor, outros logo no início da caminhada da igreja primitiva pagaram com suas vidas. Exemplos: Estevão (um dos sete diáconos), Tiago filho de Zebedeu (irmão de João e um dos doze apóstolos), e muitos outros desconhecidos.

            Essas perseguições não se deflagraram pelo mesmo motivo e nem em meio as mesmas circunstâncias. No desenvolvimento da história as variações de motivos e circunstâncias encontraram dramas e enredos diferentes. Vamos realizar algumas pontuações para clarificar nosso entendimento acerca do que fora dito acima:

1.1. A nova seita judaica.

            Neste ponto iremos elucidar a cosmovisão que os judeus possuíam acerca do cristianismo e também a cosmovisão que os cristãos tinham acerca do judaísmo.

1.1.1. Cosmovisão dos Judeus em relação ao cristianismo  

            Os judeus não enxergavam o cristianismo como uma nova seita. Como anteriormente falamos o judaísmo não gozava de uma unidade monolítica. Existiam diversas ramificações dentro do judaísmo. Os judeus encaravam o cristianismo como uma nova heresia para os remanescentes fiéis a tradição de seus pais. Eles tinham a convicção bíblica de que eles estavam sendo castigados (estando debaixo do julgo de Roma) por que não foram fiéis a leis de Deus. Então este fato trazia aquele momento histórico um profundo sentimento nacionalista e de temor novamente a incorrer no mesmo erro de seus antepassados e se afastarem da pessoa de Deus.

1.1.2. Cosmovisão dos cristãos em relação ao judaísmo.

            Os cristãos não acreditavam que estavam criando ou fundando uma nova religião ou seita. Eles acreditavam que estavam vivenciando a promessa que o Senhor havia feito aos seus antepassados acerca da era messiânica. Sua convicção de fé era que o Eterno havia cumprido na pessoa de Jesus a promessa de um Salvador, de um Messias.

            Este fato fica claro para nós quando analisamos a mensagem nos primeiros sermões da igreja primitiva. A mensagem que saia da boca dos apóstolos e de seus discípulos eram que as promessas que Deus fizera a Abraão, a Isaque, a Jacó e também a todos os profetas estava ao seu alcance. Bastando apenas a eles (judeus) a se colocarem debaixo da mesma. Ou seja, acreditarem de fato de que a promessa messiânica havia se cumprido na pessoa de Jesus.

            E também por este motivo que o convite destes mesmos homens (cristãos primitivos) aos gentios era que eles se colocassem como descendentes de Abraão pela fé, pois sendo eles descendentes de Abraão a promessa seria estendida a eles. E o Antigo Testamento outorgava-lhes o direito de professarem está fé e mensagem, pelo fato das promessas de que Deus atrairia todas as nações da terra a Sião.

1.1.3 A perseguição dos judeus aos cristãos nos primeiros anos.

            Conforme foi pontuado acima. Os judeus pelo seu zelo ao Senhor, por não quererem serem castigados novamente. Começaram a perseguir aos cristãos. Em alguns casos houve morte, em outros casos, a confusão tomava uma proporção maior, Roma se envolvia e tomava as rédias, evitando maiores problemas. Mas quando não se ganhava proporção nos tumultos, Roma não se metia, e deixava que as partes se entendessem. No pensamento de Roma tanto cristãos como judeus faziam parte da mesma religião. Só que com divergências entre algumas doutrinas.

            Esse fato exposto é claro quando olhamos para Atos 18.14-15. Paulo está na cidade de Corinto pregando quando alguns judeus o levam até o procônsul Gálio a queixa de que Paulo estava persuadindo aos judeus a adorarem a Deus de forma contra a lei de Moisés. Gálio lhes dá a seguinte resposta: “mas se é questão de palavras, de nomes, e de vossa lei, tratai disso vós mesmos; eu não quero ser juiz destas cousas”. Isso nos dá a entender que o Estado via tanto o cristianismo quanto o judaísmo como uma só coisa.

            Mas quando o tumulto era muito grande aí Roma intervinha. Ao olharmos Atos 18.2, a Bíblia nos relata que Cláudio o imperador expulsa os judeus da cidade de Roma. A Bíblia não elucida o motivo por tal atitude do imperador. Porém o historiador romano “Suetônio” vai dizer em seus relatos que os judeus foram expulsos por causa de “Cresto”, é bem provável que ele queira ter dito Cristo, porém por um erro de grafia escreveu Cresto. É bem provável que os cristãos estavam pregando a mensagem acerca da pessoa de Jesus o Cristo e os judeus criaram alvoroços quanto a isso. Então tomou uma proporção grande que o imperador teve que intervir para restaurar a ordem na cidade.

            Porém com o passar dos tempos foi diminuindo o número de judeus no seio da igreja. Então cada vez mais fora se diferenciando o cristianismo do judaísmo. Os judeus também começaram a se tornarem muitos radicais e a causarem problemas de relacionamento com o Estado. Os cristãos começaram a se posicionar contra aquelas atitudes nacionalistas de revolta. Então as divergências de pensamentos começaram realmente a separar um do outro.

1.2. A perseguição sob Nero.

            Nero assumiu o trono em 54 d.C. No início de seu reinado ao contrário da fama que receberia no futuro, promulgou leis que beneficiavam os pobres e os despojados. Porém com o passar dos anos a ambição, o poder, a fama, o cegaram e fizeram com que Nero se tornasse sinônimo de ditador e desposta.

            O jovem imperador foi colecionando inimigos com o decorrer dos anos. O povo vivia sobre um julgo de tirania e opressão. Os críticos e intelectuais começaram a difundir a ideia de que Nero não tinha capacitação para exercer o cargo que estava ocupando. Também começou a espalhar-se no império a notícia de quem se opunha a Nero ou era assinado misteriosamente, ou era convidado a cometer suicídio.

            Em 18 de julho de 64, a cidade de Roma foi incendiada. Nero se encontrava nessa ocasião, em sua residência de Antuim, a umas quinze léguas de Roma. Mas mesmo assim, o povo daquela época e praticamente todos os historiadores acreditam que Nero estava louco, e que ele havia mandado incendiar a cidade. O historiador Tácito, que se encontrava em Roma fala sobre os rumores do povo e sua convicção acerca de Nero ser o causador do incêndio e, o mesmo historiador também deixa implícito em seus relatos a percepção de que ele mesmo acretiva que Nero havia sido o responsável pelo incêndio.

            Nero tentou de todas as maneiras possíveis se desvencilhar da culpa. Porém duas das cidades que não foram afetadas pelo incêndio eram habitadas por sua grande maioria de judeus e cristãos. Nero de posse deste argumento culpou os cristãos de terem incendiado a cidade.

            O historiador Tácito vai realizar o seguinte relato:

“Apesar de todos os esforços humanos, da liberalidade do imperador e dos sacrifícios oferecido aos deuses, nada bastava para apartar as suspeitas nem para destruir a crença de que o fogo havia sido ordenado. Portanto, para destruir este rumor, Nero fez aparecer como culpados os cristãos, uma gente odiada por todos por suas abominações, e os castigou com mui refinada crueldade. Cristo, de quem tomam o nome, foi executado por Pôncio Pilatos durante o reinado de Tibério. Detida por um instante, está superstição daninha apareceu de novo, não somente na Judeia, onde estava a raiz do mal, mas também em Roma, esse lugar onde se narra e encontram seguidores de todas as coisas atrozes e abomináveis que chegam desde todos os rincões do mundo. Portanto, primeiro foram presos os que confessaram (ser cristãos), e baseadas nas provas que eles deram foi condenada uma grande multidão, ainda que não os condenaram tanto pelo incêndio, mas sim pelo seu ódio à raça humana. (Anais, 15.44) ”[1]

            Este relato se torna valiosíssimo a nossa pesquisa de como se enxergavam os cristãos daquela época. E também pelo fato de que Tácito não acreditava no fato de que os cristãos tivessem envolvimento com o incêndio. Porém devemos avaliar algumas palavras de forma que possamos entender melhor o porquê dos cristãos não serem acusados pelo incêndio e sim por suas abominações e seu ódio a raça humana.

Vamos analisar estes dois termos:

Abominações – Começou a circular a alguns boatos sobre os cristãos que ficaram conhecidos como abomináveis. Vamos citar alguns exemplos: A chamada festa Ágape, ou festa do amor, onde só se podia participar os iniciados na fé (os batizados). Durante esta festa os cristãos comiam e se embriagavam e depois se entregavam as paixões carnais, sendo que o pior deste boato, era o fato dos cristãos chamarem-se de irmãos, os incrédulos pensavam que existiam relações entre parentes, ou seja, incestos.

            Outro boato era acerca da ceia do Senhor. Quando se é celebrado a Ceia do Senhor, é explicado que o pão simboliza o corpo de Cristo, e que ao comer do pão estamos lembrando do sacrifício de Jesus. Então se ligou este fato de comer o corpo de Cristo com o seu nascimento em um estábulo e começou a correr o boato de que os cristãos pediam que aquele que quisesse iniciar na fé em Cristo deveriam de comer um recém-nascido dentro de um pão.

            Outro boato era ligado ao fato de os cristãos adorarem a um Asno crucificado. Este boato era oriundo do boato que fora levantado contra os judeus no passado de serem também adoradores de um Asno. E agora acrescentaram ao Asno o fato da crucificação de Cristo.

 

Ódio à raça humana - Esse termo se deu pelo fato dos cristãos se absterem do convívio social com o restante do povo. Não que os cristãos fossem antissociais, mas sim por que as programações sociais estão sempre engajadas com adoração a ídolos. Isso era fato nos esportes, teatros, no exército, letras, filosofia, etc.

            Pelas palavras do historiador podemos notar que ele como todo o seu povo. Nutria uma certa aversão aos cristãos. Mas, que o castigo do imperador era excessivo não em prol da justiça, mas sim em prol dos desmandos do imperador. O mesmo Tácito vai falar sobre como o imperador procedia contra os cristãos: “Além de matá-los (aos cristãos) fê-los servir de diversão para o público. Vestiu-os em peles de animais para que os cachorros os matassem a dentadas. Outros foram crucificados. E a outros acedeu-lhes fogo ao cair da noite, para que iluminassem. Nero fez que abrissem os seus jardins para esta exibição, e no circo ele mesmo ofereceu um espetáculo, pois misturava-se com as multidões, disfarçando-se condutor de carruagem, ou dava voltas em sua carruagem...”[2]

            Depois da morte de Nero. O império entrou em sucessões e desencontro quanto as mesmas. E neste período os cristãos ficaram em paz. E parecem ter sido esquecidos pelo império. Porém vale ressaltar que em 70 Jerusalém havia sido destruída pelo imperador Tito.

1.3. A perseguição sob Domiciano

            No ano de 81 assumiu o império Domiciano. No início ele foi benigno aos cristãos a semelhança de seus antecessores. Porém no final de seu governo ele desencadeou novamente sobre os cristãos a perseguição.

            A perseguição de Domiciano se deu pelo fato do mesmo querer resgatar a tradição de seus antecessores no império. E já era de se esperar que os cristãos fossem perseguidos pelo fato da religião do império ir de desencontro ao pensamento cristão de um único Deus, invisível.

            Os judeus começaram a sofrer perseguições extensivas do imperador. Ainda mais agora que não existia mais o templo em Jerusalém. Domiciano exigia que eles revertessem suas ofertas a Roma assim também como sua conduta para com Jerusalém à Roma. Como a relação da diferenciação entre cristianismo e judaísmo ainda não era claro. Logo se desencadeou sobre os cristãos as perseguições novamente. Clemente vai relatar as peseguiçõe em sua epístola aos coríntios: “os males e provas inesperadas e seguidas que sobrevieram a nós (I Clemente I).”[3]

                        Após a estas atrocidades Domiciano foi assassinado em seu palácio. Foi menos pior para os cristãos que ele desencadeou as perseguições já no final de sua vida e governo. Após sua morte a igreja voltou a gozar de paz


[1]    GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 55.

[2]    GONZÁLEZ, Justo. A era dos mártires: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. Pág. 56.

[3]    Id. pág. 60.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

5º Capítulo - A defesa da fé e o depósito da fé.

  5º Capítulo – A defesa da fé e o depósito da fé. 1. A DEFESA DA FÉ. “Meu propósito não é linsonjear-vos (…) mas requerer que julgueis ...