terça-feira, 10 de junho de 2025

3ª Ministração - Ao anjo da igreja em Pérgamo - 08/06/2025

 


Rio de Janeiro, 08 de junho de 2025.  

Série de Mensagens – Ao anjo da igreja

Tema da Mensagem – Ao anjo da igreja em Pérgamo

Texto Base – Apocalipse 2:12-17

INTRODUÇÃO:

O livro e seu conteúdo – O livro foi nominado com a tradução da primeira palavra grega do livro, apokalypsis, que significa “revelação”. Pode ser que você já tenha ouvido alguém falar ou ensinar que o significado de apocalipse seja “destruição”, “fim do mundo”, ou alguma outra coisa parecida. Porém, não é isso que significa. Trata-se da revelação que João recebe da parte de Jesus que o ordena a escrever e a compartilhar com os irmãos. O professor de teologia bíblica do seminário Baltimore, Maryland, nos E.U.A explica de forma muito assertiva o conteúdo do livro de Apocalipse: “Quais são as implicações dessa abordagem? Apocalipse não diz respeito ao anticristo, mas ao Cristo vivo. Não diz respeito a um arrebatamento para fora deste mundo, mas a um discipulado fiel neste mundo. Ou seja, como qualquer outro livro do Novo Testamento, Apocalipse trata sobre Jesus Cristo – “Revelação de Jesus Cristo” (Apocalipse 1:1) – e sobre segui-lo em obediência e amor. “Se alguém indagar: ‘Por que ler Apocalipse’, a resposta pronta deve ser: ‘Para conhecer melhor a Cristo’. Nesse último livro da Bíblia cristã, Jesus é retratado sobre tudo como: a Testemunha Fiel, que permanece leal a Deus apesar da tribulação; o que está Presente, que caminha entre a comunidade dos seus seguidores, proferindo palavras de conforto e incentivo por meio do Espírito; o Cordeiro que foi morto e agora reina com Deus, o Criador, compartilhando a devoção e adoração que são devidas somente a Deus e; o que virá, cumprirá todo o propósito de Deus e reinará com Deus no meio do seu povo, no novo céu e na nova terra. Apocalipse, portanto, também nos fala sobre sermos fiéis a Deus e obedientes ao Espírito ao seguirmos Jesus, especificamente em: testemunho e resistência fiéis; escuta atenta; uma vida litúrgica (permeada pela adoração) e; esperança missional”.[1]  

Quem é o autor da carta e quando ela foi escrita? Estudiosos modernos têm questionado a autoria da carta que comumente é dada praticamente de forma unânime ao apóstolo João desde os pais da Igreja, com raras exceções tais como Eusébio (325) e Dionísio de Alexandria no terceiro século. O estudioso do Novo Testamento que foi por muitos anos professor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Dr. Broadus Davi Hale, em sua obra Introdução ao Novo Testamento faz o seguinte comentário acerca da evidência externa da autoria de João: “Embora Hermas e Inácio possam ter feito uso do Apocalipse, Justino Mártir, no que concerne à evidência preservada, foi o primeiro a declarar explicitamente que o apóstolo João escreveu o Apocalipse (Diaogue With Trypho the Jew, 81). Como Justino viveu em Éfeso em torno de 135 d.C., esta informação é importante. O Cânon Muratoriano (c. 175) contém o Apocalipse e diz que o apóstolo João é o autor. Irineu (c.180), pupilo de Policarpo, escreveu que João, o discípulo do Senhor, viveu na Ásia até os tempos de Trajano” e escreveu o Apocalipse pelo final do reinado de Domiciano (Ad. Haerses, V, xxx, 3). No final do segundo século, Polícrates, Clemente de Alexandria e Tertuliano, todos, testemunharam do apóstolo João como autor do Apocalipse. Orígenes (c.225) escreveu que o João que “se reclinava sobre o peito do Senhor” escreveu tanto o evangelho quanto o Apocalipse (citado em Eusébio, H.E., VI, xxv, 9). Depois de Orígenes, todos os escritores, com duas exceções, aceitam sem contestar a autoria joanina do Apocalipse”.[2]

Um importante centro político e religioso – Pérgamo não era uma cidade comercial tão importante quanto Éfeso e Esmirna, mas era extremamente importante como um centro político e religioso. Após a morte de Alexandre, o Grande, em 333 a.C. Átalo, o último rei de Pérgamo, passou o reino a Roma em seu testamento. Pouco tempo depois, Pérgamo passou a ser a capital da província romana na Ásia. No 29 a.C. foi dedicado um templo "ao divino Augusto e a deusa Roma", e dessa maneira Pérgamo se tornou o principal lugar de adoração ao imperador na Ásia. A adoração ao imperador tornou-se uma prova de sua lealdade a Roma. O culto ao imperador havia se tornado o ponto central da política junto ao império.

 

Uma cidade mergulhada na idolatria - "Pérgamo era também o centro de culto a outros deuses. Na cidade havia uma acrópole de uns 300 metros de altura com muitos templos a deuses pagãos. No topo havia um bonito templo dedicado a Zeus, tendo ao lado um templo da deusa Atenas. Pérgamo também era o centro do culto a Asclépio, o deus-serpente das curas, e seu colégio de sacerdotes-médicos era famoso. Pérgamo, assim era uma fortaleza das religiões pagãs e do culto ao imperador, um ambiente extremamente difícil para uma igreja local." (Ladd, pg. 37)

 

“Escreve ao anjo em Pérgamo: Assim diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes”: (verso 12)

            Osborne vai destacar em seu comentário que essa é a apresentação mais simples da pessoa de Jesus dentre todas as sete cartas por Ele enviadas as sete igrejas da Ásia Menor. A única descrição que Jesus faz é de ser o possuidor da espada afiada de dois gumes.

A “espada afiada de dois gumes” era um símbolo romano de justiça. A espada era usada pelo procônsul romano que residia em Pérgamo. Ele a usava para os julgamentos e inclusive para executar os inimigos do estado. Ao se utilizar deste símbolo o Senhor Jesus está dizendo a sua igreja que o verdadeiro juízo provém d’Ele, pois Ele É o verdadeiro juiz. Muito provavelmente exista uma ligação dessa apresentação de Jesus com a promessa feita em Isaías 11.4.

“Sei onde habitas, onde está o trono de Satanás, mas conservas o meu nome e não negaste a minha fé, mesmo nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, que foi morto entre vós, onde Satanás habita”. (verso 13)

            Jesus destaca que tem conhecimento de três coisas: o mundo ímpio ao qual eles moravam, Ele também conhecia o testemunho fiel e a perseverança daqueles irmãos em meio as perseguições que sofriam.

            Existem algumas hipóteses para a interpretação do termo “trono de Satanás”. Vejamos: 1) A cidade está localizada em um platô, a certa distância, a acrópole se parecia com um trono; 2) A enorme variedade de ídolos pagãos, templos e santuários poderiam ser os instrumentos de Satanás; 3) O altar a Zeus no cume de um monte que possuía uma enorme proeminência na cidade; 4) A cidade era o centro da adoração a Asclépio, e o símbolo de Asclépio era uma serpente. Satanás também é simbolizado como uma serpente Ap. 12.9; 20.2. Os seguidores dessa seita chamavam-no de “salvador”; 5) A última e em minha opinião a interpretação correta é a de que a cidade possuía um culto ao imperador romano.

           

“No entanto, tenho contra você algumas coisas: você tem aí pessoas que se apegam aos ensinos de Balaão, o qual ensinou Balaque a armar ciladas contra os israelitas, induzindo-os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a praticar imoralidade sexual. De igual modo, você tem também os que se apegam aos ensinos dos nicolaítas." (versos 14 e 15)

Ao contrário da igreja de Éfeso que resistiu aos falsos mestres e seus heréticos ensinamentos, um grupo de pessoas em Pérgamo havia sido influenciado pelas falsas doutrinas e haviam se contaminado.

Mais uma vez nos deparamos com "os nicolaítas" um grupo de gentios "convertidos" ao cristianismo que ensinavam que não havia erros em se alimentar as comidas sacrificadas aos ídolos, e praticar sexo antes e fora do casamento. Eles também de acreditavam não ter problemas participar do culto ao imperador, dizendo eles que o culto ao imperador é mais um ato cívico e do que um ato de adoração.

Jesus se utiliza do exemplo de Balaão do Antigo Testamento registrado em Números 22-24, um profeta gentio que foi procurado por Balaque, rei de Moabe para amaldiçoar a Israel, mas Deus não permitiu que isso acontecesse e, ao invés dele proferir maldição o Senhor fez ele proferir bençãos, pois contra o povo de Deus não vale encantamentos ou maldição sem causa.

Todavia, em Números 25:1-3 os israelitas são descritos caindo na imoralidade sexual com as mulheres moabitas e também caindo na idolatria a Baal. Moisés diz em Números 31.16 que as mulheres moabitas foram aconselhadas por Balaão a seduzirem aos israelitas.

Osborne indica que a melhor forma de interpretamos esses versos que descrevem a doutrina de Balaão e a doutrina dos nicolaítas com um só movimento herético. A ideia é que Jesus se utilizou de um exemplo conhecido para condenar a doutrina dos nicolaítas.

O mesmo Grant Osborne salienta o fato da "doutrina dos nicolaítas" ser algo muito mais ligado a práxis da vida cristã do que uma doutrina (teoria). Lembrando que as práticas heréticas ensinadas pelos nicolaítas quebravam duas de quatro proibições impostas no concílio de Jerusalém. (Atos 15)

Eles ensinavam que não havia problema com as imoralidades praticadas no sexo antes e fora do casamento e que também não havia problema no culto ao imperador pois era, no ponto de vista deles, muito mais um ato cívico do que religioso como anteriormente explicado. Além de permitirem o consumo das carnes oferecidas aos deuses pagãos.

Em relação as carnes oferecidas temos uma dificuldade em saber se essa carne era comprada nos supermercados da época, porém tendo sido oferecida antes de ser vendida, ou se realmente eles participavam dos rituais e ali consumiam os alimentos. O apóstolo Paulo trata desses dois casos ao escrever a primeira carta aos Coríntios.

 

"Portanto, arrependa-se! Senão, virei em breve até você e guerrearei contra eles com a espada da minha boca." (verso 16)

Diferente da igreja de Éfeso que lutou contra os falsos mestres e seus ensinos e foi lhe advertido que haviam perdido o seu primeiro amor, mas eles não toleraram os nicolaítas e na luta os levou a esse processo do abandono do primeiro amor. Pérgamo por sua vez tolerava esses hereges e permitia que eles estivessem em seu meio praticando e ensinando suas práticas podendo arrastar outros para apostasia.

Jesus é enfático lhes mandando se arrependerem ou então Ele iria guerrear contra eles. Essa expressão é usada outras vezes no Apocalipse para descrever a luta de Jesus contra o dragão e a besta (11.7; 12.17; 13.7), a luta contra as forças do mal (12.7; 19.11). Jesus se utilizava de uma metáfora, o guerreiro divino, para descrever sua luta contra seus inimigos. No dia da sua vinda e do estabelecimento pleno de seu Reino, Jesus irá trazer juízo e nesse sentido irá fazer guerra contra todos aqueles que não estão ao seu lado lutando contra os inimigos d'Ele, isso mesmo, estar ao lado de Jesus significa estar em guerra junto com Ele.

Não dá para não guerrear, não dá para ser tolerante aos falsos ensinos que expressam práticas que são uma afronta direto à vontade de Deus estabelecida em sua Palavra. Um cristão verdadeiro está armado com a armadura espiritual e em guerra contra os valores desse mundo hostil que é governado pelo diabo e seus anjos malignos, inimigos do cordeiro

 

“Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Àquele que vencer darei do maná escondido. Também lhe darei uma pedra branca com um novo nome escrito nela, conhecido apenas por aquele que a recebe”. (Verso 17)

A mesma expressão é usada novamente "Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas". Essa expressão foi utilizada no evangelho de Marcos 4.9, é um chamado, um alerta, um oráculo para os vencedores, aqueles que permanecem fiéis até o final de suas vidas. Não adianta apenas ouvir as orientações de Jesus, é preciso praticá-las. Só vence na vida cristã quem é obediente!

O maná só pode ser experimentado pelos eleitos, pelos salvos, não é permitido aos incrédulos e idólatras participar do banquete do Senhor. É forte na tradição judaica a figura do maná que será dado aos eleitos na festa do Messias no fim dos tempos. Segundo a tradição judaica Jeremias foi orientado por Deus durante a destruição do templo para guardar a enterrar a arca no Monte Sinai para ela aguardar a retirada com o retorno do Messias no escaton. Jesus também ensina a seus discípulos sobre as bodas do cordeiro. Ele mesmo disse que era o pão vivo que desceu dos céus. Aos seus é dado o direito de experimentar já hoje, ainda neste tempo presente, um antegosto do que está sendo preparado para aquele grande dia na consumação plena do seu Reino.

 

CONCLUSÃO E APLICAÇÃO:

            Fica um alerta para os nossos dias em relação a questão da defesa de nossa fé e os valores pelos quais nos sãos propostos pela nossa regra de fé e prática que é a Bíblia, a Palavra de Deus. Muitos cristãos no desejo de serem tolerantes e respeitosos, acabam sendo coniventes com comportamentos e doutrinas que são diretamente contra os doutrinas e princípios extraídos da Palavra de Deus.

            Urge que nesse tempo sejamos capazes de saber defender a sã doutrina e praticá-la de forma correta em nossas práxis de vida cristã. A princípio, em uma análise superficial, aparentemente falta aos cristãos de nosso tempo convicção de fé que possam lhes guiar os passos em seu cotidiano. São nossas convicções de fé que nos dão concretude para ser fiel até a morte.



[1] GORMAN, Michael J. Lendo Apocalipse com responsabilidade: testemunho e adoração incivil: seguindo o Cordeiro rumo à nova criação. Rio de Janeiro, Thomas Nelson Brasil, 2022, pg. 15.

[2] HALE, Broadus David. Introdução ao Novo Testamento. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1983, pg. 432

 

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