quinta-feira, 25 de setembro de 2025

1ª AULA – JOÃO BATISTA


 Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2025.

INSTITUTO BÍBLICO EFATÁ

MÓDULO DE TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

1ª AULA – JOÃO BATISTA

PROFESSOR – PR. ROBERTO DA SILVA MEIRELES RODRIGUES

INTRODUÇÃO:

O PLANO DE FUNDO DO SURGIMENTO DE JOÃO BATISTA:

            Para dimensionar a importância do ministério de João Batista é necessário que seja compreendido o plano de fundo de seus dias. Pelo menos por quatro séculos, o Senhor não falava mais diretamente por profetas com seu povo. De modo que era habitual que em Israel houvesse sempre um profeta que conclamava o povo para um arrependimento pelos seus maus caminhos, exortando ao povo acerca da razão pelo qual a nação estava passando por uma opressão.

Enfim, a funcionalidade do profeta se dava em ser porta voz de uma mensagem da parte de Deus para o seu povo, visando-os direcionar a sua vontade.

            Com esse silêncio da parte de Deus. Os líderes religiosos tentavam de alguma forma entender qual era a vontade de Deus. Dentro desta perspectiva. Duas correntes de vida religiosa se instauraram entre a liderança religiosa.

Ao explicar o assunto o estudioso do Novo Testamento George Eldon Lad comenta: “Em lugar da voz viva da profecia, houve duas correntes de vida religiosa, ambas derivadas de uma mesma fonte comum: a religião dos escribas, os quais interpretavam a vontade de Deus, estritamente em termos de obediência à Lei escrita e interpretada por eles; e os apocalípticos, os quais, em acréscimo à Lei, incorporavam suas esperanças de uma salvação futura nos escritos apocalípticos usualmente colocados, em um modelo pseudo-epigráfico.”[1]

            Dentro desta perspectiva apocalíptica surgiu uma comunidade chamada Qumran. Eles aguardavam ansiosamente uma consumação apocalíptica. Todavia, ao invés de anunciarem sua perspectiva acerca da consumação apocalíptica eles se isolaram no deserto se esquivando de uma possível “missão” de preparar o povo para o fim dos tempos em que acreditavam ser iminente.

            Possivelmente por uma falta de direcionamento concreto. Muitas vezes surgiram movimentos de rebeliões políticas contra Roma na tentativa de se implantar o Reino de Deus. O afã de viver sobre somente o governo de Deus e sair da opressão de Roma levou Israel a experimentar muitos movimentos revolucionários com esse intuito. E todos por sua vez fracassaram. Pois hoje de forma mais clara sabemos que o Reino de Deus não é manifestado aos homens dentro dessa perspectiva política.

            Em meio a este quadro caótico aparece João Batista. A importância de sua presença no cenário histórico de Israel é o descortinar do plano de Deus para o seu povo. O seu discurso demonstra isso: “É chegado o Reino dos céus...” O povo estava ansioso para se libertar do domínio de Roma. E estar apenas sobre a Soberania de Deus. Com a chegada de João é quebrado o silêncio de Deus. E a nação pode novamente ter um direcionamento da parte de Deus objetivo.

            O evangelista Lucas registra que o profeta crescia e se desenvolvia. Porém, o mesmo achou o oportuno se distanciar do centro populacional, e então foi viver no deserto. “E o menino crescia e se fortalecia em espírito; e morou no deserto até o dia da sua aparição pública a Israel.”(Lc.1.80)

            Ao analisar a ida de João para o deserto cheguei à conclusão que: ele desejava uma vida mais simples dentro dos padrões de seu tempo. E desejava essa vida mais simples para poder ter um relacionamento mais profundo com o Senhor, o Deus de Israel.

            A Bíblia narra que as vestes de João eram de pelos de camelos e ele também usava um cinto de couro. Essa era uma referência clara ao estilo profético de seus antecessores. Basta que possamos comparar com os seguintes textos: “Eles lhe responderam: Era um homem que usava vestes de pelos e tinha um cinto de couro. Então ele disse: É Elias, o tesbita.” (2 Rs. 1.8), “Naquele dia, quando profetizarem, todos os profetas se envergonharão da sua visão; não se vestirão mais de manto de pelos para enganar,”(Zc. 13.4)

            Todo o ministério de João apontava claramente sua ligação com os profetas do Antigo Testamento. Seu discurso profético era idêntico aos profetas do passado. O mesmo continha a advertência de que Deus iria intervir na história e iria trazer juízo a Israel e que sabendo desse fato. Israel precisava se arrepender e se voltar para o Senhor, Deus de Israel.

O DUPLO BATISMO:

            A mensagem de João trouxe a consciência da iminente irrupção divina na história da humanidade. O estudioso do Novo Testamento George Eldon Ladd conceituou o conteúdo desse discurso como Duplo Batismo. Um batismo seria o Batismo com o Espírito e, o outro um batismo com fogo. (Mt. 3.11; Lc. 3.16)

            Em uma análise mais cuidadosa dos dois textos acima citados podemos concluir que João não estava discorrendo necessariamente sobre dois batismos. Mas sim, sobre um batismo, com dois elementos. Jesus viria e batizaria os justos com o Espírito Santo, e os ímpios com o fogo, que nesta passagem especificamente se remete ao juízo de Deus sobre os ímpios.

O BATISMO DE JOÃO:

            O Batismo de João era um verdadeiro chamado ao arrependimento. Não havia no ato do Batismo nenhuma conferência de graça ou algo semelhante. O Batismo de João era uma demonstração pública de fé que o indivíduo se arrependeu de sua vida regressa e que havia mudado de prática de vida. Ou seja, ele agora morria para o mundo e ressurgia para Cristo, com uma vida nova.

            Era comum no Antigo Testamento a conclamação do povo se voltar para o Senhor, retornar para os caminhos do Senhor, pois o povo quando se afastava da presença do Senhor caia em muitos erros e acabava se distanciando do Senhor e de sua vontade. A mensagem profética era não só um simples arrependimento. A mensagem do profeta João era um chamado para metanoia. Uma mudança radical.

            Ladd foi feliz ao conceituar a conversão da seguinte forma: “A conversão significa uma volta para Lei, em obediência à vontade expressa de Deus. Significa, portanto, a realização de boas obras. A conversão poderia ser repetida quando alguém quebrasse os mandamentos e posteriormente voltasse a obedecer à Lei”. [2]

A ORIGEM DO BATISMO DE JOÃO:

            Não há uma concordância sobre a origem do Batismo de João. Os estudiosos do Novo Testamento se dividem muito sobre esta questão. Todavia, vou citar algumas tendo como desejo apenas que os irmãos tenham ciência dos mesmos.

Batismo judaico de prosélitos – Quando um gentio se convertia ao judaísmo, ele precisava se batizar (um banho ritualístico), realizar a circuncisão e oferecer sacrifícios. Existem algumas semelhanças do batismo de João com o batismo dos prosélitos. O candidato era imerso ou imergia-se completamente na água. Os dois batismos envolviam elementos éticos, essa afirmação é evidente pelo fato de que a pessoa que se batizava estava realizando um testemunho público que estava deixando sua vida regressa e se comprometendo com uma nova vida. Ambos também eram utilizados como um tido de iniciação.

Batismos da comunidade de Qumran – A comunidade de Qumran não realizava o batismo dentro da mesma perspectiva de João Batista ou até mesmo como o rito inicial dos prosélitos convertidos ao judaísmo. A comunidade de Qumran se utilizava muito mais como formas de ritos cerimoniais. 

Batismo de João – É uma cerimônia de iniciação, com elementos éticos e diferencia-se de todos os demais pelo fato de que o Batismo de João é uma preparação do indivíduo para o Reino vindouro, ao contrário por sua vez do batismo dos prosélitos. O Batismo de João deve ser praticado por todos, inclusive os judeus, que desejam externar que agora vivem sobre os princípios do Deus do Reino.

A IMPORTÂNCIA DO MINISTÉIRO DE JOÃO BATISTA:

            João Batista tem o real significado de seu ministério explicado pelo Senhor Jesus em uma passagem de Mateus. Após ser preso, João envia seus discípulos para perguntarem a Jesus se de fato Ele era o Messias aguardado. Alguns interpretam esse episódio de forma errônea. Crendo que João começou a duvidar de sua vocação. Todavia, João não está duvidando de sua vocação. Ele está duvidando se Jesus, era realmente o Messias. Pois o Senhor Jesus não estava realizando as obras que João esperava.

            Afinal de contas, ele esperava pelo Duplo Batismo, pela chegada do Reino de Deus, porém, tudo continuava como era antes.

            Em reposta a João, Jesus mandou que lhe dissessem que a profecia de Isaías 33.5-6 estava se cumprindo em sua missão. Após esse momento Jesus começa a ensinar às multidões sobre quem de fato era João, e o real significado de seu ministério.

            Para que possamos entender a fala de Jesus algumas expressões são chaves para nossa análise. "Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior que João Batista; mas o menor no reino do céu é maior que ele.". (Mateus 11.11)

            Até João Batista as pessoas ainda não faziam parte do Reino. João teve a mais nobre missão. Preparar o caminho do Salvador. Todavia, ele que teve essa tão nobre missão. É menor que o mais simples irmão que desfruta da presença contínua do Salvador e das benesses de seu Reino ainda neste tempo presente.

            O Mestre também afirma que em João Batista se cumpriu a profecia de que Elias viria e prepararia o caminho para o Salvador. Jesus não quis ensinar que João era uma reencarnação de Elias. E sim, que João Batista possuía uma grande similaridade de atributos como Elias.



[1] LADD, pp.54.

[2] LADD, pp.58.

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