A cada grande catástrofe ocorrida na humanidade volta à tona a pergunta: “Será que Deus existe mesmo”? Foi assim no tsunami que atingiu a Ásia e Oceania em 2004, foi assim no atentado ao World Trade Center em 2001 e durante a Segunda Grande Guerra Mundial, de 1939 a 1945.
Na Teologia são famosas as “Provas da Existência de Deus” de Anselmo e Tomás de Aquino, escritores medievais. Contudo, novas publicações frequentemente chegam ao mercado recrudescendo ao assunto. Basta ver “Provas da Existência de Deus”, de Jefferson Magno Costa (1993) e “Não Tenho Fé Suficiente para Ser Ateu”, de Norman Geisler e Frank Turrek (2006).
Recentemente, Inglaterra e França assimilaram uma onda européia de neo-ateísmo. Como conseqüência, em 2007, aportou aqui no Brasil o “Tratado de Ateologia” de Michel Onfray. Diversas campanhas para promoção do Ateísmo Moderno também foram vistas nestes países.
A preocupação da existência ou não de Deus é uma preocupação teológica e antropológica, mas não bíblica. Em momento algum a Bíblia preocupa-se em “provar” a existência de Deus, por esta existência ser pressuposta. A origem da negação da existência de Deus encontra sua raiz na impiedade: “Diz o ímpio no seu coração: Não há Deus” (Sl 14.1).
Lutero apontava a incredulidade como a raiz do pecado da humanidade. No campo da incredulidade a fé é considerada erva daninha e toda sua semente deve ser extirpada como grande mal que pode gerar uma praga na lavoura. Diversos argumentos ontológicos, cosmológicos, epistemológicos podem ser desenvolvidos junto a um indivíduo acerca da existência de Deus, porém a razão é apenas uma das vias pelas quais se pode chegar ao aprendizado e, às vezes, ela demonstra-se insuficiente. Se este indivíduo, em última instância, asseverar com a razão que entendeu que Deus existe racionalmente, mas não quer acreditar, ele é livre para fazê-lo (pelo menos foi sincero, pois tantos assim não o são).
“Todo homem tem um vazio que é do tamanho de Deus e somente Deus pode preencher este vazio”, “A alma do homem anda inquieta até encontrar seu repouso em Deus”, dizem, respectivamente, Dostoievsky e Agostinho. Apesar de serem argumentos acusados de subjetivismo e parcialidade, não podem ser negligenciados.
Uma das maiores contribuições teológicas de John Wesley foi o “Quadrilátero Wesleyano” que apontava para quatro fontes das quais pode-se efetuar teologia: Bíblia, Tradição, Experiência e Razão, sendo que a primeira tem preeminência sobre as outras quatro. Assim sendo, asseverar que apenas a razão é fonte de conhecimento é influência racionalista-iluminista do século XVIII e uma perspectiva limitada e questionável.
Deus existe. É uma questão de fé. A razão ajuda, mas pode ser limitada. A experiência mostra, mas pode ser subjetiva. A Tradição diz, mas pode estar influenciada. As Escrituras declaram e elas jamais erram. Destarte, “O justo vive pela fé e se ele recuar, a Minha alma não tem prazer nele” (Hb 10.38). Creio que a “prova da existência de Deus” não se encontra em argumentos desenvolvidos para este fim. Este assunto diz respeito ao campo da fé. Cremos ou não cremos e para isto, por vezes, é necessário o “salto da fé” kiekkegaardiano.
Mas se a alguém interessar, creio que argumentos bons podem e devem ser desenvolvidos da Bíblia como Palavra de Deus. Pois se fundamentarmos nosso edifício epistemológico sobre as Santas Escrituras, poderemos ter um parâmetro norteador de toda e qualquer reflexão que possamos desenvolver. A Bíblia é Palavra de Deus pois suas profecias se cumprem; é indestrutível; transforma homens; não se contradiz e é isenta de erros. Por inferência: se ela é Palavra de Deus verdadeira, como Deus não existiria?
Deus existe. É questão de fé. Mas, porventura quando vier o Filho do homem, em uma época materialista, pragmatista, humanista e hedonista, será que Ele encontrará fé na terra?
Henrique Araujo é pastor, bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Betel, Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, professor de teologia dos seminários Betel, IBE e Vida Nova (Rio de Janeiro) e autor de diversos livros, dentre eles “O Tabernáculo de Davi e sua reedificação: igreja viva e adoradora” e “Oceano do Espírito”.
Deus continue abençoando ao Pr. Henrique, para que ele possa sempre produzir coisas boas, como é este texto!
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